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Chapter 17 - capitulo 17 - O Peso da Escolha

Bem, me desculpe pela demora 🙏. Eu queria terminar esse capítulo no Natal 🎄, mas não consegui. Aí tentei terminar no Ano Novo 🎉 e também não deu certo... Mas finalmente consegui agora! ✍️✨ Obrigado pela paciência ❤️. É tenha uma boa leitura."

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Silvestre abriu a porta do quarto de Lyanna com cuidado, equilibrando o prato de sopa que havia preparado. A luz do sol atravessava a janela, iluminando o ambiente simples, mas acolhedor. Lyanna estava sentada na beira da cama, os ombros caídos e os olhos perdidos no vazio. Quando percebeu a presença do irmão, tentou esboçar um sorriso fraco, embora o peso da maldição ainda fosse visível em sua postura cansada.

— Trouxe comida — disse Silvestre, a voz rouca, mas com um tom descontraído. Ele colocou o prato na pequena mesa ao lado da cama. — Não vou mentir, não tá nada digno de banquete, mas dá pro gasto. Usei o que sobrou na cozinha.

Lyanna soltou um pequeno riso, quase imperceptível, balançando levemente a cabeça.

— Você sempre tenta me animar, não é? — murmurou ela, desviando o olhar para o chão.

Silvestre sentou-se na cadeira próxima, cruzando os braços e inclinando-se para frente. O sorriso habitual estava presente, mas sua expressão carregava algo mais, uma preocupação que ele tentava mascarar.

— Claro que sim. Se eu não fizer isso, quem vai? O gato da vizinha? — brincou ele, erguendo as sobrancelhas de forma exagerada, arrancando outro sorriso tímido da irmã.

Lyanna, no entanto, voltou a abaixar os olhos, fixando-os no prato como se fosse um peso.

— Você faz tanto por mim, Silvestre... Mas e você? Quem cuida de você?

Por um momento, Silvestre ficou em silêncio, os dedos tamborilando no braço da cadeira. Ele desviou o olhar para a janela, onde os raios do sol iluminavam as árvores lá fora. Quando respondeu, sua voz estava mais baixa, mas ainda firme.

— Não importa quem cuida de mim. Você é o que importa.

Antes que Lyanna pudesse insistir, ele se levantou e tocou o ombro dela suavemente.

— Come a sopa. É uma ordem.

Lyanna assentiu sem argumentar, enquanto Silvestre saía do quarto, fechando a porta atrás de si. Assim que ficou sozinho no corredor, ele parou e soltou um longo suspiro, passando as mãos pelo rosto.

Descendo as escadas, encontrou Solaris na sala, sentado em uma poltrona com o grimório aberto sobre as pernas. O jovem mago parecia concentrado, seus olhos brilhando sob a luz do dia enquanto lia os textos antigos.

— Alguma novidade? — perguntou Silvestre, indo até a mesa e pegando um pedaço de pão.

Solaris fechou o grimório com um suspiro e esfregou o rosto.

— Tenho boas e más notícias. Encontrei o ritual. Podemos desfazer a maldição de Lyanna.

Silvestre parou de mastigar e cruzou os braços.

— Tá, ótimo. Qual é o problema?

— O ritual exige que a maldição seja transferida para outra pessoa — explicou Solaris, evitando o olhar do amigo.

Silvestre ficou em silêncio por alguns segundos, o rosto sério enquanto processava as palavras. Então, riu baixinho, um som amargo que ecoou pela sala.

— Claro que tem um preço. Sempre tem.

— Silvestre, não podemos decidir isso sem o consentimento de alguém — disse Solaris, levantando-se. — Essa escolha é delicada e perigosa.

— Então tá decidido. Eu vou ser o portador da maldição.

Solaris arregalou os olhos, claramente surpreso.

— O quê? Isso é loucura! Você não pode...

— Posso sim. — Silvestre interrompeu, encarando Solaris com firmeza. — Eu sou o irmão mais velho. É minha responsabilidade.

— Essa maldição vai destruir você! — protestou Solaris.

