Ao nascer do sol, Mallory, que havia dormido encostada na parede do corredor, parecia nada menos que um fantasma do sombrio castelo. Depois que Hadeon desapareceu de sua vista na noite anterior, jogando os dois homens pela janela, ela hesitou em procurar um quarto para dormir.
Thuk! Thuk! Thuk!
Mallory ouviu o som vindo de fora. Levantando-se, ela espiou pela janela e avistou Barnby cuidando do jardim sobre a mais recente presa de seu mestre. Ele agora tentava encontrar um bom lugar para colocar a nova planta em sua mão.
"Isso não pode ser real..." Mallory sussurrou, incrédula.
Ela rapidamente deixou o local, caminhando pelo castelo e chegando a um corredor onde várias pinturas estavam penduradas nas paredes, suas superfícies cobertas por camadas de poeira. Curiosa, ela pegou seu lenço e começou a limpar uma delas, mas só conseguiu limpar a metade inferior.
Incapaz de alcançar a parte superior, ela resmungou, "Sou muito baixa para isso."
Buscando um banquinho em um dos quartos, ela o colocou diante da pintura meio limpa e subiu nele. Depois de limpar a maior parte da superfície do retrato, seus olhos pousaram em Hadeon, que estava sentado em uma cadeira luxuosa e parecia o mesmo de agora. Havia também Barnby com algumas outras pessoas no quadro vestindo roupas semelhantes.
"Devem ser os antigos servos. Descansem em paz," Mallory rezou com uma expressão solene, movendo sua mão diante de si.
Descendo, ela arrastou o banco para o próximo retrato e o limpou, querendo ver a família de Hadeon. Mas enquanto passava de um retrato para o outro, tudo o que encontrava era Hadeon Van Doren e sua expressão arrogante neles.
"Se autoadmiração tivesse um nome," Mallory cutucou o nariz dele no retrato. Como se quisesse apagá-lo, ela esfregou seu rosto profusamente.
"Planeja apagar as pinturas dos retratos?"
Mallory ouviu a voz aveludada de Hadeon atrás dela, assustando-a, pois ela não o tinha ouvido entrar no corredor.
Ao virar-se, seu pé escorregou. Ela balançou e estava prestes a cair quando Hadeon a pegou. Ela sentiu cada batida de seu coração enquanto se sentia muito consciente dos braços dele a segurando. Seus olhos dourados a encaravam.
Mallory estava prestes a agradecê-lo quando Hadeon separou os lábios e observou alto, "Você cheira a pântano."
Sua expressão passou de grata para um olhar furioso, e ela exigiu, "Me coloque no chão! Agora!" se debatendo como um gato.
"Muito bem então," Hadeon concordou educadamente.
Mallory gemeu com a colisão do seu traseiro com o chão. Ela lançou a ele um olhar azedo, enquanto Hadeon usava uma expressão inocente e retrucou,
"O quê? Você disse que queria ser colocada no chão," mas o riso em seus olhos revelava que sua ação foi intencional.
Mallory se recompôs antes de se levantar e encará-lo carrancuda. Vou te largar assim no caixão um dia!
"Minha fiel serva está me encarando?" Hadeon provocou, seu rosto exprimindo falsa tristeza, "Parece que a orientação de ontem à noite não foi útil. Especialmente depois da simples demonstração ao vivo."
"..." Só esse homem achava que jogar pessoas pela janela era orientação!
"Hm?" A voz de Hadeon se arrastou, como se esperando sua resposta.
Com muito esforço, Mallory compôs sua expressão e lhe deu um sorriso falso, "Claro que não, Mestre Hadeon. Eu estava apenas apreciando seu magnífico eu matinal."
O sorriso de Hadeon se alargou como um predador avistando sua presa divertida, e ele declarou, "Por que não? Você é privilegiada de trabalhar sob meu comando. É uma oportunidade única na vida. Embora, devo dizer, a bajulação lhe cai bem."
O sorriso de Mallory vacilou enquanto ela tentava mantê-lo intacto.
"Sabe, eu disse para você me chamar de Mestre Hades. Um pouco rebelde, somos nós?" Os olhos de Hadeon sutilmente se estreitaram para ela. "Não que eu me importe. Será mais emocionante tentar te domar."
"Você faz parecer que eu sou algum macaco, Mestre Hades," Mallory conseguiu dizer, sabendo que se Hadeon quisesse, ele poderia acabar com sua existência num piscar de olhos.
"Macaco. M de Mallory e M de Macaco! Que fofo!" Hadeon parecia extremamente satisfeito com isso.
Eu não fiz isso, Mallory disse para si mesma. Quem daria um apelido desses?!
