Depois de fazer o pedido dele, voltei para a mesa do Damien. Não fazia ideia do que iria dizer a ele ou do que ia fazer, mas sabia que queria estar ao lado dele.
'Companheiro cheira bem,' concordou minha ratinha interior, fazendo-me pausar logo atrás do balcão da lanchonete.
'Companheiro?' perguntei cautelosamente.
Eu podia ver a minúscula ratinha de campo na minha cabeça assentindo com a dela enquanto limpava rapidamente suas presas. 'Companheiro,' ela confirmou. 'Ele vai nos proteger.'
'Mas você achou que os outros três também cheiravam bem. Não podemos ter mais de um companheiro, então você tem certeza que ele é o nosso? Você não quer cheirar os outros também?' Eu admitiria que estava começando a entrar em pânico um pouco.
Mas a ideia de um companheiro na comunidade transmorfa era tudo. Eles eram aqueles que os deuses tinham escolhido para ser absolutamente perfeitos para você. Uma combinação ideal em todos os aspectos.
Encostei-me no balcão, observando o homem enquanto ele mexia no seu telefone. Como qualquer transmorfo, eu havia sonhado com o dia em que encontraria meu companheiro. Aquela aceitação incondicional, aquele amor incondicional. Eram coisas de que os contos de fadas eram feitos.
E então eu cresci.
Eu era uma transformadora de rato. Potencialmente a única do meu tipo. Eu sabia que não teria um companheiro.
Dei uma risada irônica. Não foi até a história toda do coelho e lobo que uma 'tendência' de acasalamento fora da própria espécie começou.
Nunca tinha sido feito antes.
Lobos ficavam com lobos, tigres com tigres e ninguém sabia sobre os transformadores de presa.
'Ele é companheiro. Você pode pensar nisso até sair fumaça das nossas orelhas, mas ele é o nosso companheiro.' Eu podia sentir minha ratinha sorrindo para mim como se soubesse de um segredo que eu não sabia. 'Pode muito bem perguntar se ele se importaria de andar por aí com um mini cobertor para a hora da soneca.'
Soltando um longo suspiro, peguei um dos pratos para uma mesa cheia de lobos e coelhos.
Eu não era de cortar meu nariz para fazer desfeita ao meu rosto. Se o lobo realmente era meu companheiro, tudo bem. Eu só precisaria de um dia para me adaptar à ideia.
E eu queria saber o quanto ele gostou do crepe de manteiga de amendoim e banana primeiro.
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"Você já pensou que tipo de companheira você quer?" perguntou Damien enquanto se sentava em uma cadeira, girando a cerveja em sua garrafa. Os quatro estavam sentados na sala de jogos no porão da sua mansão, jogando conversa fora e jogando bilhar.
"O que somos? Doze anos? Devo pegar o esmalte e fazer seu cabelo?" perguntou Lucien, olhando de onde estava mirando sua jogada.
"Vá se foder, estou falando sério," rosnou Damien, seu lobo emergindo em sua voz. Sua outra metade estava perdendo a cabeça desde que deixou a lanchonete, e a necessidade de se transformar ondulava sob sua pele.
"Na verdade, não," deu de ombros Dominik enquanto se apoiava em seu taco de bilhar. "Eu imaginava que encontraria uma loba e tudo se encaixaria."
"E você?" perguntou Damien, virando-se para o homem ao seu lado.
Raphael olhou para seu amigo de longa data e balançou a cabeça. "Qual o ponto? Eu me uniria com alguém que fizesse a melhor Luna para a alcateia. Fim de história."
"E se você fosse destinado a uma humana?" insistiu Damien. Nenhum deles jamais tinha discutido algo assim, tão pessoal. Mas isso não queria dizer que não pensassem a respeito, em algum nível.
"Deus, espero que isso nunca aconteça," arrepiou-se Raphael. "Se fosse o caso, eu teria que rejeitá-la pelo bem da alcateia. E realmente não acho que eu superaria essa perda."
"Você realmente rejeitaria sua companheira destinada?" perguntou Dominik, olhando para o seu Alfa. Ele entendia que o homem tinha muitas responsabilidades nos ombros, mas algo assim parecia… inconcebível. Rejeitar sua companheira era literalmente rejeitar quem você era... sua outra metade.
"Eu não teria escolha. Eu não gostaria que minha companheira fosse desafiada repetidamente simplesmente porque alguma cadela não suportava o fato de ela não ser a Luna," rosnou Raphael.
A intensidade de seu discurso fez os outros três homens se levantarem e olharem para ele. Nunca tinham considerado a perspectiva dele. Mas ele não estava errado. Qualquer fêmea que fosse companheira dele teria que se provar para a alcateia.
"E a ideia de que eu talvez não seja suficiente para proteger minha companheira da minha própria alcateia me deixa enjoado," continuou Raphael, olhando para a garrafa de cerveja em sua mão. "Então, espero que eu nunca encontre minha companheira destinada, porque saber o que eu poderia ter tido, mas nunca terei, poderia ser a gota d'água."
"Você teria a gente," lembrou Lucien, não se importando mais com o bilhar na mesa à sua frente. "Nós poderíamos protegê-la de qualquer fêmea."
"Não, não poderiam. Está escrito em lei que qualquer fêmea pode desafiar uma Luna se ela achar que a Luna é incapaz de completar seu papel dentro da alcateia," respondeu Raphael, balançando a cabeça.
"Você pensaria que a alcateia quereria o que é melhor para seu Alfa," resmungou Damien, tomando um gole de sua cerveja.
"Você pensaria," resmungou Raphael.
O que ele não queria contar a ninguém era o fato de que seu controle estava escapando cada vez mais a cada dia. Seu lobo estava se tornando difícil de gerir, e ele estava preocupado que se tornasse feral antes do fim do ano.
Enquanto seu lobo sempre foi forte e sempre pareceu ter uma mente própria, isso tinha piorado exponencialmente nos últimos dias.
Se continuasse assim, os homens desta sala precisariam eliminá-lo, e ele não queria colocar essa pressão sobre qualquer um deles.
"Mas esse tópico ficou um pouco pesado demais para uma sexta-feira à noite," riu Raphael, tentando mudar de assunto. "O que está acontecendo com os supressores de cio?"
"Ah, sim, como se isso fosse um tópico muito mais leve para discutir tomando uma cerveja," resmungou Damien, revirando os olhos. Se seu Alfa encontrasse sua companheira, ele faria de tudo ao seu alcance para garantir que ficassem juntos pelo resto da vida.
Raphael já tinha sacrificado o suficiente pela alcateia. Ele não deveria ter que sacrificar sua felicidade eterna também.