Voltando ao início...
Pietro, com uma expressão séria no rosto, conduziu Kalie de volta ao quarto. Ela estava tão confusa que mal conseguia resistir ou entender o que estava acontecendo. Assim que a porta se fechou atrás deles, ela se deixou cair na cama, tentando reunir seus pensamentos.
Ela tentou lembrar do dia anterior, mas tudo parecia um borrão. Ela só conseguia se lembrar de sair de casa para a galeria. Levantando-se da cama, ela começou a andar pelo quarto, uma expressão pensativa em seu rosto. "Será que fui sequestrada? Por que estou aqui? E quem é aquele homem lindo e arrogante?", ela se perguntava, enquanto uma enxurrada de perguntas sem respostas inundava sua mente.
Conforme as horas passavam, ela começou a se sentir enjoada. Sem ter certeza do que tinha acontecido na noite anterior, ela decidiu que precisava beber água, ou podia vomitar naquele quarto luxuoso e impecável. Ela caminhou até a porta e bateu, chamando:
— Oi, tem alguém aí?
Sentindo-se mal-humorada, enjoada e com fome, Kalie se sentou no chão, esperando que alguém viesse abrir a maldita porta. Enquanto esperava, ela começou a elaborar um plano de fuga em sua mente, determinada a sair daquela situação desconcertante. A noite estava longe de terminar e Kalie sabia que tinha que se manter forte. Ela não tinha ideia do que o futuro reservava, mas estava pronta para enfrentar qualquer coisa.
A porta se abriu com um rangido suave, revelando uma mulher de meia-idade. Ela era bonita, com linhas suaves no rosto que contavam histórias de uma vida bem vivida. Nas mãos, ela segurava uma bandeja.
— Ciao mia signorina, ti ho portato il pranzo. Disse ela com um sorriso caloroso. (Olá, minha jovem, trouxe seu almoço.)
Kalie, surpresa, levantou-se imediatamente. Seus olhos se moveram da porta aberta para a mulher com a bandeja e, em seguida, de volta para a porta. Sem pensar duas vezes, ela saiu correndo pelo corredor, seus olhos vasculhando freneticamente o ambiente em busca de uma saída.
Mas tudo o que via eram corredores, portas, móveis sofisticados e belas obras de arte penduradas nas paredes. Ela parou no meio de um corredor comprido, seu coração batendo forte no peito. Foi então que algo na parede chamou sua atenção.
Era a sua primeira obra vendida. E logo ao lado, mais algumas de suas pinturas. Ela ficou ali, parada, olhando para as obras de arte que ela mesma havia criado. Enquanto estava imersa em seus pensamentos, uma voz soou ao seu lado, fazendo-a pular de susto.
— São lindas, você não acha? - Mattia comentou, sua voz rompendo o ambiente tenso com um tom quase casual. Kalie imediatamente virou-se para a fonte da voz, encontrando Mattia ao seu lado, um sorriso discreto brincando em seus lábios. Entretanto, sua expressão era séria e tensa quando ela questionou com firmeza:
— Você me sequestrou? O que quer comigo? Mattia não pareceu surpreso pela pergunta direta, apenas sorriu ainda mais, segurando firmemente o braço dela e começando a arrastá-la consigo.
— Venha, vamos conversar. Ele insistiu, ignorando as tentativas de Kalie de resistir.
— Me solte! Ela protestou, batendo no braço dele com a outra mão, mas Mattia não cedeu, continuando a avançar.
— Acalme-se, senão serei obrigado a machucá-la. A voz dele soou mais áspera agora, um aviso claro em suas palavras.
— Eu não tenho medo de você. Kalie retrucou, sua determinação evidente em sua voz.
— Mas deveria ter. A resposta de Mattia foi dita com um tom sombrio, deixando um arrepio correr pela espinha de Kalie.
Ele aproximou-se de uma porta e entrou puxando Kalie pelo braço. Assim que adentraram, ele a jogou em um sofá grande e sentou-se no outro extremo. Kalie, ainda indignada, não demorou a se levantar e confrontá-lo.
— Você é um grosseiro, arrogante! Ela acusou, sua voz carregada de raiva e desafio. Mattia, por sua vez, respondeu com um riso sarcástico.
— Ah, mas que surpresa! A presa não gosta de ser puxada pelo caçador. Sua ironia estava evidente enquanto ele pegava uma pasta de couro que repousava sobre a mesinha ao lado e a abria. Entregou um papel a Kalie, mas ela não o pegou de imediato, mantendo os braços cruzados em uma atitude desafiadora. Ele insistiu:
— Pegue, leia. Você não quer respostas? Seu tom era frio, desprovido de qualquer vestígio de gentileza.
Kalie finalmente pegou o papel de forma ríspida e começou a ler. Seus olhos percorreram rapidamente as linhas do contrato de casamento que continha informações afirmando que ela estava casada com aquele homem à sua frente. Um sorriso sarcástico se formou brevemente em seus lábios antes de sua expressão se tornar séria novamente.
