Chapter 6 - Noivado

Mikail POV

Ma que porr...

Roma? Literal Roma? Pera, peregrinação? Caceta!

Eu fiquei meio paralisado com o anúncio, por que estamos sendo mandados para outro lugar? Evellyn parecia ainda mais confusa do que eu, sua careta chegava a ser engraçada. Heinrich pigarreou para anunciar que ia falar.

"Mas antes disso, é claro, teremos o resto da semana de descanso além da comemoração do quinto dia no nome de Mikail." Ele se abaixou para falar na mesma altura que Eve "Pensamos em talvez fazer a comemoração da pequena Eve ao mesmo tempo, já que o quinto dia de seu nome chegará apenas quando você já estiver longe de sua família."

Talvez ela não entendesse inteiramente tudo que lhe fora dito, uma comemoração de aniversário? Acho que uma criança ficaria entusiasmada, ou talvez ela fosse pensar que não poderia ser a personagem principal, é realmente difícil prever as reações das pessoas mas...

"Eu não quero iiiiir!" Ela começou a protestar em choro quanto ao caso de ir para Roma.

Acho que ela já estava mais do que cansada de viagens. Nos próximos três dias, eu via com muita frequência os pais dela tentando convence-la de que seria algo bom para ela. Seu primeiro protesto na sala de reunião foi bem silencioso, ela apenas parou quando notou que eu ainda estava ali. Todos os seus outros protestos eram uma sequência de berros, que paravam quase de imediato quando ela notava minha presença, ela ficava envergonhada e apenas corria para longe da minha vista.

Acho que seria demais aguentar isso por mais tempo.

"Ei!"

Eu a abordei no final de uma de suas 'atividades femininas', provavelmente estava aprendendo a dançar ou fofocar, ela deu um gritinho de susto e se virou rápido para ver quem era.

"Ah, boa tarde príncipe Mikail."

"Hm? Ah, boa tarde." Por um ou dois segundos eu não falei nada, acho que toda a minha atitude foi embora, eu vinha planejando o que ia falar, mas pensando bem, o que caralhos poderia convencer uma criança de quatro anos a parar de fazer birra? Talvez seja uma daquelas horas que eu poderia parar de agir como criança e falar como adulto? "Até quando você vai ficar fazendo birra? Chorar não vai mudar o que os adultos já decidiram, então engole o choro." 

Merda, eu fui duro demais? Graças a Deus eu não xinguei! Assim que ela ouviu aquelas palavras, ela fez um som estranho, quase como se engasgasse por um segundo e me olhou paralisada.

"A-ah... D-desculpa." Ela tentou desviar o olhar depois de se desculpar. É, eu escolhi as palavras muito mal.

"N-não, eu que devia me desculpar, fui duro com as palavras, me deixa recomeçar!" A esse ponto, isso já virou bagunça. "Desculpa pelo que eu falei, por favor. É que, bem... Eu ouvi você chorando dizendo que não queria ir e, não parece que o senhor seu pai vai mudar de ideia. Eu tenho certeza que nossos pais tem razões muito boas para nos mandar para longe." O que diabos uma criança pensaria de um pai que mandou ela para longe? Talvez ela pense 'oh não, meu pai não me ama mais' ou algo assim.

"A-ah... Talvez você tenha razão..." Ao menos ela concordou, mas não tenho certeza se de alguma forma eu a afetei negativamente. "Eu só tentei evitar o desconhecido por um temp... N-na verdade, eu tentei apenas ficar mais tempo com meu papai que amo tanto." Ma que porra...

Essa menina parece uma descarada! Eu esperava que esse traço de criança espertinha era coisa moderna, mas mesmo nessa época as crianças são umas pestes! Ela sabia muito bem que não dava para mudar a questão da viagem, ela tava fazendo birra só pra incomodar! Agora eu tô com raiva.

"Eu entendo como se sente, mas fazendo isso você só vai acabar ocupando mais os adultos com questões pequenas. Dar trabalho demais pra eles vai apenas sobrecarrega-los e quem sabe isso não possa acarretar em acidentes e catástrofes." Eu tenho que ser ainda mais cara de pau. Eu adotei no meu primeiro dia de vida uma política: dar o menor trabalho possível aos meus queridos pais. Se ela é o exato oposto, então irei educar essa mimada de uma vez por todas!

"É verdade... Desculpa..." Ela parece triste... Isso foi inacreditavelmente rápido. Talvez esteja fingindo? Não, acho que ela está verdadeiramente arrependida. Bom, um grande sucesso para mim então...

