Chereads / Coração de Névoa e Gelo / Chapter 3 - "The Past Is Like The Wind Without Course."

Chapter 3 - "The Past Is Like The Wind Without Course."

Lin Ziyu caminhava pelo caminho de pedra que serpenteava a montanha, cercado pelo silêncio absoluto. O vento frio do inverno era sua única companhia, carregando consigo o aroma fresco das folhas de pessegueiro que se mantinham intactas na árvore do falecido Jing Wu Feng. Seus passos pareciam ecoar a uma eternidade, e sua mente vagava entre memórias e perguntas que não podia responder.

Ele não tinha ido ao enterro. Não havia acendido as lâmpadas cerimoniais, nem mesmo recitado os mantras dos antigos. Jing Wu Feng, seu mestre, havia partido sem deixar qualquer laço de sangue. Era o último de uma linhagem que, de acordo com as histórias, remonta a milênios. Lin Ziyu sabia que os outros o condenavam por não realizar os rituais. Não importava. Ele não estava preparado.

O local onde Jing Wu Feng repousava era isolado, no topo de um penhasco, debaixo de uma majestosa árvore de pessegueiro que ele próprio plantara séculos atrás. Era um lugar de uma beleza austera, onde o céu parecia mais próximo, e o mundo mortal era apenas uma lembrança distante.

Lin Ziyu suspirou profundamente. Ele parou por um momento e olhou para o horizonte, onde as nuvens flutuavam como rios celestiais. O Caminho Imortal, como muitos o chamavam, parecia uma ilusão para ele. Jing Wu Feng poderia ter ascendido há séculos; sua compreensão das técnicas de cultivo estava muito além de qualquer mestre vivo. Mas ele optara por permanecer no mundo dos mortais, alegando que a vida no reino imortal era entediante, vazia.

Esse pensamento trouxe uma sombra de sorriso aos lábios de Lin Ziyu.

Ele retomou o caminho, e cada passo se tornou um lembrete do fardo que carregava. Desde jovem, ele fora chamado de prodígio. Seu domínio do Qing Lian Fa (Técnica do Lótus Azul), uma técnica de espada que manipulava o fluxo do Qi como uma dança entre o céu e a terra, era incomparável. Aos dezessete anos, enfrentou um ancião de uma seita rival e, com um único movimento, cortou a espada do homem ao meio sem sequer tocar o chão.

Mas o que assustava mais os outros mestres era sua misteriosa resistência em revelar todo o seu poder. Nas raras vezes em que demonstrava suas habilidades, era como assistir ao próprio céu se dobrar. Foi em um desses momentos que o título de XianRen começou a circular em sussurros, apenas para os discípulos e mestres mais íntimos de Lin Ziyu.

Chegando ao pé da árvore de pessegueiro, Lin Ziyu se ajoelhou diante da lápide. Os caracteres esculpidos na pedra eram simples, desprovidos de títulos grandiosos:

"Jing Wu Feng, um humilde cultivador que encontrou a paz sob o céu."

Ele fechou os olhos, deixando que o silêncio o envolvesse. Era a primeira vez que estava sozinho desde a morte de Jing Wu Feng.

— Mestre… — ele murmurou, com a voz quase inaudível. — Eu falhei com o senhor. Seu velho idiota! Com seus mil anos de cultivo ainda sucumbiu desta forma? Sei que sua morte não foi comum. E se um dia eu encontrar o responsável por isso... Céus e terra serão banhados em caos.

O vento soprou novamente, balançando os galhos da árvore. As pétalas de flores caíram como neve, pousando levemente em seus ombros. Jing Wu Feng sempre dizia que a verdadeira força não era apenas derrotar inimigos ou conquistar territórios, mas proteger aquilo que era precioso sem nunca perder a própria essência.

— Você me deixou um discípulo novo sem nem ao menos pedir o meu consentimento... — ele murmurou, em um suspiro pesado. — Bom, por você meu mestre, eu farei qualquer coisa. Pela sua bondade em vida.

Porém, Lin Ziyu sabia que o caminho que trilhava era solitário. Ele nunca teve família em Tianlong afinal. Sua vida sempre foi feita de boatos. Ele era, e sempre fora, uma ilha no vasto oceano do mundo dos cultivadores.