— Não importa. Lyanna merece uma vida normal.

O silêncio caiu pesado entre eles. Nimbus, que até então permanecera calado, finalmente interveio, jogando uma runa para o alto e pegando-a com destreza.

— Certo, pessoal. Essa troca emocional tá ótima, mas que tal focar em não morrer no processo?

Solaris suspirou, aliviando um pouco a tensão.

— Precisamos fazer o ritual na Montanha da Penumbra. A magia da lua cheia será mais forte lá. Vamos sair à tarde, vai levar umas duas horas de caminhada.

— Claro, por que não fazer um ritual mortal num lugar chamado Penumbra? Parece um ótimo plano — comentou Nimbus com sarcasmo.

— Eu vou preparar os símbolos do ritual — continuou Solaris, ignorando o comentário. — Nimbus, você será responsável pelas runas.

— Perfeito. Me dê mais responsabilidades mortais. — Nimbus revirou os olhos, mas pegou o grimório para examinar os diagramas.

Solaris voltou-se para Silvestre.

— E você será o centro do ritual.

— É claro que sou o centro disso tudo — respondeu Silvestre, com um sorriso irônico.

Solaris fechou o grimório, passando os dedos pela capa envelhecida antes de erguer os olhos para Silvestre. Havia tensão em sua voz quando começou a falar.

— O ritual vai precisar de três itens importantes. O primeiro... a flor Lacrima Lunaris. Silvestre, você ainda está com ela, certo?

Silvestre inclinou-se contra a parede, os braços cruzados, e deu um leve aceno com a cabeça.

— Sim, está guardada comigo.

— Ótimo — Solaris respondeu, com um suspiro aliviado. Ele virou outra página do grimório, os olhos varrendo as linhas antigas. — O próximo item é... — Ele parou, franzindo a testa como se estivesse com dificuldade para pronunciar as palavras.

Silvestre descruzou os braços e deu um passo à frente, o olhar fixo no mago.

— O que foi? Fala logo.

Solaris hesitou, evitando o olhar do outro. Finalmente, respirou fundo e disse:

— O segundo item é o sangue do lobisomem original.

Por um momento, o silêncio reinou no ambiente. A expressão de Silvestre endureceu, os olhos se estreitando. Então, ele quebrou o silêncio com um tom firme:

— Eu tenho o sangue do lobisomem.

Solaris piscou, visivelmente surpreso.

— O quê? Como assim?

— A espada do meu pai — explicou Silvestre, cruzando os braços novamente. — Ela ainda está manchada com o sangue da fera. Está guardada no sótão, num baú.

Solaris parecia desconcertado por um instante, mas logo assentiu, um brilho de alívio surgindo em seus olhos.

— Isso resolve o problema do segundo item — disse ele, quase para si mesmo, antes de passar os dedos pelas páginas do grimório novamente. — Agora... o terceiro item...

Ele parou, o tom de voz vacilando enquanto lia.

— O que é agora? — perguntou Silvestre, impaciente.

Solaris levantou o olhar, hesitante.

— O terceiro item é um chifre de Dragão Negro.

A resposta fez Silvestre arquear uma sobrancelha, surpreso, antes de soltar um suspiro pesado.

— Um chifre de Dragão Negro... Minha vó tem um. Está guardado numa caixa de madeira na sala dela.

Solaris quase deixou o grimório cair no colo ao ouvir isso, o alívio evidente em sua expressão.

— Sua vó tem... um chifre de Dragão Negro? — Ele balançou a cabeça, incrédulo. — Você poderia ter mencionado isso antes!

Silvestre deu de ombros, um sorriso sarcástico surgindo em seu rosto.

— Achei que não precisaria dizer. Não é todo dia que alguém pede algo assim, sabe?

Solaris passou a mão pelo rosto, tentando se recompor.

— Tudo bem. Então temos os três itens. A flor, o sangue e o chifre. Vamos nos preparar para o ritual.

