Damien andava de um lado para o outro no seu quarto na mansão. A alcateia deles era a mais rica deste lado do hemisfério, senão do mundo, e eles não conseguiam porra nenhuma colocar as mãos em supressores de cio.
Ele passou os dedos pelos curtos cabelos pretos como se tentasse acalmar o lobo dentro dele.
Alerta de spoiler: não estava funcionando.
"Merda!" ele rosnou, pegando uma lâmpada e atirando-a pelo quarto. Nem mesmo o som dela se estilhaçando o fez se sentir melhor.
Contendo outro rosnado, ele sentiu seu celular vibrar no bolso. Sem se dar ao trabalho de verificar a ID, ele atendeu: "Que porra você quer?" ele rosnou, soando mais lobo que humano.
Houve silêncio do outro lado.
Afastando o telefone do ouvido, ele verificou quem estava ligando.
"Ah, merda. Eu sinto muito, Docinho," ele murmurou, forçando o seu lobo a se acalmar ainda mais. Seu lobo cedeu voluntariamente, sem querer desapontar ainda mais quem ligou. "Me perdoa?"
"Claro, Bobo. Você não fez nada de errado," veio a voz suave através do telefone, e Damien começou a se acalmar. Ela sempre conseguia fazer isso com ele.
"Não deveria ter estourado com você," ele disse, não disposto a ser perdoado tão facilmente. Ela era tão anjo que perdoaria qualquer coisa a qualquer um.
"Sério, tá tudo bem." Ele podia ouvir o sorriso dela através do telefone antes de uma onda de tosses fortes.
"Você está resfriada? Precisa de alguma coisa? Como está a sua frequência cardíaca? Precisa dos seus medicamentos?" Quanto mais ele falava, mais ansioso ele ficava.
"Sério, relaxa," veio a voz depois de um momento. "É só uma tosse. Eu estava bebendo água, e ela foi pelo buraco errado. Estou bem."
Damien retomou sua caminhada enquanto segurava o telefone no ouvido, seu lobo levantando a cabeça o suficiente para conseguir ouvir todas as nuances da voz dela que o humano não conseguia distinguir. Ele podia ouvir ela ofegante enquanto continuava tentando se acalmar depois daquele ataque.
"É verdade?" ela perguntou depois de um segundo.
"O quê é verdade?" perguntou Damien, sem realmente ouvir as palavras dela. Ele estava mais preocupado com os pulmões e o coração dela.
"Que não tem mais supressores para a alcateia?" veio a pergunta suave. Damien podia ouvir o medo na voz dela ao fazer a pergunta.
"Não," ele a assegurou, mesmo que ambos pudessem ouvir a mentira. "Vou garantir que você tenha os supressores pelos próximos meses. Não vai lhe faltar."
"Tá tudo bem se você não conseguir. Você sabia disso, não é?" veio a voz do outro lado do telefone. Mas o tom e as palavras dela fizeram Damien querer matar alguém. Principalmente, quem quer que tenha decidido cancelar o contrato entre a alcateia e a A.M.K.
"Vou conseguir," ele rosnou baixo. Ou pelo menos tão baixo quanto ele ousava com a mulher. "Eu prometo para você."
Houve uma longa pausa do outro lado, e Damien congelou, esperando ouvir o que ela diria.
"Há rumores," ela começou hesitante.
"Sempre há rumores," respondeu Damien, forçando um tom leve.
"Há um traficante a quem podemos recorrer," ela continuou antes de fazer outra pausa.
"Não vou confiar em um traficante com seus supressores. Os hospitais têm que tê-los disponíveis. Irei até lá. A alcateia é dona de pelo menos dois deles; tenho certeza de que posso colocar as mãos no que você precisa."
"Você não entende; tenho uma amiga que só vai até ele para seus supressores. Ele não cobra nada por eles, e são diretamente da A.M.K," ela insistiu, e Damien podia ouvi-la começando a ficar estressada.
"Docinho, todos dizem que seus remédios vêm diretamente da A.M.K, mas posso te garantir, se são de graça então não são supressores de cio. O traficante é—" Damien parou de falar, não querendo expor a garota aos horrores do mundo.
"Você não escuta," suspirou a mulher. "As pílulas são carimbadas; elas estão na embalagem autêntica da A.M.K com números de série e tudo. Mas o traficante é exigente quanto a quem as recebe."
O lobo de Damien sentou-se com isso. "O que você quer dizer?"
"Ele não entrega para qualquer um. Sabe de uma coisa? Deixa pra lá. Vou ver se minha amiga consegue pegar algumas para mim quando ela for lá na próxima vez," suspirou a garota. "Vou tirar um cochilo. Falo com você em breve, tá bom?"
"Claro, Docinho. O que você precisar," murmurou Damien, mas sua mente estava a cem por hora. Quem era esse traficante? De onde ele tirava seu produto?
"Ah, e irmão mais velho?"
"Sim, irmãzinha," sorriu Damien.
"Te amo."
"Te amo também, Docinho. Agora tire um bom cochilo, e eu te ligo em breve, tá bom?"
"Tá bom."
Houve um clique enquanto o telefone era desligado, deixando Damien sozinho com seus pensamentos.
Frustrado, ele se virou e saiu do seu quarto.
A alcateia tinha cuidado de todo traficante por aí; como poderia haver alguém voando abaixo do radar? E ele era exigente sobre para quem vendia? Isso não passava de besteira.
Dinheiro é dinheiro, nenhum traficante o recusaria.
Mas o que mais o incomodava era o som de resignação na voz de sua irmã quando ele descartou a ideia dela de ir ao traficante para seus supressores.
Damien caminhou lentamente pelas escadas até o andar principal, com a mão no bolso enquanto caminhava em direção à porta da frente. "Vou sair," ele chamou. Não havia ninguém por perto, mas sempre havia alguém ouvindo.
Além do mais, se alguém realmente precisasse dele, poderiam sempre ligar.
Entrando na SUV estacionada na frente, ele deu a partida e saiu.
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"Oi! Bem-vindo à Lanchonete do Scotty! Sente-se onde quiser, e eu já vou atender você," veio uma voz alegre enquanto Damien abria a porta da velha lanchonete.
Ele não tinha ideia de por que seu lobo queria tanto estar ali, mas depois de uma hora dirigindo por aí e passando por este lugar cinco vezes, ele decidiu dar ao seu lobo o que ele queria.
Talvez assim, ele parasse de arranhar seu interior.