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Chapter 5 - O nascimento do Filho do Céu

Eu era um homem simples, tolo até, vivendo uma vida comum, mas feliz. Minha vida estava cheia de pequenos momentos de alegria: tinha um filho que me fazia encher o peito de orgulho e uma mulher, tão bela e doce quanto meu próprio coração. Donos de uma pequena terra, retirávamos o nosso sustento do que ela nos oferecia. Mesmo com o mundo ao nosso redor se consumindo em chamas, vivíamos em paz, longe das disputas e das misérias que assolavam as nações. Até aquele dia fatídico, até aquele momento em que nossas vidas foram arrancadas de nós.

Três deuses cobiçaram minha mulher, mas não foi apenas por sua beleza. Havia algo mais, algo que os atraía com uma força incontrolável: a essência pura de sua alma. Dentro dela, brilhava uma energia que poderia dar à luz um deus novo, diferente de qualquer ser criado. As outras mulheres humanas podiam gerar semideuses, mas minha esposa possuía a capacidade de gerar algo mais poderoso, algo capaz de desafiar os próprios deuses. E foi isso que meu filho absorveu, essa essência divina.

Eles vieram até nós, com olhos famintos de poder. Para garantir que o poder de minha mulher não fosse desperdiçado, roubaram a alma de meu filho e, com isso, a nossa paz. Invadiram nossa vida e, em um único golpe, destruíram tudo. Doze espadas atravessaram nossos corações, como um símbolo de que nossa família havia sido apagada da face do mundo. E o céu, em sua frieza, assistia, enquanto eles se retiravam, como se nada tivesse acontecido. O céu… eles retornam.

Eu estava morrendo. Meu corpo não resistia ao golpe final, mas meu espírito se recusava a sucumbir ao esquecimento. Eu chorei em sangue, meu grito era um eco de vingança. A noite passou, e no amanhecer, eu estava morto, junto com minha esposa e meu filho. Mas algo aconteceu. Algo além da morte, além do que eu poderia imaginar. Ao meio-dia, quando o sol estava alto, meu coração voltou a bater. Eu estava em um lugar estranho, uma dimensão entre os mundos, onde o céu se estendia para além do horizonte e as nuvens pareciam ter vida própria. Foi ali que eu ouvi o chamado.

As nuvens começaram a se mover de forma diferente, e os trovões rugiram como se fossem antigos guardiões, respondendo a algo dentro de mim. Eles falavam com uma autoridade que me era desconhecida, como se soubessem mais sobre mim do que eu mesmo. "Você e seu filho, nascido da vontade dos céus, pertencem a algo maior. Lá, você descobrirá o motivo de sua existência. O motivo para tudo o que aconteceu."

Foi nesse instante que a verdade se revelou para mim. A razão pela qual fui escolhido, a razão pela qual minha família foi destruída. "Seu filho não será humilhado enquanto o seu sangue brilhar. Você será uma besta imparável, sem limites. Você tem o meu sangue, o sangue de Tupã. Grite para o céu se abrir, e ele se abrirá para você. Fale para o sol brilhar, e ele fará como sua ordem diz. Ordene para os trovões, e eles responderão. Você é filho do ser mais forte de todos os mundos."

Eu não sabia o que fazer com aquela revelação, com aquelas palavras poderosas que reverberavam dentro de mim. Tupã, o deus do céu e da luz, era meu pai, meu protetor. Ele me disse que a morte não ousaria mais me tocar. Ele me entregou algo mais, algo que nunca imaginei: o título de Filho do Céu.

"Como meu filho, você é um príncipe, um rei do universo. Você não é forte como eu, mas poderá se tornar um dia. Você queimará o céu, derramará o sangue dos deuses, e fará com que eles caiam como estrelas em chamas. Você queimará o céu e a terra. Você é mais do que um homem, Ycaro. Você é o Filho do Céu."

Eu não sabia o que significava ser esse ser, esse filho de Tupã. Mas algo dentro de mim se acendeu, uma chama ardente de vingança e justiça. Com toda a dor, toda a fúria que se acumulava em meu peito, gritei para o céu: "Eu farei vingança!"