A velha mansão Valemont sempre foi envolta em mistérios e segredos sombrios. Construída no final do século XIX, ela ficava no alto de uma colina que parecia desafiar os ventos e as tempestades que castigavam a cidade de Hawthorne. Durante décadas, histórias de desaparecimentos e visões macabras ecoaram nas ruas estreitas da cidade, mas ninguém ousava falar sobre isso durante o dia.
Miriam, uma jovem jornalista ávida por um grande furo, decidiu investigar a fundo a mansão, agora abandonada. Com uma lanterna e um gravador em mãos, ela se aventurou na fria noite de outono até o portão de ferro retorcido. O vento uivava, e as folhas secas dançavam sob seus pés, sussurrando segredos há muito esquecidos.
Ao entrar, o ranger da porta ecoou como um grito na escuridão, e um frio gélido percorreu sua espinha. O ar estava denso e cheirava a mofo, mas havia algo mais: uma leve fragrância de flores mortas. Conforme explorava os corredores repletos de quadros antigos, os olhos das figuras pintadas pareciam segui-la, e um sussurro, suave como uma melodia distorcida, começou a se espalhar pelos cantos.
"Saia... enquanto pode..."
Miriam parou, o coração batendo forte. Apontou a lanterna para os quadros, mas nada se mexia. Era como se a casa estivesse brincando com sua mente. Respirou fundo, tentando se convencer de que eram apenas os nervos. Quando se virou, porém, viu uma sombra esguia se mover rapidamente por um espelho empoeirado na sala.
Correu até a saída, mas a porta de madeira maciça se fechou com um estrondo, como se a mansão tivesse uma vontade própria. De repente, ouviu um choro baixo, quase infantil, vindo do andar superior. Contra todo instinto de autopreservação, Miriam subiu as escadas. O barulho da madeira rangendo a cada passo parecia um relógio de contagem regressiva para um fim que ela não queria conhecer.
No fim do corredor, uma porta entreaberta deixava escapar uma luz tênue. Empurrou-a devagar e encontrou um quarto infantil. No centro, uma cadeira de balanço se movia sozinha. No chão, um velho diário aberto, com palavras rabiscadas em uma caligrafia apressada: "Eles estão sempre aqui. Não saem. Eles se alimentam de nossos medos..."
Antes que Miriam pudesse reagir, a cadeira parou. O ar ficou pesado, e uma figura pálida, com olhos negros vazios e um sorriso torcido, se materializou no canto do quarto.
"Sua curiosidade foi sua ruína", disse a voz, que agora não era mais um sussurro, mas um eco que preenchia a sala.
O mundo ao redor de Miriam escureceu, e a última coisa que ouviu foi o som da cadeira de balanço, balançando lentamente, enquanto uma risada arrepiante ecoava na eternidade da escuridão.