Sobrevoando o pacifico, após a batalha no deserto do oriente médio contra os UMTs coloniais, Gabriel aproveitava a oportunidade para testar sua nova unidade. Agora escoltados por cinco outras máquinas, eles estavam a poucos minutos da base Amaterasu, em Kyoto. O piloto voava próximo do oceano o suficiente para criar um gigantesco rastro nas águas, enquanto acelerava ao limite de Arthur.
Satisfeito com a manobra, ele voltou a altura em que Albion pilotada por Henry voava. Sua atenção, no entanto, estava nas unidades que faziam a escolta. Os 5 U.M.T originalmente das Forças de auto defesa do japão, mantinham uma formação triangular em torno da Aeronave e de Gabriel. O que chamou sua atenção de verdade, no entanto, era a unidade que liderava o comboio. Os demais U.M.Ts, Gabriel conhecia de operações e treinamentos conjuntos. A máquina fabricada pelo centro de tecnologia de Hokkaido, popularmente chamada de Hayabusa, era de um metal negro e reluzente. A principal característica da unidade, no entanto, eram suas longas espadas. Discussões foram tidas sobre a eficiência do armamento, Gabriel não negava que, esteticamente, elas ajudavam no visual impressionante dos Hayabusa.
Impressionantes, mas não tanto quanto a unidade que tinha a curiosidade do piloto da F.A.R. Diferente dos outros quatro Hayabusa, esse era consideravelmente mais robusto, seus propulsores maiores. A Katana ainda continuava presente, dessa vez com uma lâmina negra, com detalhes em vermelho que Gabriel chutava ter características parecidas com seus sabres a laser. Ele tirou a distância para o U.M.T, ficando ao seu lado para o admirar mais de perto, Não existia muita diferença de tamanho entre as máquinas, apesar dos designs bem distintos.
Para a surpresa de Gabriel, a unidade desceu alguns metros, fazendo sinais de luzes para ele. Curioso, ele fez a mesma manobra e as duas máquinas agora voavam a poucos metros do oceano. Os propulsores do U.M.T começaram a emitir uma luz, e em poucos segundos, a máquina acelerou de forma impressionante, deixando uma grande onda. Seria aquilo um desafio? Gabriel levou a mão lentamente aos manches do UMT Arthur, e após alguns segundos deliberando se isso seria uma boa ideia, os levou para frente com rapidez, as asas azuis da máquina brilharam, e agora quem deixava um rastro no mar era Gabriel. Não demorou muito para que ele diminuísse a distância, e as duas unidades voassem lado a lado.
Na cabine de comando da Albion, Henry Enfield estava com os pés sobre o painel, com o piloto automático os levando em direção a base localizada no litoral norte da prefeitura de Kyoto. Ele observou o radar, a base estava a poucos quilômetros.
"Esses amostradinhos, pelo menos vai ser um bom show para o pessoal da base."
Ele se posicionou mais dignamente na sua poltrona, passando do piloto automático para o manual. Não queria passar vergonha na aterrissagem e estragar suas boas vindas.
Na pista de pouso da base, uma mulher e um homem, trajados do uniforme preto a azul da organização Aegis, observavam a Albion no horizonte fazendo sua aproximação para pouso. A frente deles, o rastro de água deixado por dois U.M.T se aproximando em alta velocidade, chamou atenção não só deles, mas também do restante do pessoal da base, que observavam a bela cena. Sabrina M. Ortiz era capitã da marinha americana a quase uma década, atrás dos seus óculos escuros, estilo aviador, estava o olhar de uma veterana de guerra que sobreviveu a inúmeras batalhas. Seu cabelo, amarrado num curto rabo de cavalo, era das poucas coisas que dava luxo de cuidar, além de seu bronzeado, que cultivava naturalmente com as atividades físicas que eram seu hobbie favorito.
"Essa certamente vai ser uma boa primeira impressão."
