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Chapter 3 - Um pouco de História...

Amon então cruza os braços e diz:

— Se vocês realmente desejam se tornar um Sentinela, primeiro devem entender o que um Sentinela realmente faz. Apesar de sermos muito famosos e termos heróis poderosos, como os "12 Ômegas", os Sentinelas mais fortes do mundo, a maioria das pessoas não sabe qual é a nossa única e verdadeira obrigação.

"Devemos sempre priorizar o combate contra humanos e monstros que dominam a RCF e a usam para fins pessoais. Nós não somos, e nunca seremos, como a polícia, que lida apenas com casos menores, como assaltos e tráfico.

"Só devemos intervir em assuntos policiais se for extremamente necessário. Sentinelas são a elite mundial em quesito segurança. Nunca se esqueçam disso. Esse é o nosso único dever."

Enquanto Amon explica qual é o verdadeiro dever de uma Sentinela, todos os alunos escutam com atenção. Bom, quase todos. Luck começa a cochichar com seu amigo de forma tão sorrateira que mal mexe os lábios.

— E o resto dos cornos estão aonde? — sussurra Luck, falando bem devagar.

— Estão nas outras turmas!

— O quê?

— Sim! O diretor nos dividiu assim que chegamos à escola. Você falou com ele quando entrou, né?

— Ah, tá... Sim, falei com um velhote quando cheguei. Ele me mandou entrar nessa sala, mas achei que o pessoal estaria aqui também. Não quero ficar numa sala onde só tem você de conhecido — diz Luck, abrindo um sorriso.

O rapaz franze a testa, dá um tapa rápido no braço de Luck e responde:

— Cala a boca, na moral. Eu também não queria ficar aqui sem o pessoal...

Luck se segura para não soltar uma gargalhada e, logo em seguida, comenta:

— Tá... Agora deixa eu falar um negócio, André. Eu não sabia que tinha tanta gente querendo virar Sentinela. Tipo, em todas as salas por onde passei, vi que estavam lotadas de corno. Nenhuma vazia ou com pouca gente.

— Ah, vá! Sério? Ser um Sentinela é a coisa mais foda que alguém pode ser, e você achou que não teria um monte de gente se alistando?

— Sim?

— …

Amon então escuta alguns cochichos vindo da direção de Luck e André. Ele os encara por alguns segundos.

— Por favor, rapazes — disse ele, fechando os olhos e se direcionando para frente. — Não falem mais nada, não cochichem e nem pensem em fazer outro movimento a não ser prestar atenção no que eu estou explicando. Pode ser?

Luck e seu amigo engoliram seco, apenas balançaram a cabeça logo em seguida.

— Bom… voltando ao que eu estava falando. Um Sentinela também deve impor limites, nunca deve entrar em uma briga ou aceitar um trabalho que vá além do seu próprio nível. Como devemos saber nossos níveis? Vocês provavelmente vão aprender depois, provavelmente com outro professor.

"Seguinte! O próximo passo para ser um bom Sentinela é: dominar o básico de RCF. Não tem como todos aqui nessa sala serem um Sentinela se não conseguirem dominar a energia primordial.

"Eu sei que todos aqui têm uma vontade enorme de controlar o RCF, mas antes disso, eu quero contar um pouco da história do RCF. Quer dizer, não necessariamente da energia, mas sim de como ela vem ajudando a humanidade desde o primeiro humano existente."

Todos os alunos na sala se olharam, semicerrando os olhos.

"Puta merda!", pensou Luck.

— Qual é, pessoal, não façam essa cara. Eu não vou explicar em detalhes, apenas darei um breve resumo, pegando alguns pontos importantes… — barganhou Amon, indo se sentar logo em seguida.

Os alunos então suspiraram de alívio.

— Ok, vamos lá! No início, ainda no ventre de um dos parentes do chimpanzé, havia um ser que se diferenciaria dos demais animais do mundo. Esse ser carregava consigo um tipo diferente de célula, uma célula capaz de absorver um certo tipo de energia. Sabem de qual energia estou falando?

— A energia RCF! Inclusive, é por causa dela que estamos aqui. Bom, diz a teoria que foi essa energia que modificou nosso cérebro, além de todo o corpo humano — respondeu Luck, de forma bem involuntária.

Todos os outros alunos se viraram para Luck, exceto André, que apenas sorria.

— Correto! Muito bem! Ao longo dos séculos, o corpo desse ser e de outros iguais a ele foi se modificando por causa da RCF, até chegar à aparência que conhecemos hoje. Mas nem tudo era flores.

