A viagem para a cidade havia sido exaustiva, mas finalmente Eriel chegara ao seu destino em segurança. Ela não conseguia deixar de pensar no irmão, cuja insistência tinha sido o fator decisivo para que ela aceitasse aquela oportunidade. Ele era uma pessoa que nunca desistia de algo uma vez que tomava uma decisão. Isso a fazia querer entender melhor o que a esperava.
O objetivo era claro: treinar por um ano com o melhor membro da facção humana. Contudo, algo nesse arranjo a deixava intrigada. Em seus dezessete anos de vida, Eriel nunca tinha ouvido falar desse amigo da família. Se esse homem era tão importante, por que o irmão nunca havia mencionado seu nome? Esse mistério a deixava inquieta, misturando curiosidade com uma leve desconfiança. Poderia realmente confiar nesse desconhecido?
No entanto, Eriel tinha uma fé inabalável no irmão. Ele era sua rocha, sua base. Se não pudesse confiar nele, em quem mais poderia confiar? E, portanto, ela embarcou nessa jornada, na esperança de que esse amigo misterioso pudesse ajudá-la a despertar a habilidade que começava a se manifestar dentro dela.
Quando o avião pousou, Eriel sentiu uma mistura de excitação e nervosismo tomar conta dela. Era como dar um salto para o desconhecido, mas sabendo que algo a esperava do outro lado. Rapidamente, pegou sua bagagem e se dirigiu ao local combinado, onde a pessoa que a conduziria ao seu novo lar a aguardava.
Ele era um homem alto, vestido de forma elegante, com um semblante sério que não deixava transparecer nenhuma emoção. Seus olhos eram atentos, analisando cada movimento de Eriel como se buscasse avaliar sua determinação. Após se apresentar, ele, sem muitas palavras, a conduziu a um carro luxuoso, que a levaria até o local onde passaria os próximos doze meses.
Durante o trajeto, Eriel não conseguia conter a mente inquieta. As perguntas dançavam em sua cabeça, incessantes: "Quem será esse amigo da família? Por que meu irmão nunca mencionou seu nome antes?" Por mais que tentasse, não conseguia entender. Ainda assim, Eriel acreditava que as respostas não tardariam a chegar.
Enquanto o carro se aproximava da residência onde ela treinaria, a tensão em seu corpo aumentava. Ela sabia que em breve encontraria alguém com conhecimentos e habilidades muito além do comum. Isso a deixava ansiosa, mas ao mesmo tempo determinada a provar seu valor.
Observando a paisagem que passava pela janela, Eriel se perdeu em pensamentos. Vinda de uma casa isolada perto de uma floresta, o contraste com a cidade era impressionante. Os arranha-céus e o som constante do trânsito lhe traziam uma estranha sensação de excitação. Era um mundo novo, repleto de possibilidades, e Eriel estava pronta para explorá-lo.
Com o coração acelerado, ela se preparava para conhecer o homem misterioso que moldaria o próximo ano de sua vida.
Quando o carro parou diante de um grande portão, algo chamou a atenção de Eriel. As paredes ao redor tinham mais de 10 metros de altura, bloqueando completamente a visão do interior. Era claramente um local privado, de acesso restrito e altamente protegido. Após verificar a identidade de Eriel, o responsável pelo portão permitiu sua entrada.
O carro seguiu por um caminho sinuoso, cercado por uma paisagem exuberante. Árvores majestosas ladeavam a estrada, despertando a curiosidade de Eriel sobre a área de treinamento. Finalmente, chegaram a uma imponente mansão de quatro andares ou mais. A grandiosidade da arquitetura e a beleza natural ao redor criavam uma atmosfera encantadora. O lugar exalava respeito e mistério.
Ao entrar na casa, um dos empregados da mansão a recebeu e a conduziu pelo interior. Caminhando pelo hall principal, Eriel viu muitos empregados alinhados de forma ordenada. Cerca de 20 pessoas uniformizadas estavam presentes, algumas lançando olhares curiosos em sua direção, enquanto outras pareciam indiferentes à sua presença.