"B-bom, se você realmente se arrepende, não há mais nada que eu possa dizer, obrigado por entender senhorita Evellyn." Eu estava quase de saída antes de mencionar. "Ah, espero que comemorar seu aniversário junto do meu por conveniência não seja algo ruim para você, farei questão que a atenção vá toda para você haha." Eu sorri e meti o pé dali.

Evellyn POV

Aniversário? As pessoas desse mundo normalmente referem-se a esse dia como o 'Dia de seu Nome'.

Não vou pensar muito sobre isso, ele está certo. Não é correto que eu faça birra sobre algo que não vai mudar, e que mau poderia fazer? Esse moleque irritante, por que ele é tão maduro? As crianças de hoje em dia deveriam estar jogando com bolinhas de gude e não amadurecendo! Ou ele simplesmente não entende o quão ENTEDIANTE É UMA VIAGEM DE SEMANAS A MESES SEM QUAISQUER ACESSO A INTERNET! Eu chutei por impulso na raiva e acabei machucando meu dedão.

Os últimos dias têm sido um rodízio de servos pelo castelo redecorando e acomodando várias pessoas. Considerando que as pessoas já estavam prontas para o aniversário do Mikail, eu presumo que não receberei nenhum presente... Se bem que isso não é lá muito importante, considerando que sou uma criança, nem ao menos poderei fazer qualquer network, isso vai ser trabalho dos adultos. O que diabos eu vou fazer além de... Pera, que caralhos eu tô falando? Festa de criança é o melhor tipo de festa! Tem doces e salgadinhos e refrigerantes... Ou pelo menos o derivado disso para a época... MAS CONTINUA O MELHOR TIPO DE FESTA!

Os presentes se amontoaram, e as crianças também. Muitos lordes vieram acompanhados de seus filhos e filhas. O quinto ano de vida era realmente muito importante, morrer de causas naturais já não era mais tão comum, o perigo já passou, ou seja, poderiam ser comemorados os anos de vida. Não preciso de metade do meu QI para juntar um mais um, muitos acordos seriam feitos nessa festa, nós seriamos mostrados e com certeza haverão mais casamentos arranjados. Apesar de eu ter certeza que o meu já foi arranjado, talvez os outros nobres não tenham tanta certeza e queiram tentar a sorte. 

Talvez haja coisa melhor por aí do que o Mikail...

Mas agora pensando bem, o que ele falou era verdade, no final de tudo, pode parecer algo trivial nos mandar em uma peregrinação. Talvez eles só quisessem que fossemos mais próximos da fé desse mundo, mas pode ser muito mais do que isso, não vamos ficar uma ou duas semanas como em um período de férias. Talvez queiram nos afastar pela nossa segurança? Merda, eu demorei para notar isso. Será que aquele moleque notou? Ou talvez ele só seja um bom garoto no final das contas. Eu vou acreditar na segunda opção, faz ele parecer mais fofo, apesar das palavras que ele usou... EU VOU BATER NELE!

Finalmente o dia chegou. Organizaram uma espécie de torneio pela manhã em um campo baldio da cidade, aposto que foi para fazer Mikail gostar de violência. Houveram justas e combates corpo-a-corpo, meu pai e o senhor Heinrich chegaram a fazer uma partida. Já pela tarde, o aniversário ocorreu até que bem normal, fofocas, doces, brincadeiras, carne, canções, tortas e doces. Apesar de que era o aniversário do Mikail e as crianças tentavam chama-lo para brincar, ele quase que negava todas. As vezes chegava até a sumir, ele parecia ter um padrão: Se juntassem três ou mais pessoas a sua volta, ele dava uma desculpa e sumia pelos próximos vinte a trinta minutos. Ele é fofo com vergonha.

Por algum motivo ele voltava um pouco suado ou com roupas diferentes.

Finalmente, foi feito um brinde. O som de talheres batendo em uma taça ecoou pelo salão enquanto um dos cavaleiros que acompanhou nossa viagem até aqui se ajoelhou do meu lado e me pediu para acompanha-lo. Ele me deixou na mesa, sentada ao lado do meu pai, mas todo o caminho até ali parecia tenso, fomos escondidos até ali, como se estivéssemos evitando que nos achassem. É nessa hora que eu percebo que... O número de homens escondidos nessa festa é grande. Muitos estão escondendo suas armas por trás das capas.

"Como vocês bem sabem, adiamos o Quinto Dia do Nome de Mikail, meu filho, por conta da visita dos Bradley, e hoje, comemoramos de maneira adiantada, o Quinto Dia do Nome de Evellyn, a filha de Lorde Klaus von Bradley. Peço desculpas a todos os que não conseguiram se preparar de antemão para os presentes da senhorita."

