Kaike amanheceu no hospital, o som suave dos monitores e o cheiro característico de desinfetante preenchendo o ar. Ele abriu os olhos lentamente, ajustando-se à luz fraca que entrava pela janela. Sua mãe ainda estava adormecida na cama ao lado, o rosto sereno apesar do gesso que envolvia sua perna. Sentindo a necessidade de um café para começar o dia, Kaike se levantou cuidadosamente, tentando não fazer barulho. Ele saiu do quarto e caminhou pelo corredor silencioso até a recepção.
Os corredores pareciam não ter fim, médicos e enfermeiros passavam ao seu lado indo atrás de outra sala, buscando pacientes, passava se um sentimento estranho em Kaike, talvez fosse preocupação, ou simplesmente estava assustado, já que hospital não é um lugar que ele frequente com frequência. Chegando a recepção então ele pede pela informação de onde poderia conseguir algum lugar para comprar um café.
- Com licença, onde posso encontrar café? - perguntou ele à recepcionista, que lhe indicou uma pequena cafeteria no andar térreo.
Kaike desceu pelo elevador, ao chegar à cafeteria, ele pediu um café preto e pagou com seu celular. Enquanto esperava, observou as pessoas ao seu redor: enfermeiros apressados, pacientes em cadeiras de rodas e familiares com expressões de ansiedade. Com o café em mãos, Kaike voltou para o quarto de sua mãe. Ao abrir a porta, encontrou-a acordada, conversando com o médico e uma enfermeira. O coração de Kaike acelerou por um momento, temendo que algo tivesse acontecido.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntou ele, a voz carregada de preocupação.
O médico, percebendo a ansiedade de Kaike, sorriu de forma tranquilizadora.
- Não se preocupe, Kaike. Estamos apenas passando as últimas informações para sua mãe. - Ele se virou para Maria. - Como eu estava dizendo, é importante que você faça o mínimo de esforço possível para que o ferimento não se torne uma lesão pior.
A enfermeira, com um olhar gentil, acrescentou:
- Vamos providenciar tudo o que você precisar para se recuperar bem em casa. Kaike, você pode nos ajudar a garantir que sua mãe siga todas as recomendações?
Kaike assentiu, sentindo a responsabilidade pesar sobre ele. Ele se aproximou da cama e segurou a mão de sua mãe.
- Claro, farei tudo o que for necessário.
O médico e a enfermeira saíram do quarto, deixando Kaike e Maria sozinhos. Ele se sentou ao lado dela, segurando sua mão com firmeza. O café, agora esquecido, esfriava na mesa ao lado.
- Vai ficar tudo bem, mãe. Eu prometo.
Após o médico dar alta, Kaike ajudou sua mãe a cada passo até a saída do hospital. Ele a apoiava cuidadosamente, certificando-se de que ela não colocasse muito peso na perna machucada. Ao chegarem na recepção, Kaike deixou sua mãe sentada em uma cadeira confortável enquanto esperavam o Uber que os levaria para casa. Quando o Uber chegou, Kaike ajudou sua mãe a entrar no carro, acomodando-a no banco traseiro com cuidado.. O carro seguia pelas ruas movimentadas da cidade até que, chegaram ao morro do Vidigal.
O motorista do Uber, com uma expressão preocupada, disse:
- Desculpe, mas não posso subir o morro. Tenho receio de que algo possa acontecer comigo.
Kaike, já cansado e preocupado, tentou tranquilizá-lo:
- Não tem nada a ver, isso é coisa da sua cabeça. Senhor eu prometo, não dá nada não.
Mesmo assim, o motorista insistiu:
- Sinto muito, mas não vou subir.
Kaike, frustrado com a situação, respirou fundo e respondeu de forma educada:
- Ok, obrigado.
Ele saiu do carro, abriu a porta onde sua mãe estava e a ajudou a sair. Com cuidado, colocou o braço dela sobre seus ombros para apoiá-la enquanto começavam a subida do morro. Kaike fazia o possível para que sua mãe não precisasse forçar a perna machucada. Enquanto subiam, Kaike sentia a tensão em seus ombros, mas também uma determinação crescente. Ele sabia que precisava ser forte por sua mãe. O caminho era íngreme e cansativo, mas a vista do morro, com suas casas coloridas e a brisa suave, oferecia um pouco de consolo.
