As negociações foram tão rápidas quanto na primeira vida. Jessa e seu marido estavam chocados segurando um cheque, e esqueceram que aquilo era sobre outro ser humano. Se houve alguma diferença entre esta vida e a anterior, foi a reação de Yugi.
Yugi fez um grande alarde, mas foi em vão, pois no final, Penny ainda veio com Haines.
Hoje era o mesmo dia em que ela voltava para a Mansão Bennet.
Sentado na van que parecia uma suíte, Haines olhou para a moça ao seu lado. Agora que ela estava indo para casa, ele esperava ver qualquer pequena mudança na sua inocência habitualmente composta. Mas Penny estava bastante calma.
'Acho que ela está bem,' ele pensou com um sorriso breve. "Moça Jovem, por que você não descansa um pouco? É uma viagem de cinco horas."
Penny suspirou levemente. "Senhor Haines, você pode me chamar de Penny? Moça Jovem me deixa desconfortável."
"Então você pode me chamar de Tio Haines." Seu sorriso caloroso contrastava com suas feições fortes. "Por que você não descansa, Penny? Ou está com fome?"
Será que ele estava perguntando por causa do seu tamanho?
Embora fosse óbvio que Penny ganhou todo esse peso sem perceber, foi porque ela foi desnutrida quase toda a sua primeira vida. Primeiro por causa dos maus-tratos de Jessa e depois ela ficou muito ocupada tentando agradar seus irmãos que adquiriu o mau hábito de pular refeições.
"Não estou com fome," ela disse.
"Então, você quer conversar?" ele perguntou. "Você quer saber sobre sua família? Você tem três irmãos."
Três irmãos insuportáveis.
"Não." Penny balançou a cabeça. "Eu quero conhecê-los por mim mesma, obrigada."
Preocupação subitamente apareceu nos olhos de Haines enquanto Penny desviava o olhar. Em sua mente, era muito melhor se ele preparasse Penny sobre o que esperar na mansão.
O que ele não sabia era que Penny sabia exatamente o que esperar.
*
*
Penny eventualmente adormeceu e quando acordou, imediatamente avistou os grandes portões se abrindo para eles. Ela esfregou os olhos e se sentou ereta.
"Chegamos, Penny."
Ela olhou para o lado e viu Haines sorrindo. Ela não disse nada em resposta e simplesmente esperou pela parada da van.
Haines saiu do outro lado enquanto Penny estava prestes a abrir a porta para si mesma quando ela se abriu do lado de fora. Lá, um homem idoso vestido de mordomo a olhou e sorriu até que seus olhos se parecessem com pequenas fendas.
"Senhorita Penelope?" chamou o homem idoso, sua voz exalava elegância. "Permita-me ajudá-la, minha jovem senhora."
'Mordomo Jen.' Penny olhou para o homem idoso e sorriu discretamente.
Na sua vida anterior, Mordomo Jen foi mais uma família para ela do que o restante da família. Mordomo Jen e Haines foram os únicos que realmente se importaram com ela.
Penny pegou sua mão e disse, "Obrigada."
Mordomo Jen segurou a mão fria da jovem senhora e a escoltou para baixo. Assim que ela alcançou o chão, ele colocou a mão sobre a cabeça dela numa tentativa frágil de protegê-la da neve.
"Mordomo Jen, onde está todo mundo?" Haines perguntou por trás enquanto subiam os degraus da varanda.
Mordomo Jen olhou para trás. "Eles estão esperando na sala de estar, Sir Haines. O tempo está terrível, então eles não poderiam esperar aqui fora no frio."
"Entendi."
"Sua família está dentro, Senhorita Penny." Mordomo Jen ofereceu a Penny outro sorriso caloroso, mantendo sua mão seguramente em sua mão. "Eles estão muito animados para vê-la."
Penny duvidava disso, mas ainda assim esboçou um pequeno sorriso.
A mansão tinha uma enorme entrada com duas portas. Assim que alcançaram a varanda, os serviçais dentro a abriram pontualmente.
Observando o espaço entre eles se alargar, a inocência natural nos olhos de Penny lentamente se transformou tão fria quanto a estação. Sete figuras apareceram: quatro crianças com a mais velha de 17 anos, um casal de meia-idade e então um idoso com uma bengala.
Allison se levantou apressadamente assim que a porta se abriu. Seus olhos estavam lacrimejantes com um toque de nervosismo. Alívio tomou conta de seu rosto assim que seus olhos pousaram na jovem e cheinha garota entrando na residência.
O fluxo de emoções que uma mãe tem pelo seu filho veio inundando seu coração. Essa era a primeira vez que encontravam Penny, mas seu coração imediatamente reconheceu sua carne e sangue. Era um instinto maternal que ela sentia com seus meninos, mas nunca com a filha que criou por 13 anos.
"Querida." Charles, seu marido, colocou a mão em seu ombro e sorriu.
Allison assentiu para ele, e ambos foram ao encontro de Penny no meio do caminho.
"Olá." Allison se abaixou um pouco, repousando as mãos nos joelhos. "Meu nome é Allison. Eu sou sua…" mãe.
Allison hesitou porque não sabia se estava fazendo isso corretamente. Penny poderia ser da família, mas, para essa garota, eles eram apenas estranhos.
"Penny." Conhecendo sua esposa, Charles entrou na conversa com um sorriso gentil. "Eu sou seu pai. Sei que isso é um choque para todos nós, mas você é nossa família agora."
Assim como Allison, Charles estava incerto se estava fazendo certo. Quem saberia o que dizer e fazer nesta situação? Mesmo que eles sigam o que queriam fazer para compensar os 13 anos que sua verdadeira filha esteve longe, eles também têm que considerar os sentimentos da Penny.
O silêncio de Penny acrescentou ao nervosismo do casal enquanto eles olhavam um para o outro antes de lançar a Haines um olhar.
Haines apenas sorriu de forma impotente. Ele já havia dito a eles como era a Penny e os lembrou que Penny não gostava de ser tratada como uma criança. Ela não disse isso a Haines, mas ele presumiu com base em suas interações com ela.
Quanto à Penny, ela olhava silenciosamente para os seus pais.
'Eles não foram maus comigo no passado. Se for pensar, sei que têm boas intenções, mas...' ainda assim eles a negligenciaram sem querer por se sentirem culpados por Nina e não queriam fazer a outra se sentir excluída por causa dela.
Penny secretamente deu uma espiada nas crianças atrás de seus pais. O Atlas de dezessete anos e o Hugo de dezesseis anos a olharam impassivelmente. Mas o Slater de quinze anos não sentiu necessidade de esconder seu desdém. A boneca linda parada ao lado de Slater, que tinha a mesma idade de Penny, usava um sorriso pequeno e forçado.
'Heh.' Penny zombou mentalmente. 'É bom vê-los tão jovens de novo!'
Ela não queria desperdiçar seu tempo com vingança, mas, por mais mesquinho que possa soar, ainda seria bom irritá-los. Sua própria existência já era irritante para eles, de qualquer forma.
"Mamãe!" Penny sorriu de orelha a orelha enquanto saltava na direção de Allison e abraçou a senhora com força.
Surpresa tomou conta dos olhos de Allison antes dela olhar para Charles com alívio. "Oh, minha querida Penny. Sim, é a mamãe."
Charles sorriu satisfeito enquanto Haines não pôde deixar de sentir essa leve dúvida. Penny, por outro lado, espiou por cima e pegou a irritação no rosto de Slater, o leve desprazer no olho de Hugo, o olhar impassível de Atlas e então o sorriso caído nos lábios da Nina.