Então lá estava Kaike, flutuando no vazio, de um abismo sem fim que o envolvia como as profundezas de um oceano escuro. A sensação de impotência o dominava, como se não houvesse escapatória daquela realidade sufocante. De repente, um som distante começou a invadir sua consciência, crescendo em intensidade até se tornar impossível de ignorar. Era um som grave e insistente, como um tambor batendo no fundo de sua mente, cada batida ecoando mais forte que a anterior.
Ele abriu os olhos de repente, o coração disparado. A luz do sol atravessava as frestas das cortinas, mas a realidade que o aguardava era ainda mais caótica. Cercado por policiais, Kaike mal teve tempo de processar a mudança abrupta. Vozes agressivas o bombardearam com perguntas, acusando-o de estar envolvido em atividades ilícitas. O ambiente estava carregado de tensão, cada palavra dita pelos policiais parecia uma faca cortando o ar.
⎯⎯⎯⎯⎯ "Bora acordar, vagabundo, pra parede PORRRA!"
⎯⎯⎯⎯⎯ gritou agressivamente o policial, sua voz reverberando pelas paredes do pequeno quarto. Kaike sentiu o suor frio escorrer pela testa, suas mãos tremiam enquanto tentava entender o que estava acontecendo. O som das botas dos policiais batendo no chão ecoava como trovões, a cada passo aumentando a sensação de desespero. Ele sabia que qualquer movimento errado poderia ser fatal, e a adrenalina corria em suas veias, deixando-o em um estado de alerta máximo. Um dos policiais o puxou da cama de forma brusca, ordenando que ele se levantasse e fosse para a parede. Kaike, ainda meio confuso, obedeceu enquanto sentia as mãos do policial revistando-o de maneira agressiva. Em seguida, os policiais começaram a revirar seu quarto, procurando algo ilícito. Gavetas foram esvaziadas, colchões virados, e objetos pessoais espalhados pelo chão.
Após a revista no quarto, os policiais desceram as escadas e foram até o primeiro andar onde estava Maria sentada no sofá. Ela chorava, implorando para que não quebrassem mais nada. ⎯⎯⎯⎯⎯ Por favor, não temos nada de errado aqui ela dizia entre soluços, mas os policiais continuavam a busca, ignorando seus apelos. Enquanto revistavam a casa, um dos policiais relatou ao sargento responsável que nada havia sido encontrado dentro da residência.
O sargento então se dirigiu aos dois moradores:
- Para sorte dos senhores, pelo visto vocês aparentemente não estão escondendo nada - disse o sargento, com um tom de voz carregado de desconfiança.
Kaike, visivelmente frustrado com a revista, respondeu: - Não é a primeira vez que vocês vêm até nossa casa e não encontram nada. Por que insistem em revistar cidadãos de bem?
O ambiente estava tenso. A sala, antes arrumada, agora encontra-se revirada, com móveis fora do lugar e objetos pessoais espalhados pelo chão, aumentando a sensação de desconforto.
- Olhem o que vocês fizeram na nossa residência, causaram muitos danos à nossa casa - continuou Kaike, apontando para os estragos.
O sargento, com um olhar ameaçador, deu um passo à frente, diminuindo a distância entre ele e Kaike. - Então, cidadão - disse ele, com a voz grave e firme -, você está a fim de ir em cana por desacato à autoridade hoje, não é? ME RESPONDA, PORRA!
Kaike, intimidado pela presença imponente do sargento, abaixou a cabeça e respondeu com a voz baixa: - Não, senhor.
- Acho bom - disse o sargento, virando-se para os outros policiais. - Em frente, rapazes, próxima casa.
Os policiais saíram, deixando para trás um ambiente de destruição. Maria abalada, tentou processar o que havia acabado de acontecer. A tensão no ar era palpável, e o silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor.
