Na manhã de sua partida, Vaelor estava sentado na janela de pedra de seu quarto, observando os criados levarem suas coisas para o barco, Voo de Águia . Ele soltou um suspiro enquanto sentia a brisa fresca vinda do mar. Seus pensamentos estavam distantes.
Sua irmã, Rhaella, se movia lentamente, como sempre fazia quando queria conversar, mas hesitava em interromper seus pensamentos. Com apenas oito anos, sua curiosidade infantil contrastava com uma sabedoria precoce, adquirida ao crescer em uma casa cercada de responsabilidades e pressão.
— Você vai mesmo se casar com um Targaryen? — Disse ela, com a voz suave e relacionada à preocupação.
Vaelor desviou o olhar do barco no porto e brilhou levemente.
— Parece que sim, Rhaella. Não tenho escolha. Papai já decidiu isso — disse, encolhendo os ombros.
Ela franziu a testa, seus grandes olhos espelhando a tristeza e a confusão que o próprio valor sente.
— Mas você nem a conhece... Como pode ir embora assim? E eles têm dragões. Dragões de verdade.
— Eu sei — Vaelor suspirou, ajoelhando-se para ficar à altura da irmã. — Mas não importa o que eu sinta ou sinta certo. Este casamento é crucial para nossa casa. Você entende isso, não é?
Rhaella balançou a cabeça com relutância.
— Entendo... mas ainda assim, é injusto.
Vaelor riu em breve, mas o som foi amargo.
— Você tem razão. É injustiça.
— Então por que você vai? Fique aqui comigo e com a mamãe.
— Não posso, Rhaella. Mas, sempre que precisar, me escreva. Pode ficar com a minha gralha branca; ela vai me encontrar onde eu estiver.
O humor de Rhaella melhorou um pouco, mas antes que pudesse continuar, um som de apito ecológicoou do barco atracado no porto. Logo em seguida, Lorde Gaeron apareceu no corredor do quarto, com sua posturagueira e inflexível de sempre.
— Está na hora — disse ele, sem emoção na voz.
Vaelor consentiu, mas não imediatamente. Ele se virou para a irmã.
— Eu vou voltar — prometi, pousando a mão no ombro dela. — E, quando eu voltar, as coisas serão diferentes. Eu prometo.
Rhaella o abraçou com força, e ele retribuiu o gesto. Quando se separaram, ela lhe entregou um pingente em formato de girassol.
Vaelor pegou o presente e o vestiu, sem esperar por outra ordem de seu pai. Seguiu-o para fora do quarto, descendo a lança de escadas da fortaleza até a encosta onde ficou o porto.
***
O cheiro salgado do mar invadiu as narinas de Vaelor assim que embarcaram no navio. As velas se abriam com o vento, e o som das ondas batia no casco oscilava de maneira quase hipnótica.
Conforme a costa se afastava, uma sensação de claustrofobia tomou conta de Vaelor. Ele observava o horizonte, tentando encontrar algum sentido em sua jornada, mas tudo o que via e sentia era um vazio. A única companhia no convés era o silêncio de seu pai e dos criados contratados.
Horas se passaram até que as Torres Negras de Pedra do Dragão surgiram no horizonte. A fortaleza dos Targaryen erguia-se sobre um rochedo, sua silhueta recortada contra o céu nublado. O castelo, feito de rochas vulcânicas, parecia parte da própria montanha, uma construção tão imponente que fazia a fortaleza dos Vysarion parecer uma casinha insignificante.
Enquanto o navio se aproximava da costa, algo chamou a atenção no céu. Uma sombra colossal cruzou as nuvens, rápida e imponente. Vaelor e os outros a bordo estreitaram os olhos, tentando identificar o que era, mas só conseguiram ver o contorno de algo grande, com asas largas e uma longa e espessa cauda.
Vaelor engoliu em seco, o coração acelerado. Já ouvi histórias sobre os dragões dos Targaryen, mas vê-los em carne e osso era algo completamente diferente. O dragão desapareceu tão rápido quanto sua sombra havia surgido, deixando um rasgo nas nuvens que passara.
— Foi só minha imaginação? — Disse um dos criados.
— Não — respondeu Gaeron, enxugando disfarçadamente o suor da testa.
Vaelor olhou para a cena com curiosidade. Foi a primeira vez que via seu pai demonstrar algo semelhante ao medo.
***
As barreiras da Pedra do Dragão se abriram lentamente, e Vaelor bateu seu pai até o salão da fortaleza. As paredes escuras de rocha vulcânica e as tochas com luz carmesim davam aos corredores uma atmosfera opressiva.
No centro do salão principal, esperando por eles, estavam Lady Aelora Targaryen e sua filha, a princesa Daelyra. Lady Aelora, com um vestido negro, exalava autoridade e graça. Seus cabelos loiros platinados caíam sobre os ombros, enquanto seus olhos violetas observavam os recém-chegados com atenção.
Daelyra, ao lado da mãe, mantinha uma postura reservada, quase militar, com o peito estufado como um general. Seus olhos ametistas se destacavam na pele clara, e os cabelos cor de trigo trançados elegantemente caiam por suas costas. Sua aparência era bela, mas havia um aspecto selvagem em sua postura e olhar.
— Bem-vindos a Pedra do Dragão, Lorde Gaeron, Vaelor — cumprimentou Lady Aelora, com a voz suave, mas carregada de poder. — Espero que a viagem de vocês tenha sido agradável.
— Foi adequado — respondeu Lorde Gaeron, sem perder tempo com gentilezas.
Vaelor apenas fez um aceno respeitoso com a cabeça e ajoelhou-se, assim como seu pai.
Daelyra permanece em silêncio, seus olhos fixos em Vaelor, como se estivesse o avaliando. Porém havia algo estranho em seu olhar, algo que Vaelor não conseguia decifrar, mas sabia que teria de enfrentar em breve.