O sotaque do piloto ao seu lado, fruto das diversas línguas que o homem dominava simultaneamente, ficava cada vez mais identificável com o passar do tempo trabalhando juntos. Ela concordava com ele, mas não via motivos para verbalizar sua concordância. Jérôme Gagnier era um dos poucos do projeto que tinha experiência similar a de Ortiz, e isso os fazia fósseis, como eram chamados pelas costas pela jovem equipe, mas também fazia deles alvo de admiração e respeito, inclusive dos que faziam a piada.
As unidades estavam próximas o bastante para que sua velocidade supersônica fosse ouvida, e então, num espetáculo que sua experiência já a fazia esperar, os dois novos U.M.Ts do projeto da organização Aegis cortaram o céu a alguns metros da base. As partículas de água da onda que a velocidade das máquinas criou se dispersaram, fazendo uma leve chuva cair sobre a pista e a base. Gritos de euforia e comemoração do pessoal entregavam o clima de otimismo após a operação na lua. Ela observou os dois UMTs fazendo a manobra para retornar à base, no horizonte. E então junto de Jérôme, seguiu para o escritório do Major responsável pela operação.
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Já dentro de um dos diversos hangares da base, Gabriel observava a imponência de seu U.M.T Arthur pela primeira vez. Havia um tanto dos Gawain ali, mas o avanço tecnológico era evidente. Ele deu leves tapas no grande pé metálico de sua unidade, como Thomas o ensinou, agradecendo pelo voo seguro. Ao seu lado, o Gawain modificado que seria a unidade de testes de Henry, também passava uma boa impressão de evolução, apesar de ainda lembrar mais a unidade que tinha como base.
"Lar doce lar, Gabriel."
Ele se virou para Henry que fazia inspeções no seu U.M.T, e com um breve sorriso, respondeu.
"Estamos em casa."
Ele tinha a suspeita de que passariam menos tempo lá do que seu amigo inglês previa, no entanto. A alguns metros de onde os dois estavam, a unidade que voou lado a lado com seu Arthur, também já havia pousado. Ele se aproximou curioso pela unidade e pelo piloto. Ao diminuir a distância, um cientista, com um tablet em mãos, conversava com a piloto, as curvas no justo uniforme de pilotagem entregavam isso. Ainda de capacete, ela notou Gabriel se aproximando, e um pouco sem jeito, bateu continência para o homem que ela sabia ser seu superior. Com um sorriso gentil, Gabriel deus dois leves toques em sua cabeça com o dedo indicador, por um tempo ela o observou sem entender, e então ficou vermelha como um pimentão, por sorte escondeu sua vergonha por trás do capacete que havia esquecido de retirar, e depois da dica de seus novo companheiro, o removeu.
"Desculpe minha falta de educação, primeiro tenente Sirghi."
Ela então repetiu a continência, e Gabriel devolveu o gesto.
"Foram manobras impressionantes, tenente...?"
Ela estendeu seus braços ao lado do corpo, se apresentando.
"Tenente Kiyoko Ogata, senhor."
Gabriel a observou com mais atenção, Ela tinha cabelos negros até a altura do ombro, e era um tanto mais baixa que ele, mas isso não foi o que o incomodou, sim a juventude da tenente Ogata, que ficava evidente em suas ações e feições. Ele olhou para o simbolo da Aegis estampado no U.M.T negro da jovem piloto. O que exatamente seria aquele projeto do qual agora fazia parte? Ele tinha uma suspeita e gostaria de confirmá-la o quanto antes.
"Primeiro tenente."
A voz de Henry lhe chamando o fez desligar de suas dúvidas, ele se virou para o amigo que apontou para dois homens usando o mesmo uniforme que eles. Um dos sujeitos fez um gesto para que o piloto os seguisse, e assim ele fez.
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O escritório de Pellegrini na base não era muito diferente do seu em Londres, Gabriel notou novamente a falta de condecorações expostas. Junto dele e do Major, estavam Ortiz e Gagnier, capitã e vice capitão do esquadrão, que haviam se apresentando a ele antes de entrarem na sala.
"Bem vindo ao Japão, primeiro tenente."
"Obrigado, senhor."
Gabriel agradeceu ao homem que puxou alguns dados no display sobre sua mesa, antes de continuar.