Após todos os policiais se retirarem de sua casa, Kaike correu para se sentar ao lado de sua mãe. Ele perguntou, preocupado, se ela estava bem e se tinham machucado ela. Maria, ainda chorando, respondeu que estava bem, mas que o maior prejuízo seria a casa. Mas o que aconteceu mãe? ⎯⎯⎯⎯⎯ perguntou Kaike.
Eu não sei ⎯⎯⎯⎯⎯ respondeu Maria de forma triste, eu estava aqui no sofá, dormindo, e acordei com um imenso barulho, quando acordo a porta da sala arrombada pelos policiais e eles mandando revistar a casa toda...
Vendo a situação, Kaike pediu que sua mãe fosse se deitar em seu quarto, dizendo que ele cuidaria de arrumar toda a bagunça causada pelos policiais. Maria, no entanto, insistiu que de forma alguma deixaria Kaike responsável pela limpeza de toda a casa. Mas Kaike foi firme e insistiu para que ela fosse descansar. Finalmente, Maria cedeu e foi se deitar em sua cama. Kaike passou a manhã toda arrumando a bagunça na casa. Ele recolheu os objetos espalhados, colocou os móveis de volta no lugar e tentou reparar os danos causados. Após a limpeza, ele foi tomar um banho, tentando relaxar a mente e se preparar para o resto do dia. Em seguida, ele preparou o almoço. Quando Maria acordou, ambos almoçaram juntos e se prepararam para sair. Kaike tinha que ir para a escola, enquanto Maria precisava ir ao trabalho, onde limpava casas para conseguir seu ganha pão.
Kaike então caminhou tranquilamente até o ponto de ônibus para ir à escola. No caminho, ele avistou uma pequena vendinha que estava vendendo alguns geladinhos. Para sua sorte, ele tinha alguns trocados sobrando no bolso. Decidiu, então, comprar um para se refrescar.
Enquanto escolhia o sabor, de repente, Layla chegou por trás dele de forma sorrateira, tentando dar um susto. Kaike, que já era facilmente assustado, levou um grande susto e quase deixou cair o dinheiro que segurava. Quando se virou rapidamente, viu que era Layla, sua amiga.
- Não faz isso, cara - disse Kaike, ainda recuperando o fôlego e com o coração acelerado.
- Ah, para, foi só um susto de leve. Tá comprando chup-chup Kaike? - perguntou Layla, rindo e com um brilho travesso nos olhos.
- Sim, Eu... tô comprando um geladinho. Você gosta? - perguntou Kaike, tentando se recompor.
- Geladinho? Hmmm - disse Layla, interessada, enquanto olhava para os sabores disponíveis.
Layla se aproximou da vendedora e perguntou se tinha geladinho de morango. Após a vendedora confirmar que tinha o sabor desejado, Layla perguntou o preço. Kaike, querendo ser gentil e mostrar sua amizade, disse que pagaria pelo geladinho dela.
- Larga de ser besta, garoto. Deixa que eu pago - disse Layla, insistindo com um sorriso no rosto.
- Então tá bom... - concordou Kaike, sorrindo de volta, apreciando o gesto de amizade.
A vendedora entregou os geladinhos, e Layla pagou com uma nota amassada que tirou do bolso. Eles agradeceram e se afastaram da vendinha, saboreando o doce gelado que começava a derreter sob o sol quente.
Enquanto caminhavam em direção à escola, Layla olhou para Kaike e disse: - Você sempre tenta ser o cavalheiro, né?
⎯⎯⎯⎯⎯ Mas eu também gosto de ser gentil de vez em quando. ⎯⎯⎯⎯⎯ disse Kaike enquanto ria, dando uma mordida no geladinho. - Só queria retribuir a amizade. Mas você é teimosa, hein?
- E você só percebeu isso agora? - brincou Layla, dando um leve empurrão no ombro dele.
