Um homem caminhava lentamente pelo gigantesco Hangar, na principal base da força aérea real britânica, localizada nas ilhas Falkland no Atlântico. A construção era grande o suficiente para impossibilitar que de uma ponta pudesse se ver outra, além de seus colossais 40 metros de altura. Mecânicos e engenheiros se movimentavam em ritmo acelerado, alguns no chão, outros em plataformas a alguns metros do mesmo. O homem, uniformizado com um sobretudo azul marinho, com as letras F.A.R. estampadas em seu braço direito, parou para observar o que realmente era impressionante de verdade no local, mais do que a arquitetura e dimensão do hangar.
Com seus 19.5 metros de altura, que ao seus pés pareciam ser muito mais, o U.M.T. Série Camelot 003, codinome: Gawain, com seu branco brilhante, e detalhes azuis que davam a máquina de guerra uma beleza que contrastava com sua ferocidade, continuava tão impressionante quanto a primeira vez que Thomas Moncrief o viu, ainda como recruta novato para a força aérea de seus pais. A Unidade Móvel Tripulada, desenvolvida pela fabricante britânica Merseyside era a joia da força aérea real, não devendo nada para os U.M.T dos demais exércitos que formavam a esfera terrestre, mas ainda ficava longe do primor tecnológico das máquinas do verdadeiro inimigo. Agora, 14 anos depois, e alguns fios de cabelos brancos a mais, o Capitão do terceiro esquadrão de assalto da F.A.R, encostou sua mão direita numa das pernas da gigantesca máquina.
"Vamos dar um jeito de voltar para casa mais uma vez, amigão."
Depois de cumprimentar seu gigantesco companheiro de metal, Thomas se preparou para deixar o hangar, precisava descansar, de um jeito ou de outro. A missão do dia seguinte seria a mais importante em sua carreira de mais de uma década. Os membros da F.A.R que ainda se encontravam no hangar, faziam continência ao capitão, toda vez que ele passava por eles. Thomas os retribuía, com o respeito que aqueles bravos homens e mulheres, que trabalhavam por trás da cena, mereciam. Próximo à saída do hangar, ele notou a presença de um homem, na última baia de U.M.Ts do prédio. Um pequeno sorriso tomou conta das feições bem definidas do capitão.
A alguns metros de onde estava, o tenente Gabriel Sirghi, repetia o gesto feito por Thomas minutos antes, encostando sua mão aos pés de seu U.M.T Gawain, talvez proferindo a mesma frase, talvez com um objetivo diferente daquele de apenas voltar para casa. Isso não importava, no entanto, Thomas se aproximou do garoto, como ele costumava o chamar, mas que agora já era um homem, alguns centímetros maior do que ele próprio.
"Tenente Sirghi."
Gabriel Sirghi apenas levantou a cabeça ao ter seu nome chamado, por uma voz que ele jamais esqueceria, a voz de seu herói e salvador. Ele se virou, fazendo o gesto que seu capitão deve ter recebido algumas dezenas de vezes durante o dia. Thomas, ainda sorrindo, devolveu a continência de Gabriel.
"A vontade, tenente Sirghi."
"Capitão Moncrief." O jovem tenente prestou atenção no seu capitão, o rosto bondoso do homem que o salvara ainda criança, continuava lá. Apesar de saber muito bem, as mortais capacidades de Thomas no campo de batalha, ele jamais deixaria de associar seu salvador e irmão adotivo, com bondade. Ele foi seu modelo e sua inspiração na última década. O motivo Gabriel ter se alistado à F.A.R, apesar dos protestos de Thomas, e por consequência de seu árduo trabalho, ter se tornado um dos mais jovens tenentes condecorados da força aérea. Até sua aparência ele copiou quando adolescente, apesar da diferença atual ser considerável, diversas vezes a comparação dos trejeitos dos irmãos adotivos foi feita por seus colegas, superiores, e principalmente em casa. Onde sua cunhada, Samantha, e sua sobrinha Julie, não perdiam a chance de fazer piada com a similaridade dos dois.
"Caminhe comigo, tenente."
