O dia amanheceu chuvoso. O céu, denso e nublado, estendia-se até o horizonte, um aviso claro de que o Sol não daria as caras. Seu brilho ausente deixava os desabrigados sem conforto, apenas a melancolia do clima pesado.
Diante da entrada sudoeste da devastada Helium, cinco figuras permaneciam imóveis. Eles observavam as ruínas do distrito residencial, os prédios desmoronados como lembranças de um passado melhor. Gotas frias deslizavam de suas testas e escorriam por seus rostos, misturando-se com o silêncio da chuva constante.
"A chuva vai nos ajudar. Com o vento calmo, nosso cheiro não será levado até os infectados. Isso deve facilitar nossos movimentos." Will quebrou o silêncio. O homem de aparência rude segurava um martelo de batalha tão imponente quanto sua presença. Suas mãos calejadas pareciam feitas para aquela arma, e o peso dela complementava seu porte robusto.
"É... Mas para mim, ela só serve para nos molhar. Infelizmente, não temos o luxo de esperar que passe," Noah retrucou, erguendo o olhar para o céu. Seus olhos azuis refletiam as nuvens carregadas acima. Duas adagas gêmeas descansavam em sua cintura, prontas para qualquer eventualidade.
A mulher de cabelos negros deu um passo à frente, assumindo a liderança com naturalidade. Em seu rosto, confiança; em seus olhos, um brilho de desconforto. Ela havia passado boa parte da noite relembrando os detalhes da luta feroz contra o monstro gigante, e os pensamentos ainda a acompanhavam como sombras.
"Vamos seguir em frente. O plano continua. Precisamos chegar ao local onde a criatura estava antes do meio-dia." Sua voz era firme, sem espaço para dúvidas, enquanto ela avançava pelas ruas tomadas pela vegetação que crescia sem controle.
Os passos da equipe de ataque eram silenciosos, mas suas pegadas ficavam marcadas no chão lamacento das calçadas e estradas destruídas. A chuva fina continuava a cair, abafando os sons ao redor. Algum tempo depois, o silêncio foi quebrado.
"Capitã... Desculpe a intromissão, mas ontem notei que seu semblante estava diferente. Você parecia mais preocupada do que o habitual... e, talvez, até com medo."
Tap...
Os passos cessaram. A mulher, que liderava o grupo com firmeza até então, parou. Seus olhos verdes voltaram-se para o homem de aparência comum, avaliando-o por um momento antes de responder.
"Um dos soldados que entrou no bar ontem relatou algo estranho," começou ela antes de retomar a caminhada. "Disse que, durante a madrugada, sentiu que estava sendo vigiado... E sabemos que infectados comuns ou feras não esperam escondidos antes de atacar. Há algo neste lugar que não está certo."
"Hum... Poderia ser que o gigante nos seguiu após recuarmos?" O homem continuou, caminhando logo atrás. Sua expressão permanecia calma, apesar do tema da conversa. "Acho que ele não faria isso. Se fosse nos atacar, teria feito quando demos as costas..."
Os outros membros do grupo, ouvindo a troca de palavras, pareceram chegar à mesma conclusão em silêncio.
"Bem, isso não importa. Viemos aqui para destruir aquela coisa e pegar a possível pedra que ele carrega." A mulher interrompeu, encerrando a discussão enquanto retomava o ritmo firme da marcha.
"Quando chegarmos à capital, aqueles filhos da puta da inteligência estarão fudidos." Jack resmungou, sua voz carregada de irritação. "Eles disseram que o zumbi gigante era só uma evolução dos infectados normais. Não mencionaram que era uma máquina de matar com garras afiadas e músculos pra todo lado! Aquela coisa saltou 30 metros como se fosse nada..."
No final do grupo, Jack caminhava com passos pesados, seu corpo ainda se recuperando. Apesar do tratamento recebido, o rosto abatido denunciava as mágoas e o terror profundo que a batalha com o monstro havia deixado.
"Vamos! Estamos quase lá. Mais alguns quilômetros e chegaremos ao local. Fiquem prontos!" A mulher de cabelos negros anunciou, seu tom firme cortando a conversa enquanto acelerava os passos.
Perto do centro da cidade, algo repousava nas alturas. Do topo de um prédio em ruínas, com a fachada tomada pelo abandono, uma figura humanoide observava. Seus olhos brilhavam em um vermelho intenso, fixos na direção da equipe de ataque que avançava desprevenida.
O monstro permanecia imóvel, uma presença sinistra em meio à chuva. No telhado, sua postura ereta e calma era quase antinatural, como se estivesse à espera do momento perfeito para agir.
De repente, algo chamou a atenção da criatura. Movendo a cabeça para o lado, ela fixou os olhos no subúrbio sul. Pela primeira vez, uma expressão tomou conta de sua face deformada: as fibras musculares expostas se contraíram, formando um meio sorriso grotesco. Os dentes pontiagudos e amarelados reluziam sob a luz opaca do céu nublado, enquanto os olhos brilhavam em um tom vermelho sinistro.
Woosh!
O som da chuva sendo cortada ecoou pelo ar antes que o zumbi gigante desaparecesse em um movimento veloz, quase invisível.
Do outro lado da cidade, Kael estava frente a frente com três infectados. Um arrepio percorreu sua nuca, como se um par de olhos o observasse à distância. Instintivamente, ele virou-se em direção ao prédio onde a criatura estivera antes. Seus olhos sondaram o local, mas nada encontrou. Apesar disso, a sensação persistia, como uma sombra pesada que se recusava a deixar sua mente.
Roah!
O rugido rouco de um dos zumbis trouxe ele de volta à realidade. Sem hesitar, a criatura avançou contra ele, os braços estendidos e as mandíbulas escancaradas.
Kael apertou o punho da adaga, ajustando sua postura enquanto flexionava as pernas. Com um movimento ágil, lançou-se em direção ao inimigo mais próximo.
""Vamos testar as mudanças que a pedra me trouxe ontem." Um sorriso confiante curvou seus lábios, refletindo a antecipação do confronto.
Woosh! A adaga cortou o ar com velocidade quase imperceptível.
Em um instante, Kael já estava ao lado do corpo do zumbi, parado, enquanto a cabeça da criatura rolava pelo chão. O corpo sem vida continuava avançando por alguns passos, como se ainda não tivesse percebido a ausência da cabeça.
Fuuu... O ar escapou de seus lábios em um suspiro pesado.
"Então é isso. Minha força aumentou, mas parece que o consumo de oxigênio também. Meus pulmões ainda não se adaptaram à demanda maior." Ele murmurou para si mesmo, mudando a adaga para um aperto reverso, o brilho de curiosidade e excitação iluminando seus olhos.
"Vamos testar um pouco mais!"
Enquanto dizia isso, seus olhos fixaram-se nos dois zumbis restantes, que, para sua surpresa, hesitaram. Algo que ele nunca havia testemunhado antes.
Eles estavam demonstrando medo.