Finalmente, chegaram à casa. Kaike ajudou sua mãe a se acomodar no sofá da sala, colocando almofadas para que ela pudesse descansar a perna.
Após isso, Kaike preparou o almoço, cuidando para que fosse uma refeição nutritiva e fácil de comer. Ele deixou tudo ajeitado na mesa e organizou a sala para que sua mãe não precisasse se esforçar para sair do sofá ou ir para algum lugar. Colocou uma garrafa de água e alguns lanches ao alcance dela, além de um controle remoto e um livro que ela gostava de ler. Antes de sair, Kaike foi até a casa da vizinha, Dona Marta, uma senhora gentil que sempre estava disposta a ajudar.
- Dona Marta, será que a senhora poderia deixar seu celular disponível para minha mãe? Caso ela precise de alguma coisa enquanto eu estiver na escola.
Dona Marta sorriu e assentiu.
- Claro, Kaike. Fica tranquilo com isso.
Com a vizinha disposta a ajudar, Kaike se sentiu um pouco mais aliviado. Ele desceu o morro até o ponto de ônibus, sentindo a brisa fresca da manhã. Enquanto esperava o ônibus, seus pensamentos estavam divididos entre a preocupação com sua mãe e a necessidade de se concentrar nos estudos. No entanto, uma preocupação ainda maior começou a tomar conta de sua mente: como eles iriam se manter sem sua mãe trabalhando? As contas não parariam de chegar, e ele sabia que precisava encontrar uma solução rápida. Foi então que, em seus pensamentos, surgiu a imagem do moreno que havia lhe oferecido um convite para trabalhar na biqueira.
Kaike lembrava claramente das palavras do moreno:
- vou te dar mais uma semana....
A ideia de se envolver com algo perigoso o deixava inquieto, mas a necessidade de sustentar sua mãe e a si mesmo era esmagadora. Ele sabia que precisava encontrar um emprego, mas as opções pareciam limitadas. O dilema entre fazer o que era certo e o que parecia ser a única solução prática o consumia. O ônibus chegou e Kaike subiu, encontrando um lugar perto da janela. Observando a paisagem passar, ele refletiu sobre as responsabilidades que agora pesavam sobre seus ombros. Determinado, ele sabia que precisava se esforçar ao máximo para equilibrar a escola e os cuidados com sua mãe, enquanto buscava uma maneira de ganhar dinheiro honestamente.
Ao chegar na escola, Kaike respirou fundo, pronto para enfrentar mais um dia de aulas e desafios, sempre com a imagem de sua mãe em mente, motivando-o a seguir em frente e a encontrar uma solução que não comprometesse seus valores.
Após se sentar e pegar um livro que estava em sua mochila, Kaike começou a ler, tentando se concentrar. De repente, a porta da sala se abriu e Layla entrou, visivelmente atrasada. Ela se sentou ao lado de Kaike, que a olhou curioso.
- Por que você chegou atrasada? - perguntou Kaike, levantando uma sobrancelha.
Layla suspirou e começou a explicar:
- O ônibus atrasou e, para piorar, esqueci meus documentos em casa. Tive que voltar para pegar.
Kaike assentiu, compreendendo a situação. Antes que pudessem continuar a conversa, o professor começou a escrever a matéria no quadro. Ele fez uma breve introdução e, em seguida, começou a explicar o conteúdo.
Alguns momentos depois, a porta da sala se abriu novamente. Todos os olhares se voltaram para a entrada, onde um aluno novato apareceu. Ele tinha uma aura intimidadora, mas ao mesmo tempo emanava uma energia positiva. Era um rapaz negro, alto, com um corpo atlético. Usava óculos e tinha um cabelo um pouco grande com tranças.
O novato olhou ao redor da sala e viu um espaço vazio atrás da cadeira de Kaike. Decidiu se sentar lá. O professor interrompeu a explicação para informá-lo sobre o seminário que estava em andamento.
- O único grupo que ainda tem espaço é o de Kaike e Layla, que estão bem à sua frente - disse o professor, apontando para eles.
O novato se aproximou e se apresentou:
- Prazer, me chamo Jonathan - disse ele com uma voz grossa, mas amigável.
Kaike, observando os detalhes das vestimentas de Jonathan, notou um colar diferente que ele usava. Pensou consigo mesmo que, apesar da aura intimidadora, Jonathan parecia ter uma energia pura.
