Claro, já que eu não tinha dinheiro e também não tinha como ganhar, tive que largar a escola. Não tinha mais onde morar, então tive que morar com minha única parente viva: minha avó. Com apenas uma pequena mala de roupas e itens de primeira necessidade, peguei um trem até uma cidadezinha sem nome no campo, onde minha avó morava.
Até o momento em que deixei a cidade capital, eu já estava preparada para o pior. Quando me vi pela primeira vez diante do endereço que supostamente era onde minha avó morava, a realidade não estava muito longe das minhas expectativas. Minha avó, como me disseram, era dona de uma pequena confeitaria e loja de bolos numa cidadezinha bem pequena. A descrição estava completamente correta.
'Doce Momento' era o nome na placa desbotada branca e rosa da pequena loja da minha avó. Era óbvio que a placa havia desbotado de branco e vermelho para seu atual estado rosa. A loja ficava no térreo e nossos aposentos no segundo andar.
Viver com minha avó era como um retorno ao básico de tudo. Éramos pobres, mas felizes. Nossa casa e loja eram pequenas, mas era o suficiente para duas garotas pequenas como nós. Eu frequentei uma escola pública local para continuar minha educação e recebi uma bolsa de estudos para ajudar com minhas despesas. Eu fazia tudo que podia para apoiar minha avó apenas para que pudéssemos sobreviver e manter a loja funcionando.
Isso significava que eu trabalhava toda hora do dia em que estava livre. Eu raramente saía com amigos porque tinha que trabalhar na loja. Eu me concentrava nos meus estudos para que pudesse conseguir uma bolsa para a universidade. Não precisava nem dizer que não tínhamos dinheiro suficiente para me mandar para a universidade.
A vida era dura, mas era simples o suficiente. Durante tudo isso, minha avó estava sempre lá por mim. Nem uma vez ela reclamou, mesmo conforme envelhecia, e isso significava que eu também não tinha nenhuma razão válida para reclamar. No fim do meu ensino médio, consegui uma bolsa integral para estudar artes e design em uma universidade próxima. Isso significava que eu tinha que me mudar e morar no dormitório da universidade, mas ainda tinha o cuidado de viajar a curta distância até em casa para visitar minha avó e ajudar na loja.
Foi durante meu primeiro ano na universidade que conheci meu primeiro e único namorado. A vida estava indo bem até que... aqueles homens apareceram.
Um dia, quando cheguei à loja depois de uma de minhas viagens de compras de supermercado, pude imediatamente sentir que algo estava errado. O bairro todo estava quieto, quieto demais. Era como se ninguém estivesse vivendo ou respirando ali. Ninguém caminhava pela rua, nenhum carro passava e simplesmente não havia sinais de vida.
Meu coração disparou quando meus olhos se fixaram numa grande limusine preta estacionada em frente à minha casa. Nunca tinha visto uma limusine na vida real antes, apenas nos filmes. Era óbvio que nesta cidadezinha pobre e pequena onde poucas pessoas tinham carros, ninguém tinha uma chamativa limusine preta. O que eu não conseguia entender, enquanto o choque de tudo isso tomava conta de mim, era por que havia uma limusine estacionada bem em frente à minha casa?
Uma vez que meu corpo se recuperou do choque inicial, me vi largando a sacola de compras do lado de fora e correndo o mais rápido que pude em direção à loja. A visão de janelas quebradas, placas destruídas e vasos de flores derrubados derramando terra preta por toda parte me chocou profundamente enquanto eu engasgava de surpresa.
O que aconteceu aqui enquanto eu estava fora?
O próximo pensamento que entrou na minha cabeça foi... avó! Onde ela está? Ela está bem?
"Avó!!" eu gritei com todo o ar dos meus pulmões.
Corri pela porta entreaberta para dentro da loja. O interior da loja estava uma bagunça, assim como o exterior. Tudo que podia ser destruído foi destruído e lá, de joelhos e mãos no chão, estava minha pobre avó.
"Avó!" eu gritei correndo para o seu lado, abaixando-me para apoiar seu corpo frágil.
"Lisa..." minha avó chamou meu apelido suavemente entre seus soluços perturbados.
A visão dela chorando e como seu corpo tremia de choque e medo partiu meu coração em um milhão de pedaços. O que fizemos para merecer algo tão cruel?
"Você finalmente voltou,"
Uma voz masculina baixa e sem emoção disse, fazendo-me perceber pela primeira vez que minha avó e eu não éramos as únicas no quarto. Devagar, olhei na direção da voz. Lá, não tão longe de onde estávamos agachadas no chão, estavam três homens muito altos e grandes. Todos vestidos de preto.
Não conseguia distinguir seus rostos porque todos usavam óculos escuros pretos que escondiam seus olhos da visão. Seus ternos pretos, calças e sapatos de couro brilhantes pareciam impecáveis e perfeitos mesmo depois de todo o caos que causaram na minha casa. Esses homens pareciam como se tivessem saído diretamente de um filme... um filme de máfia.
Então, isto... era a máfia...
"Caro senhor, eu peço desculpas se ofendemos você de alguma forma, mas... tenho certeza de que tudo isso tem que ser algum tipo de mal-entendido..." eu disse com voz trêmula enquanto me levantava lentamente.
"Você conhece Simon e Marianne Maxford?" um dos homens vestidos de preto perguntou severamente.
"Sim... eles eram meus pais..." eu respondi suavemente. O que a máfia teria a ver com meus pais? Já faziam uns seis anos desde que eles morreram...
"Então não há engano. Finalmente a encontramos," o homem continuou com voz firme.
"O que você quer dizer?" eu perguntei, confusa.
"Dê uma olhada nisso," o homem disse enquanto me estendia algumas folhas de papel.
Hesitantemente, peguei os papéis dele enquanto notava que minhas mãos estavam tremendo muito. O que poderiam ser estes papéis?
Antes que eu tivesse a oportunidade de ler o conteúdo do papel, o homem começou a falar novamente como se respondesse minha pergunta não feita.
"Este é um contrato de empréstimo que seus pais fizeram com nosso chefe quando pegaram um empréstimo de quinhentos milhões de dólares," o homem declarou com fato.
"... O quê?!" exclamei chocada.
Quinhentos milhões de dólares?!
--Continua…