Gabriel assentiu e seguiu com Thomas para fora do hangar. A noite fria do outono das ilhas Falkland, abraçou os dois com uma brisa gelada. Gabriel levantou a cabeça para observar o céu estrelado com suas poucas nuvens, e depois seus olhos procuraram pelo o que seria seu objetivo principal em sua próxima missão. Ele não sabia exatamente quando a lua se tornou um símbolo de terror e morte para os humanos na terra, foi muito antes dele mesmo nascer. Mas ele compartilhou esse temor, foi educado para isso, e era dos poucos sobreviventes de seu terrível poder destrutivo. Isso acabaria amanhã, era para isso que estavam colocando suas vidas em risco afinal.
Thomas observou o irmão e subordinado, enquanto ele estava distraído pela beleza da lua e das estrelas. O garoto, agora homem, tinha 24 anos. Seus cabelos negros, num tom quase azulado, desciam até a altura da orelha. Suas feições bem definidas era um dos motivos da comparação entre eles ser corriqueira, mesmo não tendo o mesmo sangue. Ele era um tanto mais alto que Thomas agora, mas não acreditava que tivesse passado dos 1,90. Com sua atenção de volta ao hangar, que agora já estava a alguns metros de distância, o capitão pensou na missão seguinte, e as responsabilidades e esperanças depositadas nas capacidades e no rifle de Gabriel Sirghi e seu UMT. A impressão que todos tiveram após o briefing da missão era única: A guerra de mais de um século estava prestes a mudar. Ele observou seu irmão mais uma vez, e continuou.
"É curioso, não acha?"
Gabriel deu atenção a Thomas, que prosseguiu.
"Por setenta anos, as forças terrestres tentaram capturar a base e o centro de pesquisas da U.C.E na Lua, e agora, o objetivo mudou de captura para destruição."
"Tem razão, e isso pode ter alguns motivos." Gabriel concordou com o irmão, enquanto especulava a razão da mudança de diretriz. "Talvez não precisem mais do que eles faziam lá, ou talvez a pesquisa da U.C.E esteja pronta, e a destruição seja nossa única opção."
"Olha, vou te falar que a primeira opção é infinitamente mais atrativa!"
O bom humor de Thomas em qualquer situação, era uma das poucas coisas que Gabriel sentia falta de não ter aprendido. O capitão colocou a mão no ombro de Gabriel, fazendo sinal para que voltassem ao alojamento.
"E então, como andam as coisas com Theresa?"
A sua expressão de incredulidade deve ter sido um prato cheio para Thomas, que riu. Só ele para puxar um assunto desses naquele momento.
"Quer falar disso AGORA?"
"Exatamente por ser o agora, que devemos falar sobre isso."
Gabriel notou a expressão bondosa do irmão receber um tom de seriedade. E ele fechou os olhos para admitir que Thomas tinha razão, como geralmente acontecia. O amanhã deles não era garantia, longe disso.
"Eu vou pedir a mão dela em casamento, acho que já passei tempo demais me acovardando."
"Esse é o espírito, garoto! Certifique-se de garantir que o velho Vazquez vai voltar são e salvo também, vou chutar que manter o pai dela vivo vai aumentar suas chances!"
A risada alta do Capitão se espalhou pela noite, inacreditável, era o adjetivo que associava a seu irmão, e mais uma vez ele estava, de fato, sendo inacreditável. Antes que ele pudesse protestar, Thomas levantou a mão até certa altura, para que Gabriel a visse. Suas piadas, suas risadas, eram para esconder o que sentia de verdade. A mão trêmula do irmão, fez com que Gabriel prestasse atenção na sua própria. Eles compartilhavam da mesma sensação, estava longe de ser a primeira missão dos pilotos da R.A.F, mas o temor e os medos seriam sempre os mesmos. Thomas fechou a mão para mostrar que assim ela pararia de tremer, e ele repetiu o gesto. Ambos já estavam em frente ao alojamento da base área de Mount Pleasant, quando o capitão resolveu usar a frase que tantas vezes foi o combustível para que Gabriel Sirghi seguisse em frente.
"Levante a cabeça, Gabriel. O caminho a frente só pode ser visto dessa maneira."
A continência de Thomas veio combinada do sorriso que Gabriel tanto admirava, Ele repetiu o gesto do irmão, e sem dizer um boa noite, os homens desapareceram nas portas automáticas de seus quartos.
Gabriel Sirghi e Thomas Moncrief não faziam ideia de que a missão que estavam prestes a realizar, seria o estopim para o que ficaria conhecido como o ano da morte. Onde bilhões de vidas deixariam de existir.