- Prazer, Jonathan - disse Kaike, sorrindo animado. - Eu sou Kaike e essa é Layla.
- Prazer - disse Layla, acenando com a cabeça. - Bem-vindo à escola e ao nosso grupo.
- Suave, obrigado - respondeu Jonathan, com um sorriso.
Com as apresentações feitas, o professor retomou a explicação da matéria, que seguiu até o horário do intervalo. Kaike, Layla e Jonathan começaram a se familiarizar, discutindo brevemente sobre o seminário e suas ideias para o projeto.
- Eu e Layla vamos passar o intervalo juntos. Se você quiser ir com a gente, aproveitamos e mostramos a escola para você - disse Kaike.
- Por mim, tudo bem - respondeu Jonathan. - Eu já não tenho familiaridade com ninguém dessa escola mesmo, por mim de boa.
Então, eles seguiram andando pela escola, conversando sobre suas matérias e interesses. Chegaram à quadra de vôlei da escola, onde Kaike teve uma ideia.
- Ei, vocês jogam alguma coisa? Me refiro a esportes - perguntou Kaike, com um brilho nos olhos.
- Ah, eu sou meio eclética, mas não tenho nenhum esporte fixo, sabe? - disse Layla, rindo.
- Eu mal jogo alguma coisa - admitiu Jonathan.
- Então bora fazer um trio e jogar vôlei! Vamos animar! - sugeriu Kaike, entusiasmado.
Jonathan e Layla trocaram olhares que diziam "não" à pergunta de Kaike, mas ao mesmo tempo pensaram... "Ah, por que não? Não é mesmo?" Então, ambos decidiram que iriam, para a felicidade de Kaike.
Kaike, Layla e Jonathan se posicionaram na quadra de vôlei, formando a posição do time. Do outro lado, três alunos da escola já estavam prontos para o jogo. Kaike, animado, pegou a bola e se preparou para o primeiro saque.
- bora! - disse Kaike, com um sorriso confiante.
Ele lançou a bola para o alto e a golpeou com força, enviando-a para o outro lado da rede. Um dos adversários, um garoto alto e ágil, rebateu a bola de volta. Layla correu para interceptar e conseguiu passar a bola para Jonathan, que a enviou de volta para o campo adversário com um toque preciso.
O jogo começou a esquentar. Os adversários eram bons, mas Kaike, Layla e Jonathan estavam determinados a dar o seu melhor. Jonathan, apesar de não ter muita experiência, mostrou-se ágil e determinado, surpreendendo Kaike e Layla com suas habilidades.
- Boa, Jonathan! - disse Kaike, impressionado.
- Valeu! - respondeu Jonathan, sorrindo.
A partida continuou acirrada, com os dois times trocando pontos. Kaike fez um saque forte que passou raspando pela rede, dificultando a defesa dos adversários. Layla, com sua agilidade, conseguiu fazer várias defesas importantes, enquanto Jonathan se destacava nos ataques.
- Boa, Layla! - exclamou Kaike, animado.
O jogo seguiu até o sinal do intervalo tocar, indicando o fim do tempo livre. Os três amigos, suados e ofegantes, riram juntos enquanto saíam da quadra.
- Foi muito divertido! - disse Layla, enxugando o suor da testa.
- Com certeza! Precisamos fazer isso mais vezes - concordou Kaike.
- Estou dentro - disse Jonathan, animado. - Obrigado por me incluírem.
- Sempre, cara. Agora vamos voltar para a sala - disse Kaike, liderando o caminho de volta.
O trio foi o primeiro a chegar na sala de aula vazia, com apenas cadernos e mochilas espalhados pelas mesas. O ventilador de teto girava lentamente, tentando refrescar o ambiente abafado.
Após algum tempo, o restante da turma chegou, trazendo consigo a bagunça das conversas e a energia pós-intervalo. Jonathan, curioso, perguntou:
- Que aula teremos agora?
- Agora é a aula no laboratório. Teremos uma experiência química, nada muito difícil - respondeu Kaike.
- Vamos fazer uma reação química simples para observar a formação de precipitados - explicou Layla.
Assim que a professora chegou na sala, ela pediu aos alunos que andassem calmamente até o laboratório no andar debaixo da escola. Os alunos a seguiram até lá.
No laboratório, os alunos se sentaram nas cadeiras ao redor da larga mesa central. Kaike, Layla e Jonathan, o novo integrante da trupe, se juntaram em uma das mesas.
