Escorado contra a parede do colégio que frequento há alguns dias, tenho notado peculiaridades nesse novo mundo. Desde que entrei na escola, há algumas semanas, um garoto em particular tem captado minha atenção vigilante.

Gregory. Um garoto de cabelos castanhos claros, visivelmente mais jovem que eu, que usa frequentemente uma camisa azul. Suas ações, à primeira vista, me pareceram suspeitas. E como alguém que viaja por diferentes mundos, situações intrigantes como essa sempre despertam meu interesse.

— Mundos mundanos são entediantes. — murmurei para mim mesmo. — Mas, com um pouco de entretenimento, talvez consiga aliviar meu tédio.

Aproveitei o intervalo da escola para me aproximar dele. Gregory estava sentado em um banco afastado, distraído, quando encostei uma lata de refrigerante gelada em seu rosto. Sua reação foi instantânea.

— Ah! — ele gritou, quase deixando o jornal que segurava voar com o vento, mas conseguiu agarrá-lo a tempo. — Ah… é só você, Renier...

Meus olhos recaíram sobre o jornal. Como de costume, ele estava fixado na seção de desaparecimentos. Cada dia, uma nova foto preenchia o espaço vazio do papel.

— Ainda obcecado com os desaparecimentos dos seus amigos? — perguntei casualmente, tentando não deixar minhas reais intenções transparecem.

— Mais crianças sumiram… — murmurou, fechando o jornal com força. — Mas, desta vez, descobri algo que pode mudar tudo.

Heh… Um sorriso discreto surgiu em meu rosto. Aquilo estava ficando interessante. Gregory estava planejando algo, e eu sabia disso.

— Vai invadir algum lugar? — provoquei, sentando-me na borda do banco. Sua expressão de choque foi instantânea.

— O quê!? — Ele gaguejou, claramente nervoso. — C-c-claro que não! Por que acha isso?

— Porque você comprou uma lanterna, que está bem aí, na sua mochila. — Apontei para o objeto sem cerimônia. — Se quer ser discreto, talvez esconda melhor.

Constrangido por ter sido pego tão facilmente, Gregory rapidamente empurrou a lanterna para dentro da mochila. Sua respiração ficou pesada enquanto ele amassava o jornal nas mãos, perdido em seus pensamentos.

— Renier, você pode guardar um segredo? — perguntou ele, hesitante. — Pode parecer loucura, mas você tem sido um amigo legal esses dias. Talvez, se eu contar pra alguém, eu me sinta menos... lunático.

— Claro. — Respondi com um sorriso travesso surgindo nos lábios. — Sou bastante receptivo a todo tipo de loucura. Então, por favor... me surpreenda.

Me escorando na borda do banco onde Gregory se sentava, observei seus dedos trêmulos segurando o jornal. Era meio cômico para alguém como eu, mas para ele parecia carregar o peso do mundo inteiro nos ombros.

— Renier, você já ouviu falar da Freddy Fazbear's Pizza? — perguntou Gregory, finalmente rompendo o silêncio. Sua voz era hesitante, como se a simples menção do nome fosse trazer fantasmas do passado à tona.

Meu olhar deslizou para ele, ligeiramente entediado, não sei nada sobre esse mundo então. — Freddy Fazbear's? Isso soa como o nome de um desenho animado ruim.

Gregory franziu a testa, claramente não impressionado com a minha falta de interesse. — Era uma pizzaria famosa anos atrás. Só que... — Ele hesitou, a tensão crescendo em sua voz. — Crianças começaram a desaparecer lá, e ninguém nunca encontrou os corpos. Nem o assassino.

Estiquei os braços preguiçosamente, deixando escapar um suspiro. — Se isso for só mais uma história sobre um assassino em série comum, já perdeu meu interesse. — Fiz uma pausa, lançando um olhar divertido para ele. — Você disse que queria ajuda com algo "louco". Já vi coisas o suficiente para saber que isso não é. Vai direto ao ponto.

Gregory piscou, surpreso pela minha falta de reação, mas se recompôs rápido. — Certo. — Ele engoliu em seco, segurando firme o jornal em suas mãos. — Uma nova pizzaria abriu recentemente, dos mesmos donos da Freddy Fazbear's. Mas ninguém comenta sobre isso. É estranho, não acha?

Ah, agora ele estava me intrigando. Inclinei-me ligeiramente para frente, meus olhos estreitando-se em curiosidade. — E os desaparecimentos recentes dos seus amigos? — perguntei, com um tom casual, como se estivéssemos discutindo o tempo. — Você acha que estão ligados a essa nova pizzaria?

Ele assentiu lentamente, sua expressão sombria. — Sim. A Mega Pizzaplex Freddy Fazbear. É enorme, cheia de shows e animatronics... mas acho que tem algo errado lá. Algo muito errado. — Ele fez uma pausa, antes de soltar, quase em um sussurro: — Eu vou entrar lá e provar isso… ou estou ficando louco?

Eu assenti, então saltei para a frente dele, segurando seu ombro de leve. — Claro que você está louco, Gregory. — Um sorriso travesso se espalhou pelo meu rosto. — Mas sabe o que é mais divertido? Esse é exatamente o tipo de loucura que eu gosto.

Ele piscou, confuso. — Do que você está falando?

