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Chapter 10 - Verdades Ocultas

Luna Liana estava ao lado da grande lareira nos Aposentos do Alfa, seus olhos afiados fixados nas chamas que dançavam diante dela. Ela sempre fora uma mulher de ação, nunca hesitando quando se tratava de proteger sua família e sua matilha. E hoje não era diferente. Pedro acabara de retornar de uma missão que Liana lhe confiara, uma que ela esperava que pusesse fim a uma ameaça em potencial.

"Então, está feito?" Liana perguntou, sua voz baixa e controlada, mas com um tom que sugeria que ela não toleraria nenhum fracasso.

Pedro assentiu, seu tom igualmente calmo. "Sim, Luna. A garota está morta. Ela não causará mais problemas."

Liana permitiu-se um pequeno suspiro de alívio. Ela nunca esperava que a garota tivesse a audácia de tentar alcançar Damien. Mas o destino estava ao seu lado — Damien estava fora, e Liana lidou prontamente com a situação antes que pudesse sair de controle.

"Bom," disse Liana, virando-se da lareira para encarar Pedro plenamente. "Eu não esperava que ela fosse tão audaz. Alfa Jackson falhou em cumprir sua promessa."

Pedro hesitou por um momento, como se pesasse suas próximas palavras cuidadosamente. "Entendo, Luna. Mas você tem certeza de que isso não voltará para nos assombrar?"

Os olhos de Liana se estreitaram levemente. "Anne era uma Desgarrada. Ninguém questionará seu desaparecimento. Ela não era nada, Pedro. As alcateias sabem como lidamos com Desgarrados."

Antes que Pedro pudesse responder, a porta do quarto se abriu. O coração de Liana deu um salto, mas ela manteve a compostura, seu semblante suavizando-se ao virar-se para saudar seu filho.

"Damien," ela disse calorosamente, embora houvesse uma tensão em sua voz, "Eu não esperava você de volta tão cedo."

Damien lançou um olhar para Pedro, que prontamente se desculpou com uma inclinação respeitosa de cabeça, deixando mãe e filho sozinhos na sala. Quando a porta se fechou atrás dele, Damien voltou seu olhar para Liana, sua expressão pensativa.

"Mãe," ele começou, sua voz firme mas com um toque de algo que Liana não conseguia identificar, "sobre o que Pedro estava relatando agora há pouco?"

Liana acenou com a mão de forma displicente, seu tom casual. "Ah, nada sério. Apenas um Desgarrado intruso que ele teve que lidar. Nada com o que você precise se preocupar."

Os olhos de Damien permaneceram em sua mãe por um momento mais longo, como se tentasse ler nas entrelinhas. Em seguida, olhou para longe, sua expressão se tornando distante. "Eu fui até a Matilha Crescentmoon hoje," disse ele, em voz baixa.

O coração de Liana deu um salto, seu controle escorregando ligeiramente. "A Matilha Crescentmoon? Por que você iria lá?" Sua voz estava impregnada de frustração, embora ela rapidamente a mascarasse com um tom preocupado. "Aquela garota não era nada para você, Damien. Por que você está perdendo seu tempo?"

Damien voltou-se para sua mãe, seu olhar intenso, mas calmo. "Eu queria ver com meus próprios olhos," disse ele simplesmente. "Eu precisava saber se ela realmente era minha companheira."

Liana sentiu um surto de raiva e medo subir dentro dela. A última coisa que ela precisava era Damien se enredando com aquela garota. "Ela não era sua companheira, Damien!" Liana exclamou, perdendo a compostura. "Você tem um dever com esta matilha, com nossa família. Aquela garota só teria trazido ruína para tudo o que construímos."

A expressão de Damien não mudou, embora houvesse um brilho de algo perigoso em seus olhos. "E se ela fosse minha companheira?" ele perguntou, sua voz mal acima de um sussurro, mas carregando um peso que fez o coração de Liana apertar.

Liana balançou a cabeça, recusando-se a entreter a ideia. "Você a teria rejeitado, como deve, pelo bem da matilha. Pelo seu futuro."

Damien não respondeu imediatamente, seu olhar caindo para o chão como se perdido em pensamentos. Após um longo silêncio, ele finalmente olhou de volta para sua mãe, sua expressão ilegível. "Eu não sei se eu poderia fazer isso," disse ele suavemente, mais para si do que para ela.

Liana sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela sempre soube que seu filho era determinado, mas isso era algo que ela não tinha antecipado. Ela teria que ser mais cuidadosa, mais vigilante. Por enquanto, precisava afastá-lo de qualquer pensamento sobre Anne.

"Então você a encontrou ?"

