Dentro do laboratório, o ambiente era opressivo. As paredes outrora brancas estavam desgastadas, e uma penumbra tomava conta do espaço. Equipamentos quebrados e móveis cobertos de poeira criavam uma atmosfera de abandono. Era como se o lugar refletisse o estado mental de Dante – fragmentado, em colapso.
No centro da sala principal, havia uma cápsula, uma máquina criada para acessar mentes em outros níveis de existência, mas que há muito havia sido desativada. Kaia se aproximou com cautela, seus dedos tocando a superfície fria do metal. Ela conhecia aquele dispositivo. Fora usado em missões arriscadas de imersão psíquica, onde agentes do Nexus exploravam memórias e traumas em realidades paralelas.
"Essa é nossa única chance," Dante disse, aproximando-se dela. "Precisamos entrar na minha mente, juntos. É lá que a entidade está se escondendo, manipulando as versões de mim."
Kaia olhou para o irmão, tentando imaginar o que encontrariam lá dentro. Ela sabia que a mente humana era um labirinto caótico de pensamentos, memórias e emoções, mas a mente de Dante não era apenas isso – era um ponto de convergência de todas as realidades.
"Se nos conectarmos à máquina," Kaia disse, a voz mais firme do que se sentia, "seremos capazes de acessar essas versões de você?"
Dante assentiu. "Sim, mas... não sabemos o que elas se tornaram. Algumas estão perdendo a sanidade, outras estão lutando para sobreviver. E todas elas estão... convergindo."
Ela sentiu o estômago apertar, mas não havia tempo para hesitações. Ambos sabiam o que estava em jogo.
Dante ativou o painel da cápsula, ajustando as configurações para iniciar o processo de imersão. As luzes fracas da máquina piscavam enquanto os sistemas ganhavam vida, zumbindo suavemente.
"Pronta?" ele perguntou, a mão pairando sobre o botão de ativação.
Kaia olhou para ele por um momento. Era seu irmão, a pessoa que ela mais amava e confiava, mas também era um estranho agora. Ele havia vivido vidas que ela jamais poderia entender. E, ainda assim, ela sabia que precisavam enfrentar isso juntos.
"Estou," ela respondeu, firme, enquanto ambos se deitavam na cápsula.
O som do mecanismo ativando-se ecoou pelo laboratório, e então... tudo ficou escuro.
Quando Kaia abriu os olhos novamente, não estava mais no laboratório. Estava flutuando em um vazio sem fim, um espaço entre realidades. Ao redor, figuras nebulosas de Dantes diferentes surgiam e desapareciam, como fantasmas. Cada um carregava uma vida diferente, uma dor diferente.
"Estamos aqui," Dante disse, ao seu lado. Ele parecia mais jovem, mais vulnerável. "No abismo da minha mente."
Ao longe, uma figura distorcida observava, como uma sombra que engolia a luz. A entidade estava esperando.
"Vamos," Kaia sussurrou, sentindo o coração disparar. Estava na hora de enfrentar o colapso das realidades. E ela não falharia.