O caminho até a escola era ladeado por árvores que ofereciam uma sombra agradável. O som dos pássaros cantando e o barulho distante do trânsito criavam um ambiente tranquilo. Eles passaram por algumas crianças brincando na calçada e por um grupo de idosos conversando animadamente em um banco de praça.
- Sabe, eu gosto desses momentos simples - disse Kaike, quebrando o silêncio.
- Às vezes, a gente se preocupa tanto com nossos problemas que esquece de aproveitar os pequenos detalhes.
Layla concordou, olhando para o céu azul. - É verdade. E com a companhia certa, tudo fica ainda melhor.
Kaike olhou para Layla com curiosidade.
- Mas o que você estava fazendo por aqui? Esse lugar é bem mais longe para se caminhar até a escola.
Layla sorriu, um brilho travesso nos olhos. - Ah, eu estava resolvendo umas coisas por aqui perto. E quando vi você ali parado, não resisti e resolvi dar um oi... Dando susto em você. Kkkkkkkk
Kaike riu junto, balançando a cabeça. - inacreditável, Layla. Kkkkkkk.
Eles continuaram caminhando, conversando sobre os planos para o fim de semana e as novidades da escola. A amizade entre eles parecia se fortalecer a cada passo, e o calor do sol era suavizado pela brisa leve que soprava, tornando o momento ainda mais agradável.
Após chegarem na escola, Kaike e Layla se sentaram em seus lugares, esperando o início da aula. De repente, Kaike foi acertado por uma bolinha de papel. Ele olhou para trás, mas não viu ninguém que parecesse suspeito. Mesmo assim, ele sabia que era evidente o sentimento de "você não é bem-vindo aqui".
Layla, percebendo o que aconteceu, perguntou:
- Por que eles fazem isso com você?
Kaike suspirou e respondeu:
- Talvez seja porque eu sou de comunidade? e eles não gostam desse tipo de gente.
Layla balançou a cabeça, indignada.
- Isso não faz sentido. Por que você não denuncia isso à coordenação da escola?
Kaike deu um sorriso triste.
- Não vai adiantar nada. Se fosse só dentro da sala, estaria até "OK". Mas você não percebe, Layla, eu não sou socializado com ninguém no colégio. Mas eu taco o foda-se para todo mundo, entende? Claro, com exceção de você. Você é uma pessoa legal - disse Kaike, sorrindo para ela.
Após longas aulas, chegou o horário do intervalo. Kaike e Layla desceram até o primeiro andar da escola, onde havia alguns bancos. Eles se sentaram e começaram a conversar.
Em determinado momento, Kaike sentiu a necessidade de ir ao banheiro. Quando voltou, viu o garoto da noite passada sentado ao lado de Layla.
Kaike se aproximou do banco e, foi voltar a conversar com Layla
- Opa? Você conhece a Layla, disse o rapaz fingindo que não sabia quem era Kaike
Kaike, tentando manter a compostura, respondeu que sim, o rapaz percebeu um leve tom de raiva em sua voz. Layla, percebendo a tensão, decidiu se levantar e disse:
- Tchau, foi bom conversar.
Ela aproveitou que Kaike estava de pé e o chamou para andar com ela, deixando o garoto para trás. Em sua mente, Kaike ria exageradamente da situação, satisfeito por ter deixado o garoto desconcertado.
Após saírem de lá, Kaike e Layla foram até o pátio central, onde alguns alunos jogavam partidas de vôlei. Eles passaram o restante do intervalo ali, conversando e observando o jogo. Quando o sinal tocou, indicando o fim do intervalo, eles se levantaram e retornaram para a sala de aula.
Depois que todos os alunos voltaram para a sala, o professor entrou e trouxe uma notícia. Ele anunciou que iria passar um seminário que poderia ser feito em grupo. A sala ficou em alvoroço com a novidade, e Kaike e Layla trocaram olhares, já pensando em como poderiam trabalhar juntos no projeto. Kaike então disse, tentando parecer formal ao convidá-la:
- Será que a senhorita estaria disponível para ser do meu grupo?