Quando Eriel se aproximou da escada que levava ao segundo andar, percebeu três figuras importantes aguardando sua chegada. A primeira a cumprimentá-la foi uma garota de aparência nobre, com longos cabelos negros e impressionantes olhos verdes. Ela usava um uniforme diferente dos outros empregados, com detalhes dourados que exalavam autoridade e respeito. Um pequeno pingente em seu peito chamou a atenção de Eriel. Nele, havia um design enigmático de runas e um dragão guardião.
Aquela insígnia despertou em Eriel uma sensação familiar. Parecia algo que ela já havia visto antes, mas não conseguia lembrar exatamente onde. O símbolo parecia carregar um significado oculto, esperando para ser desvendado.
"Bem-vinda! Sou Beherit, a criada pessoal do jovem mestre Azrael," disse a garota com um sorriso caloroso.
Ao lado de Beherit, uma segunda garota sorriu ao ouvir a apresentação. Seus olhos brilhavam com gentileza e acessibilidade, e sua presença emanava uma sensação natural de conforto. Era evidente que sua personalidade era calorosa e amigável, fazendo com que Eriel se sentisse à vontade perto dela.
Essa segunda garota tinha longos cabelos vermelhos que lembravam o crepúsculo, aparentando ter pouco mais de quinze anos. Diferente de Beherit, ela vestia um simples vestido vermelho, adornado com bordados delicados de flores na cintura.
"Beherit, você deveria deixar a jovem senhorita Alice se apresentar primeiro," repreendeu um mordomo de olhar afiado, interrompendo Beherit.
"Eu...," Beherit começou a dizer, mas a garota de cabelos vermelhos a interrompeu.
"Está tudo bem, Malphas," disse Alice suavemente, enquanto lançava um sorriso caloroso para Eriel, levantando levemente a barra do vestido em uma reverência. "Sou Alice, a segunda filha desta casa. Estarei cuidando de você daqui em diante, Eriel." Alice fez uma pausa, suspirando com uma leve tristeza em sua voz. "Desculpe-me. Meu irmão não está aqui agora. Ele queria recebê-la, mas surgiu um assunto urgente."
"Está tudo bem," respondeu Eriel, compreendendo que imprevistos acontecem. Embora estivesse curiosa para conhecer seu novo professor, não sentia urgência. Havia bastante tempo para isso.
"Então, que tal um tour pela mansão? Acho que você vai gostar," sugeriu Alice com entusiasmo, quebrando o silêncio. Parecia que ela gostava de proporcionar boas experiências aos visitantes.
Normalmente, Eriel preferia ficar quieta em seu quarto, mas a oportunidade de explorar aquele lugar despertou seu interesse. O ambiente ao seu redor estava repleto de segredos esperando para serem descobertos, e sua curiosidade estava em alta.
"Estou ansiosa," respondeu com um sorriso sincero. Arrumar suas malas seria a atividade mais interessante do dia até então, mas conhecer a mansão parecia muito mais atraente.
"Ótimo! Beherit, pode preparar chá e alguns petiscos no jardim depois?" pediu Alice à empregada ao seu lado.
"Com certeza!" respondeu Beherit prontamente.
Alice conduziu Eriel para o segundo andar e avançaram por um corredor repleto de portas, cada uma com um nome escrito. No final do corredor, do lado direito, havia uma porta com o nome de Eriel. Quando Alice abriu a porta, revelou um quarto surpreendente.
O espaço parecia ser três vezes maior do que o quarto da casa anterior de Eriel. A cama era ampla e tudo estava perfeitamente arrumado. Eriel havia imaginado que talvez fosse necessário fazer alguns ajustes após a chegada, mas tudo parecia estar preparado de acordo com suas preferências.
"Seu irmão veio à mansão e explicou como deveria ser seu quarto… Gostou?" perguntou Alice, com os olhos brilhando de satisfação.
"Sim, está perfeito," respondeu Eriel com sinceridade e gratidão. O ambiente simples e minimalista a acalmou. Havia uma televisão ao lado da janela, o que significava que ela poderia ficar no quarto por um tempo. Havia também um computador para estudo, tornando o espaço ideal e tranquilo como um refúgio.
"Que bom que gostou. Na verdade, foi fácil porque meu irmão pediu para deixar o quarto o mais minimalista possível," revelou Alice, mencionando a colaboração de seu irmão.
