7h30 da manhã de um sábado, o despertador então começa a soar seu grito matinal, ecoando assim por todo o quarto pequeno, que, apesar do tamanho, carrega consigo seu próprio charme — com muitos action figures de personagens de animes e mangás por todos os lados, bem enfileirados e limpos em algumas estantes.
Em uma cama de solteiro, um rapaz repousava em quietude, seus olhos semi-abertos mostram um sinal de que acabara de acordar. Seu corpo bem definido, desnudo, apenas coberto até a cintura pelo cobertor fino. Ele estica seu corpo por completo, espreguiçando-se bem lentamente, espalhando-se por toda a cama.
— Já é hora de trabalhar? — Ele pergunta para si próprio, com uma voz lenta e fraca.
Um suspiro foi dado ao terminar de falar; então, logo depois, seu corpo se move, sentando-se na cama, com os pés ainda debaixo do cobertor.
— Se bem que hoje é sábado, né? Eu acho que posso dormir mais um pouco — fala para si mesmo, enquanto calmamente desliga o despertador ao seu lado.
Então, lentamente, leva seus pés para fora da cama, colocando-os no chão e retira o cobertor de cima das pernas.
"Acho que vou só comer alguma…"
Porém, antes que pudesse terminar de pensar, um barulho alto se espalha pelo quarto, iniciando bem debaixo de seus pés. O rapaz imediatamente identifica a causa desse barulho. No andar de baixo, seu avô, a quem ele chama de pai, está cutucando o teto com o cabo da vassoura.
— O quê que tu quer, velhote? Hoje é sábado! Eu só trabalho à tarde e à noite! — disse o rapaz, gritando alto, enquanto fazia uma cara raivosa, batendo os pés no chão, no mesmo lugar onde seu pai cutuca.
— Eu não tô nem aí pra porra do seu trabalho, moleque vagabundo! Esse seu despertador está tocando há mais de meia hora! — grita o pai do rapaz. — Você não teria que estar se arrumando para ir naquele curso que seus amiguinhos ficaram enchendo o teu saco para você se alistar?
Ao escutar o que seu pai lhe fala, ele arregala os olhos o máximo que pode, então se levanta e vai direto para o armário cheio de roupas, pegando as primeiras peças de roupa e o tênis que encontra.
— Puta merda! Me esqueci completamente disso! E o senhor nem para me acordar?
— Eu acordei às 6h30 da manhã e bati umas 500 vezes na porta do seu quarto para ver se você acordava, e adivinha, você não acordou! Então, eu deixei pra lá e vim fazer nosso café da manhã. Moleque, ingrato!
— Ah!...
Ao ouvir o que seu pai disse, o menino fica em silêncio. Em seguida, abre a porta e sai do local, indo direto para o banheiro, que fica apenas a alguns metros de distância do quarto. Lá dentro, ele toma um banho gelado, escova os dentes e então coloca sua roupa. Ele toma um longo suspiro e observa seu reflexo no espelho.
Seus olhos castanhos observam, pelo espelho, os cabelos ondulados escuros na parte de cima da cabeça, o degradê na lateral; observa também sua pele esbranquiçada, a camiseta preta levemente apertada e os músculos volumosos; observa também a calça preta e os tênis brancos.
Ele sorri e sai do quarto, descendo rapidamente para o segundo andar, onde seu pai está, um homem grande, com uma barriga volumosa, braços grossos e peludos, cabelos grisalhos espetados e um bigode grosso, usando uma camiseta social azul, uma calça de seda marrom e chinelos verdes.
O rapaz se aproxima do pai e junta as duas palmas, com as pontas dos dedos alinhadas na horizontal e apontadas para frente, como se estivesse unindo as mãos em oração, porém, as mantém ligeiramente à frente de seu peito; em seguida, ele fala:
— Sua bênção, pai.
— Deus te abençoe, Luck — fala o pai do rapaz, apertando levemente as mãos dele.
— Vou levar esses dois mistos-quentes que estão na mesa, vou comendo no caminho.
— Pode levar, ninguém mandou acordar tarde demais, agora vai ficar peidando o dia inteiro, que vergonha — diz o pai de Luck, dando algumas gargalhadas.
— Para de jogar praga, velho. Bom, eu vou indo.
— Vai de carro?
— Não! Aquele carro é apenas para trabalhar; se eu usar esse carro para me levar aos lugares, eu posso estragar e o prejuízo viria forte. Além do que, esse cursinho de sentinela vai ser feito bem aqui pertinho — disse Luck, dando uma mordida no misto-quente logo em seguida. — Não dá nem a 2.000 metros de distância.
— Então o curso é para ser um sentinela? Poderia ter me falado isso antes. Se eu soubesse disso, eu teria até arrombado a porta do quarto para te levar lá.
— Se o senhor fizesse isso, eu desistiria na hora! — afirmou Luck, semi-fechando os olhos.
— Eu te levaria na marra, pode ter certeza! Ser um sentinela é uma experiência muito boa, eu já fui um sentinela, mas foi há muito tempo.
— Sim, o senhor já me contou essa história, umas 385 vezes, eu acho. E todas as vezes que escuto ela, me arrepio todo, velhote!
— Ha-Ha-Ha! E é para se arrepiar mesmo, afinal não é todo mundo que dá um soco na cara do Hitler e um chute na costela daquele cara que achava que os alienígenas iriam aparecer para destruir a Terra.
— Hã! Eu tô vazando daqui! Vou vir aqui só para pegar a chave do carro; o senhor vai ficar o dia inteiro sozinho neste sábado, vai ficar bem?
— Não vou ficar sozinho, não. A vizinha vem sempre aqui trazer uns bolos, salgados e doces sempre que você sai. Ontem, ela me falou que iria me dar um chá quando você saísse hoje; ela se preocupa demais comigo; sempre fala que eu tô muito agitado, falando alto. Realmente, ela é uma boa pessoa.
Luck observa a fala de seu pai, com seus olhos semi-fechados e a boca semi-aberta, quase incrédulo com a ingenuidade dele.
— Eu… eu realmente não precisava saber disso. Eu tô realmente vazando daqui; não tô afim de dar de cara com essa velha tarada, pai. Até mais… — disse Luck, se virando e correndo para fora da casa.
O pai de Luck ficara revoltado, então caminhou a passos longos atrás de seu filho.
— Olha aqui rapazinho, eu não aceito que você fique falando essas asneiras da vizinha, que tem muito amor e respeito por nós.
Quando o pai de Luck sai da casa, Luck já estava virando a esquina, porém antes dele desaparecer, o mesmo se vira para ele.
— Ae, velhote, to indo nessa!! — Luck grita, dando tchau com uma das mãos, sumindo logo depois.
Seu pai então deu as costas para a rua, porém, antes de entrar na casa novamente, Luck tinha voltado para a esquina, então gritou, fazendo o velhote olhar.
— Ei, pai, tô indo nessa, te amo!!
O velhote sorriu e acenou com uma das mãos, vendo, em seguida, seu filho voltar a desaparecer de sua vista.