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Chapter 3 - O Despertar dos Sussurros

A mansão Valemont parecia mais viva do que nunca. Cada parede sussurrava segredos, cada sombra se movia como se tivesse vontade própria, e a presença de Elizabeth Valemont pairava em todos os cantos. Miriam, com o diário ainda preso contra o peito, sabia que estava perto do fim, mas não tinha certeza se sobreviveria para contar essa história.

As risadas infantis e os lamentos ecoavam enquanto ela descia as escadas cambaleantes, tentando encontrar a saída. A porta da frente, que antes se fechara violentamente, agora estava entreaberta, deixando escapar um vento gélido que carregava o cheiro de terra molhada e flores murchas. Mas, à medida que se aproximava, a figura de Elizabeth aparecia e desaparecia, bloqueando seu caminho.

"Você não pode partir. Ainda não", sussurrou a criança, a voz soando como mil vozes misturadas.

Miriam sabia que a chave para escapar estava no diário. Com mãos trêmulas, folheou as últimas páginas, onde palavras desesperadas contavam o fim da família Valemont. "Elizabeth era apenas uma criança quando a casa a tomou. Um espírito ancestral que habitava as fundações da mansão procurava um anfitrião para se manter forte. O espírito e Elizabeth se fundiram, e desde então, ela nunca deixou que ninguém saísse."

A mansão estremeceu, como se tivesse sentido que seus segredos estavam sendo expostos. Uma rachadura começou a se formar no chão, abrindo um caminho até os pés de Miriam. Elizabeth se aproximou, os olhos negros agora brilhando com uma fúria antiga.

"Se você quiser partir, deve levar isso com você", disse a voz, e por um momento, a expressão da menina mudou, mostrando medo, quase como se estivesse pedindo ajuda.

Miriam compreendeu. O espírito precisava ser libertado, mas Elizabeth não poderia resistir por muito tempo. Com um impulso final de coragem, Miriam rasgou a última página do diário, onde palavras esotéricas estavam escritas, e recitou em voz alta, enquanto o chão tremia e o ar ficava pesado com uma energia antiga.

Uma rajada de vento varreu o salão, e a figura de Elizabeth gritou, mas não de dor. Sua forma se desfez em um véu de fumaça, e os sussurros cessaram, levando consigo o peso dos horrores que ali existiam. A mansão pareceu respirar pela última vez, antes de silenciar completamente.

Quando Miriam finalmente cruzou o limiar da porta, os primeiros raios do sol despontavam no horizonte. Ela olhou para trás, vendo a mansão Valemont como uma sombra do que já fora, agora vazia, sem os ecos de dor e sofrimento. O diário em suas mãos parecia mais leve, quase sem importância. Ela soube que a história da casa terminara, mas os sussurros dos que haviam ficado para trás ainda ecoariam, esperando que um dia alguém os ouvisse novamente.

Miriam respirou fundo, um misto de alívio e tristeza, antes de descer a colina e se perder nas ruas de Hawthorne, pronta para contar ao mundo o que vira, mas sabendo que alguns segredos deveriam permanecer para sempre trancados nas páginas do passado.

Fim