"Acho que estou pronta para voar pela janela," Mallory murmurou, incerta se conseguiria manter a sanidade na companhia desse homem.
"Ah, não seja assim, macaco. Temos muito o que fazer, e eu nem comecei. Além disso, há outras maneiras empolgantes de morrer," ele respondeu com alegria.
Tentando mudar de assunto, os olhos de Mallory se desviaram para os retratos e ela perguntou, "Mestre Hades, os retratos da família estão pendurados do outro lado do castelo?" Ela estava curiosa para ver como sua família parecia.
A postura de Hadeon ficou séria, o corredor carregando um silêncio, e ele respondeu, "Não. Nunca estiveram lá porque estão todos mortos."
"Sinto muito por perguntar," ela ofereceu suavemente, sentindo-se mal por tocar no assunto.
Hadeon virou-se para olhar seu próprio retrato de costas para ela antes de dizer, "Eles estariam aqui se eu não os tivesse matado."
E o silêncio caiu novamente, enquanto Mallory ficou sem palavras. Como se respondia a isso?
"Às vezes… a família faz coisas que você acaba tomando medidas extremas," a voz de Hadeon ficou mais baixa. Ele continuou, "Me arrependi depois, por isso pensei que era melhor eu ficar no caixão."
As palavras dele fizeram Mallory se perguntar o que sua família poderia ter feito para ele os matar. Ela não pôde deixar de sentir pena dele.
"Enfim. Você pode usar o quarto à primeira direita. Quando terminar, vá para a frente do castelo," Hadeon ordenou, pronto para deixar o corredor.
"Mas eu não tenho roupas para trocar," Mallory lembrou-lhe, "Eu deveria ir para minha ca—"
"Você deve encontrar algumas no armário," Hadeon comentou e saiu.
Mallory seguiu para o quarto, enquanto pensava em Hadeon.
Entrando no quarto, ela fechou a porta antes de caminhar até a pequena banheira e se perguntar se a encanamento ainda estava funcionando. Depois de girar e bater na torneira algumas vezes, ela ouviu o borbulhar da água. Logo, a água começou a cair na banheira.
Mallory passou vários minutos se limpando. Uma vez pronta, ela caminhou até o armário e encontrou dois vestidos lá dentro. Quando vestiu um deles, um lado das mangas continuou deslizando pelo seu ombro, e não ajudou que ambos os vestidos fossem do mesmo tamanho.
Chegando à frente do castelo, Mallory encontrou a carruagem, e ao lado dela estava Barnby. Ela olhou em volta enquanto caminhava em direção ao veículo e perguntou, "Onde está o Senhor Hadeon?"
"Ele foi para a floresta, Senhorita Mallory. Ele deve retornar em breve," Barnby respondeu prontamente.
Mallory então perguntou, "Barnby, você serviu aos pais do Senhor Hadeon?"
Barnby respondeu, "Mestre Hadeon não tem pais."
"Eu sei. Ouvi dizer que foram mortos," Mallory respondeu, e os olhos de Barnby se moveram para olhá-la.
"Matar? Isso não é possível, senhorita. Senhor Hadeon não pode ter pais."
O que ele quis dizer com isso? Suas palavras não faziam sentido. Mas o que ela percebeu foi que o homem malvado havia inventado uma história triste na frente dela por diversão! Ela ouviu passos se aproximando, e seus olhos encontraram os olhos divertidos de Hadeon.
"Você disse que matou sua família...!" Mallory olhou para ele com incredulidade. Pensar que ela estava simpatizando com ele antes!
"Que alma deliciosamente ingênua você tem." Os olhos de Hadeon brilhavam com maldade, e ele riu. Seus olhos então caíram sobre seu vestido, e ele perguntou, "Você encolheu?"
Mallory resistiu ao impulso de revirar os olhos e respondeu, "O vestido é grande. Sinto como se estivesse flutuando nele como um fantasma. Posso perguntar de quem é o vestido que estou usando?"
"O vestido de alguma mulher morta que não consigo lembrar. A memória pode ser uma coisa tão volúvel, especialmente quando se trata de detalhes inúteis."
"Certo..." Mallory disse isso em uma voz irônica e o viu subir na carruagem.
"Aqui," Hadeon chamou, jogando algo na direção dela.
Mallory pegou uma maçã deliciosa em sua mão. Ela finalmente poderia comer!
"Pensei que você pudesse querer comer algo," Hadeon comentou, agora sentado dentro da carruagem com um sorriso matreiro. "É uma macieira que foi cultivada a partir do melhor do nosso composto. Nada enriquece o solo como os mortos."