Na manhã seguinte, encontrei meu pai e meus irmãos sentados à mesa.
"Marina, estávamos te esperando". Marcus falou sorrindo.
"Bom dia". Falei ainda com sono.
"Você treinou até tarde". Meu pai falou descontente.
"Sim. Estou tentando melhorar minhas habilidades no elemento terra. Ainda me sinto desconfortável em usá-lo". Respondi.
"Sua treinadora me contou. Não exija muito de si, querida". Meu pai falou.
Naquele momento, a conversa foi interrompida pela entrada abrupta da minha mãe na sala. Ela se colocou diante de mim e falou:
"Marina, acabo de retornar da cidade e todos estão comentando sobre Maximiliano ter trazido uma mulher de Rotan! Todos não param de falar sobre o caso do imperador e da plebeia estrangeira!"
A olhei nos olhos.
"A senhora espera que eu diga o que?".
"Que é mentira!".
"Não é. De fato, Maximiliano trouxe uma mulher".
"Maximiliano perdeu o juízo?". Marcus murmurou.
"Provavelmente". Respondi.
"Você deve voltar imediatamente para o palácio e expulsar aquela mulher!". Minha mãe falou incisivamente.
"Não irei. Apesar de amá-lo, não irei me curvar diante dessa situação". Respondi friamente.
"Marina, ele é seu noivo!". Minha mãe bravejou.
"Já chega, Lilia!". Meu pai gritou enquanto batia na mesa. "Vamos terminar a refeição e depois conversamos sobre isso. Maximiliano não é mais uma criança. Nossa família não perde nada com rompimento do casamento". Continuou friamente.
"Rompimento do casamento" pensei.
Meu coração se partiu em pedaços. Tudo está acontecendo tão rapidamente...
Todos terminaram a refeição em silêncio e seguiram para os seus afazeres.
Eu me deitei na cama e passei parte do dia lá.
Perto das 20h, me vesti como plebeia e segui para um dos vilarejos do ducado de Western. Briana me acompanhou com trajes semelhantes.
Hoje é o dia da caça e toda vila está em festa. As pessoas, independentemente da idade e sexo, dançavam ao redor da fogueira agradecendo pelos animais que conquistaram.
Resolvi me desprender dos pensamentos sobre os últimos dias e me infiltrei no meio do povo para dançar.
Enquanto dançava, percebi uma movimentação estranha em um dos becos e fui verificar. Lá encontrei dois homens cercados por cinco outros homens.
Imediatamente intervi usando poder de fogo. Os cinco homens correram assustados.
Os dois homens, que outrora foram atacados, pareciam forasteiros. Um era nitidamente mais alto e magro, com cabelos negros e nariz comprido. O outro parecia mais jovem e tinha uma cicatriz na sobrancelha.
"Vocês estão bem?" Perguntei aos dois homens.
"Sim, estamos". O menor respondeu esbaforido.
O homem alto desembainhou a espada e colocou-a em meu pescoço.
"Como ousa!". Briana gritou.
Parei e olhei em seus olhos.
"Senhor me perdoe, por favor não me leve". Falei chorando.
"Hã?" O homem me olhou perdido.
"Vocês ai, parados!!". Os guardas chegaram bem na hora.
"Você tá fudido, seu otário". Sussurrei de ponta de pés no ouvido do homem alto.
"Senhorita está tudo bem?". Um dos guardas perguntou.
"Esse homem quer me machucar!". Respondi chorando.
Todos os guardas se viraram para o homem alto. "Pode ir senhorita, nós iremos resolver". O guarda falou.
"Obrigado, senhor guarda". Falei docemente.
Quando o guarda se virou, olhei para o homem alto e mostrei o dedo do meio.
"Se fudeu!". Gesticulei com os lábios enquanto sorria.
O homem ficou em silêncio me olhando.
Rapidamente segurei as mãos de Briana e saí correndo.
"Marina, você é louca". Briana gritou.
"Só um pouquinho". Respondi.
Continuamos a dançar e, próximo das 2h, retornamos para a mansão de Western.
No dia seguinte, minha mãe me chamou em seus aposentos.
"Marina, Maximiliano perdeu o juízo de vez. Ele que colocar a mulher como concubina!".
Meu coração gelou. Senti os batimentos pulsarem em meu pescoço e minhas mãos ficaram geladas.
"Entendo. Com sua licença, mãe". Respondi e me retirei do quarto.
Uma dor inundou meu peito e me coloquei a chorar.
Não posso acreditar que Maximiliano fez isso. Ele prometeu que seria diferente do imperador anterior, mas é completamente igual.
Enxuguei minhas lágrimas e fui treinar.
*****
"Você está instável, Marina!". Gritou a grande maga Erna.
"Não consigo me concentrar, desculpe". Respondi.
"Você deve canalizar sua raiva e todos os ressentimentos. Use isso como lenha e deixe a magia queimar!". Aconselhou.
"Não consigo, sinto muito". Respondi amargamente.
"Vamos parar o treinamento aqui".
"Obrigada, Erna". Falei com um leve sorriso.
Tomei banho e me deitei.
Naquela tarde, tive um sonho com Maximiliano. Era uma memória antiga.
"Max, quero um beijo". Falei incisivamente.
Maximiliano corou. "O quê?". Falou se colocando de pé.
Me aproximei dele e falei: "Max, todos os casais se beijam. Por quê nós não?".
"Marina, você não pode falar essas coisas!". Maximiliano respondeu colocando uma das mãos na boca.
Aproximei meu rosto do dele e o olhei nos olhos.
"Entendo. Desculpe. Vou deixá-lo sozinho".
"Então os boatos são reais, Maximiliano gosta de homens". Pensei.
Uma semana se passou desde então. Como de costume, me sentei para assistir o treinamento dos cavaleiros de Western. Dessa vez notei um homem alto e musculoso. Por ele estar sem camisa, era possível ver uma grande tatuagem no braço direito. Ele estava bronzeado e bem suado. Não consegui tirar meus olhos dele. A forma como ele manejava a espada era diferente, parecia uma dança. Tudo combinava perfeitamente.
Maximiliano sentou-se ao meu lado sem que eu percebesse. "O que você está olhando tão atentamente". Perguntou.
"Ah, apenas os cavaleiros treinando". Respondi desconcertada.
"Hum". Maximiliano bufou descontente.
"Você parece bem distraída ultimamente".
"Desculpe, sua alteza". Respondi enquanto olhava o belo cavaleiro.
"Sua alteza?". Maximiliano pontuou. "Marina, olha para mim".
Maximiliano virou meu rosto para ele.
"Gosto quando você olha apenas para mim. Não desvie o seu olhar para outros. Você pertence a mim".
Enquanto eu o olhava, ele puxou meu pescoço e me beijou.
Fiquei chocada.
"Está satisfeita?" Perguntou.
"Sinceramente, não". Puxei-o e beijei seus lábios intensamente.
Maximiliano retribuiu calorosamente o beijo.
Empurrei-o rapidamente.
"Pensei que você gostava de homens!". Falei em choque.
Maximiliano caiu na gargalhada.
"Por quê?" Perguntou enquanto segurava minha mão.
"Você me rejeitou na semana passada".
"Desculpa, fiquei chocado com seu pedido repentino". Maximiliano falou sorrindo.
"Entendo. Então agora podemos nos beijar sempre?". Falei olhando para os lábios dele.
Ele sorriu e me beijou lentamente.
Na manhã seguinte, me levantei triste. A realidade estava pior do que eu imaginava.
"Senhoria Marina, uma mensagem do imperador chegou".
"Entregue-me".