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"U.M.T 0003-Gawain, sequência de ativação iniciada."
Mesmo na escuridão total que lhe envolvia, Gabriel pode ouvir claramente a voz de seu controlador de voo para a missão, dando início a partida de sua colossal máquina. A escuridão começou a ser vencida por um ponto azul, que se acendeu no centro do cockpit. A partir dele, luzes se espalharam, ligando os diversos instrumentos do U.M.T, e ainda que timidamente, o brilho era suficiente para revelar a verdadeira forma do cockpit da máquina. O símbolo dourado da F.A.R apareceu no monitor principal, indicando que a sequência estava finalizada.
Gabriel levou as mãos aos manches de Gawain, e depois levantou seu braço direito, para verificar o único equipamento que diferenciava seu U.M.T dos demais: a mira óptica, que ele usaria quando fosse necessária precisão extrema. Precisão essa que lhe rendeu um apelido que odiava: O sniper de Chisinau. A cidade de Chisinau na Moldávia, sua terra natal, foi devastada na guerra contra as forças da U.C.E, que usaram o leste europeu como zona de teste para demonstrar sua força aos exércitos terrestres que ainda resistiam. Salvo pelas forças da F.A.R, o jovem cresceu e agora se dedicava na guerra que levou a morte de seus entes queridos e de sua nação.
Os monitores e câmeras externas agora estavam todos online, e Gabriel observou as outras 12 unidades Gawain, que ocupavam o hangar da nave que os transportava para a missão. A espaçonave Avalon, também de fabricação da Merseyside, era uma das únicas da classe sob controle das forças terrestres, e sua existência foi mantida em segredo até a data da missão. Um sinal de uma transmissão geral apareceu num dos monitores do U.M.T.
"Bravos cavaleiros da Força Aérea Real, sou o Major Gianluca Pellegrini, chefe de operações da Fundação Aegis. E tenho a honra de contar com a participação de vocês nessa missão que mudará o futuro da humanidade."
A organização Aegis foi fundada com o intuito de gerenciar os diversos exércitos da Terra, fragmentados por divisões políticas. Buscando unidade para combater melhor o inimigo mútuo do planeta.
"Junto das forças da Marinha Americana, e das Forças de Auto Defesa do Japão, iniciaremos um ataque à base lunar Nitocris, da U.C.E. Nosso objetivo é claro: Destruir toda e qualquer estrutura sobre a lua, tirando de vez qualquer possibilidade de ataque inimigo partindo dela."
Gabriel apertou o manche de seu U.M.T com mais força, a memória de sua cidade destruída, dos escombros e dos cadáveres das pessoas que amava em sua frente, voltaram.
"Sem mais delongas, boa sorte, damas e cavalheiros, e boa caçada."
Assim que a mensagem foi encerrada, Gabriel observou pela câmera uma correria aos pés de seu U.M.T.
"A todo pessoal autorizado e não autorizado: por motivos de segurança, se mantenham atrás das linhas demarcadas. Repetindo..." A voz repetiu seu aviso que foi atendido de forma imediata.
Após um leve impacto, o movimento da plataforma de lançamento movendo as colossais máquinas para a linha de lançamento no centro do hangar da nave, era o sinal de que a hora havia chegado. Ao lado dos UMTs, compartimentos nas paredes da espaçonave se abriram, e as unidades, levantando seus enormes braços, pegaram seus respectivos armamentos.
Gabriel repetiu o gesto, no entanto, sua arma era diferente das utilizadas por seus companheiros. Apelidado apenas de "EX" , o rifle de alta densidade que o UMT Gawain do tenente agora segurava, era um protótipo de uma série de pesquisas e desenvolvimento partido da organização Aegis, em parceria com as fabricantes de UMT de todo mundo. Mais protótipos de tecnologia similar estavam sendo utilizados na missão, em mãos dos demais exércitos.
O tenente observou os monitores mais uma vez. As asas metálicas do UMT Gawain a frente do seu, adornadas por peças de um azul cintilante, era a principal característica que diferenciava as criações da Merseyside dos demais UMTs terrestres, A tecnologia combinava os propulsores, que a maioria das máquinas utilizava, com as asas maglev, criação da fabricante britânica, dando as máquinas da F.A.R menos velocidade de locomoção, mas uma estabilidade inigualável.