— XianRen… — uma voz sussurrou atrás dele. Era um título com o qual ele não se importava muito.

Ele não precisou se virar para saber quem era. Sua audição estava muito além da compreensão humana. Wang Lin, seu irmão marcial sênior, o observava de uma distância respeitosa, hesitando em se aproximar.

— Por que você está aqui, Shixiong? — ele perguntou, sem mover.

O jovem hesitou, mas respondeu:

— Shidi, eu… vim trazer uma mensagem em nome dos outros mestres e anciões. Eles desejam saber se você estará presente na próxima reunião da seita. É vital que sua presença sempre será imprescindível para a tomada de decisões.

Lin Ziyu permaneceu imóvel, com seus olhos fixos na lápide.

— Diga a eles que meu lugar é aqui, recluso no Pico da Névoa Silenciosa — respondeu calmamente. — Por ora, não tenho interesse em debates sobre o futuro da seita.

Wang Lin hesitou, mas se atreveu a perguntar: — Shidi, você realmente acredita que o mestre gostaria que permanecesse aqui, ignorando o mundo que ele tanto prezava?

Lin Ziyu finalmente se virou, suas vestes brancas ondulando com o vento. Ele olhou para Wang Lin, com sua expressão indecifrável.

— Você fala como alguém que conhece nosso mestre — ele disse, com sua voz fria como o gelo. — Mas nem mesmo eu compreendo todos os seus desejos. Apenas cumpro aquilo que sei ser correto. E, por agora, isso é o suficiente.

Sem esperar resposta, ele se virou e começou a descer o penhasco. Wang Lin observou enquanto ele desaparecia na distância, sua figura solitária como uma sombra entre as nuvens.

Ele suspirou profundamente. Lin Ziyu, o homem chamado de Lin Baihan, parecia invencível para os outros. Mas, para aqueles que realmente o conheciam, ele era apenas um homem preso entre o peso de suas responsabilidades e as sombras de seu passado.

O vento cortante da montanha carregava consigo flocos de neve que dançavam no ar antes de repousarem suavemente no solo. Lin Ziyu parou, envolto em pensamentos enquanto observava a trilha que se estendia atrás de si, cada pegada marcada no chão branco como um reflexo de sua jornada interior. Ele ponderou em silêncio, e a ideia de voltar e pedir desculpas ao seu Shixiong, Wang Lin, passando brevemente por sua mente.

Wang Lin era um homem de força inabalável, tanto física quanto moral. O líder do Pico Feng Lu Shen, um local onde os cultivadores buscavam aperfeiçoar suas habilidades físicas e superar seus limites através de treinamentos árduos e extremos. Lá, o Qi era moldado como aço em uma forja, transformando o corpo em uma arma indestrutível. Suas técnicas de combate eram brutais e diretas, inspiradas na filosofia de que o poder não residia apenas no domínio espiritual, mas também na força implacável do corpo físico.

O Pico da Névoa Silenciosa, por outro lado, era um santuário de introspecção e harmonia. Cultivadores que ali treinavam buscavam alinhar mente, corpo e espírito, utilizando métodos que incluíam meditação profunda, alquimia medicinal e filosofia das cinco virtudes. No entanto, não se tratava apenas de serenidade; a força mental cultivada ali permitia que os discípulos executassem técnicas poderosas e de precisão cirúrgica, capazes de desarmar até o oponente mais feroz.

Mas todas as técnicas dos Quatro Picos, são focadas em fortalecer o nível de cultivo com base na força que for utilizada em treinamentos ou batalhas. Está na filosofia escrita pelo mestre da Seita.

Apesar de suas diferenças, Lin Ziyu respeitava profundamente Wang Lin. Ele sabia que o trabalho árduo e a determinação de seu Shixiong o haviam levado ao topo sem o uso de artifícios ou métodos duvidosos — uma raridade no mundo do cultivo, onde ambição frequentemente tomava o lugar da honra. Wang Lin, apesar de sua aparência severa, era um pilar de retidão e confiabilidade, características que Lin Ziyu admirava e tentava espelhar em sua própria jornada.

