"Senhora! Isso é horrível! As cobaias 2, 5, 7 e 9 estão atacando os outros indivíduos!" O rosto do homem à frente dela era banhado pela luz pulsante dos alarmes, sua voz abafada pelas sirenes de alerta que ecoavam pelo laboratório subterrâneo.
"Implemente o plano de contenção imediatamente. Separem as cobaias agressivas e monitorem seu comportamento. Quero relatórios constantes sobre as condições dos espécimes." A líder ordenou com firmeza, sua voz carregada de urgência, embora seu semblante permanecesse incrivelmente calmo.
Os alarmes silenciaram poucos minutos depois, mas a tensão no ar persistia. Na tela à sua frente, as câmeras de segurança mostravam uma cena inquietante: as cobaias humanas expostas ao fragmento Z-2106 estavam descontroladas, atacando com violência qualquer pessoa que se aproximasse.
"Comportamento semelhante ao de feras selvagens..." ela murmurou, inclinando-se levemente para observar melhor os monitores. "Rosnados, tentativas de morder... Estão completamente fora de controle."
Respirando fundo, ela voltou sua atenção para os dados armazenados no terminal. Pegando um gravador de voz de sua mesa, começou a registrar suas observações.
"Dia 381 desde a queda do asteroide. Passado mais de um ano desde o início dos experimentos com o fragmento do objeto Z-2106." Sua voz era metódica, mas carregava uma tensão mal disfarçada.
"Pelo que sabemos até agora, a exposição em humanos gerou uma reação imprevisível. Enquanto outras espécies apresentaram avanços extraordinários nas capacidades motoras e cognitivas, os resultados em humanos divergem drasticamente."
Ela pausou a gravação, estreitando os olhos ao revisar um gráfico que piscava na tela.
"Pessoas de diferentes etnias e idades foram testadas, mas os resultados não variaram de forma significativa." A líder falava em um tom metódico, mas sua voz carregava uma sombra de desconforto. "Todos terminaram da mesma forma: loucos, como cães raivosos."
"Os resultados indicam um aumento significativo nas capacidades físicas, mas uma queda acentuada nas atividades cerebrais. Além disso, todos os indivíduos demonstraram uma preferência instintiva por carne crua."
A última frase fez um arrepio percorrer sua nuca. A imagem vívida de um dos cientistas mordido mais cedo pelas cobaias invadiu sua mente. Ele agora estava sob observação na enfermaria.
"Um dos únicos pontos positivos dessa pesquisa é a eficácia do fragmento contra células cancerígenas. Os testes mostraram 100% de sucesso, destruindo completamente as células deformadas e reconstruindo-as de forma saudável."
Enquanto a mulher registrava as descobertas em seu gravador, um som distante interrompeu sua concentração: gritos ecoavam do andar superior.
Bang!
O estrondo de um disparo rasgou o ar, seguido pelo som seco de um corpo caindo no chão.
Na entrada da enfermaria, uma cena caótica se desenrolava. No chão, uma cientista jazia imóvel, uma poça de sangue se espalhando ao redor de sua cabeça perfurada. O soldado responsável pela segurança tremia, a arma ainda em suas mãos.
"Me ajudem! SOCORRO!" A voz desesperada de um enfermeiro cortava o ar, seus gritos acompanhados do som de passos desordenados.
Ele surgiu do quarto, cambaleando. Seu jaleco estava banhado de sangue, o braço direito com um pedaço visivelmente arrancado. O horror em seus olhos era evidente enquanto gesticulava para o ferimento. "Ela... ela me mordeu! Arrancou um pedaço do meu braço!"
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"O número de assassinatos na costa norte do continente continua a crescer. A polícia pede a colaboração da população para avançar nas investigações."
Enquanto a âncora da TV relatava o caso, imagens dos locais dos crimes e de equipes policiais trabalhando eram exibidas na tela.
"A polícia está investigando um serial killer apelidado de 'Fera'. Seu modo de operar tem espalhado terror entre os moradores da região. Ele ataca durante a noite, deixando rastros brutais, e consome partes das vítimas, rasgando a carne com mordidas."
A apresentadora narrava os detalhes com uma calma impressionante, mantendo a postura profissional mesmo ao descrever os horrores. Assim que as imagens terminaram, ela voltou ao vivo, ajustando o tom.
"Veja também, a seguir: pescadores da costa norte capturam peixes de tamanho recorde, e a ascensão e queda do rapper One Eye: a turnê que marcou o fim de sua carreira. Tudo isso após os comerciais."
A transmissão foi cortada, dando lugar a uma sequência de anúncios.
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"Senhor presidente, precisamos agir imediatamente!" O general exclamou, sua voz cortando o silêncio da sala como uma lâmina. Seu uniforme impecável contrastava com seu rosto marcado por cansaço, as olheiras profundas revelando noites de tensão.
