Vaelor e seu pai se sentaram; Lady Aelora fez o mesmo junto de Daelyra. Eles estavam em uma mesa redonda feita de pedra negra. Os criados ao redor levavam alimentos e bebidas constantemente para a mesa.
Gaeron, querendo confirmar seu acordo, falou:
— Com isso, acredito que milady está confirmando a união de nossas famílias e firmando nosso acordo?
Lady Aelora limpou os lábios com um guardanapo de pano antes de responder elegantemente:
— O acordo estará firmado no dia do casamento entre nossos descendentes, mas, enquanto isso, considere-o feito. Quanto ao acordo, não se preocupe, estarei cumprindo minha parte desde que o senhor faça a sua, nos enviando suprimentos e nos dando passagem por suas terras.
Lorde Gaeron assentiu, e Aelora continuou:
— Acredito que o casamento deva acontecer dentro de três meses. Acho que seria um tempo ideal para nossos filhos se conhecerem melhor e para nós terminarmos os arranjos.
Gaeron concordou e deu mais algumas sugestões. Por outro lado, Daelyra e Vaelor não estavam nem um pouco conformados com a situação. A rebelde Daelyra estava inquieta, mas não ousou dizer nada na presença da mãe.
Depois que terminaram a refeição, Aelora lançou um olhar significativo para Gaeron, que assentiu em resposta.
— Daelyra — começou Lady Aelora. — Leve Vaelor para conhecer a fortaleza e conversem um pouco. Lorde Gaeron e eu temos assuntos a tratar a respeito de suas terras.
A garota se levantou, curvou-se para sua mãe e Gaeron antes de pedir licença para sair. Vaelor fez o mesmo e a seguiu. Eles saíram do salão e desceram um lance de escadas.
Vaelor caminhava atrás de Daelyra, observando cada detalhe do lugar. A cada passo, ele se sentia mais desconfortável, com uma sensação de não pertencimento ao local. Daelyra caminhava à frente, sem se importar em esperá-lo, como se estivesse ainda mais irritada que ele com a situação.
— Você parece tão animada — falou Vaelor, com claro sarcasmo na voz.
Ela se virou com os olhos ametistas cintilando, uma mistura de raiva e descrença.
— Você acha que eu tive escolha?
Vaelor deu de ombros, tentando demonstrar calma.
— Assim como eu, acredito que não.
Ela o encarou por alguns segundos antes de soltar um longo suspiro e falar:
— Nenhum de nós escolheu isso, Vaelor. Mesmo não gostando, estamos presos a isso. Então, é melhor você já começar a se acostumar.
— Você diz isso como se fosse fácil — murmurou Vaelor, franzindo a testa.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— Você acha que será difícil para você? Você é homem, vai ter um bom lugar na corte, vai ser respeitado, vai ser livre para ir às batalhas — essa última parte ela disse com mais amargura na voz. — Eu, por outro lado, vou ter que ficar aqui, apenas fazendo os afazeres de esposa. Nunca vou poder virar uma soldado, lutar com espadas ou fazer o que quiser pelo mundo.
Vaelor ficou sem palavras com a declaração da garota, apenas murmurando palavras de "sinto muito".
Eles caminharam mais um pouco pelos corredores até que o cenário mudou para um gigantesco pátio aberto, e o ar mudou. O cheiro familiar da brisa do mar invadiu suas narinas, e isso o relaxou. Ele olhou ao redor, captando cada detalhe do lugar, mas seus olhos se arregalaram quando sua visão parou em uma figura imponente tomando sol nos rochedos ao lado do pátio.
— O que é aquilo?! — perguntou ele, surpreso, quase deixando a voz falhar.
Daelyra tinha um sorriso orgulhoso no rosto quando respondeu:
— Ela é Nyrax, minha dragoa.
Vaelor não conseguia esconder a surpresa em sua expressão.
A dragoa era bela e aterrorizante, as mesmas características de sua dona. Tinha escamas em um tom negro que se encaixavam perfeitamente em seu corpo. À luz do sol, era possível ver reflexos roxos brilhantes vindo de suas escamas. Os olhos dourados da dragoa se voltaram para Vaelor e sua dona.
— Pode se aproximar, ela não morde... a menos que tente tocá-la — provocou Daelyra.
— Pelo visto é de família — retrucou Vaelor, inclinando a cabeça.
Ela o encarou por um momento, como se estivesse decidindo se mandava Nyrax queimá-lo ou não. No final, optou por não fazê-lo. Em vez disso, lançou-lhe um olhar mortal e caminhou na direção de Nyrax, que baixou a cabeça, permitindo que Daelyra acariciasse levemente suas escamas. Vaelor não entendia como um dragão de sete metros se submetia daquele jeito, mas estava maravilhado com a possibilidade.
— Dragões são criaturas de confiança — disse ela de repente, com a voz mais suave desta vez. — Eles não confiam em qualquer um, mas, quando o fazem, é para a vida toda.
— Estou vendo — falou Vaelor, ainda com os olhos fixos em Nyrax.
A relação de Daelyra com seu dragão era clara, uma conexão profunda que ele ainda não podia compreender totalmente. Mas, ao observar aquela cena, ele sentiu um leve calafrio de excitação. Um dia, ele iria reivindicar seu próprio dragão, e essa ideia o aterrorizava tanto quanto o fascinava.
De repente, uma sombra imensa passou por cima deles, escurecendo o pátio por um breve momento. Vaelor olhou para cima, seu coração acelerando ao ver a forma gigantesca de Balerion, o Terror Negro.
— É Balerion — falou Daelyra. — Maegor está querendo reivindicá-lo desde que meu avô faleceu, mas ainda não teve sua chance, está ocupado em Porto Real.
Vaelor observou o enorme dragão desaparecer no horizonte e sentiu um peso no peito.
— Como alguém pode reivindicar algo assim?
— É o nosso sangue, o sangue Targaryen da antiga Valíria. O mesmo tipo do sangue dos Vysarion.
Vaelor continuou olhando para o grande dragão. O poder que Maegor teria se conseguisse reivindicá-lo era incomensurável, e agora, ele estava preso àquela família, envolvido em seus jogos e ambições. Nada disso parecia real, mas ele sabia que, em breve, tudo mudaria.
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Quando finalmente voltaram para o interior da fortaleza, um dos servos os aguardava.
— Seu quarto está preparado, Lorde Vaelor — disse ele com uma reverência. — Fica próximo ao de vossa noiva, princesa Daelyra — acrescentou, antes de guiá-lo até seus aposentos.
A menção do noivado fez o estômago dos dois gelar. Vaelor trocou um último olhar com Daelyra, mas ela já havia virado de costas, caminhando em direção ao seu próprio destino.