No entanto, havia um terceiro pico que muitas vezes ofuscava os demais na Seita Tianhuan: o Pico das Sombras Eternas. Conhecido por sua atmosfera sombria e métodos controversos, era onde os cultivadores aprendiam técnicas que manipulavam o Qi através de caminhos obscuros, porém justos, muitas vezes testando os limites da ética. Mesmo sendo parte de uma seita justa, o Pico das Sombras Eternas cultivava rivalidade com os outros três picos. Seu foco estava em habilidades furtivas, ataques de longo alcance e manipulação emocional e espiritual, o que lhes garantia uma reputação tanto temida quanto respeitada.

O próprio mestre da seita, Mestre Tianlu (Lu Tianchen), havia sido discípulo do Pico das Sombras Eternas em sua juventude. Conhecido no Jianghu como A Lâmina Invisível, ele carregava um título que evocava reverência e temor. No entanto, mesmo Tianlu parecia desconfortável com os métodos modernos adotados pelo pico que outrora o formara. Os tempos haviam mudado, e com eles, o equilíbrio delicado dentro da seita parecia estar à beira de um colapso.

Agora, com os ataques da Seita do Lótus Branco ameaçando as fronteiras e a iminente Competição Mundial das Sete Seitas de Tianlong, a Seita Tianhuan estava sob imensa pressão. O retorno de Lin Ziyu aos assuntos internos e externos era visto como a melhor chance de assegurar a vitória e restaurar a ordem. Mas ele não estava preparado para enfrentar esses desafios. Seu coração estava pesado demais com questões pessoais, e a ideia de envolver-se na política da seita o exauria.

Ao chegar à entrada do Pico da Névoa Silenciosa, Lin Ziyu parou diante da Floresta de Bambu Prateado. A névoa densa envolvia os troncos altos e delgados, criando uma aura de mistério que parecia impregnar o ar com um silêncio quase reverente. Ele suspirou profundamente, sentindo a calma do lugar contrastar com o turbilhão dentro de si.

Foi então que ele sentiu uma presença.

Ela não era agressiva, nem sequer intrometida. Era como um fio de seda delicado, quase imperceptível, mas impossível de ignorar. Lin Ziyu não precisou olhar para saber quem era. A conexão entre eles era algo que transcendia a distância e o tempo, algo que ele não conseguia descrever completamente, mas que reconhecia imediatamente.

Ele se virou lentamente, seus olhos encontrando a figura que emergia das sombras entre os bambus. Era alguém que ele não via há anos, mas cuja memória jamais havia deixado seu coração. Aquela pessoa estava em silêncio, seu olhar penetrante fixo em Lin Ziyu. Ele era exatamente como Ziyu se lembrava – elegante e sereno, mas com uma intensidade que parecia desafiar o mundo. Suas vestes negras ondulavam levemente com a brisa, e o brilho suave do Qi demoníaco ao seu redor era um lembrete sutil de sua imensa habilidade.

— A-Yu... — disse o homem, com sua voz tão familiar que parecia um eco do passado.

Lin Ziyu não respondeu imediatamente. Ele sabia que aquele encontro não era mera coincidência. Alguma força maior havia trazido seu antigo parceiro até ali, e ele não podia deixar de sentir que aquilo era um prenúncio de algo muito maior.

— Ele é a brisa que nunca se apressa.

Oculto na neblina, sereno como o inverno,

Lin Xuelan, um mistério que o vento trouxe em uma noite cinza — disse ele, desaparecendo em meio a névoa, e sussurrando próximo dos ouvidos de Lin Ziyu. Esse era um poema que ele sempre citava para Lin Baihan.

Lin Ziyu murmurou o nome dele com uma mistura de espanto e saudade:

— Huang Wuxin...

O som escapou de seus lábios como um sopro, carregado de memórias e arrependimentos. O homem à sua frente não era apenas alguém que havia marcado seu passado; era um pedaço de sua alma, um irmão juramentado que havia trilhado um caminho sombrio e o deixado para trás.

Huang Wuxin, ou como era conhecido no mundo demoníaco, Luo Jinhuang (Leão da Chama Obscura), estava imponente diante dele. Sua figura era elegante, quase imperial, mas a aura que o envolvia era sufocante, como se o próprio ar ao redor dele se curvasse em reverência. O Qi demoníaco que exalava era quente como brasas, mas com um toque de algo gélido e mortífero, um paradoxo que só aqueles que alcançaram os mais altos níveis do cultivo demoníaco podiam carregar.