"Ela deixou a matilha." Ele disse baixinho. "Com seu companheiro."

Liana sorriu com arrogância. Alfa Jackson havia conseguido plantar a semente da dúvida na mente dele sobre Anne. Ao estender a mão para tocar seu braço, ela sabia que seu filho acabaria vendo as coisas do seu jeito.

"Você não precisa mais se preocupar com isso," disse Liana firmemente, tentando encerrar a conversa. "A Matilha Crescentmoon tem seus próprios problemas, e nós temos os nossos. Foque em encontrar uma companheira adequada de uma matilha poderosa, uma que fortalecerá nossa família e nossa matilha."

Damien assentiu devagar, embora houvesse um olhar distante em seus olhos que preocupou Liana. "Eu vou pensar sobre isso," disse ele, antes de se virar para sair do quarto.

Quando a porta se fechou atrás dele, Liana apertou os punhos, sentindo a tensão que vinha se acumulando dentro dela. Ela tinha que ser cuidadosa. Damien era importante demais, e ela não podia deixar nada comprometer seu futuro.

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A noite lá fora estava silenciosa. Dentro do pequeno quarto do motel, Anne sentava-se na beira da cama, encarando seu reflexo no espelho rachado em frente a ela. Heather e Emily já haviam adormecido há tempos no quarto ao lado, sua respiração suave era o único som que quebrava a quietude. Mas Anne não conseguia dormir. Sua mente estava cheia demais, seu coração pesado demais.

Diferente da maioria dos lobos, que viviam e morriam dentro dos limites de suas matilhas, Anne sabia tudo sobre o mundo humano. Sua mãe fora uma humana, que insistira que Anne aprendesse sobre o mundo além da alcateia. Ela havia ensinado Anne sobre costumes humanos, suas formas de viver, e como navegar um mundo. Anne nunca pensou que teria que viver entre humanos, não assim.

Agora, aqui estava ela, sozinha em um motel humano, sua matilha para trás e seu futuro incerto.

Ela olhou para seus braços, observando enquanto o último dos seus hematomas desaparecia.

Uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha, e ela rapidamente a enxugou, frustrada consigo mesma por mostrar fraqueza. Mas a dor dentro dela era demais para conter. Seu coração parecia que estava se partindo novamente ao se lembrar dos eventos que a trouxeram até aqui.

Ela havia encontrado Damien—seu companheiro. Aquele com quem ela estava destinada a estar, quem deveria amá-la incondicionalmente. Mas depois de passar uma noite com ela, ele não apenas a abandonou. Ele havia tentado se livrar dela, como se ela não significasse nada para ele.

Assim que chegou à matilha, os guardas a atacaram sem hesitação. Eles a trataram como uma ameaça, como uma Desgarrada que não tinha lugar entre eles. Ela havia tentado explicar, alcançar a única pessoa que deveria entender, mas tudo foi em vão. Seu companheiro virou as costas para ela.

Agora, enquanto ela se sentava na escuridão, o peso total de sua situação começava a cair sobre ela. Ela era uma loba Desgarrada, expulsa de sua alcateia. Nenhuma outra matilha a aceitaria agora, não após o que acontecera. Ela estava sozinha, uma loba sem família, sem futuro.

E a punição para uma Desgarrada era a morte. Era a lei das alcateias, uma regra tão antiga quanto o tempo em si. Desgarrados eram vistos como perigosos e imprevisíveis, uma ameaça à estabilidade da matilha. Anne sabia que era apenas uma questão de tempo até alguém vir atrás dela, até que seu destino a alcançasse.

Mas o que ela deveria fazer? Onde ela poderia ir? Ela não tinha ninguém, nenhum lugar para chamar de lar. O pensamento de viver como uma Desgarrada, sempre fugindo, sempre olhando por sobre o ombro, a enchia de pavor. Mas a alternativa—retornar à matilha que a rejeitou ou encarar a morte que a esperava era ainda pior.

Ela enxugou outra lágrima, forçando-se a pensar claramente. Ela não podia ficar com Heather e Emily para sempre. Elas eram gentis, mas não entendiam o perigo que estavam correndo apenas por estarem perto dela. Ela tinha que partir, desaparecer nas sombras e descobrir o que fazer a seguir. Seu telefone tocou—o que Aaron havia lhe dado. Ela olhou para a tela rachada. O nome dele piscava na tela rachada. Ela também tinha que se afastar dele, para mantê-lo em segurança. Por mais que quisesse atender à chamada, ela sabia que era arriscado demais. Ela desligou o telefone e o esmagou com as mãos. Ela não podia arriscar colocar mais alguém em perigo. Com o coração pesado, tomou a decisão de cortar laços com todos que se importava para protegê-los.