Eriel sentia-se ainda mais grata. Se o quarto estivesse cheio de objetos, provavelmente teria se sentido um pouco desconfortável. Pensaria em agradecer ao seu irmão mais tarde.
"Bem… você pode explorar o quarto mais tarde. Vamos para o próximo andar?" sugeriu Alice, indicando que ainda havia mais para mostrar.
"Claro," concordou Eriel imediatamente.
Após mostrar a área dos quartos, subiram para o terceiro andar. Lá, encontraram uma biblioteca impressionante. Era muito maior do que a biblioteca da cidade anterior de Eriel. Nunca imaginou que existisse uma biblioteca pessoal tão ampla.
"Aqui é a área que meu irmão criou para estudo. Ele adora ler sobre história e está sempre em busca de aprender coisas novas, por isso acumulou tantos livros," explicou Alice com orgulho.
"Não pensei que houvesse tantos livros…" disse Eriel, encantada com o vasto acervo de conhecimento.
Alice não conseguiu esconder o sorriso ao ouvir as palavras de Eriel.
"Sinta-se à vontade para usar a biblioteca sempre que quiser. Você pode ir a qualquer lugar na mansão… apenas tenha cuidado com alguns livros que estão em outros idiomas," alertou ela.
"Entendi…" respondeu Eriel, animada com a perspectiva de explorar esse tesouro literário. O terceiro andar estava completamente ocupado pela biblioteca. Ela se perguntava quantos livros havia ali.
"Então, vamos para o próximo lugar?" perguntou Alice, indicando que ainda havia mais para explorar.
Ao subir para o próximo andar, encontraram uma área de recreação repleta de jogos e brinquedos variados. Havia uma sala de cinema e um playground para crianças, tornando o espaço realmente divertido. Alice explicou que havia também um bar e mencionou que seu irmão costumava brincar ali quando era criança.
Após explorar o quarto andar, Alice levou Eriel para a área do telhado. Havia algumas cadeiras e mesas, um espaço destinado para descanso e banho de sol.
Voltaram para o hall principal e seguiram para a cozinha, onde Eriel foi apresentada a vários mordomos e empregados. Alice guiou-a por todas as áreas da mansão para que ela se acostumasse com o ambiente. Depois, foram para o jardim nos fundos da mansão, que tinha flores e árvores coloridas.
Alice decidiu ficar perto da piscina. Foram para uma área sombreada com algumas cadeiras e mesas, que era um local muito agradável. Sentaram a convite de Alice, e, com a brisa fresca, o ambiente estava ainda mais confortável. Com o doce aroma das flores, Eriel pensou que aquele lugar se tornaria um dos seus favoritos na mansão.
Beherit trouxe alguns doces e chá, e Eriel continuou conversando com Alice. Ela parecia empolgada com a ideia de que seu irmão estaria treinando alguém. Alice contou que, inicialmente, seu irmão não estava interessado em ser um tutor, mas acabou fazendo uma exceção ao pedido de Ethan.
Enquanto desfrutavam do chá, uma menina da mesma idade que Eriel se aproximou. Ela tinha cabelos loiros e olhos negros marcantes, e seu olhar intenso fazia com que seu rosto fosse inesquecível. Ela tinha uma postura nobre e esperava com dignidade, sem se aproximar demais, até que Alice fosse até ela.
"Finalmente chegou…" murmurou Alice, levantando-se. Então, dirigindo-se a Eriel, disse: "Tenho um pequeno compromisso. Você pode esperar um pouco?"
"Claro, não se preocupe. Não tenho planos de sair imediatamente…" respondeu Eriel educadamente.
Enquanto Alice se afastava, Eriel voltou a contemplar a beleza do jardim. A serenidade e satisfação que sentia ali a envolviam. O chá estava delicioso e os doces também. Estava certa de que passaria mais momentos agradáveis nesse lugar.
Após alguns minutos, Alice ainda não havia retornado. A brisa suave acariciava o rosto de Eriel, e ela estava aproveitando aquele ambiente tranquilo.
