Há somente 3 pessoas assistindo a luta, um ancião o qual descobri que se chama Wilian, meu pai e minha babá, Anna. Penso no fato de que se eu perder terei o consolo de poucas pessoas vendo, mas não pretendo deixar ele ganhar tão facilmente.
Nós dois nos posicionamos no meio da arena, o juiz será o ancião. Ele conta até três e grita com o que eu acredito ser todo seu fôlego.
"Comecem!"
Lembro da minha raiva por esse pirralho, meu ódio pelo garoto que me matou, por esse primo que não pedi, por essa luta a qual não quero participar e minha decepção comigo mesmo e tento transformar tudo isso em intenção assassina.
Sinto o ar ficar mais denso, o semblante de felicidade de Ryan desaparece e algo parecido com medo, enquanto isso as pessoas ao meu redor me olham surpresos.
Quando me volto para meu desafiante ele está com um joelho no chão e a mão esquerda onde seu coração deveria estar, ele me encara com raiva, porém mesmo assim impotente.
Não perco tempo, se quero ganhá-lo a hora é agora. Vou correndo na direção dele e quando vou finalizar a luta ele bloqueia me golpe. Ryan rola pro lado e se levanta, mesmo com dificuldade.
A luta prosseguiu e trocamos cortes, fintas e estocadas, pra minha infelicidade ele estava se acostumando com minha intenção assassina, pra piorar de repente um fator que não considerei surge em meio a luta. Magia elemental.
Eu sabia do fato de que ao atingir o nível avançado era possível controlar uma linhagen elemental, porém me esqueci totalmente disso. Se antes já achava difícil derrotá-lo agora eu tenho certeza de que é impossível.
Rajadas de fogo acompanham sua lâmina independente de sua direção, à medida que eu fico mais tenso e sua confiança volta e o fogo vai se tornando mais quente, maior e mais voraz. Recuo aos poucos indo pra borda da área de luta, estou perdendo e não posso fazer nada a respeito, isso me dá muita raiva, talvez até mesmo ódio.
Enquanto lutamos um sorriso se escancara no seu rosto e junto da felicidade vem mais uma provocação.
"O que foi? Estava tão confiante até alguns momentos atrás, pra foi essa tão grande confiança?"
Essas palavras foram as últimas antes dele dar seu ultimato, meu primo levantou a espada acima da cabeça e empurrou para baixo. Junto da sua arma, chamas vieram na minha direção.
Esse era o fim, se não morresse aqui com esse ataque então seria expulso da minha própria casa. Não, não vou desistir! Me esforcei muito e sacrifiquei minha antiga vida pra isso, não vou deixar essa chance escapar pelos meus dedos.
"Shi! Me ajude seu imprestável!"
Minha esperança final saiu em um grito, caso isso não dê certo, acabou pra mim.
Nada aconteceu a lâmina do meu oponente continuou a descer e eu comecei a ficar desesperado. Coloquei minha espada acima do meu corpo para bloquear o golpe e fechei os olhos.
Esperei e esperei, mas seu ataque não veio. Abri os olhos para verificar pra onde foi aquele pirralho, mas não encontrei ele, nem meu pai, ou até mesmo a sala onde estava. No segundo que comecei a ver, só havia escuridão pra todos os lados.
"Alguém aí?"
Sem resposta, nada nem ninguém me respondeu só o silêncio era audível. Corri por alguns minutos mais parecia que eu estava dando voltas, porque não achei nem um sinal de luz.
"Você está mesmo desesperado, criança."
Uma voz ecoou atrás de mim, virei e vi um homem de preto, era quase impossível ver a diferença entre ele e a escuridão a qual me cercava, a única diferença era seus olhos. Olhos dourados e pupilas de gato, só tinha uma forma de descrevê-los, eram magníficos.
Ele era poderoso, um soberano que poderia me apagar da existência com um estalar de dedos e eu sabia disso, era praticamente impossível eu não perceber, tudo indicava isso, porém mesmo assim se eu quiser poder, não vou conseguir isso monstrando meu pavor.
Abri minha boca, porém nem sequer um som saiu. Meu corpo não me obedecia por mais que tentasse, estava tremendo e com medo, embora fosse um 'adulto' na minha vida passada esse cara é mais velho, mais poderoso e mais sabio.
Estou impotente. Que merda!
Não posso fazer nada... Não! Ele vai me obedecer, afinal ele é uma espada e eu sou seu dono, vou agir como tal. Além disso provavelmente estou no meu subconsciente então ele não vai poder me machucar.
"Curve-se - dessa vez falei com o tom mais autoritário e confiante que conheço - agora.
"Hahahaha - ele... Riu de mim? Da minha petulância? Ou por eu ser apenas uma criança? Não tinha ideia do motivo da risada, porém uma coisa era certa, sua expressão se alterou, Shi está sério. - E por qual razão eu deveria fazer isso, criança?"
Só tinha uma simples e objetiva razão para minha espada fazer isso. Poder. Eu estou no meu subconsciente, ou seja, na minha cabeça e aqui eu mando.
