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Chapter 2 - Ecos do Passado

Miriam acordou de repente, sentindo um frio cortante atravessar seu corpo. Estava deitada no chão do quarto infantil da mansão Valemont. A luz fraca da lua passava por uma fresta da janela empoeirada, lançando sombras que dançavam pelas paredes, criando figuras que pareciam ganhar vida própria. Sua cabeça latejava, e a lembrança da figura pálida com olhos negros a fez estremecer.

Tentou se levantar, mas percebeu que o diário ao seu lado não estava mais aberto. Agora, ele estava fechado e amarrado com uma fita vermelha desbotada, que antes não estava ali. Uma escrita dourada na capa destacava um nome: Elizabeth Valemont.

"Quem é você?", murmurou, ainda atordoada.

Antes que pudesse pensar em abrir o diário, um som baixo e arrastado ecoou do corredor. Era um arranhar contínuo, como unhas rasgando madeira. Miriam ficou paralisada por um momento, o coração martelando no peito. Forçou-se a respirar fundo e deu um passo hesitante em direção à porta. Com um movimento lento, espiou pelo corredor, mas não havia nada além de escuridão e a sombra oscilante do candelabro pendurado no teto.

De repente, uma brisa fria atravessou o corredor, apagando a única vela que ainda permanecia acesa no candelabro. O arranhar parou, mas foi substituído por um som mais perturbador: uma risada baixa e rouca, que parecia vir de todos os cantos da casa.

Miriam se apressou a voltar para dentro do quarto e encostou-se contra a porta, tentando controlar a respiração. O diário em sua mão parecia pulsar, como se tivesse uma vida própria. Sem pensar duas vezes, desfez a fita e o abriu, deixando os olhos percorrerem as primeiras páginas.

"Elizabeth Valemont, a primeira e única filha da família, sempre foi uma criança peculiar. Nascida em uma noite de eclipse, seu choro nunca ecoava sozinho. Sempre havia algo mais — um sussurro, uma risada, um eco do que não se podia ver."

As palavras no papel pareciam sussurrar para ela, e ao virar a página, sentiu um leve toque no ombro, como dedos gelados pressionando sua pele. Com um grito, virou-se, mas não havia ninguém. O quarto estava vazio, exceto por ela.

A mansão inteira parecia viva, observando cada movimento, sussurrando memórias de quem nunca havia saído. Do fundo do corredor, um som familiar soou: o choro infantil que ouvira antes. Mas dessa vez, era mais próximo, mais intenso, e vinha na direção dela.

Miriam sabia que precisava sair dali. Pegou o diário e, reunindo toda a coragem que ainda tinha, abriu a porta e saiu, seus passos ecoando no chão de madeira enquanto o choro e as risadas a seguiam. Ao final do corredor, uma figura pequena, de longos cabelos negros e vestido branco, apareceu sob a luz trêmula da lua.

Elizabeth Valemont estava ali, seus olhos vazios fixos em Miriam, com um sorriso gélido que congelava o sangue.

"Você veio brincar comigo?" perguntou a voz infantil, em um tom que reverberava pelas paredes.

Miriam soube, naquele instante, que encontrar a verdade sobre a mansão Valemont significaria encarar um terror que se recusava a ser esquecido.