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Chapter 6 - Capítulo 5: Operação Purgatio, parte I

Com dimensões parecidas com as de um porta aviões, o agora oficialmente denominado cruzador espacial Avalon, rasgava os ares sobre o oceano pacifico, com destino para aquela que seria sua segunda missão. A enorme aeronave, com mais de 400 metros de comprimento e 60 de altura, era capaz de uma velocidade que não condizia com seu tamanho. A Avalon possuía uma tripulação de 100 pessoas, incluindo membros da equipe de engenharia, pilotagem, medicina, e estratégia.

O avanço tecnológico recente, não era algo que Gabriel deu a atenção que deveria. No entanto, depois de pilotar o mais novo U.M.T da Merseyside, e de estar fazendo sua segunda viagem na Avalon, ele estava pronto para admitir que foi um erro não ter notado a mudança e o avanço tão drásticos chegando. 

Numa grande cabine pouco iluminada, para que a mesa holográfica no centro dela, essa sim com luzes fortes o suficiente para que todas as suas informações fossem claramente passadas, o último briefing da primeira missão da unidade de "testes" da organização Aegis, tinha seu início. No entorno da sala, o piloto e amigo de Gabriel, Henry Enfield estava ao lado do chefe da engenharia, Carlos Monteiro, com seu usual mau humor estampado na cara. Também estavam o doutor responsável pela medicina na espaçonave, o experiente médico militar, Selçuk Turan, e sua assistente Mikaela Racic. Numa posição central próxima a mesa estratégica, o Major Pellegrini, e a capitã Ortiz ficavam lado a lado. Foi o Major quem deu início ao encontro. 

"Como todos aqui já sabem, em cerca de 40 minutos, iniciaremos a operação Purgatio. Após meses coletando informações, finalmente temos a localização das principais bases da U.C.E no planeta."

No centro da mesa, o globo terrestre surgiu, com pontos em diversos países indicando a localização das bases. 

"Temos a oportunidade perfeita. Sem o suporte da base lunar, as forças deles estão enfraquecidas e assustadas. Em um único ataque, limparemos a terra da presença de nossos inimigos, e então finalmente poderemos dar a atenção devida a guerra que será travada no espaço."

Ortiz deu um passo à frente, com um toque, ela ampliou o mapa mundi, e o ponto sobre a Austrália e sua dimensão continental tomou destaque. 

"Nosso esquadrão será responsável pela destruição da base inimiga de Adelaide. E sim, seremos só nós quatro."

Kiyoko juntou as mãos, nervosa ao receber a notícia, Gabriel e Jérôme continuaram impassíveis. Ortiz olhou para cada um deles, antes de continuar. 

"Em condições normais, seríamos em cinco, mas o quinto piloto do nosso esquadrão ajudará na destruição da base no norte da China. Essa não é apenas uma missão de destruição, estamos aqui para mostrar nosso verdadeiro poder. Com quatro unidades, vamos aniquilar com a maior base deles aqui."

A mesa tática se desligou, e a luz do restante da sala se acendeu, revelando o moderno interior.

"Estão aqui por serem excepcionais, vamos mostrar a eles que estamos além disso. Lembrem-se, recebemos a informação de uma possível tentativa de resgate por parte da U.C.E, se isso acontecer de verdade, usaremos nosso plano B."

Ela novamente observou cada um de seus subordinados, e parou quando chegou a vez do Kiyoko Ogata. 

"Eu confio em todos vocês com minha vida. E espero que acreditem da mesma forma em mim. Boa caçada, pilotos!"

"Sim, capitã!"