"O corpo daqueles seres era bem fraco, já que a maioria morria cedo demais. Isso porque a energia RCF — absorvida pelas células — muitas vezes sobrecarregava seus corpos, causando lesões fatais. Alguém sabe por que isso acontecia? — explicou Amon, olhando para todos na sala.

— Isso acontecia porque a RCF era constantemente absorvida e, em algum momento, as células se autodestruíam devido ao excesso de energia, causando danos graves, já que ficavam e ficam espalhadas por todo o corpo — respondeu André, depois de levantar uma das mãos.

— Correto! Muito bem! — elogiou Amon, se levantando e indo direto para a lousa branca e desenhando o que parecia ser a representação da evolução humana, desde um parente próximo do chimpanzé até a forma humana pré-histórica.

Ele então se vira para a turma, cruza os braços e fala:

— Mas mesmo morrendo tão jovens, eles ainda conseguiram procriar. Ainda bem, né? — falou Amon.

Todos na sala deram uma simples risada, nada muito alto ou demorado.

— Esses primeiros humanos então começaram a se espalhar pelo mundo e, depois de muitos séculos, outras raças de humanos surgiram. Porém, como eu disse, nem tudo são flores. O mundo também começou a sentir a presença humana. Não de uma forma boa, claro.

"A energia RCF absorvida pelos primeiros humanos ficavam muitas vezes impregnada na carne deles, fazendo com que os animais que os comiam, morressem.

"Além disso, humanos que morriam afogados sujavam mares, lagos e rios, matando ainda mais animais."

— Que triste! — falou uma menina.

— Infelizmente ainda não acabou — respondeu Amon.

— Nossa… — disse a menina.

— Bom, mesmo com isso acontecendo com frequência, ainda era pouca coisa perto do que estava por vir. Depois de mais alguns séculos de evolução, surgiu uma espécie diferente de humanos.

"Esses humanos eram bastante diferentes dos demais, já que conseguiam viver por muito mais tempo. Inclusive, até envelheciam. Alguém sabe o nome dessa raça de humanos?"

— Homosapiens!!! — respondeu André.

— Correto! Nós, Homo sapiens, fomos os primeiros e os únicos a conseguirmos driblar a RCF e viver por muito mais tempo. Isso se deve a um fator muito importante: nossos corpos eram diferentes dos outros hominídeos.

"Ao invés de termos apenas células que absorviam a energia RCF, nós evoluímos para ter células que também a expeliam.

"Além disso, de alguma forma, conseguimos desenvolver um tipo de núcleo que armazena toda a energia RCF que absorvemos, evitando que nossas células se sobrecarregassem — disse Amon."

Exceto Luck e André, todos ali arregalaram os olhos, deixando suas bocas semi-abertas.

— E por causa disso, tornaram-se muito mais inteligentes, conseguindo criar armas, lutar em bando, derrotar seres várias vezes maiores que eles. Alguém poderia me responder uma das consequências disso? — indagou Amon.

— A aniquilação em massa dos outros humanos! — respondeu André.

— Correto! Os outros humanos também foram extintos por fatores ambientais, mas esse com certeza foi um dos principais motivos.

"Lembram quando eu falei sobre o mundo sentir a presença humana? Bom, imaginem um planeta inteiro cheio de humanos que, por sua vez, liberam constantemente RCF do corpo por décadas.

"Matando outras raças de humanos, jogando seus corpos em qualquer lugar, contaminando o solo, exterminando animais, sejam herbívoros ou carnívoros. Além disso, quando morriam, seus corpos liberavam ainda mais energia do que os outros hominídeos."

Todos na sala engoliram seco.

— Por causa das ações e do simples fato de existirmos, milhares… não, milhões de espécies foram extintas, tanto em terra quanto em mares, lagos e rios. Mas, como sabemos, mesmo com a extinção de vários animais e plantas, outros se desenvolveram por causa da raça humana.

"Até mesmo o planeta Terra evoluiu para se adaptar a nós, homosapiens. Animais que se alimentam exclusivamente da energia RCF, florestas vivas, criaturas que também manipulam a energia RCF, além de muitas outras formas de vida."

"Percebem? Só de ouvirem um pouco dessa história, vocês ficaram tão animados?" — disse Amon, sorrindo e apontando os dedos indicadores para todos, vendo que a maioria dos alunos suspirava de emoção.

Quase todos na sala se olharam, com as bocas abertas.

— Bom, seguindo. Não quero estender muito a aula, então vou contar para vocês algumas histórias sobre figuras históricas…

Amon continuou sua aula por mais um tempo, enquanto todos os alunos permaneciam em silêncio, escutando minuciosamente cada palavra de seu professor.