— Não se preocupe, chefe — provocou Silvestre, cruzando os braços. — Eu cuido do baú no sótão. E sobre o chifre... é só perguntar pra vovó. Mas boa sorte com isso, ela adora histórias longas.

Solaris suspirou profundamente, enquanto Nimbus, sentado no canto, riu baixo.

— Isso vai ser divertido — disse o alquimista, balançando a cabeça.

Solaris entrou na cozinha, onde o aroma de ervas frescas e pão recém-assado pairava no ar. Dona Ivone, uma senhora de cabelos grisalhos presos em um coque simples, estava de costas para ele, mexendo em uma panela que borbulhava suavemente sobre o fogão.

— Dona Ivone? — Solaris chamou, hesitante, com as mãos cruzadas atrás das costas.

Ela se virou, enxugando as mãos em um pano de prato.

— Sim, meu jovem?

— Silvestre falou que a senhora tem um chifre de Dragão Negro — respondeu ele, com o tom direto, mas educado.

Os olhos de Dona Ivone se estreitaram, como se tentasse lembrar.

— Ah, sim, eu tenho... — Ela começou a olhar ao redor da cozinha, murmurando para si mesma. — Mas onde foi que eu guardei?

Sem esperar, ela puxou uma cadeira e subiu com a agilidade surpreendente para alguém de sua idade. Solaris deu um passo à frente, alarmado.

— A senhora precisa de ajuda?

— Não, não, estou bem! — disse ela, agitando a mão para dispensar a oferta. Ela esticou o braço para alcançar o topo de um armário alto, apalpando com cuidado. Depois de alguns segundos, exclamou: — Ah, aqui está!

Ela desceu da cadeira com uma caixa de madeira em mãos. Colocou-a sobre a mesa, abriu a tampa e retirou um pano enrolado. Com movimentos cuidadosos, desenrolou o pano, revelando um chifre negro com um brilho fosco e detalhes gravados em sua superfície, como marcas antigas.

— Aqui está — disse ela, estendendo o chifre para Solaris com um sorriso orgulhoso.

Solaris pegou o objeto com cuidado, sentindo o peso do item em suas mãos.

— Muito obrigado, Dona Ivone. Isso é muito importante para o ritual.

Ela cruzou os braços, inclinando a cabeça para o lado.

— Você quer saber a história de como eu consegui esse chifre?

Solaris hesitou. Ele deu um passo para trás, coçando a nuca.

— Ah, eu tenho muita coisa para fazer agora, sabe...

Os ombros de Dona Ivone caíram, e ela desviou o olhar, o sorriso desaparecendo.

— Entendo... — murmurou ela, baixinho.

Ao perceber a reação dela, Solaris suspirou, olhando para o teto como se pedisse paciência. Ele sabia que não poderia deixá-la assim. Finalmente, endireitou-se e olhou para a senhora.

— Tá bom. Pode contar.

Os olhos de Dona Ivone brilharam enquanto ela voltava a sorrir, parecendo rejuvenescer por um momento.

— Ótimo! Senta aí, meu jovem, porque essa história é longa.

Solaris puxou uma cadeira e se acomodou, tentando se preparar mentalmente.

— Tudo começou quando eu era jovem, mais ou menos na sua idade... — começou ela, o tom de voz ganhando entusiasmo.

Enquanto ela falava, Solaris cruzou os braços, inclinou-se para frente e, aos poucos, foi se interessando pela narrativa. Mesmo que inicialmente tivesse relutado, ele não pôde evitar se envolver nas palavras da velha senhora, admirando o que ela havia enfrentado no passado.

Silvestre subiu os degraus rangentes da escada que levava ao sótão, o coração batendo com força enquanto cada passo ecoava no silêncio da casa. Ele empurrou a porta de madeira, que rangeu ao ser aberta, revelando o ambiente empoeirado e mal iluminado.

O sótão estava repleto de caixas velhas, móveis cobertos por lençóis e teias de aranha que brilhavam à luz fraca que atravessava uma pequena janela. Silvestre passou a mão pela testa, limpando um pouco do suor que escorria.

