O sol já se punha quando Alastor e Erina chegaram à entrada do vilarejo. As ruas estavam mais movimentadas do que antes, com mercadores fechando suas barracas e aventureiros voltando de suas missões. O vilarejo fervilhava com conversas, risadas e o som metálico de armaduras e armas.
A Guilda de Aventureiros estava lotada, como era comum ao final do dia. Alastor empurrou a pesada porta de madeira e entrou, seguido por Erina. Astra flutuava ao seu lado, visivelmente animada. "Vamos ver o que conseguimos com essas missões!"
Os olhos de Erina percorreram o salão da guilda. Ela analisava os aventureiros com um olhar crítico. "Parece um lugar funcional, mas não exatamente refinado."
"Não precisa ser refinado, precisa funcionar," respondeu Alastor. Ele se dirigiu ao balcão principal, onde Elena, a recepcionista que já o havia atendido antes, organizava alguns papéis.
"Bem-vindo de volta, Alastor," disse Elena com um sorriso. "Vejo que você trouxe mais do que apenas resultados. Quem é ela?"
"Erina," respondeu Alastor, gesticulando para a elfa negra. "Uma nova companheira. Mas antes de tudo, estou aqui para apresentar as provas das missões que cumpri."
Ele abriu sua bolsa mágica, retirando os itens e provas necessários: o núcleo do Golem Errante, os cristais luminescentes, e os pedaços de pele dos Lobos Sombrios. Elena arqueou uma sobrancelha ao ver o núcleo do golem.
"Um núcleo de golem?" ela perguntou, surpresa. "Você enfrentou isso sozinho?"
"Sim," respondeu Alastor, tentando não soar arrogante. "Foi uma batalha difícil, mas consegui."
Elena inspecionou os itens cuidadosamente, registrando tudo em seu livro de missões. "Muito bem, vamos calcular suas recompensas."
Ela digitou algumas informações em um pequeno dispositivo mágico no balcão. Após alguns segundos, uma lista apareceu na tela holográfica.
Missões Concluídas:
Caça ao Golem Errante: 150 moedas de prata + 1 Núcleo de Golem Raro (retornado a Alastor).
Recuperação de Cristais Luminescentes: 80 moedas de prata.
Eliminação de Lobos Sombrios: 50 moedas de prata.
Elena empurrou uma pequena sacola de couro contendo as moedas para Alastor. "Aqui estão suas recompensas. Bom trabalho, especialmente com o golem. Isso não é algo que aventureiros de rank E enfrentam facilmente."
"Agora, sobre Erina," disse Alastor. "Ela também quer se inscrever na guilda."
Erina se aproximou do balcão, seus olhos âmbar fixos em Elena. "Quais são os requisitos?"
"Precisamos de informações básicas e um teste de combate para determinar seu rank inicial," explicou Elena, pegando um pergaminho. "Vamos começar com o formulário."
Erina respondeu calmamente às perguntas: nome, raça, idade estimada e habilidades principais. Após preencher o formulário, Elena chamou um dos instrutores.
"Kael, precisamos de você novamente," disse ela.
O guerreiro robusto, que havia testado Alastor anteriormente, surgiu da área de treinamento. Ele observou Erina com um olhar avaliador. "Outra novata?"
"Se acha que sou uma novata, está enganado," respondeu Erina, com um sorriso frio.
Kael arqueou uma sobrancelha. "Então, vamos ver do que você é capaz."
O salão de treinamento estava novamente cercado por curiosos. Muitos haviam testemunhado o duelo entre Alastor e Kael e estavam ansiosos para ver o desempenho de sua nova companheira.
Kael empunhou sua espada, assumindo uma postura defensiva. "Venha com tudo."
Erina sacou suas lâminas curvas, e antes que Kael pudesse reagir, ela desapareceu nas sombras. O público soltou um murmúrio de surpresa.
Kael girou em círculos, tentando localizar Erina, mas ela surgiu atrás dele em um piscar de olhos. Suas lâminas brilharam enquanto ela executava uma série de ataques rápidos. Kael conseguiu bloquear alguns, mas sua defesa começou a ceder sob a pressão dos golpes precisos de Erina.
"Você é rápida," admitiu Kael, desviando de mais um ataque.
"Rápida não. Letal," respondeu ela, com um sorriso confiante.
Erina continuou pressionando, aproveitando cada abertura na defesa de Kael. Ela não o machucou gravemente, mas conseguiu desarmá-lo em menos de três minutos, suas lâminas apontadas para o pescoço dele.
Kael levantou as mãos, sinalizando sua rendição. "Está bem, já vi o suficiente."
De volta ao balcão, Elena sorriu para Erina. "Parabéns, você passou. Seu rank inicial será D. Apesar de suas habilidades impressionantes, aventureiros de rank D estão no limite entre os níveis baixos e médios. Precisamos ver como você se sai em missões mais desafiadoras antes de considerar uma promoção."
Erina aceitou o pequeno cartão de identificação da guilda, analisando-o com atenção. "Muito bem. Isso é apenas o começo."
De volta à mesa onde Alastor aguardava, Erina se sentou ao lado dele. "Rank D, hein? Parece justo, por enquanto."
"Você logo subirá," disse Alastor, guardando seu próprio cartão na bolsa. "Com suas habilidades, não vai demorar."
Astra flutuou entre eles, sorrindo. "Agora somos oficialmente um time!