"Porque sou seu mestre, espada - enfatizei 'espada' para saber que não tinha medo em minhas palavras e sim soberania - porque você está no meu subconsciente, mas acima de tudo, você pertence a mim e somente a mim."
Dito isso forcei meu cérebro a imaginar Shi se ajoelhando, se ele duvida de mim, mostrarei o que posso fazer no meu território e o que poderei fazer no futuro.
O homem fraqueja, suas pernas se dobram devagar, sua vontade é de continuar em pé, sua resistência é nítida, assim como seu rosto exibe sua dificuldade. Enfim ele cede, se ajoelha e se curva perante a mim.
A sensação é boa, é como se tudo estivesse ao me alcance e existisse apenas pra mim. Eu era um rei, mesmo que por um momento e gostei de ver uma mísera fração do verdadeiro poder.
"Olha~ Parece que escolhi bem o meu mestre, me diga, querido e amado mestre, o que vossa senhoria deseja."
Vou direto ao ponto não tenho tempo pra ladainhas.
"Duas coisas a primeira é lealdade, jure a mim sua obediência e farei tudo para merecê-la, a segunda é poder. Aqui sou mais forte que você e qualquer um, mas lá fora é outra história, não tenho poder, confiança, soberania e menos ainda ajuda.
Paro um pouco, suspiro e continuo.
"Você é forte, sei disso então compartilhe seu poder comigo agora e futuramente será tão forte que conseguirá vencer qualquer coisa ou pessoa, até mesmo o rei dos dragões, com exceção de mim, é claro... Então Shi, concederá meu pedido?"
Minha espada pensa cautelosamente, depois de alguns minutos responde sorridente.
"Seu desejo é uma ordem, mestre. Juro minha lealdade a você, te servirei até meu último suspiro, se sua morte acontecer, por ventura, antes da minha, te servirei até seu último suspiro."
"Ótimo, enquanto ao poder..."
"Já disse, mestre, seu pedido é uma ordem."
No segundo que aquele homem termina sua frase, pisco e me encontro onde parei na luta com meu primo. Mas algo está diferente, ninguém se mexe, só Ryan desce a espada lentamente. Os outros não estão devagar, eu que estou rápido.
Saio de baixo da espada do meu adversário e corro para trás dele quando paro o mundo volta ao normal. Sua espada desce e seu olhar fica confuso, ele se vira e me encontra com um rosto surpreso.
Após ser encarado percebo marcas pretas no meu corpo, são belas e ao mesmo tempo aparentam ser poderosas, lembro do encontro que acabej de ter com Shi. Com certeza é obra dele.
"O que é isso...?"
Ryan está genuinamente curioso sobre essas marcas, se ele fosse assim o tempo todo eu poderia não odiá-lo, pena que é.
"Minha carta na manga."
O mundo para de novo, vou até oponente na minha frente e dou um soco na sua barriga e mais forte que posso. Ryan voa pra parede e ao atingí-la o concreto quebra e um buraco enorme feito pela colisão dele surge.
Parece que fiquei realmente mais forte.
Dou passo por passo, sem pressa e deixando a vontade assassina fluir mais perigosamente que antes. A cada passo o rosto de Ryan fica mais flácido e sua expressão horrorizada.
Estou na sua frente, meus olhos o desprezam e tem nojo dele. Estico minha mão até seu pescoço e puxo pra cima seu ar vai acabando e seu semblante fica vagarosamente vazio, prestes a desmaiar ele suplica.
"Eu rendo, você venceu. Me solta, eu te imploro!"
Sua queda e seu alívio é hilário, as marcas somem tão rápido quanto apareceram. Procuro meu pai, ele está ridículamemte surpreso, seu olhar parece estar focado em algo além de mim e também transparece seu desespero. Por que ele estaria desesperado?
Deixando os pensamentos de lado eu chamo por ele.
"Pai? - agora sua atenção se volta mim e a minhas palavras - Eu ganhei! Eu realmente ganhei!"
"É... - diz confuso - Você ganhou. - papai balança a cabeça e prossegue - Parabéns! Nunca duvidei de você!"
"Agora podemos ir?" Tento parecer inocente e ingênuo.
"Cla–"
"A luta não foi justa! - exclama a criança mimada - Você usou alguma coisa, você trapeceou!"
Estou exausto, cansado e com fome. Só quero tomar um banho e descansar. Fuzilo aquele pestinha, ele quer brigar? Então terá uma briga.
"Regras? Havia regras? Você me menosprezou, pois achava que ganharia fácilmente e perdeu. Na vida real não haverá regrinhas só porque um pirralho mimado quer, o mundo é sobre matar ou morrer, você morreu e eu te matei, fim de papo. Se me dar licença, vou para o meu quarto que fica na minha casa e você, priminho, pode sentar e chorar se quiser."
Viro e me retiro da sala.
Essa casa é minha e ninguém vai me expulsar dela.