"Senhoras e senhores."
A voz do Capitão do terceiro esquadrão de assalto ecoou por todo hangar, câmeras mostrando os 13 cockpits dos pilotos da missão, tomaram conta dos monitores do U.M.T.
"Nossa missão é simples, vamos atacar a base diretamente, enquanto ganhamos tempo para o tenente Sirghi conseguir a energia necessária para o disparo do rifle EX."
Gabriel levantou a cabeça mais uma vez, olhando para a grande mira óptica que estava no teto do seu cockpit.
"Não sei qual o sentimento de vocês com essa guerra, mas se temos uma chance de fazer que ela chegue a um fim mais rapidamente, vamos agarrá-la com todas as forças."
A contagem para o lançamento apareceu no monitor de Gabriel.
"Boa sorte, e boa caçada."
Os 13 pilotos da F.A.R fizeram uma continência ao mesmo tempo, o monitor desligou, e a contagem chegou a zero. A gigante porta do hangar da nave se abriu, a hora havia finalmente chegado. Gabriel suspirou, enquanto cada uma das unidades a sua frente decolava. E então...
"Gabriel Sirghi, U.M.T Gawain, Iniciando missão!"
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A primeira explosão, a alguns metros de onde o esquadrão de Thomas se encontrava, foi o primeiro real indicativo que estavam num campo de batalha. A estéril superfície da lua, e as construções da U.C.E, que por quase um século ocupavam o satélite natural do planeta, seria o cenário de uma das mais terríveis batalhas de UMT da guerra entre as colônias e a Terra.
"As forças americanas estão atacando a ala oeste da base."
Gabriel utilizando de seus sensores mais capazes que os dos demais Gawains, por sua função, deu detalhes do posicionamento dos aliados na operação.
"As forças japonesas estão fazendo o mesmo, na ala leste."
"Muito bem, Vazquez, Enfield, deem cobertura e proteção a Sirghi até que seu disparo esteja pronto. Aos demais, atacaremos o centro com todas as forças para que possamos colocar os potencializadores do ataque de Sirghi. Vamos fazer com que não tenham outra opção a não ser se defender!"
O "entendido" ecoado pelo grupo foi o sinal para que as unidades seguissem em alta velocidade em direção ao centro de pesquisa e base das forças coloniais. Gabriel olhou para a interface exclusiva de seu grande rifle, e a energia estava próxima aos 50%. A alimentação feita indiretamente pela espaçonave Avalon, era lenta, porém essencial para o elemento surpresa do ataque.
"Quanto tempo até o carregamento completo, jovem?"
O vice capitão Marco Vazquez perguntou com sua voz experiente, e Gabriel fez uma breve estimativa antes de responder.
"300 segundos, senhor."
"Muito tempo, 5 minutos nas mãos desses filhos da mãe são uma eternidade."
"Senhor."
Enfield chamou atenção de Vazquez, indicando nos radares duas unidades inimigas que se aproximavam.
"Brilhante." Resmungou Vazquez. "Provavelmente unidades de patrulha retornando!"
Ao notarem a presença das máquinas da F.A.R, o imediato disparo dos rifles inimigos deu o tom da relação entre as duas forças. Esquivando dos lasers, eles já se preparavam para os seguintes. A velocidade dos U.M.T Aquarius, que as forças coloniais na lua utilizavam , era consideravelmente maior que a dos Gawain. E por consequência, a distância entre as forças foi reduzida a poucos metros.
O azul e vermelho dos Aquarius se misturavam na dança agressiva que seus velozes ataques se tornaram. Enfield, defendeu o Gawain de Gabriel com seu escudo. A explosão foi seguida por disparos de Vazquez que conseguiu alguma distância entre as unidades. Gabriel olhou o contador de energia de seu rifle mais uma vez, em suas contas, ainda restavam 3 minutos de espera.
A nova investida dos Aquarius, agora com seus sabres a laser, foi recepcionada da mesma forma por Vazquez e Enfield. A sequência de golpes dos inimigos deixava cada vez menos espaço para os pilotos da força real, que não resistiriam muito mais tempo. A diferença entre equipamentos era grande demais.
