Luck caminha a passos rápidos pela cidade, desviando das pessoas à sua volta, que, como ele, também caminham apressadas, deixando para trás apenas suas pegadas brilhosas, cada uma emitindo suas próprias cores. Das pegadas de Luck, a cor deixada no chão é a roxa.
Enquanto passa por uma rua estreita, o olhar de Luck não consegue se conter, se perdendo na paisagem ao seu redor.
Ele vê, ao seu lado direito, um prédio enorme, com vidraças grandes, refletindo o céu limpo, o que torna a pequena rua ainda mais bela.
Do outro lado da rua, um prédio com vidraças escuras lança uma sombra pesada sobre as pessoas que passam por ali.
O espaço apertado da rua sufoca todos os que ali transitam, fazendo-os apressar ainda mais o passo — ou quase todos.
Parando no meio-fio, Luck observa as vidraças do prédio à sua direita. Não as fechadas, mas as que estão abertas.
De dentro delas, ele vê projetores enormes surgindo. Um sorriso de canto de boca aparece no rosto de Luck.
Os projetores começam a girar, e uma onda de luz explode de suas lentes, até que, em um piscar de olhos, uma cobra holográfica surge entre os prédios, seu corpo serpenteando de maneira impecável, quase fechando um círculo, com a cauda pendendo bem acima da cabeça de Luck.
O rapaz não perde nenhum segundo, estendendo uma das mãos para cima, tentando tocar no holograma.
Sua mão atravessa a imagem, então se move para frente, criando uma cauda de energia pelo local exposto.
Seu olhar é de satisfação, diferente das outras pessoas, que nem mesmo dão uma olhadinha básica.
Eventos como esses são normais na cidade, acontecendo quase todo santo dia.
Porém, para o jovem rapaz, mesmo estando na cidade há pouco mais de um ano, ainda é algo surreal de belo.
Luck então volta seu olhar para frente, lembrando que está completamente atrasado. Seus passos voltam a se acelerar, enquanto ele se perde completamente na multidão.
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Primeira Aula
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Enquanto isso, uma boa quantidade de pessoas entram em uma sala de aula. Cada um ocupando cadeiras dispostas em níveis, subindo como arquibancadas, o que dá ao lugar um ar mais formal, bem diferente das escolas comuns da cidade.
A luz da manhã atravessa as janelas, iluminando os rostos dos estudantes. Eles exibem expressões marcadas por ansiedade e curiosidade, visíveis no brilho de seus olhos.
Depois de quase todos os alunos sentarem-se em suas cadeiras, um homem de barba grisalha adentra ao local, trazendo consigo apenas um laptop dentro de uma capa leve e ajustada para o tamanho do aparelho.
Esse homem usa uma roupa que se difere dos alunos da sala, se destacando. Usando um terno marrom claro bem colocado, marcando com delicadeza seus músculos, além de uma gravata borboleta vermelha, bem marcante. Camisa social azul claro, uma calça social marrom e um sapato preto completam seu visual.
Enquanto tal homem coloca seu laptop em cima da mesa, na frente de uma lousa branca, os estudantes conversam, fazem perguntas um para o outro, mexem no celular, ficam olhando para a janela, até que…
— Silêncio!
Ao ouvirem a fala alta e imponente do homem, todos, em suas respectivas cadeiras se aquietam, mantendo, agora, suas atenções voltadas para ele.
— Obrigado! Bom, como devem imaginar, eu serei o professor de vocês. Meu nome é Amon… sou natural de Belo Horizonte e estou aqui em "Mirante Central" desde 2010 como professor.
Todos os estudantes escutam com atenção cada palavra proferida pelo professor.
— Não espero barulhos nessa sala. Todos aqui presentes já são adultos e, por isso, imagino que vocês tenham, no mínimo, um pouco de educação.
Todos os alunos na sala apenas balançam a cabeça em confirmação.
— Infelizmente, hoje, no nosso primeiro dia, começaremos a aula um pouco atrasados. Espero que entendam isso — explica Amon, soltando um pequeno suspiro ao final de sua fala.
O professor, então, dirige seu olhar para a fileira central, percebendo que bem no centro dela há um espaço vazio. Amon arqueia uma de suas sobrancelhas grisalhas.
— Vejo que alguém esqueceu de vir no primeiro dia. Já era de se esperar que isso acontecesse…
Amon retira um óculos do bolso interno de seu terno e o coloca. Em seguida, bate palmas uma única vez, de forma firme, causando um eco por toda a sala.
— Então, vamos começar logo essa…
Antes que possa dizer mais alguma coisa, a porta da sala se abre. Amon vira o rosto em sua direção e, com um olhar curioso, pergunta:
— Quem é você?
Na porta, está um rapaz com respiração pesada, apoiando uma das mãos na cintura.
— Eu me chamo Luck. Atrasei só um pouquinho pra sua aula. Desculpa ae.
— Não há desculpas, meu rapaz. Estudantes não podem chegar atrasados — diz Amon, cruzando os braços —, porém permitirei que, apenas por hoje, você se junte à turma. Pois, infelizmente, houve alguns equívocos e nossa aula começará agora.
Luck sorri, soltando um suspiro lento e tranquilo.
Amon apenas aponta para o local vazio enquanto olha para Luck. O rapaz entende perfeitamente as intenções do professor e, sem titubear, dirige-se diretamente ao lugar indicado.
Enquanto sobe pela pequena escada que dá acesso à fileira, Luck observa com mais atenção quem está ao lado do lugar vazio. Um homem musculoso igual Luck, usando camiseta azul bem ajustada no corpo, modelando perfeitamente seus músculos, um cabelo longo trançado com dreads e uma cara sonolenta. Um sorriso grande surge no rosto de Luck, fazendo-o acelerar os passos logo em seguida.
A pessoa que Luck observa já o acompanha com o olhar desde o momento em que ele entrou abruptamente na sala.
Ao se sentar em seu lugar, Luck se ajeita com tranquilidade. Os alunos escutam o professor repetir sua apresentação modesta. Enquanto isso, Luck vira o rosto na direção do rapaz que estava observando.
— Bom dia Zé ruela! — fala Luck, voltando olhar para frente.
— Bom dia é o caralho! Onde você estava? — responde o rapaz, soltando um bocejo lento no final.
— Eu tava é dormindo, um sono pesado demais.
— Ninguém mandou fazer corrida até tarde.
— Dinheiro, né Zé. Fiz uma graninha extra ai, pra ver se cobre o prejuízo de hoje.
— Ganancioso de merda! Agora vai ficar a aula inteira cansado, nem vai prestar atenção, quer ver só…
— Tá. Tu também não parece estar com uma carinha boa não. Dormiu tarde, foi é? Tava fazendo o que?
— Corrida…
— Há!!
— Fica quieto ai, professor tá falando.
Quando os dois ficam em silêncio, o professor também interrompe sua fala e lança um sorriso forçado para Luck e seu amigo.
— O papo parece maravilhoso ai. Mas espero que deixem essa conversinha pra quando a aula terminar, pode ser? — indagou Amon, cruzando os braços.
Os dois balançam a cabeça em confirmação.
O professor retira o terno e o coloca sobre a mesa. Em seguida, vai para a frente da mesa, senta-se em sua beirada e bate palmas mais uma vez, dessa vez com mais força.
— Bom, então vamos começar a nossa primeira aula para formação de Sentinelas no ano.