Chapter 5 - Reunião

Mikail POV

Os longos cabelos dela passaram bem na minha cara quando ela me puxou para acompanhar os outros. Os Bradlley se acomodaram rapidamente, mas foi anunciado que meu quinto ano de vida seria comemorado apenas na próxima semana. O que provavelmente deixaria muita gente esperando nos portões.

Nos últimos cinco anos eu tentei evitar interagir com outras crianças. O castelo era grande, e boa parte do castelo era dedicada aos plebeus, muito menos arrumada e colorida, mas eles tinham teto e comida. E com teto e comida, haviam muitas crianças. Sem contar as inúmeras visitas de vassalos da família. É claro que eu poderia ter um ou dois segundos de infantilidade para com meus pais, era desconcertante, mas não acho que seria a melhor coisa do mundo agir como um adulto agora. Mas não acho que tenha como evitar agir como criança nessa próxima semana.

Eu estava num cômodo grande, sentado ao lado de meu pai e minha mãe, que estava talvez agora em seu último mês de gravidez. A minha frente, os Bradley.

"Eu devo pedir perdão, soube que devido à nossa campanha nos Bálticos, você perdeu o nascimento do seu filho. Enquanto eu tive muitos meses para me preparar para a vinda da minha pequena Eve." Klaus abaixou sua cabeça para se desculpar. Presumo que ver o nascimento dos filhos seja algo importante em qualquer mundo.

"Levante a cabeça lorde Klaus, isso foi inevitável. Mais importante do que isso, pelo que soube, houveram pouquíssimas baixas no campo de batalha, meu marido voltou em segurança e ele fez questão de pagar por cada segundo de tempo perdido." Verena deu uma risadinha com o último comentário. Eu senti uma pitada de segundas intenções com essas palavras, eu olhei para a garota que Klaus chamou de Eve, ela parece ter percebido o tom de Verena, não só isso, mas ela fez uma careta e até corou antes de se endireitar. Ninguém mais parece ter notado sua reação.

"Se é o que a madame diz, então não me sentirei culpado. Apesar disso, trouxe algo que senti que seria um desperdício caso não recebessem como pedido de desculpas." Ele parecia estar bastante generoso, pra dizer o mínimo. Até Heinrich e Verena pareciam curiosos.

Um servo dos Bradlley se ajoelhou e abriu um compartimento repleto de prata.

"Uma mina de prata foi encontrada em baixo de uma vila dos povos de lá. Eu planejava te dar essa quantia antes, mas vir até aqui é bem desafiador."

"Você realmente não precisava disso, somos aliados afinal."

"Corta essa besteira e apenas aceite velho amigo, aos olhos do Imperador, nós não podemos ser aliados, pelo menos até agora."

Anelise então se levantou e disse algumas palavras para um homem que serviam os Bradlley, ela saiu do cômodo e voltou com uma espada que gerou espanto em ambos, Heinrich e Verena.

"É exatamente o que você tá pensando, Lorde Heinrich. Esse é o tesouro dos Hohenzollern. A espada que pertenceu a São Demétrio, o primeiro Imperador de nosso Império."

Heinrich pareceu engolir em seco, deve haver muita história por trás dessa espada, será que roubaram da família real?

"Então... Vocês realmente vieram discutir sobre isso em... Devemos conversar em particular e deixar as crianças do lado de fora?"

"Sim." Klaus parecia sério e afagava os cabelos de sua filha. Heinrich suspirou.

"Muito bem." Anelise sentou-se novamente colocando a espada no centro da mesa. "Retornem quando eu os chamar."

Eu e Eve fomos expulsos do quarto. Porra, quando tava ficando interessante! Junto da gente, veio minha mãe, provavelmente seria uma conversa estressante para alguém grávida e faria mal pro bebê. Ela foi esperta de sair dali.

Narrador POV

"Temos aqui algo que pertenceu a um santo. Que o que estamos prestes a fazer seja de total alinhamento com a vontade de Deus." Disse Anelise.

Todos acenaram com a cabeça e fizeram o sinal da cruz. Os guardas e mordomos saíram do quarto a mando de Klaus e Heinrich, Klaus que estava sorrindo até agora com confiança, agora parecia tenso, de cabeça abaixada.

