Chapter 5 - O Homem de Capuz

 A cidade era a mesma, mas também completamente diferente. As construções estavam intactas, sem sinais da decadência e do vazio que eu havia visto antes. As pessoas andavam pelas ruas, ocupadas com suas tarefas diárias. Elas não pareciam presas no tempo como no presente; havia vida e movimento. "Então é assim que era antes do loop", pensei, enquanto observava.

E lá estava ele, o homem de capuz, mas agora sem a capa que ocultava seu rosto. Seu nome era Osric, um homem de aparência comum, mas com uma expressão que revelava o peso das responsabilidades que carregava.

Ele não era um vilão. Não ainda, pelo menos. Naquele momento, era apenas um homem comum, tentando ajudar sua cidade. Eu o observei enquanto conversava com outros aldeões, discutindo maneiras de resolver a crise que assolava o lugar. A cidade estava sofrendo, não por causa de uma guerra ou de um desastre natural, mas pela fome e escassez de recursos. As criaturas Ikes — corrompidas pelo poder da Ike do Raio, Água e Vento — haviam tomado os arredores, tornando a caça e a pesca impossíveis.

Osric falava com um pequeno grupo de pessoas. Sua voz era cheia de determinação, mas também de cansaço.

— Nós não podemos continuar assim — ele disse, cruzando os braços. — Estamos à mercê do reinado. Eles controlam tudo. Se não encontrarmos outra solução, seremos forçados a vender o que resta das nossas terras.

Os outros assentiram, alguns com os olhos baixos, como se já tivessem aceitado a derrota.

— E as criaturas? — perguntou uma mulher, sua voz cheia de temor. — Você sabe o que aconteceu com os caçadores que foram para a floresta. Não podemos arriscar mais vidas.

Osric suspirou, esfregando o rosto com as mãos.

— Sei disso... mas também sei que o reinado está oferecendo recompensas para quem encontrar as Ikes. Se conseguirmos uma, podemos ter recursos o suficiente para manter a cidade de pé por mais um ano, talvez mais.

A ideia de caçar uma Ike parecia insana para os outros, mas era clara a desesperança que assolava o grupo. Eles estavam dispostos a tentar qualquer coisa.

E foi aí que Osric tomou sua decisão. Ele partiria sozinho em busca de uma Ike. Não para poder ou glória, mas pela sobrevivência de sua cidade. Eu o vi se despedindo de sua esposa e filhos, prometendo que voltaria em breve.

"Ele realmente acreditava que estava fazendo o que era certo", pensei. Mas o que aconteceu depois mostraria o contrário.

Osric caminhou por dias na floresta, enfrentando perigos que nem mesmo os caçadores mais experientes ousariam enfrentar. As criaturas Ike estavam por toda parte. Eu o vi enfrentando uma criatura imensa, com pele que parecia feita de nuvens negras e eletricidade pulsando ao redor dela — uma manifestação corrompida da Ike do Raio. Havia também uma criatura aquática, uma espécie de serpente colossal, cujas escamas brilhavam como o oceano em um dia ensolarado, possuída pela Ike da Água. Esses seres eram aterrorizantes, corrompidos pela energia das Ikes que carregavam.

Mas Osric não encontrou nenhuma Ike nessas criaturas.

Foi somente após dias de busca que ele se deparou com algo que não deveria ter encontrado. Enterrado entre as raízes de uma árvore colossal, ele encontrou um fragmento da Ike do Tempo. Era pequeno, quase imperceptível, mas poderoso o suficiente para mudar tudo.

Quando Osric tocou o fragmento, eu senti a mudança no ar. O poder quis entrar em seu corpo, mas algo deu errado. Eu via sua expressão, o pavor nos olhos enquanto ele lutava para controlar a energia que fluía para ele. Mas o poder da Ike do Tempo não o aceitou. Ele não era digno. O que deveria ser uma fonte de salvação rapidamente se transformou em sua ruína.

O fragmento se quebrou em cinco partes, e a cidade foi arrastada para o loop temporal que a manteria presa para sempre. Osric, corrompido pelo poder que não podia controlar, tornou-se o guardião inconsciente de uma prisão que ele mesmo criara.

E agora, eu estava aqui, testemunhando tudo isso. Eu tinha uma nova missão: encontrar os outros fragmentos, quebrar o ciclo e, de alguma forma, libertar Osric do seu próprio erro.

"Essa é minha jornada agora", pensei, enquanto a ampulheta começava a me puxar de volta ao presente.

