Flutuando em seu sono, Alice se viu de pé em uma poça de sangue que limitava seus movimentos.
O cheiro de ferro impregnava o ar que ela respirava enquanto o rio sob seus pés tingia seu corpo de carmesim.
Franzindo a testa, Alice olhou ao redor para entender onde estava.
*Gotejar~
"Hm?"
Alice virou-se em direção à fonte do barulho por curiosidade, apenas para congelar com a visão. Ela podia ver Lilia de pé na poça de sangue como ela, só que com uma ferida no peito e um fluxo incessante de sangue que criava essa poça.
Piscando os olhos, Lilia estava agora na sua frente e Alice segurava uma lâmina através do peito de Lilia. O olhar de traição e choque em seus olhos… O ódio ardente.
Arregalando os olhos e saindo do pesadelo, Alice ofegou enquanto suor frio cobria suas costas.
'Não foi assim...' Ela pensou consigo mesma enquanto mordia o lábio.
Agarrando o peito, ela ainda podia sentir a sensação de enfiar aquela espada pelo peito de Lilia.
'Não foi assim?' Ela se perguntou mais uma vez, desta vez incerta de suas próprias palavras. Ela não sabia se estava tentando se convencer de que fez a coisa certa ou se realmente era o que Lilia desejava.
Independentemente do contexto, a verdade era que Lilia morreu por sua mão.
Fechando o punho, Alice não pôde deixar de se perguntar se a VIP havia morrido ou não. Se estivesse morta, que assim seja. Mas se de alguma forma sobreviveu, Alice queria infligir a mesma ou mais dor do que fez a Lilia.
Segurando a cabeça, suas memórias do que aconteceu antes de desmaiar estavam um tanto quanto confusas. Ela se lembra de uma explosão de carmim antes de tudo ficar turvo.
'Eu fui salva por alguém. Mas quem?' Alice franziu a testa antes de olhar ao redor.
Só agora ela percebeu que estava sentada em algo macio. Ela estava atualmente sentada em uma cama muito melhor do que a que é oferecida a uma escrava. O abraço gentil do cobertor da cama e o conforto do travesseiro deveriam estar fora de alcance.
Mas lá estava ela sentada em uma. Franzindo a testa, Alice fez uma pausa quando notou um peso ausente de seu corpo. A sensação do metal frio e duro pressionando contra seus membros e, mais importante, seu pescoço, agora estava ausente.
Com hesitação, ela estendeu a mão tentando sentir as algemas mas não havia nada. Ela podia sentir seu pescoço inteiramente sem nada bloqueando sua mão.
Emoções transbordaram em seu corpo quando suas mãos começaram a tremer, incapazes de se conter. Vasculhando o quarto, ela notou um espelho e imediatamente saltou da cama, empolgada.
Correndo em frente ao espelho, ela olhou para seu próprio reflexo. Como esperado, não havia mais restrições em seu corpo. Tudo o que ela vestia era um vestido branco novinho, simples mas confortável, junto com alguns curativos médicos em partes do seu corpo.
Havia muitas perguntas passando por sua mente, mas sua atenção foi roubada por seu novo sentido de liberdade.
Não mais ela estava restrita como prisioneira da família Zenia, nem era escrava. Ela estava finalmente livre.
'Agora, como sair deste quarto...' Alice pensou consigo mesma enquanto escaneava seus arredores.
Embora as chances de que quem quer que a tenha ajudado não tivesse más intenções fossem altas, ela não podia se dar ao luxo de considerar isso como garantido. Havia algo que eles queriam dela e ela não sabia o que era. Era melhor ter um plano de fuga do que não ter.
Caminhando até a janela, ela podia ver as ruas movimentadas da Doca do Massacre abaixo. O caminho de paralelepípedos com água preenchendo os vãos, grandes carcaças de Bestas do Abismo que pertencem à Água do Abismo penduradas acima das ruas usando grandes ganchos enquanto os trabalhadores as descascavam camada por camada, colhendo quaisquer partes úteis que pudessem colher.
Barcos navegavam até as docas à distância, com Bestas do Abismo sendo contidas em jaulas no meio da demais carga.
Olhando acima das ruas, Alice podia ver grandes edificações feitas de madeira e pedra. Pontes de corda atravessavam o espaço entre os edifícios, formando uma teia caótica. Alguns penduravam roupas nessas cordas, enquanto a maioria usava-as como forma de atravessar diferentes edifícios.
Apesar de a janela estar fechada, Alice ainda podia ouvir os mercadores gritando pela atenção para suas mercadorias, Caçadores tendo conflitos entre si, os badalos da igreja e os padres tentando resolver brigas.
Essa era a Doca do Massacre e essa era sua primeira visão adequada da cidade.
Lembrando do custo de tal visão, sua empolgação diminuiu enquanto ela começava a procurar uma rota de fuga. A mais provável sendo pelas cordas e para os telhados.
