Mikail POV
As festanças continuaram. Estava ficando tarde, e provavelmente era hora de acabar. Pelo que sei, essa não é uma comemoração usual. Houveram aniversários em que estive presente antes, a maioria não havia tantos convidados quanto dessa vez, e presumo também que os Bradlley não tiveram seus próprios amigos convidados. Mas lembro que normalmente meus pais dançavam para finalizar a comemoração, isso quando havia convidados, Heinrich não era muito fã desse tipo de coisa, então chegava ao ponto de apenas comemorar o Dia no Nome de Verena. Esse clima tenso provavelmente foi o que mudou os planos, ou talvez o fato de que somos crianças, quer dizer, ainda não me ensinaram muito sobre etiqueta, mas Eve parece saber se comportar bastante... Quando longe de doces.
Eu reconheci alguns rostos presentes, eram cavaleiros, condes e barões que serviam ao meu pai. Havia meu avô e mais uma duzia de velhos homens, além de pessoas que compartilhavam o nome Sigmaringen mas que nunca tinha visto na vida. O quinto aniversário era talvez uma boa oportunidade para me apresentar ao resto da família, mas as coisas parecem ter ficado tensas. Um jovem moreno e de um nariz exageradamente grande quebrou a tensão, ele é um dos que não reconheci o rosto.
"Presumo que eu possa ser o primeiro a quebrar a tensão do mais recente anúncio de Vossa Alteza! Eu previ que o senhor iria fazer uma grande jogada e sinto que não desperdicei uma única moeda com esse presente!" Três servas se apresentaram em procissão carregando três enormes tiras de tecido. Todas em roxo. Meu pai sorriu e ergueu o queixo com seu presente.
Não é para menos, roxo era uma cor cara, tão cara que no Império Romano, os únicos que podiam vesti-la era o Imperador. Ele está anunciando seu apoio sem dizer uma única palavra.
"É um presente extremamente generoso, Duque Nicolo."
Todos os outros convidados presentes pareciam em choque, então realmente é algo caro. Os súditos de meu pai pareciam agora querer competir com esse Nicolo, mas duvido que consigam a esse ponto. Logo em seguida uma rodada de pessoas se apresentaram para nos presentear.
Dentre os que reconheci, os condes e barões trouxeram presentes variados, um deles trouxe um potro branco, outros trouxeram joias, ouro e prata. Acho que devido ao fato de que também tinham que pensar em Eve, os presentes não foram tão direcionados. Invés de dar roupas já prontas, Nicolo deu o tecido necessário para faze-las, invés de adivinhar o que gostaríamos, apenas começaram a dar dinheiro. Bom, é o melhor tipo de presente.
"Já faz algum tempo, irmão." Um homem de cabelos negros, bem parecido com meu pai, mas um pouco mais jovem se apresentou e se curvou. Eu presumi que aqueles com o nome de Sigmaringen fossem parentes, considerando o quanto as pessoas gostam de fazer filhos, provavelmente temos uma família bem grande aqui.
"Fritz, é realmente muito bom te ver do meu lado."
"Eu não tive tempo para me preparar para dar qualquer presente, então vou ser arrogante o suficiente para presumir que abandonar meu antigo senhor para lutar ao seu lado seja um presente e tanto."
Ambos riram e Fritz deu espaço ao último nobre presente.
"Eu realmente não o subestimei, futuro Imperador!"
Um homem vestido com as peles de um leão albino se aproximou. Sua barba não era suja, mas era desengonçada e suas roupas não eram nada belas ou requintadas. No seu olho esquerdo um tapa-olho e logo abaixo, um sorriso amarelo. Ele era alto e extremamente robusto, dava para ver veias saltando de seus braços com os movimentos mais simples.
"Ragnar, eu não imaginei que se juntaria a nós."
"E eu não imaginei que você tivesse tanto culhão. Mas cá estamos." Ele realmente tinha um ar de homão da porra. "Meu povo anseia por batalha e eu odeio politica! Não me tornei o rei da daneses para sentar e não fazer nada! EU QUERO GUERRA TANTO QUANTO VOCÊS!" Eu ouvi um gritinho sair ao meu lado na mesa, era Eve. "Eu lhes ofereço a totalidade de meus homens. Hohenzollern está cercado comigo me juntando a vocês. Então eu lhe ofereço meu machado! Marcharemos incessantemente!"
Puta merda, esse cara é honesto. Ele provavelmente quer que o conflito comece agora, mas não acho que vá funcionar dessa forma.
"Aprecio sua honestidade, Rei Ragnar. De acordo com seus desejos, a guerra vai acontecer." Klaus se pronunciou, sem sair do seu lugar. "Eu apenas peço por paciência, guerra, no final de tudo, é política."
"Sim, eu entendo, lorde Klaus. Mas fico feliz. Vocês realmente são o tipo de homem de quem ouvi falar... Deixo aqui meus presentes, irei partir imediatamente. Resolvam o que têm de resolver e retornem até mim quando precisarem."
Ele se virou, seus homens entregaram dúzias de caixas e correram para acompanha-lo.
Klaus e Heinrich POV
Se pronunciar contra a neutralidade foi o que trouxe Lorde Ragnar para o nosso lado. Foi perigoso, nos trouxe mais inimigos do que precisávamos, foi uma aposta arriscada, mas deu certo!
