19 de setembro de 1678
Depois de um dia inteiro de treino, chegou a noite do meu aniversário de cinco anos.
Devido a missões e afazeres, meus pais estavam fora de casa, mas como hoje era um dia mais especial pra eles do que para mim, claramente viriam.
Então tomei um banho, me troquei e deitei cansado de um dia cheio. Após vencer papai tinha que chegar ao nível avançado para voltar a treinar com ele, o único obstáculo é: eu não estou nem perto de atingir esse nível.
Quanto mais mana e refinamento o nível exige, mais tempo demora para conseguí-lo, acho que só atingirei este objetivo daqui uns dois anos na melhor das hipóteses, ou seja, somente com sete anos.
Cansei só de pensar na trabalheira que isso ia dar, perdido em meus pensamentos ouço um barulho, era Anna batendo na porta. "Jovem Mestre Matteo, Lady Aurora e o Sr. Hugo chegarão por volta de meia hora, aconselho que espere na sala de jantar."
"Muito obrigado pelo conselho Anna, mas vou esperar um pouquinho aqui e daqui a pouco vou pra lá."
"Como desejar Jovem Mestre." Mesmo tendo dito centenas de vezes para me chamar de Matteo, minha babá insiste em me chamar de 'Jovem Mestre Matteo', isso quando ela simplesmente nem menciona meu nome.
Havia ficado cansado por causa das minhas tarefas, contudo estava entediado e por causa disso continuei a fortificar meu núcleo. Essa ação precisava de muita concentração e calma, porém a perdi no momento em que alguém simplesmente abriu a porta.
Fiquei irritado por tamanha insolência. "Anna o que vo—"
"Matteo, arrume suas coisas, aqui estão duas malas. Se apresse estamos indo para a casa principal." Mamãe apareceu, ela estava agitada, quase desesperada. Entretanto o mais chocante foi que eu não estava na casa principal.
"Tá bom. Quanto tempo eu tenho?" No momento não podia fazer nada além de concordar e obedecer Aurora, mais tarde teria várias chances de perguntar o que estava acontecendo.
"Quinze minutos. Vou te esperar na porta da mansão." Ela saiu correndo assim que terminou de falar, havia... Medo em seu rosto? Qual monstro é capaz de deixar alguém tão forte como minha mãe tão assustada.
Não demorei a arrumar as minhas roupas, além disso levei mais duas coisas, o cristal que meu pai havia me mostrado, estranhamente desenvolvi um apego emocional a esse troço.
E também uma espada que simplesmente apareceu no meu quarto outro dia, ela tinha uma bainha preta com detalhes dourados, além disso o cabo é feito de ouro e o fio da lâmina é escuro, me deixava hipnotizado toda vez. Não sabia de quem era ou do que era feito, só sabia que encaixava bem na minha mão e me sentia bem usando ela.
Pretendia perguntar ao meu pai sobre isso hoje, mas pelo visto não terei essa oportunidade.
Só precisei de uma mala para pôr meus pertences, saí do meu quarto e dei de cara com Anna segurando uma mala e esperando em frente a porta. "Você também vai, Anna?"
"Sim, Jovem Mestre. Te acompanharei aonde quer que você vá." Sua admiração e determinação estampada na sua voz. Sempre me alegro ao lembrar da lealdade de Anna.
"Muito obrigado por tudo... Quero que saiba que se algo acon—"
"Jamais deixarei qualquer coisa encostar um dedo no Jovem Mestre!" Ela rugiu com tanta ferocidade que cheguei a me assustar, porém fiquei aliviado com o carinho da minha babá.
"Então... Vamos?" Perguntei constrangido.
"Claro, Matteo."
Só assim pra ela me chamar de Matteo!
Caminhamos por todos o corredores até porta, lá meus pais estavam me esperando. "Ótimo, chegou antes do esperado adiantandos." Meu pai falou enquanto abria e porta e saia da mansão.
Fiquei chocado ao perceber que até meu pai, a pessoa mais forte conhecida por mim, também estava desesperado.
"Vem logo, filho! Não temos tempo." Tirando-me do meu choque, me senti mal por ver minha mãe tão nervosa, contudo como uma mera criança, de novo, não podia fazer nada, absolutamente nada. Sou completamente inútil.
"Estou indo."
Apreciando as três magníficas luas me direcionei a carroagem na minha frente, assim que entrei fiz um questionamento. "Papai, por onde vamos? Eu não vi nenhuma estrada."
Por um mísero segundo, meu pai se divertiu com a falta de conhecimento de uma criança, logo em seguida respondeu sorridente. "Iremos voando."
"Mas eu não sei voar!" Senti um tranco na hora que terminei de falar e depois notei a falta de pedras e relevos irregulares no caminho. Olhei para a janela da carroagem aonde obteria a melhor vista da minha vida.
Não estávamos no chão e sim no ar, antes via cavalos puxando a rédeas, mas agora havia lindos pégasos brancos como a neve, aparentavam ser criaturas divinas.
Retornando a realidade lembrei de tudo que aconteceu e as perguntas a serem feitas, comecei o interrogatório. "Mãe, pai, onde está localizado essa casa principal?"
Por um segundo eles ficaram surpresos de tão tensos que estavam, porém Hugo respondeu. "Fica a cinco horas de carroagem daqui. Alguma outra pergunta?"