Heinrich POV

Até então, os mais velhos pareciam no mínimo desconfiados, à minha direita, ao longo do salão, haviam duas mulheres que eu conhecia muito bem, Sabine e Heike Hohenzollern. As informações realmente voarão a partir daqui, se não já chegaram aos ouvidos do Imperador. Nenhum nobre parecia confiante o suficiente para fazer qualquer movimento politico, o que é incomum, mas nada mais do que o esperado. Estamos deixando claro para todos que há um acordo entre os Sigmaringen e os Bradlley, não poderíamos ter deixado mais óbvio. Mas é agora que tudo começa! Teremos aliados ou todos aqui serão nossos inimigos? Se apresentar com qualquer nível de amizade agora é arriscado, então eu entendo qualquer um que queira se manter neutro, mas também não confiarei nos mesmos, os tratarei como inimigos e não aceitarei acordos por trás dos panos. Esse é o tipo de homem que sou!

Só resta saber se serão caras de pau o suficiente para se manter aqui ou darão as costas mesmo nessa celebração. Seremos realmente ostracizados em.

Evellyn chegou a mesa em segurança e há diversos dos nossos homens espalhados pelo banquete, principalmente na frente da nossa mesa, não há um homem que não seja nosso soldado. Ótimo, é um risco a menos.

Logo em seguida Mika se sentou ao lado de sua mãe. Muito bem! Posso dar continuidade.

Mikail POV

Acho que a festa poderá finalmente se encerrar, mas por que sinto tanta tensão? O clima era sempre leve dentro do banquete, outra coisa era... Eu estava sendo seguido. Toda vez que saia do grande salão eu era seguido por pelo menos três pessoas. Se fossem assassinos eles teriam tomado a oportunidade, eu me senti um imbecil por sair do salão por capricho. Na minha última escapada um homem apareceu.

"Jovem mestre, é perigoso você sair dessa vez, peço que volte para a presença do Senhor seu pai!" Um homem me deu um susto ao aparecer atrás de mim, ele estava com roupas bem suspeitas, cobrindo todo o rosto e corpo, além de uma espada por dentro do roupão, mas ele parecia ser um homem do meu pai. Aquela seria a oportunidade perfeita para me matar se fosse o contrário. Voltei ao salão e fui guiado até a mesa em que meu pai, minha mãe, e a família Bradlley se encontrava.

"Talvez os senhores estivessem ansiosos para apresentar vossos filhos e filhas para a ocasião, mas sinto que os senhores já não terão mais essa chance, pois, ambos Mikail von Sigmaringen e Evellyn von Bradlley estão agora prometidos um para o outro e no futuro eles unirão nossas famílias."

Prometidos? Espera, todo o propósito dessa visita era um casamento? 

Eu tentei observar as reações das pessoas, casamentos eram grandes jogadas políticas no medievo, agora eu entendo! Como não pensei nisso antes? Evellyn não parece nada chocada, talvez ela já soubesse de antemão. Quanto aos nobres na minha frente, era difícil dizer. Mas sinto que vi meia dúzia de indivíduos sair do salão.

O semblante de Heinrich ficou sombrio.

"Os senhores sabem muito bem o que isso quer dizer. Sinto que lutei ao lado de mais da metade dos homens presentes nesse salão. E os que não lutaram ao meu lado antes puderam observar mais cedo do que sou capaz. O mesmo pode ser dito do Lorde Klaus, em centenas de anos, não houve um único homem que pôde realmente avançar sobre as terras selvagens. Com as nossas famílias se unindo, seremos Hohenzollern mais uma vez, e eles não aceitarão levianamente. Aceitarei qualquer decisão que venham a tomar a partir desse momento."

Ele estava realmente anunciando uma rebelião? Então quer dizer que a união das nossas famílias por si só já é um ato de guerra.

O silêncio instaurou no salão por um tempo, mas não tempo o bastante para eu pensar onde havia me perdido. Como o esperado de políticos. Outras dezenas de pessoas foram embora, enquanto outros... Apenas ficaram.

Eu vi meu pai acenar com a cabeça e Klaus se pronunciou.

"Talvez os lordes presentes vejam essa atitude como um ultraje, e mesmo assim, não queiram ser nossos inimigos. Mas aviso-lhes de antemão, aqueles que se manterem neutros também serão nossos inimigos!"

Esse pronunciamento não foi nem um pouco inteligente. O que eles estão tramando?

Heinrich POV

Eu conheço cada um dos rostos que continuaram aqui, além dos meus próprios vassalos, há também Nicolo, o Duque da Sicília e Ragnar, o Protetor da Dinamarca. São poucos, mas é o bastante.

"Obrigado por ficarem."