O céu se partia em fúria, como se os próprios deuses chorassem a batalha que estava prestes a se desenrolar. As nuvens negras rugiam, e cada raio iluminava o campo de batalha com uma luz fria e ameaçadora. O santuário, um lugar antes sagrado e sereno, agora era palco de um conflito que ecoaria pela eternidade.
Celarion, com sua Espada de Cristal em punho, sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ele sabia que não era apenas uma batalha por sobrevivência, mas uma luta por Gtx, pelo futuro que ainda não existia e pela promessa que ele e Lilith haviam feito no dia em que o pequeno nasceu. Um juramento de protegê-lo de tudo, até do julgamento impiedoso do céu.
Radaman desceu do alto com a fúria de uma tempestade viva. Suas asas, que refletiam um brilho cortante e dourado, pareciam capazes de fender o próprio ar. Seu olhar era um misto de dor, desgosto e uma determinação inquebrável. – Celarion, você manchou o santuário com sua traição. O garoto deve ser levado e julgado! – Sua voz retumbou com a autoridade de um comandante celestial, espalhando um silêncio gélido sobre os anjos que o acompanhavam.
Por um instante, o mundo pareceu parar. Gtx, com apenas 10 anos, sentiu o coração bater mais forte. Ele não era apenas um garoto. Não mais. Algo dentro dele acordava a cada palavra de Radaman, cada olhar de julgamento. Sem hesitar, deu um passo à frente, os olhos refletindo uma determinação que nenhum anjo poderia compreender. – Eu não sou uma aberração para ser julgado. Sou mais do que isso – declarou, sua voz inesperadamente profunda para sua idade, ressoando pelo santuário com um poder primordial.
A tensão se desfez como uma represa rompida. Celarion se lançou à frente, sua espada cintilando como um relâmpago, chocando-se contra a lança de Radaman com um estrondo que fez o chão tremer. Os anjos assistiam com os olhos arregalados enquanto os golpes trocados eram tão rápidos que eram apenas um borrão de luz e sombra. Cada movimento de Celarion era preciso, cada estocada e parry um reflexo da determinação de um pai.
Gtx observava, o peito ardendo em uma mistura de admiração e agonia. O suor escorria por suas têmporas, as mãos fechadas em punhos trêmulos. Quando ele viu Celarion ser atingido por um golpe traiçoeiro, uma lança rasgando sua lateral e o sangue cintilante manchando seu manto, algo dentro de Gtx se rompeu.
Uma energia escura, pulsante e vívida, começou a emanar de seu corpo, como um fogo negro devorador. O céu que já rugia em tempestade tornou-se ainda mais caótico, as nuvens se agitavam como se fugissem da força que emanava dele. Os anjos, mesmo os mais experientes, recuaram instintivamente. Radaman se virou com espanto, os olhos arregalados diante da manifestação da Aura Obscura.
– Essa... aura. O que você é, garoto? – As palavras saíram num sussurro embargado de incredulidade.
O grito que saiu da garganta de Gtx foi primitivo, ancestral, carregado de uma dor que ele mal compreendia. A energia colidiu com o campo de batalha como uma explosão cataclísmica, luz e trevas se entrelaçando e se estilhaçando numa onda que varreu tudo ao seu redor. Anjos foram lançados como folhas ao vento, e Radaman foi empurrado para trás, suas asas dilaceradas pelo impacto.
Quando a poeira começou a assentar, o campo de batalha era um cenário de devastação. Apenas Gtx, Celarion e Lilith permaneceram no centro do caos. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Lilith se aproximou de Gtx, o abraçando com um desespero carregado de amor e medo. Ela sussurrou, com lágrimas escorrendo por seu rosto. – Meu filho, você não pertence mais a este lugar. O mundo vai te temer agora, mas nunca esqueça quem você é.
Gtx olhou para ela, a energia ainda pulsando em torno de seu corpo pequeno, mas seus olhos estavam cheios de compreensão. Ele não era mais apenas uma criança. Era o início de uma lenda que ecoaria por eras.