"Se não me engano, já fazem quase trezentos anos que as famílias Sigmaringen e Bradlley são estritamente proibidas de se unirem em acordos militares. Sempre tivemos direito ao trono e prevalecemos apesar do que nos foi feito. Você entende o que estou dizendo, Heinrich?"

"Sim, a família principal chegou ao ponto de enfraquecer nos eventos mais recentes, enquanto nós, da família secundária, nos fortalecemos. Está na hora de reivindicar a coroa, em?"

"Hahahah, eu lembro quando ficamos amigos, nós éramos realmente uma figura. Você e eu acabamos virando crianças de guerra sob a tutela de meu pai. Por conta disso, os Hohenzollern puniram meu pai severamente, ambos ficamos extremamente isolados de Aachen. E mesmo assim, prometemos que casariamos nossos filhos e os colocariamos no trono. Mal acredito que finalmente chegou o dia."

"Você sabe que a partir do momento que prometermos a mão dos nossos filhos, ganharemos um alvo nas nossas costas, não sabe?"

"Ao mesmo tempo, muitos irão nos apoiar."

"É uma guerra civil."

"Que se foda!"

A sala ficou em silêncio por um momento. Ambos estavam tomando coragem. De repente, se levantaram ao mesmo tempo.

"Os Hohenzollern não terão coragem de atacar seus mais poderosos vassalos por conta de uma aliança, toda essa proibição é algo informal. Mesmo assim, iremos ser rechaçados, todos saberão no exato momento em que a palavra se espalhar: Os Bradlley e os Sigmaringen agora vão se tornar uma única família, portanto, eles também são Hohenzollern." Klaus estendeu a mão para um aperto de mão para com Heinrich que apertou de volta.

"Nós já havíamos falado sobre casarmos nossos primeiros filhos e filhas a muitos anos atrás. Nunca mudamos de ideia, não faremos isso agora." Com as palavras de Heinrich, Klaus acenou com a cabeça e voltou a se sentar.

"Bom, não podemos fazer isso levianamente, o que você pretende fazer?"

"Bom, as fronteiras do meu lado estão bem guarnecidas, graças ao bom Deus, a guerra nunca chegou às minhas terras como pretendiam os Hohenzollern, além disso, a expansão que conseguimos promover na Aquitânia nos da terras muito boas. Haverá um problema: No caso de qualquer conflito, potências estrangeiras tentarão nos prejudicar."

"Isso é óbvio, os selvagens do leste são um problema, mas, você é o único entre nós que tem fronteiras com países bem estabelecidos e poderosos. Como pretende contornar isso?"

"A Ordem Teutônica."

"Hm? Como assim?"

"Os Hohenzollern descendem diretamente da Ordem Teutônica. Aproveitemos a situação do nosso país, deixe que o Papa proteja nossas fronteiras. Em caso de conflito aberto não quero ter que lutar em dois frontes. Presumo que você não possa custear um exército profissional em tempo integral, mas como guardiões da fronteira, não temos muita opção. Nossa fronteira terá que ser guardada pelos homens do Papa."

"Parece um plano muito arriscado, você não está só confiando em uma pessoa que não conhece para proteger suas fronteiras?"

"Não se preocupe, nossa cavalaria será rápida o bastante para se mover de batalha em batalha, poderei não dividir nossos frontes dessa forma. Mais importante do que isso é Mikail e Evellyn."

"Eles serão de fato algo a parte. E então?"

"Mikail fará uma peregrinação depois de vossa partida para Roma. Recomendo que faça Evellyn acompanha-lo"

"Ooh, é uma ótima ideia. Mas... Eu meio que... Não quero..."

"O que diabos você pretende fazer com a parte mais importante da sua família nesse plano?"

"Bom... Eu queria mimar minha filha por mais um tempo."

Heinrich parou por um momento antes de perceber que seu velho amigo falava sério.

"Temos mais um problema em mãos também." Heinrich continuou a conversa.

"E qual seria?"

"A idade deles. O mundo é perverso meu irmão, as pessoas tentarão mata-los. Sua visita aqui já gerou um alerta, espiões sairão correndo para avisar vossa majestade que estamos nos encontrando. Mesmo que escondamos nossas pretensões por algum tempo, será uma pulga em suas orelhas. É melhor prevenir do que remediar como dizem por aí, as chances de conflitos começarem é grande. Na presença do Papa, isso não acontecerá. Não só não há ambiente mais seguro para os dois, como também eles serão nutridos mental e espiritualmente. Você não tem nada a perder, então por favor, envie sua filha para essa peregrinação e..."

