Em um reino majestoso, sob um céu dourado ao entardecer, um castelo de torres altas e pontiagudas se destacava imponente contra o horizonte. Bandeiras bordadas em dourado e vermelho tremulavam ao vento, e os salões, decorados com lustres e tapeçarias, estavam cheios de nobres e guardas esperando pela coroação do novo rei. O relógio marcava exatos dez minutos para a cerimônia, mas o príncipe não havia chegado.
Guardas ofegantes irromperam na sala, suas armaduras cintilando sob as luzes dos candelabros.
— Majestade, o príncipe Cedrico não está em nenhum lugar do castelo! — disse um deles, a voz embargada de pressa e nervosismo.
O rei Gil, um homem de expressão severa e barba grisalha, respirou fundo antes de responder ferozmente:
— Então, vão buscá-lo no vilarejo. Tragam-no para cá em dez minutos, ou não se considere ao trabalho de voltar!
Do outro lado da sala, uma jovem de longos cabelos ruivos e expressão afiada como uma lâmina observava a cena. Lyria, vestida como uma verdadeira rainha, carregava um semblante tão impressionante que atraía olhares admirados de todos ao seu redor. Cada passo seu exalava uma graça fria e determinada.
— Olá, papai — disse ela ao se aproximar, a voz melódica com um toque de sarcasmo. — Cedric ainda não apareceu? Eu sabia que aquele paspalho não viria.
O rei a fitou com uma expressão de desaprovação.
— Vamos esperar, Lyria. Cedric é complicado, mas ainda é o príncipe herdeiro.
Lyria cruzou os braços e lançou um olhar de desafio.
— Por que esperar por ele? Todos sabemos que ele não quer essa responsabilidade. Eu seria uma rainha muito melhor que ele.
Gil a observou por um momento, seu olhar suportado.
— Talvez você fosse, mas falta-lhe a principal característica de uma boa rainha, e seu irmão tem. Agora, vá se sentar e não pergunte mais.
Lyria obedeceu, mas cada passo ecoava seu desgosto. Sentando-se em um canto do salão, seus olhos brilharam com uma fúria silenciosa, enquanto pensava: Eu me esforço o dobro do que aquele moleque. E ainda assim, ele é o escolhido… Por quê?
Enquanto isso, no vilarejo abaixo do castelo, Cedric estava longe de qualquer senso de responsabilidade. Sentado nos galhos da árvore mais alta, de onde se tinha uma vista privilegiada de todo o reino, o príncipe ruivo, com uma coroa levemente torta na cabeça, observava o horizonte. Em uma das mãos segurava uma maçã, colhida diretamente do galho mais alto, enquanto pensava com desdém em tudo o que o esperava.
— Que vida miserável — murmurou para si mesmo, dando uma mordida na maçã. — Um futuro rei preso a casamentos arranjados, regras sem sentido… vou ter que casar, ter filhos, me prender a uma vida que nunca escolhi. Tudo por um trono que nem desejo…
Sua voz foi interrompida por um grito distante.
Cedric franziu o cenho, espantado. Em questão de segundos, avistou uma criança fugindo, correndo em pânico enquanto algo se aproximava. Um monstruoso colossal, cujas garras arranhavam a terra e cujos rugidos ecoavam como trovões, avançava em sua direção.
Com um suspiro resignado, Cedric segurou sua espada e desceu rapidamente da árvore. Ele se colocou entre o monstro e a criança, e, com um golpe ágil e decidido, cortou a cabeça da criatura. Ele observou o corpo do monstro cair, ainda processando o que acabara de ver.
— Como isso é possível? Monstros nunca atravessam as muralhas…
Ele pegou a criança nos braços e começou a correr em direção ao castelo. Mas ao chegar, foi recebido pelos guardas, que o escoltaram com expressões indiferentes e desdenhosas, como se ele fosse o garoto relapso e irresponsável de sempre.
— Muitos monstros estão se aproximando do reino! precisamos agir! — Cedric insistiu, a urgência em sua voz.
Os guardas riram.
— Claro, claro, príncipe Cedrico. Todo o mundo sabe que monstros não conseguem atravessar as muralhas. O que está acontecendo com o senhor? Faltou às aulas de história?
Cedric sentiu uma frustração fervilhar em seu peito. Com um olhar sombrio, permitiu que o levassem para o quarto para se preparar para a coroação. Mas, mesmo após vestir o traje cerimonial, sua mente ainda pulsava com a visão dos monstros.
Quando chegou ao salão, o relógio tocava a última badalada antes de sua coroação. Cedric lançou um olhar desesperado para o pai e para Lyria, ainda tentando explicar o perigo iminente. Mas ninguém o ouvia.
Então, o chão começou a vibrar levemente. Um som distante, mas inconfundível, crescia — passos pesados e constantes se aproximavam, ecoando como trovões. Todos no salão se voltaram para as janelas, onde uma sombra colossal se destacava ao longe.
— Eles estão aqui — murmurou Cedric, a voz baixa, mas cheia de verdades, enquanto todos no salão finalmente olharam para ele com o terror que ele já havia sentido antes.