Ele era um Grande Demônio completo. Lin Ziyu não precisou perguntar como isso era possível. Os olhos de Wuxin, brilhando com uma luz dourada intensa, denunciavam sua nova linhagem demoníaca — o Leão Dourado. Diziam que aqueles que despertavam uma forma demoníaca completa podiam aniquilar exércitos inteiros com um único golpe, mas o que mais intrigava Lin Ziyu era o fato de Huang Wuxin ainda manter sua forma humana sem precisar ter cultivado por mais de cem anos, demônios comuns levam até mesmo séculos. Era algo raríssimo entre os cultivadores demoníacos, e um sinal de poder incomensurável.

Por um momento, Lin Ziyu quase se permitiu chorar. Mas ele conteve as lágrimas, erguendo-se com a mesma força que seu Shixiong Wang Lin sempre dizia que ele deveria demonstrar. Mesmo assim, seu coração apertava com um peso quase insuportável.

— Wuxin... — ele repetiu, agora com mais firmeza. — Quanto tempo se passou desde a última vez que nos vimos? Dez anos? Quinze?

Huang Wuxin sorriu de lado, um sorriso que carregava ao mesmo tempo saudade e ironia.

— Tempo... Para nós, cultivadores, ele é tão ilusório quanto as promessas de eternidade que o mundo dos imortais oferece — sua voz era grave, rouca, como se cada palavra carregasse o peso de mil batalhas. — Mas para mim, parece que foi ontem. Você era um garoto tolo que queria salvar o mundo. Ainda é?

A provocação era tão familiar que Lin Ziyu quase se esqueceu do abismo entre eles. Ele deu um passo à frente, a neve rangendo sob suas botas.

— E você ainda é o mesmo, não é? Sempre arrogante, sempre achando que pode carregar o mundo sozinho, mesmo quando todos estão tentando derrubá-lo.

O sorriso de Huang se desfez, dando lugar a uma expressão mais séria. Ele não respondeu imediatamente, mas seus olhos dourados varreram Ziyu como se estivessem avaliando o quão longe ele havia chegado.

— Você mudou — disse Huang Wuxin finalmente. — Não é mais aquele garoto que eu arrastava pelo Jianghu, fugindo de mestres furiosos e esquivando-se de suas espadas. Você tem poder agora, A-Yu. Eu posso sentir isso. E, ainda assim...

Ele se aproximou, o Qi demoníaco ao seu redor oscilando como chamas invisíveis.

— Você ainda não está pronto emocionalmente para me matar.

As palavras caíram como um trovão no coração de Lin Ziyu. Ele sabia que havia prometido, anos atrás, que faria o que fosse necessário se Huang Wuxin cruzasse o limite. Mas agora, diante dele, essa promessa parecia uma corrente pesada presa ao seu coração.

— Eu nunca quis chegar a esse ponto — respondeu Lin Ziyu com honestidade. — E espero que nunca tenha que fazer isso.

Huang riu, uma risada amarga que ecoou pela floresta de bambus.

— Ah, A-Yu. Ainda tão ingênuo — ele ergueu uma mão, e o Qi ao seu redor explodiu em uma aura dourada e negra que fez os bambus ao redor estremecerem. — Você acha que pode evitar o inevitável? O mundo não é feito de escolhas fáceis. Um dia, você terá que escolher entre mim e tudo o que você acredita. Eu só espero que, quando esse dia chegar, você esteja forte o suficiente para fazer a escolha certa. Eu não posso matá-lo, e não vou. Mas você, certamente terá que fazer isso.

Por um momento, o silêncio reinou entre eles, pesado como o céu antes de uma tempestade.

— Por que está aqui, Gēge? — Lin Ziyu perguntou finalmente, com sua voz firme. — Você sabe que a Seita Tianhuan nunca vai aceitá-lo de volta, não importa o que eu diga. Mesmo sendo de tal importância neste lugar. Tianlu nunca o perdoará, não como o nosso falecido mestre.

Huang suspirou, o brilho dourado de seus olhos diminuindo para uma cor castanho escuro.

— Eu não vim por eles. Mas por você. E pelo mestre... — Ele olhou para além de Lin Ziyu, para o Pico da Névoa Silenciosa. — Devo me despedir adequadamente daquele velho.

Lin Ziyu estreitou os olhos.