Novamente Heinrich parou, Klaus parecia choroso, Anelise tentou confortá-lo, mas agora ele realmente parecia um pai coruja.

"SE RECOMPONHA HOMEM!" Heinrich sacudiu Klaus que se endireitou e deu uma pigarreada antes de concordar.

"Muito bem... Já pelo meu lado... Nos últimos anos, apesar de não termos terras muito boas, tivemos muito contato com minerais valiosos, além da pesca. Nosso comércio está começando a ficar muito bom ultimamente, ainda mais com as especiarias dos selvagens. Falando neles, por conta do meu pai, eles foram muito bem integrados e talvez já sejam uma força considerável em nossa infantaria. Considerando que sua cultura permitia a escravidão, os libertos se tornaram rapidamente nossos aliados. E é claro, eles continuaram com as suas terras, então eles parecem contentes, em sua maioria..."

"Isso é bom."

Mikail POV

Eu aposto que estão discutindo sobre estratégias e políticas... Argh, mas que merda, eu queria tanto ouvir. Ao invés disso... Estou tendo que brincar com essa garota. Isso parece muito estranho, sério! Minha mãe nos observava correr pelo jardim. Evellyn tinha que levantar o vestido para não arrasta-lo no chão, mas não parecia fazer a mínima questão de faze-lo, então Verena tentava adverti-la, mesmo ela ficando com vergonha por conta das palavras dela, ela só esquecia de segurar a droga do vestido e sujava ele.

"Tô cansada, vamos parar." Ela deitou no grama ofegante. Finalmente cansou, nem acredito. Bom, eu vou entrar na onda.

Deitei na grama também, ela parecia bastante cansada, talvez não tivesse costume de correr com outras crianças. Ela parecia sussurrar algo, mas eu não ouvi muito bem.

Evellyn POV

"Não é de todo mal." Eu sussurrei

Ele parecia mais animado do que antes. Se eu pensar com delicadeza, quer dizer, ele é uma criança adorável, com certeza vai crescer para ser um homem bem bonito... Não é de todo mal ter que me casar com ele... Mas se considerar que meu pai me mima... Será que ele é mimado? Essa não, talvez ele venha a se tornar um babaca! Não posso deixar isso acontecer! Se bem que eu não tenho a menor capacidade de evitar isso, daqui a pouco iremos voltar para casa e os próximos dez anos irá molda-lo... Verena me dava uma boa impressão, mas talvez ela fosse o tipo de mãe que deixava o filho fazer o que quiser, sem contar que ele é rico, na verdade, acho que até mais rico do que eu. Isso pode ser uma má influência. 

"Ei, você tá bem?"

Ah, eu comecei a gritar internamente e girar meu corpo na grama sem notar. O medo de me casar com um futuro babaca me assombrou. Mas por enquanto ele ainda é uma criancinha fofa. Então eu ainda posso viver com isso.

"A-ah. Não é nada, eu só estava com muita coisa na cabeça hahaha." Droga, eu deixei muito na cara.

"Crianças, retornem!" Ouvi a mãe de Mikail gritar de longe do jardim.

"Já vou!" Eu gritei. Mikail se levantou antes de mim e me deu a mão para eu me levantar. Não pensei muito disso e apenas corremos de volta à sala em que estavam nossos pais.

Agora eles estavam bebendo vinho e tinham doces na mesa.

"Sirvam-se crianças." Meu pai apontou para os doces, eu me sentei ajeitando a saia do vestido e provei um dos bolos. Estava uma delícia. Mikail não pareceu tão animado quanto eu, não beliscou nem um docinho...

"Seu vestido parece sujo mocinha!" Eita, me ferrei.

Heinrich pigarreou e tomou minha atenção, ele olhava diretamente para Klaus que suspirou e começou a falar. Acho que eu já sabia o que vinha pela frente.

"Muito bem..." Ele vai realmente anunciar que estamos noivos assim? Eu ainda tenho quatro anos, você pelo menos deveria pensar que eu não iria entender algo assim. "Vocês dois estarão fazendo uma peregrinação para Roma!"

É O QUE?!