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Chapter 2 - A maldição

Cedric se arrastava no chão frio, o corpo esmagado pelo cansaço, a dor irradiando de cada músculo, e o gosto metálico de sangue em sua boca. Sua visão estava embaçada, mas ele podia distinguir formas vagas de soldados caídos, uns sobre os outros, feridos e sem esperança. Sua respiração era irregular, e sua mente lutava contra o desespero que consumia suas forças.

— Como foi que deixamos isso acontecer?— pensou, sentindo uma onda de remorso pesado. — Estávamos acomodados, despreparados… achamos que os monstros nunca voltariam... e agora estamos aqui, esmagados pela nossa própria fraqueza.

A batida de passos pesados soou ao longe, aproximando-se, e Cedric tentou erguer o rosto, mas seus músculos pareciam petrificados. A visão escureceu por completo e ele perdeu a consciência.

Horas antes...

Os muros do castelo tremiam com o som de gritos e alarmes. Guardas corriam de um lado para o outro enquanto os soldados tentavam reunir suas armas e armaduras o mais rápido possível. Pela primeira vez em anos, monstros avançavam em massa contra o reino. A cena lá fora era apavorante: monstros de diversas formas e tamanhos se moviam em direção ao castelo, uma onda furiosa e imparável. E, ao centro de todos eles, uma criatura gigantesca, um lendário Lendurus, que se pensava extinto há décadas.

O rei Gil, em meio ao tumulto, olhou para seus homens. Seu rosto, antes rígido, agora demonstrava uma chama de determinação feroz.

— Ataquem! Não percam mais tempo, seus vagabundos! — ordenou Gil com um tom poderoso.

Os soldados partiram sem hesitar, mas a pressa e o caos os desorganizavam. Todos se lançavam sobre os monstros sem formação ou estratégia, apenas com o desespero de quem não tinha ideia do que estava enfrentando. Até os arqueiros avançaram junto com os soldados de combate corpo a corpo, desfazendo qualquer ordem.

Lyra, determinada a provar seu valor ao pai, ignorou as criaturas menores e partiu diretamente em direção ao Lendurus. A fúria em seus olhos refletia sua ambição.

Cedric, que a observava de longe, percebeu a imprudência da irmã e tentou correr para ajudá-la, mas, antes que pudesse se aproximar, Lyra o chutou, atirando-o para longe.

— *Fique fora disso, Cedric! Eu não preciso de você aqui!* — gritou ela, sem olhar para ele.

Cedric caiu próximo aos monstros menores, e um grupo deles se aproximava com os dentes arreganhados. Ele se levantou, puxando a espada e se preparando para lutar. Ao longe, viu seu pai, Gil, derrubando monstros com uma habilidade impressionante. Em um único movimento, o rei desferiu um golpe que matou três criaturas, mas um quarto monstro explodiu perto dele, ferindo gravemente seu braço dominante.

Dois guardas que o acompanhavam o seguraram antes que ele caísse.

— Majestade, o senhor está bem? — um dos guardas perguntou, a voz cheia de preocupação.

O rei apertou o punho do braço não ferido e assentiu, a respiração pesada.

— Sim... mas muitos de nós não sairão vivos daqui — respondeu, a voz sombria. — Por favor, não deixem que isso aconteça com vocês.

Ele olhou para seus homens, seus olhos transparecendo uma mistura de dor e resignação.

Enquanto isso, Cedric via a irmã atacando o Lendurus com todas as suas forças. Seus golpes eram firmes, mas o monstro sequer se mexia; parecia uma parede de ferro inabalável. Cedric não conseguia acreditar no que via. Aquela criatura era realmente invencível?

Em meio ao caos, uma sombra se projetou além das montanhas. Cedric estreitou os olhos, tentando entender o que era aquilo. Era uma figura humana, envolta em faixas da cabeça aos pés, lançando uma magia com uma precisão letal. Ele percebeu a intenção daquele ser e o alvo do ataque: Lyra.

Sem hesitar, Cedric correu na direção da irmã, o coração batendo com força. Quando estava prestes a alcançá-la, uma luz sombria brilhou, e ele sentiu uma dor lancinante no peito. A magia o acertou com uma força que o fez cair ao chão, o peito ardendo como se tivesse sido perfurado por uma lança de fogo.

Ele caiu de joelhos, o mundo girando ao seu redor, e viu Lyra continuar a atacar, sem notar o que acontecia. Ao longe, ele ouviu o som dos passos de seu pai, desesperado para socorrê-lo, mas sua visão começou a se apagar.

— *É assim que termina? Não pude proteger ninguém…* — pensou, sua mente afundando em tristeza e arrependimento. — Mesmo sabendo que eu nunca quis essa coroa… nunca fui capaz de proteger aqueles que amo.

E com esse pensamento sombrio, Cedric fechou os olhos e caiu em um silêncio profundo, sentindo que, de alguma forma, havia falhado.