— Me acompanhe, vou levá-lo até seu túmulo — ele murmurou, suspirando levemente.

Lin Ziyu caminhava à frente, guiando Huang Wuxin até o túmulo do mestre. Os passos de ambos eram lentos, quase reverentes, enquanto a névoa fria da montanha envolvia o ambiente como um véu de tristeza. Cada passo de Lin Ziyu parecia mais pesado, como se estivesse conduzindo não apenas um antigo amigo, mas uma sombra do passado que nunca poderia ser completamente apagada.

Quando chegaram, Lin Ziyu parou, virando-se para encarar Huang.

— Ele está ali. Espero que você não demore... Tianhuan sempre está em alerta, dentro e fora — disse, com sua voz firme, mas o peso emocional era impossível de esconder.

Huang Wuxin lançou um olhar para Lin Ziyu, seus olhos castanhos brilhando suavemente na penumbra. Ele não disse nada a princípio, mas assentiu lentamente.

— Não se preocupe, ficarei apenas um momento — respondeu, com sua voz baixa, quase sombria. Ele desviou o olhar e se aproximou da lápide marcada com o nome do mestre. — Um único momento, e depois... desapareço de vez.

— Apenas quando a folha cai, a árvore descobre sua verdadeira força — murmurou Lin Baihan, com um suspiro suave.

Essas palavras fizeram o coração de Lin Ziyu apertar. Ele ficou onde estava, imóvel, mas seus pensamentos o arrastavam para tempos mais simples, quando os dois eram inseparáveis. Bons amigos. Irmãos juramentados. Não inimigos como agora. Huang Wuxin ajoelhou-se diante da lápide, e sua mão tocou suavemente a pedra fria. Ele traçou as marcas gravadas com os dedos, como se cada letra contivesse um fragmento de sua antiga vida.

— Mestre... — murmurou ele, com um tom que era quase respeitoso, mas carregava uma nota de tristeza. — Quem poderia tê-lo matado? Quem ousaria? O senhor, que era invencível...

O silêncio caiu como uma mortalha. Por um momento, Huang Wuxin ficou imóvel, seus olhos fixos na lápide, como se esperasse que o mestre respondesse. Então, ele respirou fundo e sorriu amargamente.

— Ah, mestre... O senhor ainda estaria resmungando se estivesse aqui, não é? Brigando comigo por abandonar os treinamentos para beber vinho barato e vagar pela cidade. Sempre dizia que eu não tinha jeito. E talvez estivesse certo.

Ele riu, mas havia uma melancolia na sua voz que fez Lin Ziyu desviar o olhar, incapaz de suportar a mistura de emoções que o consumia.

— Eu me lembro... — continuou Wuxin. — De como tentava arrastar A-Yu para as minhas aventuras. Mas ele nunca cedia. Sempre tão disciplinado. Tão dedicado. E eu... sempre fui o problema.

Ele pausou, passando os dedos pela pedra como se estivesse traçando a imagem do rosto do mestre em sua mente.

— Mas o senhor não merecia isso, seu velho tolo — ele murmurou, com sua voz se tornando mais grave. — Não importa o que tenha acontecido, eu vou descobrir quem o matou. Não importa quanto tempo leve. Não importa onde essa pessoa esteja. Eu a caçarei até o fim do mundo, se for necessário.

Lin Ziyu ficou em silêncio, observando Huang Wuxin de longe. As palavras dele ecoaram em seu coração, trazendo à tona um conflito interno que ele vinha tentando sufocar. Mesmo agora, mesmo com tudo o que havia acontecido, ele não conseguia odiar Huang Wuxin completamente.

Huang se levantou lentamente, virando-se para encarar Lin Ziyu.

— Ele sempre acreditou em você — disse Huang Wuxin, com um tom que parecia pesaroso. — Eu também acreditava.

Lin Ziyu segurou o olhar dele, com sua expressão séria.

— Não torne isso mais difícil do que já é, Wuxin — respondeu ele. — Você disse que ficaria apenas um momento. Eu não quero ter que forçá-lo a ficar aqui para sempre... Não sabe o quanto precisei de seu apoio nesses anos todos. Meu melhor amigo se foi para sempre, e nem mesmo sei como trazê-lo de volta.

Huang Wuxin sorriu levemente, um sorriso cheio de significados que Lin Ziyu não conseguia decifrar.

