Atravessar a fronteira da cidade foi como emergir de um sonho sombrio e pesado. O ar na floresta era diferente, carregado de um frescor que quase me parecia estranho após tanto tempo imerso naquele ciclo sem fim. Mas a leveza do ambiente não refletia o que eu sentia por dentro. Cada passo que eu dava parecia mais pesado que o anterior.
A escuridão entre as árvores me envolvia, e os sons abafados da natureza pareciam sussurrar memórias esquecidas. A floresta estava viva de um jeito que eu nunca tinha sentido antes. E, em algum lugar, nas profundezas dessa vastidão, estavam os outros quatro fragmentos da Ike do tempo. Eu sabia disso, sentia isso. Era como se uma parte de mim estivesse sendo atraída, uma conexão inquebrável entre mim e aquelas peças espalhadas pelo tempo e pelo espaço.
Por um breve momento, olhei para minha mão, onde o símbolo da ampulheta brilhava fraco. Esse poder, essa marca... eu ainda não entendia completamente, mas uma coisa era certa: o fragmento que adquiri de Osric agora fazia parte de mim. E com isso, veio uma nova sensibilidade. Era como se eu pudesse "ouvir" o chamado dos outros fragmentos. Eles estavam aqui, eu os sentia, cada um pulsando em algum lugar entre as árvores, como batimentos cardíacos distantes, mas constantes.
Mas ao invés de alívio, tudo o que senti foi frustração. "O que adianta encontrá-los se não consigo usá-los adequadamente?" O peso das falhas anteriores me esmagava. Eu estava mais perto de completar minha missão, mas essa proximidade só ressaltava o quanto ainda faltava aprender. Como posso reunir todos esses fragmentos se mal entendo o poder que já possuo?
As sombras da floresta pareciam se mover com o vento, criando figuras distorcidas que quase pareciam observar meus passos. "Talvez eu não seja digno", pensei, lembrando de Osric e do quanto sua mente havia sido destruída por sua tentativa fracassada de controlar um poder que não lhe pertencia. E se eu acabasse da mesma forma? Corrompido? Perdido?
Sacudi a cabeça, afastando o pensamento. Eu não podia me permitir duvidar agora. Eu precisava continuar, precisava entender o que estava à minha frente. Fechei os olhos por um momento e deixei que o fluxo natural da Ike me guiasse. Os outros fragmentos estavam próximos. A sensação era quase palpável, como se o tempo tivesse criado cicatrizes invisíveis na floresta, e cada uma delas me chamava.
Abrindo os olhos, murmurei para mim mesmo: "Não posso falhar... Não de novo."
O vento sussurrava entre as folhas, trazendo um frio incômodo à medida que o sol começava a desaparecer por trás das montanhas distantes. O crepúsculo se aproximava, e com ele, a escuridão profunda da floresta. A sensação dos fragmentos ficava cada vez mais intensa, como uma música dissonante ecoando nos confins da minha mente. Estavam perto, mas escondidos.
Eu precisava encontrá-los. E com eles, descobrir como desfazer o que foi corrompido no tempo.
No entanto, algo me dizia que a floresta guardava mais segredos do que eu imaginava. Não seria uma busca fácil. Cada passo adiante me aproximava do desconhecido, e a floresta parecia sussurrar segredos antigos, histórias enterradas pelo tempo.
Ainda assim, continuei caminhando, em direção ao coração da floresta, sentindo que algo maior do que eu estava prestes a acontecer.