Evellyn POV
Aquele homem realmente me assustou. Não me diga que realmente vai ter uma guerra, eu mal vivi a minha vida! Mas que droga, acho que é por isso que queriam nos mandar para Roma. Eu não consegui ver direito da minha posição, mas, Mikail pareceu nem piscar depois de tudo isso.
Os presentes do tal Ragnar foram doze caixas de peles de diversos animais, de lobos, javalis e até de ursos. Um presente brutal de um homem brutal em...
As comemorações continuaram, finalmente nos permitiram sair da mesa. Acho que numa ocasião normal, se parabeniza os noivos pelo noivado, mas, as crianças talvez não entenderiam muito bem e os adultos... Provavelmente estão parabenizando nossos pais...
O banquete continuou, comida era o que não faltava, mas a esse ponto eu já estava cheia.
"Como você está?"
Mika perguntou tão de repente, mas dessa vez eu não tomei um susto.
"Hmmm, aquele Ragnar realmente me assustou, mas eu tô bem...?
"Entendo, hmmm, então... Agora somos noivos? Isso é esquisito."
"É-é, eu nem sei o que isso quer dizer haha. Eu lembro que já disse algumas vezes sobre querer casar com meu pai." Eu falava muito isso na minha antiga vida quando pequena, meu pai fez questão de gravar uma dessas ocasiões. Tão bobinha. Talvez eu ter falado isso soe estranho.
"Sei... Bom, se você está bem, então tudo bem." Ele saiu novamente. Eu não entendo garotos, talvez porque eu era nerd.
Depois de um tempo, as pessoas começaram a se despedir. O castelo era grande, então, muitos deles ficaram bem acomodados, enquanto outros fizeram questão de partir imediatamente. Independentemente disso, foi só quando todos foram embora que Mika voltou, ele nem me notou quando pisou novamente no salão.
"Ah, finalmente acabou. Eu não aguentava mais." Acho que ele realmente não é do tipo sociável, realmente é estranho se considerar que crianças se tornam introvertidas com o tempo, ele não teve experiências de vida suficientes para isso. Nah, deixa quieto, eu vou pro meu quarto dormir.
Eu corri para sair dali depois de pegar mais um doce e enfiar na boca, mas tropecei e cai no chão.
"Eve?" Caceta. Doeu.
"Aiiii."
"Você devia tomar mais cuidado, não precisa correr por aí." Ele estendeu a mão para me ajudar mas eu não estendi de volta. Que vergonha, eu cai de cara no chão! "Vamos lá, levanta!" Ele me segurou pela cintura e me puxou para que eu me pusesse de pé, eu comecei a lacrimejar pela dor e percebi que o doce que tinha enfiado na boca se desmantelou inteiro no chão.
"Eu doxe" Nem fudendo. Eu chequei e era verdade, CAIU UM DOS MEUS DENTES DA FRENTE! Agora sim eu quero chorar, que ridículo.
"Pff." E esse filho da puta vai rir?!
Ele segurava a risada, meus olhos já estavam cheios de lágrimas, mas eu segurava.
"Ei, não ria!"
"Foi mal, foi mal, desculpa. Vai ficar tudo bem, quer que eu te leve pra sua mãe?" Eu balancei a cabeça afirmativamente. Ele prontamente afagou meus cabelos e começou a me levar pelo castelo até minha mãe. Infelizmente, ela estava junta do meu pai, então começou todo um drama pra cima de nós dois até eu contar a história.
"Brigada." Eu disse antes de ele sair de fininho. Ainda bem que esses dentes de criança são para cair mesmo, se não seria problemático.
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Somente depois que todos os convidados se foram é que tudo começou a ser organizado para a nossa partida, enquanto meus pais iriam voltar para o norte, nós iriamos na direção oposta. Levou mais uma semana para isso acontecer e minhas interações com o Mikail foram menos raras. Mas nada demais, mas conheci alguns de seus primos.
Não só isso, mas no dia anterior à data da partida, a senhora Sigmaringen entrou em trabalho de parto, então adiamos a nossa ida até que ela estivesse bem o suficiente para nos acompanhar.
É preocupante partir para longe da saia dos pais, mas tenho bastante experiência morando sozinha, então já estou acostumada. Já não sei quanto ao pequeno Mika aqui, talvez eu deva mima-lo um pouco na viagem pra ele não endoidar.
O senhor e senhora Sigmaringen foram uns doces. E bota doces nisso! Verena nos deu doces além da conta para a nossa viagem, além dos suprimentos normais. Apesar de que, pelo que eu vi, não seriam mais do que quatro dias até chegar em Roma. Então acho que ela fez isso porque viu que sou meio doidinha por doces, hehe.
"Vá com Deus meu filho. E você também, pequena Eve." Ela nos abraçou bem forte. Meu pai estava bem chorão, mais do que o habitual e minha mãe parecia querer me ensinar muitas coisas.
"Muito bem, acho que seu pai não teve coragem de te ensinar essas coisas, mas não tenha medo de dar uma joelhada nas bolas do garoto que te importunar, entendeu?" É o que?! "Mesmo que seja o Mika, há situações que pedem esse tipo de coisa, entendeu?" É o que?!
O Mika com certeza ouviu isso, eu tenho certeza que vi ele tomando um choque e se inclinando de repente.
Entramos na carruagem e todos se despediram. Vários cavaleiros acompanharam nossa carruagem e finalmente partimos em direção a Roma.