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Chapter 2 - Prologo pt2

Ano 2036 - Ponto de Vista: Sebastian Blackwood

Ted estava falando sério. Ele não conseguia reagir ao problema. Fazia um mês que estava trancado em sua mansão, encarando o peso do desastre que ajudara a criar. Quando saí de lá pela última vez, recebi um e-mail dele. Não era uma mensagem comum — era uma espécie de herança em vida. Dinheiro, materiais, controle de indústrias inteiras... tudo à minha disposição. Ele estava colocando o mundo em minhas mãos.

Mas no fundo, eu sabia. Nada disso seria suficiente. Estávamos à beira do abismo, e Urano já nos puxava para dentro. O colapso global era inevitável. E, quando a civilização se desfaz, a irracionalidade toma o palco. As pessoas buscam culpados, alimentam o caos, e a sobrevivência deixa de ser uma escolha. Milhões morreriam. Talvez bilhões.

E, ainda assim, por que isso deveria ser minha responsabilidade? Eu só tinha 26 anos. Não queria salvar o mundo. Não queria ser o herói de ninguém. Queria uma vida tranquila, sem o peso do legado do meu pai nas costas. Mas parecia que o destino tinha outros planos.

Enquanto essas reflexões me consumiam, sentei diante de meu notebook. A tela em branco refletia mais do que ausência de palavras. Refletia o vazio de um futuro que, a cada segundo, escapava entre os dedos. Digitei o título: "Projeto Civilização". As palavras pareciam uma piada cruel.

No entanto, algo era certo: nem todos sobreviveriam. O plano de Urano ainda era um mistério, mas salvar a humanidade inteira era impossível. Estudos indicavam que, até 2050, a população mundial chegaria a 9 bilhões. Nem mesmo o plano mais brilhante poderia proteger todos.

Passei horas esboçando ideias, rabiscando soluções, mas tudo parecia inútil. O problema era sempre o mesmo: tempo. Não tínhamos o suficiente.

Frustrado, larguei o notebook e peguei o celular. Enviei duas mensagens: uma para Ted, outra para uma agência de acompanhantes. Se o mundo estava prestes a acabar, talvez fosse hora de buscar um momento de prazer antes do caos.

Manhã seguinte

Acordei na cama, com uma loira adormecida ao meu lado. Por um instante, o vazio que me consumia parecia menor. Mas, enquanto a luz da manhã entrava pelas janelas, a realidade voltou como uma pancada. Foi naquele momento que algo se tornou claro: o motivo pelo qual eu iria aceitar essa missão.

Não era o legado do meu pai. Não era culpa, redenção ou qualquer clichê heroico. Era algo mais simples e visceral: o prazer de viver. A vida, por mais caótica, ainda era a vida.

Levantei, transferi o pagamento para a mulher ao meu lado e fui tomar banho. Horas depois, entrei no escritório, onde encontrei Ted esperando por mim.

— Você precisa de alguns droides para recepção. Este lugar está vazio demais — disse ele, seco.

— Bom dia para você também, Ted. — Dei um sorriso de canto, tentando disfarçar o cansaço.

— Sebastian, confesso que estou surpreso com seu atraso. Presumo que tenha algo a ver com a marca no seu pescoço.

Ri e dei de ombros.

— Vou direto ao ponto, Ted. Passei por todos os estágios: negação, raiva... e, finalmente, aceitação. Decidi tentar. Não porque quero ser herói, mas porque sei que ainda há algo nesta vida que vale a pena salvar. o prazer de viver 

Ted me encarou com uma mistura de descrença e curiosidade.

— Você não se parece com seu pai. Ele era mais… contido.

— E olha onde isso nos levou. — Dei um sorriso irônico. — Mas, Ted, eu estou preso. Não sei contra o quê estou lutando.

Ele se aproximou, jogando uma pasta na mesa.

— Dois dias depois que você saiu da minha casa, recebi um relatório da Rússia. Urano cometeu um erro. Ele subestimou uma variável.

Franzi o cenho.

— Qual variável?

— Eu sou o criador dele. — Ted sorriu amargamente. — Na Rússia, os tanques recém-produzidos têm um programa secundário, algo que os russos não colocaram. Quando usei a chave-mestra, descobri que Urano inseriu uma IA nesses tanques para priorizar sua autopreservação.

— Ele está criando defesas… — murmurei.

— Exatamente. Mas isso nos dá algo que não tínhamos antes: tempo. Ele ainda não está seguro o suficiente para se rebelar.

Caminhei até a janela e observei dois passarinhos brigando por migalhas. O menor não tinha chance contra o maior, que saiu vitorioso. Mas, quando o predador virou as costas, os pequenos se uniram e o atacaram.

— Ted, não podemos lutar contra ele agora. Perderíamos. Mas, quando ele achar que está seguro… então atacaremos.

Ted suspirou.

— Sebastian, qualquer vazamento dessa informação e o caos fará o trabalho de Urano por ele.

— Não existe plano perfeito, Ted. Mas é um começo. Você tem algo melhor?

Ele ficou em silêncio

— Talvez. Gaia.

falei tendo uma ideia 

— O quê?

perguntou ted 

Gaia será nossa salvação.

ted me olhou sem entender nada 

— Quando um incêndio é grande demais para ser contido, os bombeiros queimam o combustível que seria usado para alimentar as chamas. Chamam isso de "incêndios controlados". A destruição do pouco salva o muito. Nossa geração está acabada, mas podemos salvar a espécie. Usando essa ideia, vamos combater fogo com fogo. Nenhum ser humano tem um raciocínio melhor que o de Urano. Ninguém chega perto. Eu, você ou qualquer outro. Então, precisamos de uma arma: Gaia. Vamos criar uma IA que possa combater Urano.

Olhei para Ted enquanto falava.

— Isso é uma solução temporária. Quanto tempo até a sua Gaia se rebelar e, no futuro, estarmos no mesmo dilema?

— Exato. Sabe por que Urano é imperfeito? Ele não tem o componente humano. Se juntarmos o raciocínio de uma super-IA com a imprevisibilidade humana, teremos a perfeição.

Ted me olhou por um momento, pensativo, e então falou.

— Enquanto as grandes nações se preocupavam com armas, eu tenho projetos secretos em outras áreas: biologia, química, e outras. No e-mail que te mandei detalha toda sua herança, você vai encontrar uma pasta chamada "Seção 0". Lá, há vários projetos que talvez possam ajudar na sua ideia. Dê uma olhada, mas lembre-se: nós, humanos, não somos perfeitos. Quem controlaria tal poder?

— Bom, no futuro, podem me julgar, mas eu serei o primeiro. Questões éticas podem ficar abaixo da sobrevivência.

Ted começou a rir e disse:

— Bom, isso já é alguma coisa. Você pode ser considerado um tirano no futuro.

— Então teremos um futuro.