Nos olhos de uma criança, você verá o mundo como deveria ser... exceto esta criança.
Neste exato momento, Penny tinha certeza de que tudo o que seus olhos demonstravam era horror. Bebês deveriam ser inocentes, livres das preocupações e maravilhas do mundo. Eles deveriam estar dormindo profundamente, sorrindo inocentemente e sendo simplesmente uma existência encantadora. Não um bebê com a memória de seu histórico criminal!
Ela renasceu? Ela se reincarnou tão cedo?
Miríades de perguntas atravessavam seu cérebro recém-nascido, mas nenhuma delas foi respondida. Pensando no tempo antes de acordar neste corpo pequeno, Penny se lembrava vividamente de seu tempo na prisão e de todos os anos que passou tentando fazer parte da família da qual era legitimamente membro, como se fosse ontem.
Assim como naquela vez em que sua chamada família a encontrou, Penny sentiu esse mesmo exato sentido de esperança por um novo começo.
Aconteceu em algum momento do inverno.
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Penny esfregou suas mãozinhas e soprou nelas para se aquecer. A ponta do seu nariz estava vermelha, e alguns flocos de neve grudavam em suas bochechas. Seu corpo tremia dentro do casaco desgastado e curto que tinha desde os seis anos de idade.
"Tia!" ela chamou de fora, batendo nos pequenos portões com os dedos nus. "Tia, eu aprendi minha lição agora. Por favor, me deixe entrar?"
Penny ficou na ponta dos pés, mal conseguindo ver a pequena área da frente da casa através do pequeno portão.
"Tia?" ela chamou, os olhos se enchendo de lágrimas. Seu olhar se desviou para a pequena janela, onde ela podia ver sua tia preparando uma sopa quente para seus filhos.
"Tia, está frio aqui…" sua voz abaixou enquanto tremia junto com a brisa leve que passava. "... por favor, me deixe entrar? Eu vou ser boazinha!"
Penny segurou os portões de metal frio enquanto fungava, limpando suas lágrimas com a manga que só cobria metade de seu braço. Ela se virou e abraçou a si mesma, esfregando os ombros e depois as mãos, enquanto soprou nelas. Olhando ao redor, a neve já cobria quase tudo.
As casas estavam todas fechadas para se protegerem da temporada insuportavelmente fria. Penny tinha apenas treze anos, mas sabia que se ficasse lá fora, congelaria até a morte. Olhando para o portão mais uma vez, ela percebeu que a raiva de sua tia não diminuiria tão cedo.
Com esse pensamento em mente, Penny arrastou seus pés para longe.
'Tia Baby foi para a casa do marido,' ela pensou, pensando na única vizinha que mostrava preocupação por ela. Se essa vizinha estivesse aqui, Penny estaria na casa dela no minuto em que sua verdadeira tia a expulsou depois que Penny derramou sopa acidentalmente em sua mão.
'A mãe de Harvey talvez me deixe ficar na casa deles por enquanto,' foi o que ela se disse, lembrando de um amigo da comunidade. 'Hoo... tão frio.'
Enquanto Penny caminhava pela beira da rua, ela fazia de tudo para se manter aquecida. Ela estava feliz por já estar usando esse casaco enquanto fazia tarefas em casa. Se não, sua tia a teria expulsado com o que quer que ela estivesse usando.
No caminho para a casa do amigo, Penny diminuiu a velocidade ao ver três sedãs dirigindo com cuidado pela rua.
'Eles parecem tão luxuosos,' foi a primeira coisa que veio à sua mente. 'Mas por que estão dirigindo neste bairro pobre?'
Penny se encontrou admirada com os dois sedãs pretos brilhantes e uma grande SUV. Inconscientemente, seus passos diminuíram ainda mais, seguindo os carros com o olhar até seu pescoço torcer. Para sua surpresa, o desfile parou em frente à casa de sua tia.
"Huh?" A curiosidade brilhava em seus olhos, imaginando se sua tia tinha se metido em problemas novamente por causa de seus hábitos de jogatina ruins e sua boca grande.
Penny não queria parar e adiar a busca por algum calor. No entanto, já que havia pessoas desconhecidas fora da casa de sua tia, ela voltou. Se eles fossem convidados ou fossem prender sua tia, essa era sua chance de entrar na casa.
"Uh… com licença?" ela chamou timidamente assim que um homem de meia-idade com um casaco preto luxuoso saiu do veículo. "Senhor, precisa de ajuda?"
O homem era alto e, com uma garotinha ao seu lado, olhou para baixo para ela. Penny quase estremeceu quando seus olhos se encontraram. Já estava frio, mas seus olhos eram ainda mais penetrantemente gelados.