"O que achou do U.M.T. Arthur, primeiro tenente?"
Gabriel olhou para a janela do escritório, buscando as palavras que melhor expressariam sua breve experiência com a máquina.
"Em termos de mobilidade, é muito superior à série 003. Conseguiram melhorar esse quesito sem sacrificar a estabilidade que era a principal vantagem dos Gawain."
"E o que achou do Excalibur?"
Ortiz, sua capitã, perguntou com um pequeno toque de curiosidade em seu olhar. Ele respondeu, depois de notar que os relatórios sobre seu novo rifle era o que estava nos documentos lidos por Pellegrini.
"Apenas o primeiro estágio estava disponível para uso, mesmo assim, a autonomia e poder de fogo dele está muito acima dos outros armamentos que já usei."
O consumo baixíssimo de energia foi o que chamou mais atenção do piloto, além de sua curiosidade para com os outros dois estágios do Excalibur, que ainda não havia testado. Pellegrini desligou a tela, antes de continuar.
"Novamente, bem vindo ao Japão, primeiro tenente. Aproveite para descansar nos próximos dias, não saberemos quanto mais tempo livre teremos de agora em diante."
Gabriel prestou continência para o Major, depois para a capitã Ortiz e Gagnier, mas antes que pudesse deixar a sala, foi interrompido.
"Primeiro tenente."
Foi Ortiz quem o chamou.
"Sei que está cansado, mas gostaria de sua opinião sobre algo."
Major Pellegrini olhou impassível para Ortiz, mas não fez objeção. Gabriel acatou o pedido, esperando a pergunta que logo veio.
"O que acha do projeto que agora faz parte, primeiro tenente?"
Ele a observou por mais algum tempo, o olhar poderoso de Sabrina M. Ortiz seria capaz de fazer pessoas desviaram dele, mas não Gabriel. Os motivos eram diferentes, mas Ortiz e sua irmã Samantha possuíam a mesma intensidade em seus belos olhares, nos olhos azuis de sua capitã, e nos castanhos brilhantes de sua irmã, e ele aprendeu a lidar com essa intensidade.
Sobre o projeto, no entanto, ele tinha suas dúvidas. Ele estava sendo vendido com o intuito de ser focado na pesquisa e desenvolvimento de unidades e armamentos, mas o poder de fogo que viu no rifle Excalibur, e no seu novo U.M.T, fazia ele acreditar que isso era apenas fachada.
"Acredito que o verdadeiro intuito do projeto, e o que estão usando para dar a ele crédito, são completamente diferentes, senhora."
"E porque acha isso?"
"Pela primeira vez na história do conflito, temos alguma forma de superioridade. Não creio que as forças militares, principalmente com a Aegis como responsável, deixariam isso escapar."
Ele olhou para todos na sala, antes de continuar.
"Acredito que nosso esquadrão será muito mais do que apenas uma unidade de testes, e que na verdade, seremos a vanguarda das forças terrestres."
Ortiz sorriu, fechando os olhos, ele era o que realmente haviam lhe vendido. A capitã conheceu o irmão de Gabriel, lutaram e treinaram juntos durante a guerra, mas a sagacidade que Thomas acreditava que seu irmão tinha, talvez fosse até maior.
"Desculpe por tomar seu tempo, primeiro tenente. Vá descansar."
Gabriel novamente se despediu, mas antes de deixar a sala, ele se interrompeu. Talvez também tivesse direito a uma pergunta.
"Capitã, poderia me responder algo?"
Ela simplesmente assentiu,
"Qual a idade da tenente Ogata?"
Sabrina M. Ortiz estudou seu novo subordinado mais uma vez, com seu penetrante olhar.
"16, primeiro tenente."
16 anos, foi com essa idade que ele começou a parte final do seu treinamento na academia militar real, e ainda estava longe de qualquer batalha nessa época. Kiyoko Ogata, com os mesmos 16 anos, era responsável por uma unidade de custo bilionário, e fazia parte de um esquadrão, que como ele suspeitava, participaria de batalhas sangrentas em seu futuro.
