O gigantesco labirinto, um enigma mutante que parecia desafiar o tempo e a lógica, finalmente revelara seu fim. Mayla, uma jovem mulher de olhar determinado, estava diante de uma imponente porta de metal, que cedeu com um simples toque seu. O som agudo do metal rangendo ecoou pela caverna escura, quebrando o silêncio opressivo do lugar. Quando a porta finalmente se abriu, revelou uma escuridão que mais parecia uma vasta sala esperando para ser descoberta.
Subitamente, várias tochas acenderam-se como por mágica, banhando o local em uma luz oscilante e revelando a magnitude do espaço. Era uma sala monumental, tão grande que poderia facilmente acomodar mais de quinhentas pessoas. No centro, algo captou sua atenção, uma visão inesperada que fez seu coração acelerar de curiosidade e apreensão. Com passos cautelosos, ela se aproximou para confirmar o que seus olhos testemunhavam. Quanto mais se aproximava, mais claro ficava que sua mente não a estava pregando peças.
No centro da vasta sala, uma figura humana estava acorrentada ao teto e ao chão, completamente imobilizada. O corpo esguio do prisioneiro estava coberto por papéis adornados com símbolos estranhos, e um capuz obscurecia sua cabeça, escondendo suas feições. Aqueles mesmos símbolos estranhos estavam espalhados por todas as paredes e pelo chão da sala, como se formassem uma espécie de ritual místico, sugerindo que não eram meramente decorativos.
"Olá?" Mayla chamou, sua voz ecoando pelas paredes frias da caverna. "Você pode me ouvir?" O silêncio pesado foi a única resposta que recebeu, criando uma atmosfera ainda mais opressiva. Uma sensação de fraqueza começou a dominá-la, como se a própria sala drenasse sua energia vital. Apesar da dor de cabeça crescente, ela se aproximou, determinada a verificar o estado daquela figura enigmática. Com mãos trêmulas, Mayla começou a remover os papéis com símbolos que cobriam o rosto da pessoa e, em seguida, retirou o capuz que encobria sua cabeça.
"*****" A voz fraca do prisioneiro sussurrou palavras em uma língua desconhecida. Mayla franziu o cenho, tentando decifrar o que ele dizia.
"Não entendo..." murmurou frustrada, mas logo depois, para sua surpresa, ouviu palavras claras. "***** aqui..."
"Como você chegou aqui?" ela perguntou, a curiosidade e a confusão em sua voz. A situação era surreal, e ela mal podia acreditar que havia encontrado alguém naquele local desolado.
"Você não deveria estar aqui..." respondeu ele, a voz agora marcada por uma preocupação evidente enquanto piscava repetidamente, tentando recuperar a visão.
Com delicadeza, Mayla removeu o pano que cobria seus olhos. O que viu a deixou sem palavras por um momento. O jovem diante dela tinha uma beleza etérea: sua pele era pálida, os longos cabelos brancos caíam em cascata sobre os ombros, e seus olhos vermelhos brilhavam com uma intensidade quase sobrenatural. O olhar que ele lançou a ela era profundo, quase como se pudesse ver através de sua alma.
"Lindo," Mayla disse sem pensar, tentando aliviar a tensão com um sorriso. Para sua surpresa, ele retribuiu o sorriso, ainda que de forma tímida. "Então você sabe sorrir," ela provocou, achando graça em seu próprio comentário.
"Você é do tipo que gosta de brincar?" ele perguntou, um brilho curioso em seus olhos. "Eu conheço alguém que seria um ótimo amigo para você." Mas, em um instante, seu sorriso desapareceu, substituído por uma expressão de profunda compreensão e, talvez, resignação.
"Por que você está aqui?" Mayla insistiu, desejando entender mais sobre aquela situação bizarra.
Uma sombra passou pelo rosto do jovem enquanto ele murmurava, "Você acreditaria se eu dissesse que feri um deus?"
Mayla ficou surpresa, mas a sinceridade em sua voz era inegável. Havia algo de genuíno naquela confissão que a fazia acreditar nele, mesmo que fosse difícil de entender. Ela inclinou a cabeça, intrigada. "Como assim? Isso é sério? Espere um pouco! Deuses realmente existem?"
"Sim," ele respondeu, os olhos ardendo com uma verdade oculta. "Mas não estamos falando do mesmo deus. O deus que me aprisionou aqui é diferente do que você conhece..."