"Eu moro nesta casa." Ela apontou para os portões, olhos nele. "Por acaso, está procurando pela minha tia?"
"Não," disse o homem, estudando a jovem à sua frente. A adolescente diante dele já tinha resíduo branco grudado em seu rosto, indicando que ela estava nesse frio há bastante tempo. No entanto, apesar de seus ombros tremendo, ela olhava para ele com genuína curiosidade, como se esse clima fosse algo que ela pudesse combater por muito tempo.
"Seu nome é Penelope?" ele perguntou no mesmo tom plano.
Linhas profundas apareceram nas sobrancelhas de Penelope. Sua tia a usou novamente como garantia? Penny intuitivamente deu um passo para trás enquanto todo tipo de pensamento negativo girava em sua mente. A curiosidade em seus olhos agora tinha uma mistura de medo.
Não muito tempo atrás, Penny teve que pagar a dívida de sua tia fazendo trabalho grátis no restaurante de um dos amigos de mahjong de sua tia. Se essa pessoa não tivesse sido presa, Penny ainda estaria trabalhando lá. Considerando que essas pessoas pareciam ser ricas, ela estava com medo que desta vez, fazer trabalho braçal não fosse a única coisa que eles queriam dela. Talvez seus órgãos desta vez!
"Traga um casaco para ela," ordenou o homem de meia-idade enquanto mantinha seu olhar em Penny. "A Moça Jovem está com frio."
Moça Jovem?
Penny estreitou os olhos antes de ver um sorriso sutil se formar no rosto do homem de meia-idade. Seu sorriso pode ter sido breve, mas por algum motivo, trouxe esse calor e segurança em seu coração. O homem casualmente tirou seu casaco e o colocou sobre seus ombros.
"Moça Jovem, estamos aqui para levá-la de volta para casa," ele disse gentilmente, o tom comandante de sua voz ainda presente. "Vamos explicar tudo para você com sua tia."
Ele fez uma pausa e acenou para ela tranquilizadoramente. "Você está segura agora."
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Segura.
Oh, como essas palavras soavam tão reconfortantes e quentes naquele momento. Penny realmente acreditou que o homem estava dizendo a verdade. Ela estava segura e ninguém mais a maltrataria. Quando ele revelou a situação para Penny e sua tia, Penny quase pulou de alegria.
Naquela época, em sua mente, ela pensou que nunca se sentiria excluída novamente. Sua verdadeira família estava levando-a para casa. Mas, infelizmente, ela estava enganada. O calor que ela sentiu daquele homem foi efêmero, como uma chama fútil nesta temporada ferozmente fria. Penny nunca saiu daquele inverno frio. Era apenas um lugar diferente, pessoas diferentes e uma vida um pouco diferente, mas era tudo muito igual.
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'Droga!' ela ouviu a si mesma soluçar enquanto se lembrava de sua vida patética. 'Se eu realmente me reincarnei, não vou cometer os mesmos erros que cometi!'
A consciência de Penny estava muito ativa um momento atrás, mas agora ela se sentia sonolenta. Considerando que ela era um recém-nascido, dormir era natural. À medida que ela lentamente desvanecia para o sono, ela percebeu uma enfermeira desconhecida entrar no berçário enquanto olhava ao redor cautelosamente.
Huh?
Penny estremeceu quando sentiu seu berço se mover. Forçando-se a estudar a pessoa, sua visão ainda estava um pouco turva.
'O que ela está fazendo?' ela se perguntou quando seu berço parou, observando a figura se mover. Após um segundo, ela ouviu algo leve cair. 'O que está... acontecendo...?'
Antes que ela pudesse processar o que estava acontecendo, Penny lentamente caiu em um sono profundo.
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"Então, essa é a criança?"
"Sim, e a —"
"Tch! Não consegue encontrar alguém para cuidar do filho dessa vadia?!"
A enfermeira sorriu pedindo desculpas. "Senhora, sinto muito. Mas você é o contato de emergência da mãe..."
'Hmm?' Penny lentamente se sentiu sendo coagida a sair do sono pelas vozes ao redor. Ela abriu os olhos, sua visão ainda um pouco turva. 'O que está... acontecendo agora? Minha nova mãe me pegou? Ou é meu pai?'
"Tch!" Outro estalo alto acariciou os olhos de Penny, quase sentindo essa má premonição ao som disso. "Esse é o filho dela?"
Penny piscou lentamente, observando a pessoa mover seu rosto para mais perto. Assim que o outro estava perto o suficiente para ela ver claramente, seu coração afundou enquanto ela mentalmente arfava de horror.
'A — tia?!'