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Chapter 4 - Meu próprio respeito

O sol despontava no horizonte, tingindo o céu com matizes alaranjados e dourados. Vaelor abriu os olhos lentamente, sentindo o frio da madrugada invadir seu quarto na Fortaleza Targaryen. O ambiente ao redor era sombrio, com paredes de pedra cinzenta e uma janela estreita que permitia a entrada tímida da luz matinal. Ele se levantou, esfregando o rosto com as mãos e caminhou até a bacia de água sobre a mesa de carvalho envelhecido. Lavou o rosto, tentando espantar o sono e a ansiedade que teimavam em pesar em sua cabeça.

Enquanto se vestia com suas roupas escuras e botas de couro, Vaelor não conseguia evitar pensar no que aquele dia significava. Estava prestes a se despedir de seu pai, Lorde Gaeron, que voltaria para a fortaleza principal da Casa Vysarion, deixando-o ali, em Pedra do Dragão, para cumprir o acordo de casamento com Daelyra Targaryen. "Apenas mais uma peça no jogo de poder", pensou com amargura, ajustando o cinto e prendendo a curta capa vermelha escura que carregava o brasão de sua casa. A ideia de ser apenas um peão nas mãos de seu pai o irritava profundamente, mas ele sabia que não adiantava resistir.

Assim que terminou de se arrumar, Vaelor deixou o quarto e caminhou pelos corredores silenciosos da fortaleza. O frio do chão de pedra atravessava suas botas, mas ele ignorava a sensação, concentrado em seus pensamentos. Ao chegar ao pátio principal, viu seu pai já aguardando ao lado de dois cavaleiros montados. A figura de Gaeron era imponente, mesmo sem demonstrar grande emoção. Seu rosto severo, marcado pelo tempo e pelas responsabilidades, estava como sempre impenetrável.

— Pai — disse Vaelor, com um tom firme, mas carregado de respeito.

Aproximou-se e retirou uma pequena carta do interior de sua capa.

— Entregue isto a minha irmã. Ela entenderá.

Gaeron pegou a carta sem dizer uma palavra, seu olhar frio examinando brevemente o filho. Por um instante, o vento cortante soprou entre eles, carregando uma sensação de despedida amarga e distante.

— Lembre-se, Vaelor — disse Gaeron, finalmente rompendo o silêncio. — viver aqui não será fácil. Mas quero que aguente como um homem forte, você já tem doze anos, é hora de moldar seu caráter, quero que me responda algo, mas não quero que me responda agora, pense sobre. Que tipo de homem você quer ser?

Vaelor conteve qualquer resposta sarcástica que pudesse surgir. Apenas assentiu, rebatendo as palavras de seu pai em sua mente. Observando enquanto seu pai montava no cavalo e partia em direção ao porto, deixando para trás apenas os sons dos cascos que logo se dissipou ao vento. Ele sentiu um misto de alívio e desconforto ao ver o pai partir. Alívio por não ter mais que suportar sua presença austera todos os dias, mas desconforto ao perceber que agora estava verdadeiramente sozinho.

De volta à fortaleza, Vaelor mal teve tempo de descansar. Lady Aelora, acompanhada de Daelyra, aguardava sua chegada no grande salão. A sala era espaçosa, com altas colunas de pedra e tapeçarias que retratavam a grandeza dos dragões da Casa Targaryen. O cheiro de cera derretida e madeira queimada pairavam no ar, tornando o ambiente levemente abafado. A luz das tochas refletia nas paredes de pedra polida, criando sombras dançantes que pareciam dar vida às figuras imponentes das tapeçarias de dragões.

— A partir de agora, Vaelor, você terá aulas diárias do idioma valiriano com Daelyra — anunciou Lady Aelora, com sua voz firme e autoritária.

Ela se mantinha ereta, com uma postura que exalava autoridade natural. Seus olhos, de um violeta profundo, pareciam enxergar além das aparências, como se sondassem diretamente a alma de Vaelor.

Daelyra bufou, cruzando os braços de forma teatral.

— Eu já tenho muitas coisas para fazer. Por que tenho que ensinar e acompanhar esse... estrangeiro nas minhas aulas?

Antes que Vaelor pudesse responder, Lady Aelora lançou um olhar penetrante para a filha, silenciando-a imediatamente.

— Você fará isso porque é necessário. E Vaelor, espero que não desperdice o tempo dela e muito menos o meu.