Foi então que os dois pilotos viram seu companheiro desligar as asas maglev de seu U.M.T, e por consequência iniciar uma lenta queda para a superfície lunar. A preocupação de Vazquez foi interrompida pela investida agressiva do piloto da U.C.E, que viu a oportunidade de um abate fácil contra uma unidade defeituosa inimiga.
No momento em que o Aquarius se aproximou, no entanto, as luzes azuis de Gawain se acenderam novamente, e o desespero do piloto em tentar interromper seu avanço foi em vão, com um único disparo de sua arma secundária, Gabriel arrancou a cabeça do U.M.T inimigo. A unidade seguinte, em pânico ao ver o companheiro sendo morto a sua frente, avançou da mesma forma, mas foi empalado pelo sabre de Vazquez, caindo e explodindo, junto de seu aliado.
"Quer me matar do coração, moleque!?"
Os protestos de Vazquez foram ignorados, quando uma grande explosão aconteceu numa das alas do complexo lunar.
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Thomas observava de longe o conflito entre seus três aliados e os dois Aquarius, mas não teve tempo para tomar qualquer decisão sobre a batalha, visto que estava no coração de uma ainda mais feroz. Em alta velocidade, ele e seu esquadrão se aproximavam do portão principal da base, quando uma saraivada de lasers os fez procurar abrigo.
Após alguma deliberação, ele ordenou que suas forças se dividissem e atacassem em formação de pinça. Deu resultado, e eles rapidamente dominaram e destruíram as unidades que guardavam a entrada do complexo. Agora dentro do andar após explodirem a porta, a cena seguinte o surpreendeu.
Um grupo de cientistas era escoltado para uma nave de fuga, enquanto UMTs Aquarius os protegiam. Ao perceberem os Gawain agora dentro do hangar, elas começaram a disparar, fazendo com que todos no chão se abaixassem desesperados. Isso deixaria um gosto amargo na boca de Thomas, ao ter que matar inocentes desarmados, mas a diretriz da missão era clara: Sem sobreviventes.
Frio, Thomas disparou seu rifle em direção ao transporte que levaria os sobreviventes. Dando fim a vida de cerca de 30 pessoas, sem tempo para remorso, ele voltou a atacar os UMT inimigos, desesperados e sem ação. Quando estava prestes a finalizar o grupo inimigo, A unidade ao seu lado, de Andrew McCoy, seu ala de tantos combates, explodiu sem dar ao homem sequer a chance de gritar. E mais tiros poderosos obrigaram as demais unidades a procurarem abrigos. Da fumaça e dos destroços, um UMT imponente, de armadura negra, detalhes vermelhos e verdes, e com grandes propulsores, entrou no hangar.
Isso certamente não é um Aquarius. Pensou Thomas, enquanto estudava a unidade inimiga. Sua análise, no entanto, foi interrompida quando uma raríssima transmissão vinda do inimigo, foi feita. Thomas observou a notificação em seu monitor, antes de clicar, aceitando-a.
"Esperava mais de um cavaleiro real. Matando inocentes, indefesos, dessa forma."
A ironia disso ter vindo de um soldado do exército responsável por aniquilar 1/5 da vida terrestre fez Thomas rir sarcasticamente.
"Inocentes? Quem nos garante que dentre esses homens e mulheres não estaria a mente que criaria a mais nova forma de vocês nos massacrarem!"
"Senhor!"
Thomas deu atenção a um de seus subordinados.
"As forças japonesas estão indicando que existe uma grande quantidade de naves de fuga tentando deixar a base!"
Havia acabado o tempo, destruir a estrutura não seria o suficiente, precisavam do disparo de Gabriel, agora. E como melodia, a voz de seu irmão chegou ao canal de transmissão.
"Condições para disparo concluídas, deixem o perímetro, caso contrario não consigo garantir a segurança de vocês!"
"Ouviram o homem!" Disse Thomas com um sorriso. "A todas as unidades, evacuem a bas-."
O impacto do ataque do U.M.T negro ao Gawain de Thomas foi forte o suficiente para que ele fosse enviado alguns metros longe. A investida continuou, com ele fazendo o melhor que podia para se defender, o choque dos sabres de luz derreteu os contêineres próximos. Thomas conseguiu espaço e desferiu um chute, o suficiente para conseguir uma distância com o inimigo, seus demais companheiros partiram para cima do colonial, conseguindo tempo para que ele pensasse.