Ao refletir sobre tudo o que tinha visto até agora, percebeu que a mansão era mais do que apenas um lugar para viver. O terceiro andar estava repleto de jogos e diversão. A área da piscina era perfeita para relaxar e desfrutar das flores ao redor. E a biblioteca era um lugar acolhedor e agradável.
Enquanto observava o jardim, notou uma variedade de flores. Havia rosas, orquídeas, tulipas, hortênsias e outras que ela não conhecia. A curiosidade e o desejo de aprender mais sobre essas flores cresceram dentro dela.
Era evidente que alguém estava cuidando dessas flores com grande dedicação. Elas floresciam magnificamente, refletindo o esforço e o conhecimento necessários para mantê-las saudáveis e bonitas.
Enquanto estava imersa nesses pensamentos, uma sombra cruzou sua visão. Ao olhar para trás, viu uma pequena menina de pé.
Ela tinha cabelo preto curto com as pontas ligeiramente encaracoladas. Seus grandes olhos roxos eram impressionantes, e seu olhar expressivo e cativante tornava seu rosto inesquecível. Ela usava um vestido gótico elegante, preto com detalhes vermelhos e bordados de rosas na saia. As mangas eram fofas e o colarinho preto era marcante. Ela também usava meia-calça e sapatos pretos resistentes, além de luvas de renda preta.
Ela carregava muitos pacotes e sacolas de doces. No entanto, estava tendo dificuldades para segurar tudo e acabou deixando cair um dos doces. Tentava pegar o doce que havia caído com cuidado para não deixar cair os outros.
Eriel se aproximou da menina e pegou o doce que havia caído.
"Posso ajudar?" perguntou gentilmente, oferecendo o doce de volta.
"Eh?" A menina, surpresa, parecia não ter notado a presença de Eriel. Seus olhos roxos a encaravam e sua expressão confusa acentuava sua personalidade. Eriel se segurou para não sorrir.
"…Você pode me ajudar?" A voz suave e tranquila dela era como uma melodia feita para acalmar quem a ouvisse.
"Claro!" respondeu Eriel com um sorriso amigável. Pegou alguns dos doces dos braços da menina para aliviar o peso que ela carregava. Ela parecia grata pela ajuda, e seus olhos roxos observavam Eriel com curiosidade e surpresa.
Caminharam em direção à estufa, mantendo uma certa distância enquanto a menina a guiava. A menina ainda parecia um pouco confusa, e sua inocência estava mais evidente.
Ao entrar na estufa, Eriel percebeu uma mudança na temperatura em relação ao ambiente externo. O ar estava um pouco mais quente e úmido, ideal para as plantas que estavam sendo cultivadas ali. A menina levou Eriel até um local sob algumas flores que não precisavam de luz solar direta.
Enquanto observava a menina se mover com agilidade e graça, Eriel ficou impressionada com sua elegância. Ela parecia uma guardiã das flores ao seu redor.
"Estamos de volta," disse a menina, apontando para um local específico na estufa. Eriel seguiu o olhar dela e encontrou um jovem homem perto de uma árvore, aparentemente em um sono tranquilo, como se tivesse caído em um sono silencioso por causa das palavras dela.
Quando se viraram na direção em que estavam indo, seus olhares se cruzaram. Nesse momento, algo aconteceu dentro de Eriel. Sentiu uma conexão familiar, como se os conhecessem de antes, e, apesar de nunca ter visto seu rosto antes, parecia que a conhecia.
Seu coração começou a bater rápido e uma confusão emocional tomou conta de Eriel. "Quem é esse homem?" "Por que nossa conexão parece tão forte?" Essas perguntas giravam em sua mente. Mas, antes que ela encontrasse uma resposta, a realidade a trouxe de volta.
Ficou parada por um momento, tentando processar a intensidade do momento. Era como se o mundo ao redor tivesse desaparecido, deixando apenas ela e o homem. Seus pés queriam correr até ele, mas ela se controlou. Ainda não compreendia o que estava acontecendo e agir precipitadamente poderia causar ainda mais confusão. Respirou fundo e recuperou sua coragem e determinação. Ela precisava encontrar uma resposta, desvendar a verdade por trás desse encontro estranho e descobrir o significado dessa conexão inexplicável.