A sala rapidamente se esvaziou, e já faltavam poucos minutos para a decolagem dos UMTs. Gabriel também estava prestes a deixar a cabine quando notou a figura imovel de Kiyoko Ogata, ainda ao lado da mesa. Ensine a ela o que achar que ela precise, foi o que Sabrina M. Ortiz disse ao piloto em seu primeiro encontro. Gabriel se aproximou, e não se surpreendeu ao ver a jovem segurando as mãos, trêmulas. Ele levantou sua mão esquerda aberta, deixando-a próximo ao rosto de Kiyoko, que se assustou. Quando conseguiu sua atenção, ele mostrou para a garota que também tremia. O medo era um sentimento que sempre iria segui-los. Ele então repetiu o gesto que seu irmão tantas vezes fez para ele, cerrando os punhos, para esconder seu tremor, e seu temor. Ogata olhou para suas duas mãos, e então também as fechou. 

"Tenente Ogata."

"Senhor?"

"O que você verá e fará hoje irá te transformar, quando retornar dessa missão, vai ser como uma nova Kiyoko Ogata, isso é um fato inegável. Só peço para que se lembre da Kiyoko Ogata que deixará de existir, de seus anseios e suas motivações. Use-os para guiar seu caminho."

"Sim, primeiro tenente!"

"Vamos, não temos muito tempo até a decolagem."

Ainda acanhada, a jovem passou por ele, com um pequeno resquício de nova determinação em seu rosto. Gabriel a seguia nos corredores da Avalon, observando o céu azul pelas janelas da nave, era hora de mostrar o significado de verdadeiro poder para a U.C.E 

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O hangar que a pouco estava movimentado com os preparativos para a missão, já se encontrava praticamente vazio. As plataformas de lançamento dos quatro U.M.T já estavam alinhadas e prontas. Na liderança, o U.M.T de Ortiz, o arrojado F-808, a evolução dos F-800 da marinha americana, se preparava para o lançamento. A máquina camuflada num tom verde classicamente militar, lembrava em suas linhas seus antigos antepassados, os poderosos caças do século XXI. A luz de autorização de decolagem ascendeu, e a capitã fez as honras. 

"Capitã Sabrina M. Ortiz, UMT F-808, iniciando missão!"

O rugido super sonico das poderosas turbinas do F-808 ecoaram até mesmo na cabine das demais unidades. Segundos depois, Gagnier e seu Chevallier estavam prestes a decolar. A variante dos Mirage franceses, com seu mesmo branco e amarelo, ainda possuía a elegância da série que lhe deu origem. As linhas agressivas e as asas, que não possuíam o sistema maglev das máquinas da Merseyside, mas ajudavam na grande capacidade de manobras do UMT, faziam dele belo e mortal.

"Vice-capitão Jérôme Gagnier, UMT Chevallier, iniciando missão!"

Kiyoko Ogata respirou fundo, a sua frente, a plataforma e a escotilha onde em breve decolaria, em sua mente, lembranças da academia de pilotos que superou com suas prodigiosas capacidades, mas também com sua solidão. Izanagi e seus quatro grandes propulsores, lembravam os Hayabusa. Assim como sua katana, apelidada sugestivamente de divisor de moléculas, continuava lá. Os propulsores se acionaram, e enquanto acelerava a máquina que carinhosa e secretamente chamava de Izanin, a garota partia para sua primeira missão.

"Tenente Kiyoko Ogata, UMT Izanagi, Iniciando Missão!"

Gabriel colocou uma foto, da mesma que seu irmão adotivo utilizou por tantos anos, ao lado de um de seus monitores. Deu dois leves tapas carinhosos na mira óptica sobre sua cabeça, que tinha certeza, seria usada em breve. Ao lado direito do cockpit, um monitor exclusivamente mostrava o status de seu poderoso rifle, com os dizeres Estágio 1 destacados na tela. As asas azuis de Arthur brilharam, partículas da mesma cor tomaram o hangar, e então, ele partiu.

"Primeiro tenente Gabriel Sirghi, UMT Arthur, Iniciando Missão! 

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As quatro unidades já sobrevoavam o continente a baixa altitude. Assim como a Avalon que já havia ativado seu sofisticado sistema de camuflagem, mas ainda mantendo certa distância dos UMTs. 

"Dez quilômetros até o alvo."