Machucar um deus... Mayla ponderou. Seria isso um crime tão grave a ponto de justificar essa prisão cruel? Quem quer que fosse esse deus, parecia mais um tirano do que uma divindade benevolente. Ela olhou para o jovem diante dela, avaliando suas palavras e sua aparência. Ele parecia apenas um belo e frágil jovem, incapaz de fazer mal a alguém sem motivo. Talvez sua percepção estivesse errada, mas algo em sua intuição lhe dizia que ele era inocente.
Determinada, Mayla aproximou-se das correntes que prendiam seus braços, agarrando-as com força. Elas não se moveram. Por mais que tentasse, era como se tentasse mover uma montanha.
"O que você está fazendo?" A voz do jovem soou surpresa, mas Mayla não tinha intenção de parar. Sentia uma compulsão de libertá-lo, como se essa fosse a única coisa certa a fazer.
"A resposta é simples, não é?" ela disse, respirando fundo. "Estou libertando você."
Os olhos vermelhos dele brilharam com uma mistura de esperança e desconfiança. "Não! Não faça isso. Você só sofrerá..." ele advertiu, a tristeza pesando em sua voz.
Mayla compreendia a relutância dele. Era evidente que ele não queria que ela se machucasse por causa dele. "Você feriu um deus? Então, você pode me proteger," ela declarou, com uma confiança que não sabia se sentia de verdade. Como a única pessoa adulta presente, Mayla precisava mostrar coragem, mesmo que fosse apenas uma fachada.
Ela tentou novamente remover as correntes, mas sem sucesso. Eram finas, porém seu peso era desproporcional, como se fossem feitas de algum material além da compreensão comum. "Por que essas correntes são tão fortes?" murmurou, mais para si mesma do que para ele, enquanto continuava a luta para libertá-lo.
"Precisamos quebrar o selo." Nesse momento, Mayla finalmente compreendeu. Ao remover a capa de sua cabeça, viu que ele estava coberto por inúmeros símbolos. Parecia não fazer sentido. Como alguns papéis poderiam tornar aquelas correntes tão pesadas? Mayla sabia que não era a pessoa mais inteligente, mas conseguia entender algumas coisas. Nada do que tinha visto até agora fazia sentido, então decidiu seguir suas instruções. Ao remover os papéis com símbolos das correntes, elas caíram como por mágica.
Neste ponto, Mayla já não se surpreendia facilmente. Aceitou que o mundo não funcionava como ela pensava. "Isso daria uma ótima piada. Lembre-se de pegar o contato do criador disso, vai ser útil..." Suas palavras saíram como um murmúrio, mas o garoto apenas se levantou.
Ele começou a esfregar os pulsos. Havia marcas deixadas pelas correntes, indicando que ele esteve ali por muito tempo. Ele parecia ter dificuldade em se manter de pé com aquele corpo frágil. Observando mais de perto, Mayla percebeu que sua pele estava pálida pela falta de luz solar. Ele parecia não estar se alimentando corretamente. Era evidente que seu corpo estava extremamente debilitado.
"Obrigado..." Suas poucas palavras carregavam tristeza, alegria, confusão e dúvida. Havia muitos sentimentos inexplicáveis, mas Mayla sabia o que eram.
Aproximou-se dele e o abraçou. Talvez estivesse agindo mais como uma mãe do que como uma mulher, cuidando de uma criança vulnerável. "Está tudo bem agora. Não precisa mais se preocupar." Sentia sua respiração tentando esconder as emoções, mas ele não conseguia ocultar tudo.
Mayla não tinha o direito de dizer aquelas palavras, mas estava ali. É papel dos adultos confortar as crianças. Ela não sabia quais conflitos ele enfrentou ou o que testemunhou, mas sabia que agora ele precisava de alguém. "Vamos, vou levá-lo para minha casa. Podemos conversar em um lugar confortável." Ela não sabia como sair daquele lugar, mas tinha confiança em suas palavras. Isso poderia ser visto como excesso de confiança.
"Ah, é mesmo, eu ainda não sei seu nome."
Ele se afastou. Após acariciar seu rosto, Mayla sentiu o olhar dele sobre ela. Sua presença não parecia mais tão cansada como antes. "Nome... Sim, meu nome... Meu nome é―"
Suas palavras foram interrompidas por um estrondo distante. Ambos se viraram para o som que ecoava pelas paredes da caverna. Os sentidos de Mayla se aguçaram ao máximo. De repente, o chão sob seus pés começou a tremer, como se a própria caverna estivesse viva e instável.
"Precisamos sair daqui, agora!" sua voz carregava um senso de urgência enquanto ele se levantava com um novo esforço.