Layla respondeu, fingindo se gabar:
- Não, eu já estou cheia de convites.
Ela riu e continuou:
- Não, bobinho... é claro que eu faço grupo com você.
O professor então revelou o tema do seminário que estava organizando: "Os Impactos das Tecnologias Emergentes na Sociedade". Ele também anunciou a data para o prazo de entrega, que seria em três semanas. Os grupos já tinham decidido o que queriam fazer em cada projeto, e agora era hora de começar a trabalhar.
Layla e Kaike começaram a debater sobre como planejavam abordar o seminário. O professor então, direcionou a turma até a biblioteca da escola, um lugar tranquilo e propício para discussões produtivas. Após eles chegarem e se sentarem nas cadeiras da biblioteca, Layla sugeriu que focassem na inteligência artificial e seus efeitos no mercado de trabalho, enquanto Kaike concordou com a ideia.
Eles decidiram dividir o trabalho: Layla ficaria responsável pela pesquisa sobre inteligência artificial, enquanto Kaike se concentraria na produção dos materiais do projeto, que no caso seria os slides para a apresentação deles. Ambos concordaram em se encontrar novamente no fim de semana para juntar suas pesquisas e começar a montar a apresentação.
- Precisamos de uma boa introdução para prender a atenção do público - sugeriu Layla. - Talvez possamos começar com um vídeo impactante.
- Boa ideia! - concordou Kaike. - E podemos terminar com uma sessão de perguntas e respostas para envolver a audiência.
Com o plano traçado, eles se sentiram mais confiantes sobre o seminário. Sabiam que teriam muito trabalho pela frente, mas estavam determinados a fazer uma apresentação memorável.
O tempo passou rapidamente, e logo chegou o horário da saída. A noite estrelada era evidente no céu, e Kaike e Layla estavam no portão da escola se despedindo.
- Vai vir amanhã? - perguntou Layla.
- É óbvio que sim - respondeu Kaike, rindo.
Após isso, ele pegou o primeiro ônibus e foi para sua casa. Ao descer do ônibus, ele caminhou e subiu as escadarias do morro até sua residência. Talvez hoje a lua estivesse mais brilhante e as estrelas mais lindas que nos dias anteriores. Ao caminhar pelas escadarias, era possível ver a nitidez da noite no horizonte lá de cima do morro. Mas talvez nem tudo fosse tão legal...
Ao chegar em casa, ele foi surpreendido com uma péssima notícia. Sua mãe tinha ido ao hospital por causa de um acidente de trabalho, informou uma vizinha que estava à sua espera.
- Mas como isso aconteceu? - perguntou Kaike, desesperado pela saúde de sua mãe.
A vizinha então o atualizou sobre a situação. Ele se arrumou rapidamente e saiu de casa em direção ao hospital onde ela estava. Para agilizar, resolveu pegar um moto táxi para chegar o mais rápido possível, mesmo sendo tarde da noite. A gente nunca está preparado para quando alguma infelicidade possa acontecer, não é mesmo?
Ao chegar no hospital, Kaike desceu da moto, pagou a corrida e correu para dentro do hospital para saber sobre sua mãe. A atendente pediu que ele a acompanhasse até a sala onde ela estava. Ao chegar, o médico o atualizou sobre o estado dela.
- Pois então, Kaike, sua mãe, sofreu um acidente na perna. Relaxe, ela não quebrou o pé, mas sofreu uma torção que vai levar algum tempo para se recuperar completamente.
Por isso, ela precisará ficar com a perna engessada e em repouso obrigatório. No momento, ela está acamada e dormindo, mas, no geral, teve sorte de não ter sofrido ferimentos mais graves, okay?
Kaike então abraçou o médico, aliviado por não ter sido pior, e passou a noite no hospital ao lado de sua mãe até que ela recebesse alta para poder retornar para casa.