No radar das unidades e da nave, a base já podia ser vista. Como planejado, Gabriel subiu alguns metros com Arthur. No monitor à sua esquerda, a planta da base que tinha uma estrutura grande para algo que não tinha nem o direito de existir ficou à amostra. 3 pontos de sugestão diferentes indicavam os reservatórios com possíveis inflamáveis. 

"Quer apostar quanto que ele vai escolher o com a pior visibilidade?"

Disse Henry para sua copiloto, a ruiva Sol Bethel, que auxiliava o inglês na complicada tarefa de navegar a monstruosa Avalon. Ela deu a ele um sorriso sarcástico, e sua resposta.

"O primeiro tenente me pareceu alguém acima deste tipo de coisa, tenente Enfield."

Um sinal vindo do UMT Arthur chegou à cabine de comando da Avalon, o ponto selecionado foi, como havia previsto Henry, o com pior ângulo de visibilidade para a lamentação de Sol. 

"Ah não, outro exibicionista!"

Pellegrini sentava na poltrona central da nave, como comandante da operação que era. O major pareceu satisfeito com a ousadia de Sirghi. Seus pilotos haviam entendido o objetivo secundário da operação, uma pura e simples exibição de poder. 

Gabriel trouxe sua grande mira óptica, do teto da cabine até a altura dos seus olhos, e com pouco ajuste, apertou o gatilho. O disparo de partículas azuis, rasgou o céu e segundos depois, uma bola de fogo surgiu no horizonte. Ortiz, Gagnier e Ogata aceleraram deixando um rastro gigante de poeira e pedras, a missão havia começado. 

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Florentin Balogun observava perplexo, dentro do cockpit de seu UMT Capricórnio, o hangar principal da base que por quase um ano já chamava de casa em chamas. Eles já esperava pelo ataque, a destruição da base lunar, e a diminuição de suporte e suprimentos fazia das forças terrestres da U.C.E o alvo fácil que seus inimigos sempre sonharam. Só mais algumas horas, ele repetia em sua mente. O socorro, que seria a única salvação para ele e a centenas de seus companheiros na base, tinha a promessa de chegar naquele mesmo dia. Ele acreditava que apesar do pouco suporte, ainda tinham a vantagem de equipamentos superiores aos da forças terráqueas, mas ele começava a perceber o quão errado estava. 

"Senhor, três unidades inimigas se aproximando pelo setor leste!!"

A mensagem de seu companheiro o fez olhar imediatamente para a direção onde uma enorme nuvem de poeira, e a sombra contra o sol de três unidades ficava ameaçadoramente mais perto. Ele se preparou para dar uma ordem ao companheiro ao seu lado, e também aos demais, mas já era tarde. O laser azul, que ele não pode identificar a origem, atingiu em cheio o peitoral do capricórnio de seu aliado. O metal ficou em brasa por alguns segundos antes de explodir. Ele não conseguiu nem ouvir o grito do homem que por meses o serviu lealmente. 

Seus canhões anti aéreo, nos pontos altos da base, foram a próxima vítima dos disparos. E um por um, tiveram o mesmo destino e com as mesmas características. O metal brilhava incandescente, e então explodia. Sua ordem para que procurassem abrigo chegou tarde demais, os UMTs inimigos, antes no longe horizonte, já invadiam o perímetro da base. 

Sabrina Ortiz lutou por anos contra a U.C.E, fosse nas lutas terrestres, por controles de regiões que ela já nem se lembrava o nome, fosse nas desesperadas e falhas batalhas espaciais, onde a superioridade das máquinas da Catedral era ainda maior. O sorriso que não conseguia esconder, no entanto, indicava uma diferença brutal. A velocidade de seu F-808 a assustava e alegrava ao mesmo tempo, a potência em seus movimentos também. Imediatamente ao invadir a base, ela reduziu a distância a um dos Capricórnio que buscava abrigo, e num tiro a queima roupas, com poucos centímetros, mandou o inimigo aos pedaços metros longe. No próximo, ela atravessou a armadura do UMT inimigo, o arrastando ainda na ponta de seu rifle, quando chegou próxima a outro oponente, disparou, novamente a queima roupa, explodindo as duas unidades ao mesmo tempo. A brutalidade que a deixou conhecida entre amigos e inimigos, estava a amostra. Ao contrário de Gagnier, que também havia destruído duas unidades, mas que trocava a força pela elegância, numa dança que só os ágeis Mirage franceses eram capazes. 