— Onde está o baú? — murmurou ele, mais para si mesmo, enquanto começava a vasculhar o ambiente.

Ele afastou algumas caixas pesadas, levantou um lençol que cobria uma estante e olhou atrás de um armário antigo. Finalmente, seus olhos encontraram um baú de madeira escura, marcado pelo tempo, em um canto esquecido do sótão. Silvestre aproximou-se lentamente, sentindo uma pressão no peito.

Ajoelhando-se diante do baú, ele hesitou. Seus dedos pairaram sobre a tampa, e sua expressão endureceu. Ele sabia o que estava ali dentro. Sabia o que aquele objeto representava.

— Vamos lá, Silvestre. — Ele respirou fundo, tentando afastar as lembranças dolorosas que ameaçavam invadi-lo.

Com um movimento decidido, ele abriu o baú. Lá estava ela: a espada de seu pai, ainda manchada com o sangue seco da fera que destruiu sua família. A lâmina parecia pesada, não apenas pelo metal, mas pelo peso das memórias que trazia.

Silvestre encarou a espada por alguns instantes, os olhos fixos na mancha escura que contava uma história de dor e perda. Ele sentiu o peito apertar, e seu rosto endureceu enquanto lembranças daquela noite fatídica inundavam sua mente: o rugido ensurdecedor, os gritos de desespero, o cheiro de sangue.

Ele fechou os olhos por um momento, respirando fundo, antes de pegar um pano velho que estava no baú.

— Não há tempo para isso agora — murmurou, quase como uma ordem para si mesmo.

Com cuidado, ele enrolou a espada no pano, envolvendo-a como se estivesse protegendo algo precioso. Em seguida, levantou-se e olhou ao redor do sótão mais uma vez, como se dissesse adeus a um pedaço de seu passado.

Ao descer as escadas, segurando a espada com firmeza, sua expressão estava séria, mas decidida. Ele sabia que esse era apenas mais um passo no caminho para salvar Lyanna.

De volta à sala, Solaris e Nimbus estavam conversando em voz baixa sobre os preparativos do ritual. Quando Silvestre entrou, ambos levantaram os olhos.

— Conseguiu? — perguntou Solaris, observando o pano enrolado em suas mãos.

Silvestre deu um breve aceno, colocando a espada sobre a mesa.

— Aqui está. A espada do meu pai ainda tem o sangue do lobisomem original.

Solaris se aproximou, cuidadosamente desdobrando o pano para revelar a lâmina. Ele examinou a espada por um momento, os olhos brilhando com interesse.

— Isso vai funcionar. O sangue ainda está aqui, e é o suficiente para o ritual.

Nimbus, que estava jogando uma runa para o alto, arqueou uma sobrancelha.

— Isso deve ter trazido algumas lembranças... Nada fácil, hein?

Silvestre cruzou os braços, olhando para Nimbus com uma expressão séria.

— Não foi fácil. Mas não importa. O que importa é salvar Lyanna.

— É... Você é mesmo um cara decidido. — Nimbus deu de ombros, antes de voltar sua atenção para as runas.

Solaris enrolou novamente a espada no pano e colocou-a de lado.

— Ótimo trabalho, Silvestre. Agora só falta reunir os outros itens e nos prepararmos para a Montanha da Penumbra.

— Quanto tempo temos? — perguntou Silvestre, sua voz firme.

Solaris olhou pela janela, onde o sol começava a descer no horizonte.

— Algumas horas antes do anoitecer. A lua cheia será perfeita para o ritual.

Silvestre assentiu, a determinação visível em seus olhos.

— Então, vamos terminar isso.

Silvestre abriu lentamente a porta do quarto, observando Lyanna sentada na cama, com um olhar distante e preocupado. Ele respirou fundo, forçando um sorriso confiante.

— Lyanna, está na hora. — Sua voz era firme, mas carregada de emoção.

Lyanna ergueu os olhos para ele, suas mãos entrelaçadas no colo. Sua expressão era um misto de nervosismo e esperança.