— Estou dizendo que vou com você. — Minha voz era leve, quase animada. — Para a Mega Pizzaplex. Vou ajudar você a resolver esse pequeno mistério.

Por um momento, ele parecia dividido entre relutância e alívio. — Você... sério? Por quê?

Dei de ombros, rindo baixinho. — Porque estou com tédio, e eu preciso de entretenimento. Além disso, você parece estar precisando de uma mãozinha.

Ele hesitou, mas acabou cedendo, um sorriso relutante surgindo em seu rosto. — Certo, então... obrigado, Renier. Vou esperar você lá. A Pizzaplex abre hoje à noite, para os shows dos animatronics.

Ah, "animatronics". Eu me perguntei por um instante se isso era para ser a grande surpresa. Robôs cantores? Francamente, poderia ser decepcionante... ou hilariante. Dei de ombros mentalmente. O show, afinal, de uma grande fábrica de brinquedos pode me surpreender então… Talvez.

— Depois da escola, eu estarei lá. — Respondi com um sorriso tranquilo, estendendo minha mão.

Ele apertou-a, um gesto firme e determinado, selando nosso pequeno "acordo". Para ele, aquilo parecia sério. Para mim? Bem, era apenas o início de uma nova distração... e, quem sabe, algo mais interessante.

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Eu estava parado em frente à Mega Pizzaplex, o lugar um caos de luzes brilhantes e cores vibrantes que dançavam no ar, de falsa juventude. O que deveria ser um espaço de diversão parecia mais uma mistura de shopping com parques temáticos. Uma fachada de entretenimento barata, projetada para atrair famílias e, principalmente, crianças.

— Acho que a loucura do Gregory tem um ponto interessante… — murmurei para mim mesmo, enquanto mordia a unha do meu dedo, focado em meus pensamentos.

Meu olhar vagou por todo o ambiente, tentando absorver cada detalhe enquanto a música e as risadas distantes ecoavam ao fundo. Algo não estava certo, pelo menos quando entrei, e isso só aumentava minha curiosidade.

Voltei os olhos para o celular, a tela iluminada me mostrando mais informações sobre os "shows" da Pizzaplex. O slogan era todo colorido, um convite chamativo: "Venha se divertir, superstar!" Era uma propaganda boba, mas que soava tão sincera para aqueles que acreditavam que era um simples show de luzes e danças. Os superstars eram uma banda de animatronics. Glanrock Chica, Freddy, Roxanne e Montgame Gator, com suas personalidades extravagantes e estúpidas que tanto pareciam ter conquistado o público.

Mas o que realmente me fascinava era o que eu via através dos vídeos e gravações. Esses animatronics tinham personalidade. Para uma tecnologia tão avançada, eles pareciam ter uma consciência própria, uma individualidade que deveria ser impossível de alcançar em um mundo como o meu. Ou talvez não fosse. Eu já havia visto mais do que a maioria poderia imaginar. Mas... por que esse mundo, tão semelhante à Terra, não estava tão evoluído quanto outros que já conheci?

Meu pensamento foi interrompido bruscamente por uma mão tocando no topo da minha cabeça.

— Chegou cedo, hein? — A voz de Gregory soou, um pouco surpresa.

Levantei os olhos e vi o garoto ali, com seu sorriso de sempre. Ele parecia mais animado do que nunca, sem aquele peso de mistério que normalmente o rodeava.

— Obviamente alguém precisava vir fazer as reservas. — Respondi, meu olhar ainda preso ao celular. — Então, já comprei os lugares para nós dois.

Gregory arregalou os olhos, visivelmente surpreso. — Você comprou as reservas? Eu tinha esquecido completamente disso! Estava pensando em entrar de penetra, você sabe... o show dos animatronics é tão famoso que os seguranças muitas vezes nem notam quando alguém entra sem autorização.

Fiz uma leve careta ao ouvir isso, já que a ideia de ser pego por um simples erro de programação me parecia idiota. Desliguei a tela do celular e olhei para ele, meu tom de voz ficando mais sério.

— Dei uma olhada na "segurança" de lá. — Falei, com um sorriso leve nos lábios. — Eles confiam tanto na tecnologia dos robôs de segurança, que qualquer um com um mínimo de inteligência em programação poderia burlá-los facilmente. Mas para um garoto como você, entrar sem uma identificação seria... um erro idiota. Esses robôs são muito mais eficientes do que parecem, e não são tão fáceis de enganar como você imagina. Se você for pego, vai ser um dos primeiros a ser expulso, ou pior, "convidado" a sair permanentemente.

Gregory ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras, antes de dar um pequeno suspiro e assentir.

— Acho que você tem razão... — Ele olhou para os portões da Pizzaplex, sua excitação misturada com um toque de receio. — Bem, já que estamos aqui, o que mais está esperando?

Eu apenas sorri, dando-lhe um leve empurrão. — Vamos entrar. Afinal, estamos aqui por um motivo, não é SuperStar! — disse com animação fazendo o sinal de chifrada com a referência a banda de rock, o que fez ele rir suavemente do meu comentário.

Eu estava curioso, sim. Mas também, eu sabia que algo ali tinha mais do que apenas os animatronics para oferecer. O mistério estava apenas começando, e eu adorava um bom enigma.

Continua…