— Sim, eu disse. E agora, é hora de ir. Mas antes — ele parou por um momento, o encarando fixamente curioso. — Dê-me uma chance de ver o seu poder.

— Está tentando me deixar irritado? — ele respondeu, tentando não derramar lágrimas.

— Vamos lá, A-Yu, apenas faça isso por mim. No futuro, eu quero morrer apenas pelas mãos do meu irmão.

Huang Wuxin observava Lin Ziyu com um misto de curiosidade e descrença. Aquele homem, que ele conhecia há tanto tempo, era uma força incomparável em Tianhuan, e agora estava prestes a mostrar por que era chamado de número um.

Lin Ziyu fechou os olhos por um instante, sentindo a energia ao seu redor. O vento sussurrava suavemente, e as folhas dançavam no ar, mas ele estava completamente concentrado. Quando abriu os olhos, eles brilhavam com um tom azul sereno, mas implacável.

— Você sabe, Wuxin... — começou Ziyu, com sua voz calma, mas carregada de autoridade. — Até mesmo uma simples folha pode ser moldada para abalar os céus e a terra.

Enquanto falava, uma pequena folha verde, trazida pelo vento, descia lentamente, oscilando como se estivesse prestes a tocar o chão. Lin Ziyu estendeu a mão, agarrando-a delicadamente, como se fosse o objeto mais precioso do mundo.

Huang Wuxin estreitou os olhos, com sua expressão mostrando um misto de ceticismo e fascínio. Ele podia sentir a energia que começava a emanar de Lin Ziyu, e isso fazia até mesmo seu poderoso Qi demoníaco estremecer levemente.

Lin Baihan segurou a folha entre os dedos, fechando os olhos novamente. Em instantes, ele começou a absorver a energia do céu e da terra, que fluía como rios invisíveis em direção a ele. A folha, antes comum, agora brilhava com um leve tom esverdeado, pulsando com uma força quase divina.

— Lâmina dos Quatro Ventos... — sussurrou ele, levando a folha até os lábios.

Com um simples sopro, ele liberou a folha no ar. Ela flutuou por um instante, como se nada tivesse mudado, mas então sua velocidade aumentou abruptamente. O som do vento cortado ecoou como um trovão, e a folha se tornou uma lâmina invisível, viajando a uma velocidade assustadora.

De repente, o céu acima deles se partiu. Um rasgo colossal apareceu, como se a realidade tivesse sido cortada em duas. A visão do espaço vazio e da energia bruta entre os mundos se revelou por um breve momento antes de desaparecer, deixando para trás uma calma assustadora.

Huang Wuxin ficou em silêncio por um longo momento, encarando o céu onde antes havia o rasgo. Ele cruzou os braços, como se estivesse refletindo sobre o que acabara de presenciar.

— Impressionante — murmurou ele, com um sorriso enigmático. — Com apenas uma folha, o número um de Tianhuan dividiu os céus e partiu a realidade.

Lin Ziyu virou-se para ele, sua expressão tranquila, mas firme.

— Você queria ver o que eu podia fazer, então agora sabe. Mas lembre-se, Huang Wuxin... Eu não faço isso por orgulho ou demonstração. Eu faço porque, mesmo diante de tudo, ainda considero você meu irmão. Mas se o dia chegar em que eu tiver que levantar minha espada contra você... não hesitarei.

Huang Wuxin devolveu-lhe um olhar intenso, cheio de emoção, mas também de desafio.

— Eu espero que esse dia nunca chegue, A-Yu — respondeu ele. — Porque se isso acontecer, apenas um de nós verá o próximo amanhecer.

Ambos ficaram em silêncio, enquanto o vento soprava suavemente, trazendo consigo o peso de uma antiga amizade que agora parecia uma espada de dois gumes.

Huang deu um passo para trás, com sua figura começando a se envolver em sombras como se estivesse se dissolvendo no ar. Mas antes de desaparecer completamente, ele falou mais uma vez, sua voz ecoando na névoa:

— Lin Ziyu, não importa o que aconteça... Eu nunca deixei de te considerar meu irmão.

E então, ele se foi, deixando Lin Ziyu sozinho diante do túmulo, com a dor do passado e as incertezas do futuro pesando sobre seus ombros.

Continua...