Tocando a superfície do vidro, Alice estimou que com um objeto duro, não seria muito difícil quebrar a espessa janela de vidro com a ajuda de seu primeiro Sigilo.
Com uma rota em mente, ela se afastou da janela e procurou outras opções. Exceto pela cama, havia apenas uma única mesa no quarto com um castiçal de metal sobre o tampo, enquanto as gavetas estavam vazias.
'Posso usar a cadeira como distração enquanto o castiçal serve como arma, eu suponho... Melhor do que nada.' Alice deu de ombros enquanto segurava o castiçal de forma desajeitada.
Era o tipo com um único corpo longo principal que se dividia em três copos que segurariam cada uma vela.
Dando-lhe um giro, ela descobriu que provavelmente funcionaria como um martelo improvisado por enquanto.
Apenas quando ela terminou de se ajustar à sua nova arma, Alice captou o som fraco de passos se aproximando de seu quarto.
Rapidamente pulando de volta para a cama, Alice escondeu o castiçal entre os lençóis antes de fingir uma postura de sono enquanto mantinha um olho ligeiramente aberto.
*Clique
Ouvindo a porta se abrir, o cheiro de fumaça imediatamente invadiu o quarto enquanto Alice tentava o seu melhor para não reagir.
"Sabe, se você já está acordada, deveria apenas se sentar direito. Eu pude ouvir você lá de baixo, por isso que subi. Não adianta pular de volta para a cama." Uma voz feminina soou enquanto Alice se sentava lentamente, estreitando os olhos em direção à visitante.
Ao ver a mulher, suas memórias se tornaram claras, pois essa era a mesma pessoa que a salvou antes de ela desmaiar.
"Talvez coloque o castiçal de volta na mesa também. Ainda posso ver as três velas que você tirou dele, sabe?" Allura suspirou enquanto se sentava na cadeira em frente à mesa. Ela tinha se certificado de terminar seu cigarro antes de entrar neste lugar, mas o cheiro de fumaça ainda a seguia.
Ouvindo isso, Alice clicou a língua antes de lentamente tirar o castiçal de baixo dos lençóis e colocá-lo de volta na mesa.
"Pronto. Agora como você está se sentindo? Alguma lesão ainda persiste?" Allura perguntou, adotando uma postura relaxada e preguiçosa na cadeira.
"Nenhuma." Balançando a cabeça, Alice já havia verificado se havia alguma lesão, mas não havia nada.
"Isso significa que o sangue fez seu trabalho, assim como os médicos. Agora! Não sei se você se lembra, mas eu sou a pessoa que te salvou ontem. Como eu disse ontem, me desculpe por estar atrasada. Se eu não tivesse demorado no que planejava fazer, você teria sido poupada de realizar aquele ato." Allura pediu desculpas sinceramente, com seus olhos sérios.
Ouvindo isso, Alice olhou para suas mãos. Ela sabe que não é culpa da mulher por chegar atrasada, mas sim uma sequência infeliz de eventos e circunstâncias. A culpada é a VIP por fazer tal coisa com Lilia.
A condição de Lilia era irreversível, mas não é desculpa para empunhar a lâmina que a matou.
"Espero que você possa me perdoar pelo meu atraso e que nós duas possamos nos conhecer adequadamente. Sinceramente, eu não sei quanto Kaden contou a você, mas eu sou essencialmente sua nova guardiã." Allura coçou a cabeça, um pouco desconfortável. Ela não estava acostumada a falar assim, mas esse era um tópico sério, então tinha que ser séria sobre isso.
"Kaden? Quem é esse?" Alice inclinou a cabeça em confusão.
"Eh? Ele não te disse o nome dele? Tsk, preguiçoso filha da p*ta, deixando tudo para mim como sempre." Allura quebrou o personagem conforme imediatamente soltou uma saraivada de palavrões em direção a Kaden, surpreendendo Alice, que pensou que era o tipo sério pela maneira como falou.
"Ahem. Kaden é o cara que te jogou no meio do Abismo. Ele também é o que deu seu Olho Direito. Tenho certeza de que você sentiu um pouco do poder que o olho traz pela maneira como se moveu." Allura suspirou.
Arregalando os olhos, Alice entendeu que Kaden era o homem corvo que a tirou da prisão da família Zenia.
Seguindo o fluxo desta conversa, Alice tinha uma ideia de quem era essa mulher, mas ela não tinha 100% de certeza.
"Você é Allura?" Alice perguntou hesitante.
"Oh! Então ele não esquece de dar a você MEU maldito nome, mas esquece o dele. Deixe-me adivinhar, ele também não te disse porra nenhuma sobre nada e te atirou no Abismo, certo?" Allura revirou os olhos, irritada.
"Mas sim, eu sou Allura. Sou sua nova guardiã por enquanto."