O Guardião Corrompido

Quando fui trazido de volta ao presente, o ar ao meu redor parecia mais pesado. O brilho da ampulheta dourada diminuiu, e me senti como se tivesse corrido uma maratona. As memórias do passado ainda estavam frescas em minha mente, as imagens de Osric lutando contra as criaturas e, eventualmente, se tornando o vilão, gravadas como cicatrizes. Tentei processar tudo, mas o que mais me perturbava era o fato de que ele, de alguma forma, ainda estava ali, preso naquela cidade, consciente ou não do que havia feito.

"Ele não é completamente mau... só estava tentando salvar seu povo", pensei, tentando aliviar o peso de minha consciência. Mas, no fundo, eu sabia que o poder o havia corrompido de uma maneira que talvez não tivesse volta.

A cidade ao meu redor parecia continuar no loop, as pessoas repetindo suas ações incansavelmente. Eu sabia que, agora, a verdadeira luta estava por vir. Para libertar esse lugar e quebrar o ciclo temporal, teria que enfrentar Osric e, de algum modo, recuperar o fragmento da Ike que ainda estava com ele.

Mas como fazer isso? Ele já estava corrompido, incapaz de controlar o poder, e não sabia até onde essa corrupção o levara.

"Você tem que fazer isso, Ezekiel," murmurei para mim mesmo, enquanto sentia o peso da missão.

O Confronto Imediato

Sabendo o que havia acontecido com Osric e o poder corrompido, agora eu tinha uma direção clara. A questão era: como eu enfrentaria alguém que estava, há tanto tempo, sob a influência de um poder tão perigoso?

Com a ampulheta dourada em minhas mãos, sabia que teria de ir até o lugar onde Osric estava escondido. Já podia sentir o poder dele reverberando por toda a cidade, uma energia sombria que se espalhava pelas ruas, alimentando o loop e mantendo os moradores presos nesse inferno sem fim.

Segui os rastros de energia que a ampulheta parecia captar, guiando-me pelos becos e vielas da cidade. Quanto mais me aproximava, mais forte sentia o peso do fragmento que Osric ainda mantinha consigo.

E então o vi. A figura encapuzada que antes aparecera à distância estava parada diante de mim, como se soubesse que eu estava chegando.

— Finalmente — disse ele, sem se virar. Sua voz era baixa, mas carregava um tom amargo.

Aproximei-me, cauteloso, com os sentidos atentos a qualquer movimento.

— Você sabia que eu viria — falei, tentando manter a calma, mesmo sabendo que estava frente a frente com o responsável por todo esse caos.

Osric virou-se lentamente, revelando o capuz que cobria seu rosto parcialmente, mas agora eu podia ver seus olhos. Eles brilhavam com uma intensidade fria, quase sem vida. O fragmento da Ike, aquele que corrompera sua alma, estava incrustado em seu peito, emitindo um brilho fraco e sombrio.

— Não há escapatória para este lugar — ele murmurou. — E você... você é apenas mais uma peça nesse jogo cruel.

— Eu não sou uma peça. Eu sou o portador de algo maior, e eu vou parar isso — retruquei, segurando firme a ampulheta.

Osric deu um passo à frente, e eu senti o ar ao meu redor ficar mais denso, como se o próprio tempo estivesse distorcido ao seu redor.

— Eu não pedi por isso, você sabe — ele continuou, a voz vacilando. — Eu só queria salvar meu povo. Mas, no fim, a única coisa que consegui foi condená-los a uma existência sem fim.

— Ainda há tempo de consertar isso — insisti, tentando alcançar qualquer traço de humanidade que pudesse restar nele.

Mas Osric apenas sorriu, um sorriso triste e desolado.

— O tempo... — ele disse, sua voz quase um sussurro. — O tempo não pertence a nós. E, agora, nem você pode controlá-lo.

Antes que eu pudesse reagir, ele estendeu a mão, e o fragmento de Ike que estava em seu peito começou a brilhar intensamente. O chão ao meu redor tremeu, e, de repente, as paredes da cidade começaram a se mover, distorcendo-se, como se estivéssemos sendo engolidos por um vórtice temporal.

Eu sabia que a batalha estava prestes a começar, mas também sabia que ainda não estava pronto para enfrentar Osric diretamente. Havia algo mais que eu precisava entender, algo que ainda estava escondido nas sombras do passado.

"Esse é só o começo", pensei, enquanto o cenário ao meu redor continuava a mudar, e a luta pelo controle do tempo começava a se intensificar.