A noite estava inquieta, e o vento uivava do lado de fora da casa, fazendo as árvores se curvarem à sua força. Morgan passou a mão pela cortina da janela, espiando o lado de fora pela décima vez naquela hora. O relógio na parede marcava 18h do dia seguinte, e o lugar de Zarck na mesa de jantar ainda estava vazio. Ela olhou para Elion, que caminhava de um lado para o outro na sala, os braços cruzados, a testa franzida de preocupação.— Ele não desceu para o café da manhã. Ele devia ter voltado da escola há horas — sussurrou Morgan, embora não houvesse ninguém ali para ouvi-la, além de Elion e o silêncio pesado que preenchia a casa. — Isso não é normal, Elion. Algo aconteceu, eu sinto.Elion parou de andar e se aproximou da esposa, os olhos fixos nos dela, tentando esconder o desespero que o dominava. Ele sempre fora o mais racional dos dois, o porto seguro de Morgan em momentos de incerteza. Mas, dessa vez, algo no fundo de sua mente o alertava de que havia algo terrivelmente errado.— Talvez ele tenha passado na casa de algum amigo... ou se distraído com alguma coisa no caminho. Zarck é um garoto curioso — disse, tentando convencer a si mesmo tanto quanto a Morgan.— Mas ele nunca fica fora tanto tempo sem avisar! Já são 18h — Morgan rebateu, sua voz trêmula, quase quebrando. — Eu o conheço. Ele sempre avisa quando vai demorar. Sempre. Algo aconteceu, Elion, e precisamos fazer algo agora!O silêncio que seguiu suas palavras foi cortante. Elion sabia que Morgan estava certa. Algo realmente estava fora do normal. Com o coração pesado, ele pegou o telefone, ligando para todos os amigos de Zarck, para a escola, até para os vizinhos mais distantes. Mas ninguém tinha notícias dele. Era como se Zarck tivesse desaparecido, sumido sem deixar vestígios.Quando a última ligação se encerrou, Elion deixou o telefone cair sobre a mesa, sua mão tremendo. Ele olhou para Morgan, que agora estava sentada no sofá, segurando uma das camisetas de Zarck junto ao peito, os olhos marejados de lágrimas.— E se ele nunca mais voltar? — murmurou ela, quase inaudível, como se sua voz não tivesse forças para pronunciar aquelas palavras terríveis.Elion sentiu o peito apertar. Ele se ajoelhou à frente de Morgan, segurando suas mãos frias nas suas.— Vamos encontrá-lo, Morgan. Não importa onde ele esteja, nós o traremos de volta. Zarck é nosso filho... e eu farei tudo para trazê-lo para casa.Morgan balançou a cabeça, as lágrimas caindo livremente agora. — E se ele precisar de nós? E se ele estiver... sozinho? — Ela soluçou, sentindo a ausência de Zarck como um peso insuportável sobre seus ombros.O relógio na parede continuava a tiquetaquear, impiedoso. O tempo passava, e cada segundo sem Zarck parecia uma eternidade.Finalmente, Morgan se levantou abruptamente, a determinação brilhando em seus olhos, mesmo que as lágrimas ainda descessem pelo seu rosto.— Vou à polícia. Temos que ir agora. Ele está desaparecido, Elion! Não podemos esperar mais! — Ela caminhou em direção à porta, já pegando o casaco.Elion a seguiu, sem hesitar. Eles estavam dispostos a fazer o que fosse necessário para encontrar seu filho. Mas, no fundo, havia uma inquietação crescente, uma sensação de que essa não era uma simples fuga ou distração juvenil. O desaparecimento de Zarck era diferente, estranho, como se algo muito maior estivesse em jogo.Enquanto saíam de casa naquela noite fria, Morgan olhou uma última vez para o quarto de Zarck, a porta entreaberta revelando o vazio de sua ausência. Um vazio que ecoava dentro dela, cada vez mais profundo e doloroso.Eles não sabiam que, naquele exato momento, Zarck estava em um mundo completamente diferente. Longe de qualquer ajuda que eles poderiam oferecer, preso em um destino que não compreendiam — mas o amor deles, mesmo distante, era um fio invisível que o conectava, uma esperança silenciosa que talvez pudesse guiá-lo de volta para casa.