— Tomara que isso dê certo, Silvestre. — Sua voz saiu baixa, quase como um sussurro.

Silvestre deu um passo à frente e colocou a mão no ombro dela, apertando levemente. Seu olhar era firme e cheio de determinação.

— Vai dar certo. Eu sinto isso. Não importa o que aconteça, eu não vou desistir de você.

Lyanna sorriu levemente, mesmo que o medo ainda estivesse presente em seus olhos.

— Tudo bem... Eu confio em você, irmão.

Solaris e Nimbus aguardavam do lado de fora, o sol já começando a desaparecer no horizonte. Nimbus tamborilava os dedos no braço cruzado, impaciente.

— Aaaah, mas eles vão demorar quanto tempo? Daqui a pouco anoitece, e a lua cheia não vai esperar por ninguém! — Nimbus reclamou, revirando os olhos dramaticamente.

Solaris cruzou os braços, lançando um olhar paciente para o amigo.

— Tenha calma, Nimbus. Eles já vão sair.

Nesse momento, a porta da casa se abriu, revelando Silvestre e Lyanna. Silvestre segurava a mão da irmã, conduzindo-a para fora com cuidado.

Nimbus soltou um suspiro exagerado, jogando as mãos para o alto.

— Até que enfim! Vamos logo antes que eu morra de velhice.

Silvestre apenas o olhou com seriedade e acenou com a cabeça, indicando que estava pronto.

De repente, a voz de Dona Ivone cortou o momento.

— Esperem, eu vou junto!

Nimbus arregalou os olhos e se virou rapidamente para ela.

— Não, não, dona Ivone! Alguém precisa ficar aqui para continuar fazendo a comida mais gostosa que eu já comi no mundo!

Solaris, segurando o riso, revirou os olhos diante da reação exagerada de Nimbus.

— A sua ajuda será muito bem-vinda, dona Ivone. — Sua voz era calma e cheia de respeito.

Dona Ivone sorriu com gratidão, colocando um xale sobre os ombros.

— Muito obrigada, meninos. Não vou deixar vocês enfrentarem isso sozinhos.

Silvestre deu uma última olhada ao redor antes de falar com firmeza.

— É melhor irmos logo. A Montanha da Penumbra não vai esperar.

A lua cheia iluminava o caminho enquanto o grupo subia os terrenos rochosos da Montanha da Penumbra. O vento frio soprava, trazendo um arrepio que parecia vir de dentro. Nimbus olhava ao redor, desconfiado, antes de sussurrar para Solaris.

— Mas, sério... Por que a Dona Ivone veio com a gente? Isso aqui não é lugar para uma senhora.

Solaris, mantendo o olhar à frente, respondeu com tranquilidade.

— Ela será útil caso algo dê errado.

Nimbus estreitou os olhos, confuso.

— Útil? Como assim? Ela vai nos fazer sopa enquanto enfrentamos uma besta gigante?

Antes que Solaris pudesse responder, Silvestre parou e lançou um olhar firme para Nimbus.

— Não se engane pela aparência dela, Nimbus. Minha avó não é apenas uma excelente cozinheira.

Nimbus arqueou uma sobrancelha, intrigado.

— Ah, é? E o que ela é então?

Silvestre deu um pequeno sorriso, algo entre orgulho e admiração.

— Ela é a famosa "Bruxa das Correntes Sangrentas".

Nimbus parou no meio do caminho, piscando várias vezes enquanto assimilava a informação.

— Você tá brincando comigo.

Dona Ivone, que vinha caminhando logo atrás, ajeitou o xale e sorriu de maneira enigmática.

— Nunca subestime uma senhora com um passado, querido.

Nimbus ficou em silêncio, olhando para ela com olhos arregalados.

— Tá... Isso está ficando cada vez mais interessante.

Solaris deu uma risada curta.

— É bom saber que temos uma aliada poderosa do nosso lado, Nimbus. Agora foque no objetivo.