"Temos que isolar e colocar toda a costa norte em quarentena! Os relatórios do pessoal da pesquisa já deixaram claro o que está acontecendo. Aquelas pessoas estão perdidas, senhor. Se não tomarmos uma atitude agora, o problema só vai se espalhar!" A veemência de suas palavras ecoava pela sala, sua voz subindo de tom a cada frase.
"E o que você sugere, general Allgemein? Que eu simplesmente abandone todas essas pessoas à própria sorte? Negar a elas qualquer chance de escapar?" O presidente rebateu, sua voz firme, mas carregada de exaustão. Os cabelos grisalhos agora mais proeminentes, a tensão dos últimos meses pesando em seus ombros.
"Senhor, não se trata mais de negar às pessoas a chance de escapar... É sobre impedir que percamos todo o continente." A voz do general agora era mais baixa, carregada de um peso quase insuportável. Cada palavra trazia a tristeza de alguém que já sabia o custo da decisão que estava por vir.
"Nos dê a ordem, senhor. Não permita que seus sentimentos o paralisem... Cada minuto que perdemos aqui custa mais vidas."
O silêncio dominou a sala. O presidente permaneceu imóvel, os olhos fechados enquanto enfrentava o peso de sua escolha. Sua expressão refletia uma tempestade de emoções: tristeza, angústia, raiva... e culpa.
Depois de longos momentos, ele finalmente falou, sua voz carregada de dor:
"Cerquem toda a costa norte. Declaro, a partir deste momento, Lei Marcial. Todo o lado norte está sob quarentena até segunda ordem!"
Uma única lágrima desceu lentamente por seu rosto enquanto ele completava, num sussurro quase inaudível:
"Que Deus me perdoe..."
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"Vamos, querida! O helicóptero já está esperando. Precisamos sair daqui agora. Meu amigo da Força Aérea vai nos ajudar." O homem calvo puxava a esposa com urgência, enquanto ambos carregavam bagagens apressadamente até o helicóptero particular.
"Assim que sairmos da área de quarentena, vamos direto a um hospital cuidar desse ferimento." Ele falou enquanto tomava o assento do piloto, ajustando rapidamente os controles.
"Claro, meu amor. É só um corte." A mulher respondeu, sua voz trêmula e ofegante. "Um daqueles... selvagens tentou me morder mais cedo, mas não conseguiu." Apesar da aparente tentativa de tranquilizar, seu rosto pálido e o suor que escorria denunciavam algo mais alarmante.
O helicóptero decolou, elevando-os sobre a cidade mergulhada no caos. Abaixo, sirenes da polícia continuavam ecoando, misturando-se aos gritos de desespero que tomavam as ruas. Explosões podiam ser ouvidas ao longe, acompanhadas das colunas de fumaça que se erguiam no horizonte, desenhando um cenário apocalíptico.
Nas avenidas, multidões desgovernadas corriam em todas as direções. Alguns tentavam desesperadamente escapar, enquanto outros saqueavam lojas, aproveitando o desespero alheio. Mais à frente, uma ponte sobrecarregada de carros parados tornava impossível qualquer fuga por terra, com motoristas em pânico buzinando e gritando sem cessar.
"Aguente firme, meu bem. Em poucas horas pousaremos. Tudo ficará bem!" O homem falou com determinação enquanto acelerava o helicóptero, apontando para o centro do continente, longe do caos que consumia a costa.
Horas depois, o casal se encontrava em um hospital particular, afastado da zona de quarentena militar. A mulher repousava em um quarto privado, e o homem calvo aguardava no corredor, o semblante marcado pela preocupação. Assim que o médico saiu da sala, ele se aproximou ansioso.
"Então, doutor, como ela está?"
"No momento, está sedada." O médico respondeu em tom calmo. "O corte era profundo, mas não estava infeccionado. Ela fez um bom trabalho estancando o sangramento sozinha. Como se trata de uma paciente VIP, deixaremos uma enfermeira de plantão para cuidar dela durante toda a madrugada."
"O senhor deveria ir para casa ou para um hotel," sugeriu o médico, com um sorriso complacente. "Ela só acordará pela manhã. Nosso hospital garante conforto para os acompanhantes, mas nada se compara à cama de um hotel cinco estrelas, hahaha!" Ele riu enquanto caminhava ao lado do homem, que parecia carregado pelo peso de sua preocupação.
"Não se preocupe," acrescentou o médico, colocando uma mão tranquilizadora no ombro dele. "Aquelas coisas que estão acontecendo no norte não chegarão até aqui. Sua esposa está segura, relaxe!"
Porém naquela madruga, os gritos de desespero ecoaram pelas paredes do hospital.