Kiyoko hesitou por um instante, o caos da batalha na base a pegou de surpresa. Suas dúvidas foram interrompidas pelo avanço de dois UMTs inimigos, que viram na titubeante unidade inimiga uma presa fácil. O instinto de sobrevivência da jovem tenente, e seus reflexos quase inumanos, permitiram que ela e Izanagi desviasse do ataque. Com sua Katana agora empunhada, ela avançou sobre o primeiro de seus agressores, o corte da gigante lâmina foi limpo, perfeito, o piloto de um dos Capricórnio que atacaram Izanagi, só pode ver um flash vermelho do veloz corte, e segundos depois, o companheiro dividido em dois, seu destino foi logo o mesmo. Com impressionante agilidade, Kiyoko e Izanagi partiram mais uma unidade com sua Katana. Não só uma, mas sim duas, em questão de segundos, Kiyoko Ogata havia tirado duas vidas. Por um instante ela imaginou o grito dos inimigos, mas isso seria impossível, não com a precisão dos seus golpes. Ela sentiu uma ânsia de vomito fortíssima. Ela queria gritar, chorar, tinha acabado de tirar duas vidas humanas. 

Sua paralisia momentânea, e a sede de vingança por seus companheiros caídos, fez com que mais uma unidade inimiga se aproximasse de Izanagi, mas antes que pudesse desferir qualquer ataque, um laser azul a atingiu. A explosão ao seu lado fez com que Kiyoko saísse de seu estado catatônico. 

"Tenente Ogata, consegue continuar?"

Na voz que a mente de Kiyoko já associava com gentileza, Gabriel chamou a jovem. Ela suspirou pesadamente, levando as mãos aos controles de Izanagi.

"Sim, senhor!"

"Então vamos em frente, estamos quase lá."

Ela levantou a cabeça prestando atenção na feroz batalha que acontecia na base, as últimas dez unidades da U.C.E tentavam desesperadamente se defender e proteger seus companheiros a pé, ou em veículos menores. Enquanto Ortiz e Gagnier se aproximavam, deixando um rastro de destruição e morte. 

Com seus sensores e câmeras de alto alcance, Gabriel tinha a vista privilegiada da batalha, não, aquilo não era uma batalha, pensou o primeiro tenente. Era um massacre. Ele observou mais uma vez o monitor com as informações do seu canhão Excalibur, o avanço tecnológico repentino tinha sido grande demais. 

"Senhores."

A voz de Major Pellegrini tomou conta do canal de comunicação das quatro unidades. 

"Parece que nossa inteligência estava certa, o resgate chegou." 

Instintivamente, os quatro olharam para o céu ao mesmo tempo. Ainda a uma grande altitude, duas naves de evacuação, e cinco UMTs ficaram visíveis na atmosfera. Usando sua mira óptica, Gabriel analisou rapidamente as unidades. Quatro delas ele pode reconhecer, mesmo que superficialmente por estarem claramente modificadas. A quinta delas ele demorou um pouco mais de tempo para identificar. Quando o fez, sua mão sobre o manche de Arthur se fechou. Era o UMT que Thomas enfrentou em seus últimos momentos na lua, ou talvez uma versão modificada dele. Ortiz passou as novas ordens aos companheiros. 

"Muito bem, parece que está na hora do nosso plano B."

Seguindo a ordem da capitã, as demais unidades começaram a se movimentar. Uma notificação no display de informações do canhão excali

bur, fez com que Gabriel o olhasse novamente. A mensagem era simples e clara:

Canhão Excalibur, estágio 2, liberado.

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