Thomas olhou a pequena foto ao lado direito do seu cockpit, e mais uma vez ao seu inimigo. A ordem que estava prestes a dar seria a mais dolorosa de todas. Ele pegou a foto da sua bela esposa, sua bela filha, e seu querido irmão, que não tinha seu sangue, mas tinha seu amor, e então mudou o canal de comunicação, criando uma faixa única para o UMT de Gabriel
"...Gabriel."
Ao ouvir Thomas chamando seu nome, não seu sobrenome como costumava durante operações, ele percebeu imediatamente que a transmissão era exclusiva para ele.
"...Não conseguiremos deixar o complexo a tempo, e não podemos deixar que os cientistas fujam."
Gabriel ficou em silêncio.
"Tenente Sirghi, isso é uma ordem."
A explosão devastadora não daria a menor chance de sobrevivência a seus companheiros, não seria apenas as forças da F.A.R os aliados dos outros países também seriam pegos nela.
"Não posso fazer isso, Thomas!"
Ele não poderia matar o próprio irmão.
"Cuide delas para mim, ok? Isso também é uma ordem."
O feed de transmissão no monitor de Gabriel mostrou o cockpit do irmão, com o sorriso que ele tanto amava. Não foi uma continência, foi um sinal de positivo com o polegar, a última imagem que ele teve de Thomas.
"A todas as unidades."
A mensagem de seu capitão agora era para todas as unidades, inclusive as aliadas estrangeiras.
"Em alguns segundos, destruiremos a base lunar, se ainda forem capazes, deixem o complexo o mais rápido possível. E para os que forem me acompanhar, vejo-os do outro lado. Obrigado pelos anos de sacrifício, pelas nossas famílias."
Enfield e Vazquez olharam imediatamente para Gabriel, seu UMT ficou imóvel por alguns segundos, e então ativando suas asas azuis, subiu alguns metros da órbita lunar. Com a mão trêmula, ele abaixou sua mira óptica, preparou seu rifle, e colocou os dedos no gatilho equipado na mira. Suas lágrimas embaçaram o visor, lágrimas que Thomas Moncrief tantas vezes ajudou a secar.
A unidade negra colonial, percebendo o que estava prestes a acontecer, tentou deixar o complexo, mas com as forças que seu danificado Gawain ainda tinha, Thomas o obrigou a se defender.
"Você não vai a lugar algum, soldado!"
"São cinco mil pessoas nesse complexo, vai matar cinco mil inocentes!?"
Não eram só as cinco mil vidas inocentes, que eles estariam colocando nas costas de Gabriel, eram também a de seus aliados, e obviamente a sua.
"Gabriel... me perdoe." Ele estendeu a mão a foto de sua família, mais uma vez. "Samantha, Julie, cuidem dele para mim."
Ele empurrou a unidade inimiga com as forças que ainda lhe restavam, clicando na lateral do seu capacete, para que se abrisse.
"Por um futuro que não irei fazer parte..."
O grito de desespero e dor de Gabriel desapareceu junto da explosão seguinte, as partículas de alta densidade de seu canhão experimental, rugiram no silêncio do espaço. Em segundos, o complexo lunar foi engolfado por um cogumelo de destruição, as naves de fuga que já estavam quase deixando a lua, foram engolidas pelo impacto.
O rifle caiu da mão do Gawain de Gabriel, e por um longo tempo ele ficou imóvel. Vazquez o observava, sem as palavras certas para confortar o garoto que tomara como pupilo, e que tanto amava sua filha Theresa. Antes que pudesse encontrar tais palavras. Foi interrompido pela transmissão vinda da nave Avalon.
"Relatório da missão, vice-capitão Vazquez."
O fato de terem o procurado primeiro, indicava que eles sabiam que não restava mais ninguém, além dos 3.
"A missão foi..." Não, a missão não foi um sucesso, seria crueldade demais chamar aquilo de sucesso.
"A missão foi concluída, senhor."
A explosão na superfície lunar pode ser vista por diversas partes do mundo, a comemoração se espalhou rapidamente, não havia mais necessidade de temer algo tão belo, quando o satélite que por anos foi símbolo da morte que vinha do espaço, foi finalmente liberto do controle da U.C.E.
2238 D.C. a guerra entre as colônias espaciais e as forças militares da terra mudaria pela última vez.