Fiquei bravo pelo meu pai nunca ter me contado nada, no entanto precisava me colocar no lugar dele, me acalmei e continuei. "Sim, várias. Por que nunca me disseram dessa casa?"
"Filho, entenda essa é uma situação bem complicada, achamos que seria demais pra uma criança." Ele estava decepcionado com ele mesmo por esconder isso.
Não queia forçar a barra, por causa disso teria que me contentar com só mais uma pergunta. "Tá bom, já que é assim vou fazer um último questionamento. Qual a razão de vocês estarem tão nervosos?" Tentava ao máximo mater a calma, só deixava um puco da raiva transparecer.
"A razão é que os anciãos descobriram sobre você."
"E daí?" As palavras foram mais rápidas que o meu cérebro.
"Não tem jeito de falar isso sem ser um tanto quanto grosseiro, então por favor não leve para o pessoal. No ponto de vista dos anciãos e do resto do clã... Você é um indivíduo manchando a nossa reputação, pelo simples fato de não ter nosso sangue."
"Mas você é patriarca, porque está nervoso? Você não é o patriarca?
"Sou sim, mas os anciãos podem propor uma condição para você ficar e se eu recusar vou paracer fraco, só que como sou o patriarca não posso ser fraco!"
A raiva do meu pai estava explícita em sua voz, cheguei a me assustar. Percebendo meu medo ele se descupou. "Me desculpa, não queria te assustar..."
"Tudo bem..." Queria reconfortá-lo e ao mesmo tempo estava não só bravo como também decepcionado.
Pelo resto da viagem naveguei em meus pensamentos e observei as belas paisagens pelo caminho, acabei caindo no sono, nem sempre é bom ser criança. Quando acordei voavamos sobre um cidade deslumbrante, o sol estava nascendo então deixava a visão muito mais bonita.
Não me contive o máximo possível e falei com o mínimo de ânimo que consegui esconder. "Onde estamos?"
"Estamos na capital imperial de Avalon." Minha mãe disse um pouco cansada devido as longas horas acordada.
Avalon tinha prédios enormes e bem detalhista, tudo era tão lindo, mas parecia tão caro viver aqui que me senti falido embora não tivesse dinheiro.
Enfim chegamos a um espécie de bairro, porém tudo era dos mesmos tons: preto, branco e vermelho.
Havia várias casas e prédios, também tinha um prédio maior que os outros, estava mais para uma mansão. Minha antiga casa era uma formiga comparada a essa aqui.
Aterrissamos em frente a ela, quando chegamos um guarda, com chifres vermelhos e cabelo preto, veio a nós e disse. "Bem vindos Lorde Hugo e Lady Aurora."
Depois dele terminar notei que ele ignorou totalmente a minha existência e a de Anna, pra ele eu não era nada mais que uma criança infiltrada numa família rica.
O guarda prosseguiu. "Por aqui os anciãos e o top dez te esperam na sala do trono."
Olhei para meu pai e sussurrei. "Top dez?"
"São os dez mais fortes do clã, tirando os anciãos, eu e sua mãe. Eles também influenciam nas decisões mais relevantes para o futuro do clã."
Logo percebi que não poderia ajudar em muita coisa, por enquanto o melhor a se fazer era ficar quieto e observar o rumo que as coisas levariam.
Finalmente chegamos a uma sala após passar por infinitos corredores e escadas, foi aí que vi um local enorme com dois tronos um ao lado do outro e uma mesa retangular enorme.
Assim que entramos na sala eu percebi, devia ficar distante para não interferir, o mínimo erro e eu poderia ser morto instantâneamente.
Finalmente uma pessoa na mesa em um lugar próximo ao trono falou. "Viemos aqui hoje para discutir sobre a inclusão de um bastardo no clã."
Depois do homem se refirir a mim como bastardo todos presentes começaram a sussurrar coisas com 'como um bastardo ousa?', ou então 'quem teria coragem de fazer tal atrocidade?'.
Após deixar todos irritados, outro homem ao lado do que acabou de falar, continuou a discussão. "Nós, os quatro anciãos, chegamos a uma conclusão... Já que essa criança é filha do patriarca, faremos o seguinte: se ele vencer o Ryan poderá continuar no clã, caso contrário será deixado na rua."
Novamente cochichos surgiram 'filho do patriarca!?'. A primeira coisa que pensei foi: quem é Ryan? Mal sabia eu que logo teria a resposta, pois uma mulher no meio de várias outra pessoas perguntou. "Mas quantos anos o filho do patriarca tem?"
O primeiro homem a falar, respondeu a pergunta da moça. "De acordo com minhas informações ele fez cinco anos hoje. Não é mesmo patriarca?"
Aquele babaca se virou para meu pai, que descontente disse. "Sim, hoje meu filho faz cinco anos de idade". Ele enfatizou o filho, me senti feliz quando ele fez isso.
A mulher questionou novamente. "Anciãos, vocês não acham muito injusto uma criança de tão tenra idade desafiar o Jovem Mestre Ryan que é o gênio da geração?"
Então esse idiotas são os anciãos. Mais uma vez alguém respondeu, porém foi uma pessoa diferente, outro ancião. "No nosso clã valorizamos os fortes, se o filho do venerado patriarca não conseguir vencer um pré adolescente no nível avançado, o que será dele no futuro?"
Aparentemente ia ter que aceitar calado o fato de ser forçado a duelar com uma pessoa no nível avançado. Que deplorável da minha parte, espero não acabar na rua.