Quando todos estavam acomodados, a professora deu início à aula, explicando a experiência:
- Hoje, vamos realizar uma reação de precipitação. Vamos misturar duas soluções aquosas, uma de nitrato de prata e outra de cloreto de sódio. Quando essas soluções se misturam, ocorre uma reação que forma um precipitado branco de cloreto de prata. Vocês devem adicionar lentamente a solução de cloreto de sódio à solução de nitrato de prata e observar a formação do precipitado. Lembrem-se de anotar todas as observações para o relatório.
Os alunos começaram a preparar suas experiências. A professora alertava que todos deviam prestar atenção no processo para o relatório da experiência, que seria entregue no final da aula.
Kaike, um pouco inseguro, perguntou a Layla:
- Estou fazendo isso certo?
- Acho que sim - respondeu Layla, observando a mistura.
Jonathan, com um sorriso tímido, disse:
- Não vou dar pitaco, porque não entendo muito de química.
Layla sorriu e disse:
- Confia no processo, vai dar certo.
Para a alegria do trio, a experiência funcionou exatamente como a professora havia explicado. Eles abriram um sorriso leve, comemorando o sucesso. Surpreendentemente, foram os primeiros do restante da turma a realizar a experiência corretamente, mesmo que não fosse uma competição. Isso atraiu olhares invejosos de alguns colegas, que observavam o progresso deles.
Agora, os três deviam fazer o relatório da experiência para a conclusão da aula. Sentaram-se juntos e começaram a escrever, discutindo cada detalhe e anotando suas observações. Trabalharam diligentemente até o final da aula, satisfeitos com o resultado de seu esforço conjunto.
Após o final da aula no laboratório, Kaike, Layla e Jonathan voltaram para a sala de aula. O ambiente estava mais calmo agora, com os alunos se acomodando em seus lugares e se preparando para a próxima atividade. Kaike, Layla e Jonathan se sentaram juntos, ainda animados com o sucesso da experiência química.
- Foi móh daora aquela experiência, né? - comentou Kaike.
- Sim, e conseguimos fazer tudo certinho! - respondeu Layla, sorrindo.
- Vocês são bons nisso. Acho que vou aprender muito com vocês - disse Jonathan, ajustando os óculos.
Enquanto conversam, Kaike não pôde deixar de pensar em como sua vida havia mudado nos últimos dias. A preocupação com sua mãe ainda estava presente.
- Ei, Kaike, está tudo bem? - perguntou Layla, percebendo que ele estava pensativo.
- Sim, só estava pensando em algumas coisas. Mas estou bem, obrigado - respondeu Kaike, sorrindo.
Jonathan olhou para Kaike com curiosidade, mas decidiu não perguntar nada.
Quando o sinal tocou, indicando o fim do dia escolar, Kaike, Layla e Jonathan foram andando até o portão da escola
- Prazer ter te conhecido Jon, foi daora a partida de vôlei hoje - disse kaike.
- Tamo junto - respondeu Jonathan
- eu vou indo então - disse Layla
Então, os três amigos se dispersaram, cada um seguindo seu caminho. Kaike caminhava em direção ao ponto de ônibus, ainda refletindo sobre a aula e as responsabilidades que tinha em casa. Enquanto esperava o ônibus.
O ônibus então chegou e Kaike adentrou, se sentando ao fundo. Sua mente não conseguia se manter focada em nada específico, enquanto ele pensava em como iria encontrar um emprego para cobrir as despesas de sua casa. O trajeto parecia mais longo do que o habitual, com seus pensamentos pesados e preocupados.
Ao descer do ônibus, Kaike caminhou pelo morro até chegar em casa. Bateu a porta e a abriu, encontrando sua mãe dormindo no sofá. Estranhamente, a essa hora ela geralmente estaria acordada, mas ele achou que talvez fosse melhor assim. O descanso era necessário para sua recuperação.
Kaike tratou de arrumar a casa, organizando as coisas e preparando a janta. O cheiro da comida preenchia o pequeno espaço, trazendo um pouco de conforto. Depois de deixar tudo pronto, ele decidiu sair para dar uma volta pela comunidade, na esperança de relaxar a mente.
