BERENICE VOLUME 01 - Traída porém bem tratada
**Capítulo: Traída, Porém Bem Tratada**
Naquele dia, voltamos para casa, e a senhora se mostrou ainda mais gentil comigo do que o habitual. A refeição foi especial, mais suntuosa do que as que estávamos acostumados a ter. Ela me tratou com uma doçura inusitada, mas eu não percebi o que realmente estava acontecendo.
Após o jantar, voltei para o orfanato como sempre fazia após um dia de trabalho. Dormi tranquila, sem nem pensar na catedral, nos sacerdotes ou na oferta de servir à igreja. Para mim, aquilo era algo distante, quase irreal.
**ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ*
Enquanto isso, do outro lado da cidade, dentro da catedral...
"Ela é perfeita!", um dos sacerdotes exclamou.
"Podemos encontrar outra. Além disso, se a central souber dela, vão exigir que a transferimos para o reino central," respondeu o outro, mais cauteloso.
"E quem disse que eles precisam saber?"
"Você não vai contar?"
"O que viemos fazer aqui? Não se lembra?"
"Claro que sim, mas seria um desperdício aceitar essa garota especial e depois enviá-la para lá."
"A central paga nossas regalias, muito mais do que a catedral local. Eles vão pagar pela garota?"
"Entendo, mas é uma joia rara. Seria um desperdício. Podemos procurar outra, talvez uma loira como ela deseja."
"Idiota, como vamos atrair as garotas loiras da cidade? A maioria não são órfãs, ao contrário dessa menina. Ela é uma oportunidade única."
"Temos 32 dias. Talvez encontremos outra."
"Então continue procurando, mas eu vou aprimorar a oferta e trazer essa garota."
"Onde você vai?"
"Atrás daquela senhora! Não vou perder tempo caçando vários coelhos quando o melhor está parado bem diante de mim."
"Faça como quiser então!"
**ΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩΩ**
Tudo isso acontecia sem que eu fizesse ideia da verdade, com minha visão limitada e inocente sobre o que estava realmente se desenrolando.
Na manhã seguinte, acordei como de costume, tranquila. Meus dias pareciam monótonos, mas logo notei algo estranho. Minhas coisas estavam arrumadas de forma diferente, o que me deixou com um certo temor. Será que eu estava sendo expulsa do orfanato?
Foi então que alguém apareceu para falar comigo. Era a secretária do local, com um belo sorriso no rosto, se aproximou cuidadosamente.
"Parabéns! Você foi adotada!" disse ela com uma empolgação genuína, mas suas palavras me espantaram.
"Como assim, fui adotada?" questionei, confusa.
"Ora, bobinha! Você está num orfanato, é natural que alguma família se interesse em ter você como parte da família," explicou ela, ainda sorrindo.
Para mim, o orfanato era apenas um lugar para não dormir na rua, e o trabalho que eu fazia lá era para pagar pela refeição e pela moradia. Nunca imaginei que alguém quisesse me adotar, principalmente porque em três meses ali, eu não tinha visto nenhuma adoção.
"Quem teria coragem de adotar uma criança como eu?" perguntei, ainda incrédula.
"Alguns casais não podem ter filhos, outros são mais velhos e desejam mais crianças por perto. Isso é mais comum do que você pensa," respondeu ela gentilmente.
"Eu não quero ser adotada!" declarei, já sentindo o pânico se instalar.
"Primeiro, cconheça a suanova família e depois decida. Você tem três meses para se adaptar e tomar uma decisão," explicou ela, tentando me tranquilizar.
Quando desci as escadas do orfanato, vi algo que me surpreendeu ainda mais: a senhora com quem eu trabalhava estava lá, junto com seu marido.
"O que eles fazem aqui? Eu fiz algo errado no trabalho?" perguntei, já esperando o pior.
Ela olhou-me com ternura e disse: "Está surpresa? Eles são sua nova família!"
Os meus olhos se arregalaram de espanto, mas um leve sorriso surgiu no meu rosto. Eu gostava da senhora e de seu marido. Eles sempre me trataram bem, e a ideia de fazer parte da família deles não me parecia tão ruim. Eu me sentia segura com eles, sem medo, mas ainda assim, aquilo foi uma surpresa enorme.
A senhora se levantou, ainda sorrindo, e disse: "Espero que aceite ser nossa querida netinha!"
Mal sabia eu que, por trás daquela gentileza, havia segundas intenções que eu nem imaginava.