A luz prateada da lua cheia iluminava o grupo enquanto subiam os últimos metros da montanha. De repente, Lyanna parou, colocando a mão no peito com um gemido baixo.

— Silvestre... Eu me sinto estranha... — sussurrou ela, antes de cair de joelhos no chão.

— LYANNA! — gritou Silvestre, correndo até ela e segurando-a pelos ombros.

Lyanna ergueu os olhos, que agora brilhavam com um tom dourado ameaçador.

— Saiam daqui... — murmurou ela, a voz rouca e arrastada, como se outra entidade estivesse tentando tomar conta de suas palavras.

Dona Ivone, que vinha logo atrás, arregalou os olhos ao ver os primeiros sinais da transformação.

— Não... Agora não! — disse ela, apressando os passos com urgência.

Os ossos de Lyanna começaram a estalar, mudando de posição. Seu corpo tremia violentamente enquanto dentes afiados emergiam de sua boca. Ela arqueou as costas, e as garras começaram a crescer em suas mãos. Sua pele se rasgava em alguns pontos, dando lugar a um pelo negro e espesso.

— AAAAH! — o grito dela foi preenchido de dor e agonia.

As roupas começaram a rasgar conforme seu corpo se expandia. Suas pernas alongaram-se, transformando-se em membros poderosos. Sua respiração ficou pesada, quase animalesca, enquanto suas mãos agora pareciam mais com as patas de uma fera. Ela se ergueu devagar, ficando cada vez maior, a sombra monstruosa obscurecendo os outros.

Lyanna soltou um rugido selvagem, seus olhos dourados focando em Silvestre, que ainda estava ajoelhado no chão, atônito.

— Lyanna... — murmurou ele, mas não teve tempo de reagir.

Com um movimento rápido, Lyanna deu uma patada violenta em Silvestre, jogando-o contra uma árvore próxima. Ele caiu ao chão com um gemido de dor.

— SILVESTRE! — Solaris gritou, correndo em direção a ele.

Nimbus, por outro lado, deu um passo para trás, erguendo as mãos com um olhar apavorado.

— Eu avisei! Eu AVISEI que essa montanha seria o nosso túmulo! — ele exclamou, olhando de Lyanna para os outros, desesperado.

Lyanna rugiu novamente, um som ensurdecedor que fez os outros instintivamente recuarem.

Nimbus puxou rapidamente um frasco de sua bolsa mágica.

— Tenta segurar ela! — ele gritou, lançando o frasco na direção da fera.

Mas Lyanna era rápida demais. Antes que o frasco pudesse acertá-la, ela desviou com um salto ágil, e o líquido explodiu no chão, liberando uma fumaça espessa.

— Nimbus, você jogou ácido nela? — perguntou Solaris, surpreso e preocupado.

— Não era ácido! — Nimbus respondeu, ofegante. — Era uma poção do sono! Eu só queria fazer essa fera dormir, mas ela é rápida demais!

Lyanna avançou novamente, mas parou abruptamente, lançando um olhar furioso para o grupo antes de fugir para a floresta.

Solaris olhou para os outros, tentando controlar a respiração.

— E agora? — perguntou ele, preocupado.

Silvestre, ainda se recompondo da pancada, limpou o sangue do canto da boca e ergueu-se com dificuldade.

— Continuamos com o plano. Solaris, você e Nimbus preparem o ritual. Eu e a vó vamos atrás de Lyanna.

Nimbus piscou, incrédulo.

— O quê? Vocês vão atrás dela? Ela quase te matou, Silvestre!

Silvestre olhou para Nimbus com firmeza, os olhos cheios de determinação.

— É minha irmã. Não vou deixá-la sozinha.

Dona Ivone aproximou-se, colocando uma mão no ombro do neto.

— Vamos trazê-la de volta, Silvestre. Não importa o que aconteça.

Solaris assentiu, colocando uma mão no ombro de Silvestre.

— Nós faremos nossa parte. Apenas... tragam ela em segurança.

Silvestre deu um último olhar para o grupo antes de desaparecer com Dona Ivone na escuridão da floresta.

Continua.