Durante o caminho de volta ao seu quarto, as palavras de seu pai e de Lady Aelora ecoavam na mente de Vaelor. "Que tipo de homem você quer ser?" "Espero que você não desperdice o tempo dela e muito menos o meu". A frase parecia ter cravado garras em sua consciência, puxando-o para uma espiral de reflexões incômodas. Ele não podia deixar de se perguntar: estava ali apenas para seguir ordens, para ser mais um nobre acomodado que vivia à sombra da riqueza de sua casa? Ou poderia ser algo mais?

Caminhando lentamente pelos corredores sombrios, Vaelor sentiu o peso de sua própria consciência. A figura fria e pragmática de seu pai parecia observá-lo mesmo à distância. "Não quero ser apenas mais um. Quero ser respeitado não por aquilo que herdei, ou por me casar, mas pelo que posso conquistar." Com essa resolução tomando forma em sua mente, Vaelor mudou de direção, decidindo procurar o mestre de armas da fortaleza.

O pátio de treino ficava nos fundos da fortaleza, um espaço amplo com uma arena de terra batida cercada por armas de treino. Barris e estantes de madeira estavam alinhados, cheios de espadas cegas, escudos lascados e lanças desgastadas pelo uso. O mestre de armas, um homem robusto e de cabelos grisalhos, estava afiando uma espada quando Vaelor se aproximou. Seu rosto era marcado por cicatrizes de batalhas passadas, e seus olhos azuis mostravam experiência.

— Você é Sor Harren, não estou certo? Ouvi seu nome enquanto lia livros sobres os generais das principais casas. Quero aprender sobre campos de batalha e como lutar — disse Vaelor, tentando imitar o tom de autoridade de seu pai.

O velho mestre ergueu o olhar, avaliando o jovem à sua frente.

— Aprender a lutar não é para filhinhos de nobres que mal largaram o leite da mãe. Diferente dos outros eu não faço o que vocês querem, se você quiser tem de me mostrar que você merece.

— O que eu preciso fazer?! — respondeu Vaelor, firme.

Sem mais palavras, o mestre de armas pegou uma espada de madeira e a jogou para Vaelor, que a pegou com alguma dificuldade.

— Me mostre o que sabe ou pode fazer.

O mestre de armas avançou com velocidade surpreendente, desferindo golpes que Vaelor mal conseguia bloquear. A cada golpe que recebia, sentia a dor atravessar a espada e chegar em seu corpo, mas se recusou a parar. O velho guerreiro, entre ataques, gritou:

— Não espere que seu inimigo tenha piedade!

Um golpe duro no ombro fez Vaelor cambalear.

— Para onde você está olhando? Aprenda a ler os movimentos do inimigo. Antecipe! — outro golpe, desta vez nas costelas.

Vaelor tentava se manter de pé, seus braços doíam, e o suor escorria por seu rosto e o mestre de armas nem mesmo parecia ter aquecido. Vaelor engoliu um de seus comentários e começou a pensar nas palavras de Harren. Ele começou a observar os movimentos do mestre de armas, tentando prever de onde viria o próximo golpe.

Depois de receber mais três golpes, Vaelor viu um padrão, o mestre sempre começava o ataque com o braço esquerdo e quando fazia uma aproximação tentava deixar sua perna direita fora do alcance de Vaelor. Notando esse sinal, Vaelor partiu para a ofensiva, esperando o ataque vindo pela esquerda, ele usou o lado da praça da espada para desviar do golpe e forçou seu corpo para girar e golpear a perna direita dele, mas foi parado com uma cotovelada no rosto. O velho riu.

— Você não é tão mal, confesso que fiz isso de propósito, mas você entendeu o conceito aproveitando dos padrões que eu inventei. Vamos de novo!

De longe, Daelyra observava a cena com os braços cruzados, uma expressão curiosa em seu rosto.

— Talvez ele não seja tão fraco quanto parece — murmurou para si mesma.

O treino continuou por mais alguns minutos, até que o mestre de armas deu um passo para trás e baixou sua espada.

— Realmente nada mal para um principezinho de uma casa no meio do nada. Está certo, droga, este velho já está pronto para se aposentar, mas acho que eu posso forjar mais uma espada. Você é um metal cru e bruto mas através de repetidas pancadas vou te transformar em uma espada fina e afiada.

Vaelor assentiu, respirando pesadamente, mas com uma centelha de satisfação no olhar. Ele sabia que aquele era apenas o começo, mas pela primeira vez sentiu que estava no caminho certo. Ele não seria apenas mais um nobre acomodado. Seria um homem capaz de conquistar seu próprio respeito.

Daelyra, ainda observando de longe, virou-se e voltou para dentro da fortaleza, com um leve sorriso no rosto. Talvez, apenas talvez, aquele casamento arranjado pudesse trazer algo interessante, afinal.