Mayla concordou com um aceno de cabeça, o coração batendo rápido no peito. Ela olhou ao redor, procurando uma saída. As sombras das estalagmites criavam um labirinto desconcertante. Aquele tremor parecia presságio de algo muito pior, e a urgência na voz do garoto a fez sentir que não havia tempo a perder.
"Azrael!!"
Azrael abriu os olhos devagar, piscando para afastar o sono. Ele olhou para o teto por um momento, tentando entender se a voz que ouvia era real ou apenas um resquício de seus sonhos. Ao seguir a direção do som, seus olhos encontraram uma criança de cerca de seis anos ao seu lado.
Seu cabelo curto e preto contrastava com a pele clara, enquanto os grandes olhos violetas refletiam uma curiosidade infantil misturada com algo enigmático. Ela vestia um elegante vestido preto, adornado com rendas e pequenas rosas vermelhas, conferindo-lhe um ar gótico e misterioso. Suas mãos delicadas estavam cobertas por luvas de renda, e ela calçava meias arrastão com sapatos pretos de fivelas.
"Az!!" Ela chamou novamente, impaciente.
"Sim, sim. Já estou acordado." Azrael murmurou, tentando se levantar, mas a menina se jogou contra seu peito, empurrando-o de volta para o chão.
"Ela chegou," anunciou a pequena, sua voz suave soando reconfortante aos ouvidos de Azrael.
Essas palavras trouxeram de volta à mente de Azrael o problema que precisava resolver naquele dia. Ele deveria acolher a irmã de um amigo e ser responsável por seu treinamento durante um ano. Essa responsabilidade pesava sobre ele, mas Azrael não tinha intenção de ir buscá-la. A decisão havia sido tomada sem o seu consentimento, e ele planejava rejeitar qualquer tentativa de se aproximar da garota no futuro. Contudo, dadas as circunstâncias, não tinha como recusar o que já havia sido acordado.
"Noir, Alice sabe sobre mim?" perguntou Azrael, buscando confirmar uma suspeita.
Noir balançou a cabeça lentamente. Pelo que Azrael sabia, Alice havia chegado recentemente, e ele não tinha informado sua localização. Talvez pudesse desfrutar de um pouco de paz antes que ela descobrisse onde ele estava.
"Você não vai buscá-la?" A voz de Noir carregava uma preocupação sincera.
"Não pretendo fazer isso," respondeu Azrael sem hesitação.
Noir olhou para ele, um brilho de tristeza nos olhos violetas. "Eu queria saber sobre sua situação atual..."
Azrael passou a mão pelos cabelos de Noir, em um gesto carinhoso. "Não se preocupe, teremos um ano para descobrir isso."
"Se depender de você, isso não vai acontecer, vai?" Noir comentou, um sorriso amargo surgindo em seus lábios. Ela já conhecia bem Azrael e sabia qual seria sua resposta.
"Exatamente, mas eu não tenho voz nessa decisão. Tudo foi decidido sem meu consentimento," ele replicou, sua voz carregando uma nota de resignação.
Azrael olhou ao redor. Estavam no jardim de inverno, na parte de trás da mansão. Diversas flores floresciam ali, cada uma escolhida por uma pessoa especial para ele. Cada flor carregava um significado indescritível, talvez fosse por isso que Azrael se sentia em paz naquele lugar. Deitado à sombra das árvores, envolto pelo aroma das rosas, era difícil imaginar uma situação melhor.
"Az, estou com fome," Noir reclamou, quebrando o silêncio.
"Surpreendente como o assunto mudou de repente," Azrael comentou, observando Noir se levantar e caminhar em direção à saída do jardim de inverno.
"Não exagere," disse ela, enquanto se afastava.
"Entendido!" Azrael respondeu com um leve sorriso.
Enquanto Noir se afastava, Azrael voltou aos seus pensamentos. Talvez devesse descansar um pouco mais. Seus olhos começaram a se fechar lentamente, o sono voltando a tomar conta dele. Precisava dormir um pouco antes que Alice o encontrasse. Sabia que não demoraria muito... Zenith a contataria em breve.
O que o futuro reservava para ele? A pergunta pairava em sua mente, enquanto ele se deixava levar pelo sono novamente. No entanto, sua tranquilidade durou pouco. Noir retornou, e dessa vez não estava sozinha. Ao seu lado, estava uma figura que Azrael não via há anos, mas que jamais poderia esquecer. Os olhos dele encontraram os dela, e por um breve instante, Azrael foi transportado de volta para um passado distante...