"Duvida das capacidades da jovem, primeiro tenente?"
Ele a viu pilotando em primeira mão e não negaria o seu talento, mas a guerra não era apenas isso. Qual seria sua reação ao puxar o gatilho, condenando uma vida? Qual será sua reação, quando o rastro de corpos sem vida que suas ações criarem, começar a crescer? Por algum motivo, Gabriel viu seu passado na jovem e inexperiente japonesa.
Ortiz, se aproximou de Gabriel, parando do seu lado.
"Se teme tanto assim pela tenente Ogata, porque não a toma como Ala? Ensine a ela o que acredita que ela precise. Essa era a minha ideia, de qualquer forma, mas sua preocupação faz ela ainda mais fácil de ser tomada."
Em outras palavras, era um pedido para que ele se tornasse o mentor da jovem piloto. A primeira imagem em sua mente, foi a de Thomas. Se ele pudesse passar um pouco do que ele lhe ensinou, talvez não fosse uma má ideia.
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De volta ao hangar em que seu U.M.T estava, Gabriel caminhava lentamente pelos longos corredores feitos de equipamentos e ferramentas. As luzes já estavam quase todas apagadas, e a escuridão mesclada com a pouca iluminação restante, davam uma aparência monstruosa aos UMTs, visto entres os fachos de luz e sombra. Aos pés de um dos gigantes de metal, uma jovem observava com admiração e medo, a máquina que pilotava já a alguns meses.
Kiyoko Ogata tinha dúvidas, a prodígio das forças de auto defesa japonesas, estava sendo colocada no mesmo time de veteranos, de ases, ela tinha medo do que sua inexperiência poderia fazer aos seus novos companheiros. Ela juntou as mãos trêmulas e as levou ao centro do peito, apertando-as para que seu tremor parasse. Medo, era algo que ela acreditava que não tinha mais direito de sentir.
"Tenente Ogata."
A jovem deu um pequeno pulo de susto, ao ser chamada no hangar que acreditava estar vazio. O primeiro tenente Sirghi parecia um pouco arrependido por tê-la assustada, e por tabela ela também ficou mal.
"Senhor, desculpe por... me assustar?"
Ela pareceu ainda mais em dúvidas, depois do que disse. Gabriel apenas gesticulou para que ela se acalmasse.
"A vontade, tenente."
Ogata suspirou pesadamente, ela poderia ser um gênio dentro do cockpit, mas sua inépcia com as pessoas a deixava triste. Gabriel se aproximou, ficando a alguns metros de onde ela estava, observando o UMT da garota, como ela mesma fazia a pouco.
"É uma máquina impressionante, não acha?"
O tom convidativo de Gabriel com sua pergunta, fez a garota se empolgar.
"O senhor também acha isso!? Quando eu o pilotei pela primeira vez eu fiquei tão empolgada que pilotei até ele não ter mais energia! É tão melhor que os Hayabusa que-."
Kiyoko levou a mão à boca, ao perceber que mais uma vez falou mais do que deveria. No entanto, não era repreensão que ela via no rosto do primeiro tenente, e sim um tom compreensivo, que ela poderia até identificar como um: tem razão, é incrível!
Gabriel observou a garota novamente, ele estava certo. Havia muito do jovem Gabriel Sirghi, nas ações de Ogata.
"Qual o nome da unidade, tenente?"
Kiyoko fez menção de responder automaticamente, mas se segurou. Não queria mostrar mais de sua infantilidade.
"JP-0EX38, Condinome: Izanagi, senhor..."
Gabriel segurou a risada, não queria frustrar a tentativa de seriedade de sua nova colega. Mas ainda assim, quis continuar a interação que achou, por algum motivo, divertida.
"E como VOCÊ o chama, tenente?"
Kiyoko arregalou os olhos, Gabriel ainda continuava com a mesma expressão gentil, e a garota s
entiu um pouco de vergonha em sua tentativa de parecer mais profissional. Ela deu um passo a frente, ficando mais próxima do seu U.M.T.
"Eu o chamo de... Izanin."
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