Com a inscrição de Erina concluída, Alastor e sua nova aliada deixaram a Guilda de Aventureiros. A noite já havia caído completamente, e o vilarejo estava iluminado por lamparinas mágicas espalhadas pelas ruas de pedra. A movimentação era intensa ao redor da praça central, com aventureiros e comerciantes indo e vindo.
"Bem, depois de um dia desses, acho que merecemos uma boa refeição," disse Alastor, olhando para Erina enquanto Astra flutuava ao seu lado, parecendo igualmente animada.
Erina lançou um olhar desconfiado para o ambiente, mas assentiu. "Desde que a comida seja boa, aceito."
Eles entraram em uma taverna chamada "Chifre de Ferro", famosa por seu guisado de carne e pão recém-assado. O lugar estava cheio, mas Alastor conseguiu uma mesa em um canto mais tranquilo. O cheiro de especiarias e carne assada preenchia o ar, e o som de conversas animadas e canções de bardos criava uma atmosfera acolhedora.
Uma garçonete veio atendê-los, uma mulher robusta e simpática com um avental manchado de molho. "O que vão querer?"
"Dois pratos do guisado da casa e duas canecas de cerveja leve," disse Alastor, olhando para Erina. "Ou prefere vinho?"
"Cerveja está bom," respondeu ela, com um leve sorriso.
Enquanto esperavam a comida, Astra descansava sobre a mesa, observando o movimento ao redor. Alastor, por outro lado, fixou o olhar em Erina, aproveitando a oportunidade para conhecê-la melhor.
"Você lutou muito bem hoje," começou ele. "Rápida, precisa... Claramente, não é alguém que começou agora. Há quanto tempo você é aventureira?"
Erina cruzou os braços, seu olhar âmbar fixo no dele. "Há muito tempo. Tempo suficiente para aprender que confiar nas pessoas pode ser perigoso."
Alastor deu um sorriso compreensivo. "Eu entendo. Mas, às vezes, dividir um pouco da carga pode tornar as coisas mais fáceis."
Ela ficou em silêncio por um momento, seus olhos se suavizando levemente. "Meu pai dizia algo parecido... antes de morrer."
A garçonete voltou com os pratos e as canecas, mas a atmosfera entre eles havia mudado. O sorriso de Erina havia desaparecido, substituído por uma expressão distante.
"Meu pai era um guerreiro, um dos melhores que já vi. Ele sempre dizia que a força não estava apenas nas armas, mas em quem as empunha e por quê. Minha mãe era uma maga talentosa, uma mulher gentil que podia curar até as feridas mais profundas. Mas, infelizmente, nenhuma força ou magia foi suficiente para salvá-los."
Alastor ficou em silêncio, permitindo que ela continuasse no seu ritmo.
"Foi durante uma expedição a um templo antigo. Eu era jovem, mas insistiram para que eu ficasse na aldeia enquanto eles iam explorar. Não sei o que aconteceu exatamente, só sei que voltaram... mortos." Ela apertou as mãos em punho, o som de seus dedos pressionando o couro das luvas era audível. "Tudo o que consegui foram relatos fragmentados de outros aventureiros. Um monstro, uma armadilha... nunca soube ao certo."
Ela tomou um gole longo da cerveja, como se isso pudesse amenizar a dor das memórias. "Depois disso, fiquei sozinha. A aldeia foi destruída pouco tempo depois por bandidos, e eu tive que sobreviver sozinha. Foi assim que me tornei uma aventureira. Não porque eu queria, mas porque era a única forma de sobreviver."
Alastor observava Erina atentamente, admirando sua força por compartilhar isso. "Sinto muito pelo que aconteceu. Sei que as palavras não fazem muito, mas se um dia precisar de alguém para dividir esse peso, pode contar comigo."
Ela o encarou por alguns segundos, avaliando-o. "Talvez. Mas confiança não é algo que se dá de graça, Alastor. Quando provar que é alguém confiável, contarei o resto."
"Justo," respondeu ele, sorrindo levemente. "Eu sou paciente."
Astra, que estava quieta até então, bateu palmas suavemente. "Eu gosto dela! Parece forte e decidida. E não se preocupe, Alastor é confiável. Ele até divide seus lanches comigo!"
Erina soltou uma risada curta, talvez a primeira sincera desde que se conheceram. "Você realmente tem uma Pixie interessante."
Depois da refeição, Alastor e Erina seguiram para a estalagem onde ele estava hospedado. Era um lugar modesto, mas bem cuidado, chamado "Refúgio do Viajante". A recepcionista os cumprimentou com um sorriso.
"Preciso de um quarto extra para minha companheira," disse Alastor, entregando algumas moedas.
A mulher pegou uma chave e entregou a ele. "Quarto no andar de cima, o último do corredor."
"Obrigada," disse Erina, aceitando a chave.
"É o mínimo que posso fazer," respondeu Alastor, enquanto subiam as escadas. "Depois de tudo que aconteceu hoje, você merece um bom descanso."
Eles se despediram na porta do quarto dela, com Erina lançando um último olhar avaliador para ele. "Boa noite, Alastor. E... obrigada, por hoje."
Ele sorriu. "Boa noite, Erina. Amanhã será outro dia cheio."
Enquanto ela fechava a porta, Alastor se dirigiu ao seu próprio quarto, sentindo que havia dado um pequeno passo na direção de conquistar a confiança dela.