Era uma sexta-feira, e a maioria das pessoas estava na rua, jogando futebol ou no boteco tomando uma breja. Kaike caminhou pelas vielas, cumprimentando conhecidos e observando a vida ao seu redor. Ele se sentou na mureta que dava vista para o horizonte da favela, onde as luzes da cidade brilhavam ao longe.
Enquanto olhava para o horizonte, Kaike pensava em como resolveria sua vida. As preocupações com as contas, a saúde de sua mãe e a necessidade de encontrar um emprego pesavam em seus ombros. Ele sabia que precisava ser forte, mas a incerteza do futuro o deixava ansioso.
Enquanto Kaike estava sentado na mureta, observando o horizonte da favela e perdido em seus pensamentos, um antigo amigo surgiu das sombras. Era Lucas, um colega de infância que agora trabalhava no tráfico para Moreno. Lucas se aproximou com um sorriso amigável, mas com um olhar que mostrava que ele sabia das dificuldades que Kaike estava enfrentando.
- E aí, Kaike! Tudo bem com você e com sua mãe? - perguntou Lucas, com um tom de voz que misturava preocupação genuína e curiosidade.
Kaike, surpreso com a abordagem, respondeu:
- Estamos levando, sabe como é. Minha mãe está se recuperando, mas as coisas estão difíceis.
Lucas assentiu, compreendendo a situação.
- Eu ouvi falar do acidente dela. Deve estar sendo complicado pra você, né? - disse Lucas, sentando-se ao lado de Kaike na mureta.
Kaike suspirou, sentindo o peso das responsabilidades.
- É, tá complicado. As contas não param de chegar e eu preciso arrumar um emprego logo.
Lucas olhou para Kaike com um semblante sério, mas amigável.
- Sabe, Kaike, eu sempre te considerei um irmão. E é por isso que eu tô aqui pra te ajudar. Se precisar de algo, é só falar.
Kaike sabia que aceitar qualquer tipo de ajuda de Lucas poderia complicar ainda mais sua vida. Ele agradeceu educadamente, mas decidiu não se aprofundar na conversa.
- Valeu, cara. Mas estamos nos virando. Vou tentar arrumar um emprego honesto.
Lucas balançou a cabeça, compreendendo, mas não desistiu.
- Eu entendo, mano. Mas olha, tem uma forma de você ganhar uma grana rápida. O Moreno tá te chamando há um tempo né. Você sabe que o trabalho é arriscado, mas o dinheiro é bom. E você não precisaria se preocupar com as contas por um tempo.
Kaike sentiu um frio na espinha. A ideia de se envolver com o tráfico o deixava inquieto, mas a necessidade de sustentar sua mãe e a si mesmo era esmagadora.
- Não sei, Lucas. - disse Kaike
Lucas colocou a mão no ombro de Kaike, tentando tranquilizá-lo.
- Eu sei que não é fácil, mas você é esperto, Kaike. E eu vou estar lá pra te ajudar. A gente se cuida. Pensa nisso, pelo menos. Você não precisa decidir agora.
Kaike olhou para o horizonte, sentindo a pressão aumentar. Ele sabia que Lucas estava tentando ajudar, mas também sabia dos riscos envolvidos. A tentação de resolver seus problemas financeiros rapidamente era grande, mas ele não queria se envolver em algo que pudesse colocar sua vida e a de sua mãe em perigo.
- Vou pensar, Lucas. Mas não posso prometer nada.
Lucas assentiu, compreendendo a hesitação de Kaike.
- Tudo bem, mano. Só quero que saiba que tem opções. E que eu tô aqui pra te ajudar, de verdade.
Kaike agradeceu novamente e se despediu de Lucas, voltando para casa com a mente cheia de dúvidas. Ele sabia que precisava encontrar uma solução honesta para seus problemas, mesmo que isso significasse enfrentar dificuldades maiores no início.
Ao chegar em casa, encontrou sua mãe acordada, e juntos jantaram, conversando sobre o dia e fazendo planos para o futuro.
Após a refeição, Kaike ajudou sua mãe a ir para o quarto. Ele verificou se todas as necessidades dela estavam atendidas antes de ir para o seu próprio quarto. Deitou-se, mas ao tentar fechar os olhos, parecia que a cada dia ficava mais difícil dormir. As dificuldades pesavam cada vez mais em suas costas. Ele lembrou que o único lugar que ironicamente aliviava um pouco esse peso era a escola, com seus novos colegas que