O Vale da Ascensão era um lugar sagrado, onde o véu entre os reinos da luz e das trevas era mais tênue. Colunas de rocha cristalina se erguiam como dedos tentando tocar os céus, e o chão, coberto de runas antigas, pulsava com uma energia incomum. Era um local de transição, onde tanto seres celestiais quanto infernais podiam existir, mas apenas temporariamente.
Gtx chegou ao vale ao anoitecer, seus passos ecoando no silêncio absoluto. Ele podia sentir a presença de Seraphion antes mesmo de vê-lo – a pressão de sua aura celestial era inconfundível, esmagadora como o peso de um julgamento divino.
No centro do vale, envolto em uma luz dourada que parecia respirar, estava Seraphion. Sua figura era imponente, com asas resplandecentes que emanavam um brilho quase insuportável de olhar. Sua Espada da Punição, cravada no chão ao seu lado, parecia pulsar com o mesmo ritmo das runas ao redor.
– Você voltou – disse Seraphion, sua voz reverberando como um trovão. Ele ergueu a cabeça lentamente, encarando Gtx. – Pensei que tivesse fugido como a abominação covarde que é.
Gtx respirou fundo, resistindo à provocação. Ele havia prometido a si mesmo que esta luta não seria apenas física, mas também uma tentativa de diálogo, de compreensão.
– Eu não sou uma abominação – respondeu Gtx, sua voz firme. – E não estou aqui para lutar. Quero que você me escute.
Seraphion estreitou os olhos, sua expressão se tornando ainda mais severa.
– Escutar? Você ousa falar comigo como se fosse meu igual? Não há nada que possa dizer para justificar sua existência. Você é uma ameaça ao equilíbrio que fui jurado a proteger!
O Guardião puxou sua espada do chão em um movimento fluido, apontando-a para Gtx.
– Não é o meu julgamento que está errado – continuou Seraphion –, é sua própria essência. Você não pertence a nenhum dos reinos. É uma falha que precisa ser corrigida.
As palavras de Seraphion atingiram Gtx como lâminas invisíveis, mas ele permaneceu firme.
– E se você estiver errado? – desafiou Gtx, dando um passo à frente. – E se o equilíbrio que você tanto protege não puder existir sem mim?
Por um momento, a confiança inabalável de Seraphion vacilou. Mas sua expressão rapidamente se endureceu novamente.
– Blasfêmia! – gritou ele, avançando com sua espada em mãos.
O ataque foi rápido e devastador. Um arco de luz pura disparou da lâmina, cortando o ar em direção a Gtx. Ele mal teve tempo de erguer sua Aura Obscura, criando um escudo para absorver o impacto. A colisão das duas forças opostas gerou uma explosão que sacudiu o vale, lançando fragmentos de cristal e poeira para todos os lados.
Gtx foi arremessado para trás, mas conseguiu se equilibrar antes de cair.
– Eu não vim para lutar! – gritou ele, sua voz ecoando no caos ao redor.
Seraphion não deu ouvidos. Ele ergueu a espada novamente, e desta vez, canalizou um feixe de Luz Purificadora, disparando-o diretamente contra Gtx. A energia atravessou o ar, causando uma onda de dor intensa no corpo de Gtx. Ele caiu de joelhos, ofegante, enquanto a luz parecia corroer sua própria essência.
– Você não tem escolha! – bradou Seraphion. – Aceite seu destino e seja purificado!
A dor era insuportável, mas Gtx encontrou forças para erguer a cabeça.
– Eu... não sou... seu inimigo! – gritou ele, sua voz carregada de emoção.
As palavras ecoaram pelo vale, ressoando nas runas e até mesmo nas asas de Seraphion. Por um breve instante, o Guardião hesitou. A determinação feroz em seus olhos deu lugar a uma sombra de dúvida.
Aproveitando o momento, Gtx reuniu suas forças e canalizou sua Aura Obscura, lançando um contra-ataque. A energia negra se expandiu em uma onda poderosa, colidindo com a luz de Seraphion. A explosão resultante foi ainda maior, uma mistura de luz e trevas que devastou o vale, destruindo colunas e rachando o solo.
Quando a poeira finalmente baixou, Gtx estava de pé, embora cambaleante, enquanto Seraphion estava ajoelhado, sua respiração pesada.
– Você não entende, não é? – disse Gtx, sua voz baixa, mas firme. – Eu não estou aqui para destruir. Estou aqui para equilibrar. Luz e trevas precisam coexistir, ou ambos cairão.
Seraphion levantou-se lentamente, sua expressão confusa, mas ainda cheia de orgulho.
– Suas palavras são vazias – disse ele, embora sua voz já não carregasse a mesma convicção. – Mas... algo nelas me incomoda.
Gtx suspirou, aliviado por, pelo menos, ter plantado a semente da dúvida.
– Pense nisso, Seraphion – disse ele antes de recuar, suas forças ainda insuficientes para continuar a luta. – Pense no que você está realmente protegendo.
Enquanto Gtx se retirava, ferido mas não derrotado, Seraphion ficou parado no centro do vale, segurando sua espada com força. Sua mente estava em tumulto, e pela primeira vez, ele começou a se perguntar se sua missão realmente era tão simples quanto sempre acreditara.