— Você não acha que se eu tivesse feito isso, eu me lembraria? Sua incredulidade era palpável enquanto ela olhava diretamente nos olhos de Mattia. No entanto, ele não demonstrou surpresa nem hesitação em sua resposta.
— Vejo que seu pai não lhe contou nada. Mas vou te explicar, se você ficar mais calma e se sentar.
Ela permaneceu em pé, encarando Mattia com firmeza, recusando-se a ceder à sua tentativa de intimidação. No entanto, Mattia estava determinado a impor sua autoridade sobre ela. Com uma expressão séria, ele se levantou e se posicionou de frente para Kalie, aumentando a pressão sobre ela. Sua voz soou grave e autoritária quando ele ordenou:
— Eu mandei você se sentar. Cada palavra era carregada de autoridade, e Kalie sentiu-se momentaneamente intimidada. Ela recuou alguns passos, mas resistiu à vontade de ceder, mantendo-se de pé. No entanto, a força física de Mattia era inegável. Ele avançou na direção dela, obrigando-a a retroceder até que ela finalmente caiu sobre o sofá. Mesmo assim, sua determinação não se desfez, e ela olhou para ele com desafio enquanto ele continuava:
— Não custa nada você obedecer.
— Você não manda em mim, não me dá ordens. Você não é meu pai. A resposta de Kalie foi impetuosa, seu tom refletindo sua indignação diante da tentativa de Mattia de controlá-la. No entanto, as palavras de Mattia atingiram Kalie em cheio, como uma lâmina afiada cortando seu coração. Ela se sentiu momentaneamente desestabilizada pela acusação brutal.
— E nem queria ser, um pai que vende a própria filha para pagar dívida não tem o direito de ser chamado de pai. A resposta de Mattia foi implacável, carregada de desprezo e condenação. Kalie sentiu como se o chão se abrisse sob seus pés. No entanto, em vez de se encolher diante das palavras cruéis de Mattia, ela ergueu a cabeça com determinação, pronta para defendê-lo.
— Mentiroso. Meu pai nunca faria isso. Sua voz soou firme, embora abalada pela acusação dolorosa. Ela estava determinada a não permitir que Mattia manchasse a reputação de seu pai.
Mattia permaneceu imperturbável diante da reação de Kalie, como se estivesse totalmente indiferente às emoções que suas palavras causavam nela. Com uma serenidade aparentemente inabalável, ele se aproximou da pasta de couro sobre a mesa e retirou outro documento, estendendo-o a Kalie. Ela olhou para o papel, mas relutou em lê-lo, temendo o que poderia descobrir. As lembranças dolorosas de seu pai no hospital, o acontecido no comércio de Radesh, a conversa com os policiais e os mistérios que seu pai escondia a cercavam inundaram sua mente, deixando-a atordoada. As palavras trocadas entre ele e os policiais, o silêncio desconcertante e o afastamento dos últimos anos agora pareciam se encaixar em um quebra-cabeça perturbador. Kalie sentiu um aperto no peito ao perceber que talvez nunca tivesse realmente conhecido seu próprio pai.
As lágrimas começaram a brotar em seus olhos, mas ela lutou contra a torrente de emoções que ameaçava consumi-la. Com os dentes cerrados e os olhos ardendo, ela se levantou abruptamente, determinada a não permitir que Mattia a visse frágil. Com um esforço visível para conter suas emoções, ela lançou um olhar firme para o homem diante dela e declarou com uma mistura de raiva e desespero:
— Você é um louco. Eu vou embora daqui.
A resposta calma de Mattia pareceu ecoar na sala, contrastando com a agitação de Kalie. Ele não demonstrou qualquer reação às palavras dela, como se estivesse completamente imune às suas acusações e emoções. Em vez disso, ele simplesmente falou, como se estivesse dando uma instrução banal:
— Eu já lhe disse tudo o que precisava. Você precisa de um banho. Depois almoce e descanse. Vamos sair hoje à noite.
As palavras de Mattia ecoaram na mente de Kalie, ecoando como um ultimato disfarçado. Ela riu sarcasticamente enquanto saía da sala, mas suas palavras morreram quando ele acrescentou, com um toque de ameaça velada:
— Se não quiser ficar presa no quarto.
Uma sensação de desamparo a invadiu quando ele se afastou, deixando-a sozinha com seus pensamentos tumultuados. Ela fechou os olhos, deixando uma única lágrima escapar por sua bochecha. Enquanto a dor e a raiva ferviam dentro dela, uma determinação feroz começou a surgir. Com os punhos cerrados de raiva e os dentes rangendo de frustração, Kalie jurou para si mesma:
— Eu odeio você, Mattia Parganno. E vou tornar a sua vida um inferno.