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Chapter 6 - A Barreira dos Mundos

A vila estava mergulhada em tensão. Os goblins corriam de um lado para o outro, carregando armas improvisadas e reforçando barricadas frágeis. Celtre, o ancião da vila, subiu com dificuldade os degraus improvisados até onde Ycaro descansava, o trono mal iluminado pela luz hesitante de tochas.

Ele se ajoelhou, a respiração pesada.

— Senhor Ycaro... os exércitos inimigos avançam. Temos sete dias... talvez menos.

Ycaro, com o queixo apoiado na mão, abriu lentamente os olhos. Um brilho ancestral refletia nas íris, uma vastidão cósmica que parecia engolir tudo ao redor. Ele não respondeu imediatamente. Quando finalmente falou, sua voz soou como se carregasse eras de sabedoria e desdém.

— Sete dias? Sete vidas são pouco para quem desafia o inevitável. Mas diga, Celtre... você acredita que essas defesas frágeis poderiam resistir?

Celtre gaguejou, evitando o olhar penetrante de Ycaro.

— N-não, senhor... mas... acreditamos em você.

Ycaro levantou-se, sua figura irradiando poder. Cada movimento parecia uma onda que dominava o espaço ao redor. Ele olhou para o céu, onde nuvens densas começavam a se formar.

— Vocês acreditam... Mas a crença sem ação é tão frágil quanto um fio de palha ao vento. Então, assistam. Vou moldar as forças que nem mesmo os deuses ousam tocar.

Ele desceu os degraus, arrastando o cajado de Celtre que agora brilhava com uma energia sinistra. No centro da vila, Ycaro desenhou runas antigas no solo com precisão, símbolos esquecidos que apenas ele parecia compreender.

Quando ergueu o cajado ao céu, a floresta ao redor começou a tremer. Um silêncio antinatural tomou conta, interrompido apenas pela voz de Ycaro, que ressoou como um trovão.

— Eu, Ycaro, filho do vazio e da criação, ordeno que as leis do mundo se dobrem diante de mim! Pelos mundos perdidos e pelas forças que transcendem a luz e a escuridão, ergam-se os limites do impossível!

O cajado começou a vibrar, e as runas no chão se acenderam com uma luz dourada que logo se transformou em negro absoluto. A terra ao redor da vila começou a rachar, como se algo abaixo estivesse sendo convocado.

— Pelo pacto eterno entre o tempo e o espaço, pelo sangue que não deve ser derramado, protejam esta vila com os muros da eternidade! Que o sol e a lua tornem-se meus escudos, e que o vazio seja a muralha!

As nuvens acima desceram como uma torrente, envolvendo a vila em um casulo de tempestades furiosas. Relâmpagos atravessavam o céu, mas nunca atingiam o chão. Em vez disso, convergiam para o cajado, alimentando a barreira que começava a tomar forma.

Um rugido ecoou, algo profundo e primitivo, como se o próprio mundo estivesse respondendo ao comando de Ycaro. O tempo parecia desacelerar enquanto o brilho da barreira finalmente estabilizava, transformando-se em um domo translúcido onde símbolos antigos dançavam na superfície.

Celtre, aterrorizado e fascinado, tentou falar, mas a voz falhou. Finalmente, ele conseguiu perguntar:

— Senhor Ycaro... o que é isso?

Ycaro girou o cajado, fincando-o no solo com força. A barreira pulsou uma última vez antes de se tornar completamente sólida. Ele olhou para Celtre com um sorriso frio.

— Isso é o que separa mortais de deuses. A Barreira dos Mundos. Uma magia tão proibida que sua existência foi apagada até mesmo dos textos mais antigos. Aqui, o tempo será meu aliado, e o céu e a terra serão os guardiões.

Os goblins, que assistiam a tudo de longe, ajoelharam-se em reverência, sussurrando orações e clamando pelo nome de Ycaro.

Ele virou-se, caminhando de volta ao trono. Cada passo ecoava como se o chão estivesse reconhecendo sua soberania. Ao sentar-se, ele olhou para Celtre uma última vez.

— Vocês têm sete dias aqui para cada dia no mundo exterior. Usem esse tempo para preparar o que for possível. Não falhem. A próxima vez que me chamarem, espero resultados.

Celtre assentiu rapidamente, correndo para mobilizar os outros. Enquanto isso, Ycaro recostou-se, observando a barreira através do horizonte.

— Esses mortais... — murmurou para si mesmo. — Será que merecem tanto esforço?