O vazio ao redor de Kaia parecia pulsar com uma energia inquieta, como se o próprio espaço entre as realidades estivesse vivo. As figuras de Dante ao redor dela apareciam e desapareciam rapidamente, cada uma mais distorcida que a anterior, suas feições borradas e caóticas. Ela podia sentir a pressão crescente sobre seus ombros, como se a mente de seu irmão estivesse prestes a implodir.
"O que é isso?" Kaia sussurrou, olhando ao redor. As versões de Dante, fragmentos de suas outras vidas, não eram apenas projeções. Elas pareciam conscientes de sua presença.
"Esses são os ecos das minhas vidas," Dante respondeu ao seu lado, a voz rouca de exaustão. "Cada uma delas se entrelaçou, e agora estão colidindo umas com as outras. Se não fizermos algo..."
Ele não precisava terminar a frase. Kaia entendia que a situação era mais grave do que ela havia imaginado. Dante estava se desfazendo diante dela, sendo puxado em mil direções ao mesmo tempo, cada versão lutando pela sua própria existência.
Ela virou-se para ele, a expressão endurecida. "Precisamos encontrar o centro, o ponto onde todas essas versões estão se conectando. É lá que a entidade estará."
Dante assentiu, mas seus olhos estavam perdidos no caos ao redor. Kaia podia sentir o quanto aquilo estava afetando-o. Ele não era apenas um observador; ele era o epicentro da tempestade, e cada decisão que tomava dentro daquele espaço distorcido poderia determinar o destino de todas as realidades.
Com um impulso mental, Kaia forçou seus pensamentos a se concentrarem. Eles estavam no domínio da mente, e ela sabia que, nesse espaço, a força de vontade era tão importante quanto qualquer arma. Visualizando uma rota clara no meio do caos, ela sentiu o ambiente ao redor começar a responder.
Atravessando o nevoeiro de realidades sobrepostas, Kaia e Dante caminharam lado a lado, seus corpos se movendo com dificuldade, como se o ar estivesse pesado demais. Cada passo os levava mais fundo na psique fragmentada de Dante, onde memórias se entrelaçavam com fantasias e medos. A entidade aguardava, oculta nas camadas mais profundas, manipulando cada eco, cada versão, moldando o caos ao seu favor.
De repente, eles chegaram a um vasto campo, repleto de figuras familiares e estranhas. Era uma paisagem composta por memórias de Dante – memórias de infância, dias normais, momentos de felicidade e perda. Mas algo estava errado. As figuras que eles reconheciam estavam borradas, seus rostos se contorcendo em formas bizarras, como se fossem meras cópias defeituosas.
"Eu me lembro disso," Dante murmurou, olhando para uma versão dele mesmo quando criança, correndo atrás de um cachorro em um parque. O garoto sorriu, mas o sorriso rapidamente se transformou em uma expressão sombria, e seus olhos ficaram vazios. O cachorro se dissolveu no ar, e o parque começou a se desintegrar como papel queimado.
"Essas memórias não são reais. Elas estão... corrompidas," Kaia observou, seu tom grave. Ela olhou para o horizonte onde a paisagem começava a rachar e se desfazer, como se estivesse caindo em um abismo infinito. O multiverso estava se desmoronando. E a entidade estava cada vez mais próxima.
Enquanto avançavam, as versões de Dante se tornavam mais hostis. Algumas tentavam atacá-los, outras sussurravam coisas incompreensíveis, mas todas tinham um olhar de desespero, como se soubessem que estavam à beira da extinção. Kaia percebeu o quanto a mente de Dante estava fragmentada. Não havia apenas uma versão dele lutando pela sobrevivência. Eram todas. Cada Dante, de cada realidade, estava resistindo à unificação forçada, e isso estava criando um tumulto insano.
"Dante, você precisa manter o foco," Kaia o lembrou, tentando trazer seu irmão de volta à realidade. "Se você perder o controle aqui, não teremos chance de enfrentar a entidade."
Dante olhou para ela, a dúvida estampada em seu rosto. "E se... eu não puder? E se a entidade for uma parte de mim, Kaia? Algo que sempre esteve lá, esperando para tomar o controle?"
Kaia sentiu o peso da pergunta, mas não tinha tempo para hesitar. Ela sabia que seu irmão estava à beira do colapso, mas também sabia que, se ele caísse, não haveria como deter a catástrofe iminente.
"Você é mais forte que isso," Kaia afirmou, sua voz firme. "Eu acredito em você."
Nesse momento, uma figura colossal apareceu à distância. Seus contornos eram indistintos, mas sua presença era esmagadora. O ar ao redor dela ondulava, distorcendo o espaço, e cada passo que ela dava fazia o chão tremer. Era a entidade.
"Ela sabe que estamos aqui," Dante disse, seus olhos arregalados. "Ela está vindo."
Kaia se posicionou ao lado do irmão, preparando-se para o confronto. Essa era a primeira verdadeira batalha. Não apenas contra a entidade, mas contra o medo e as dúvidas que Dante carregava consigo.
A entidade se aproximava lentamente, mas com uma certeza aterradora. Suas feições eram uma mistura de todos os Dantes que existiam, fundidas em uma massa caótica. Seus olhos brilhavam com uma malevolência antiga, como se tivesse esperado por aquele momento durante eras.
"Você não pode escapar," a entidade sussurrou, sua voz ecoando como mil vozes unidas. "Eu sou o fim de todas as coisas."
Kaia se aproximou de Dante e tocou seu ombro. "Juntos," ela disse, sua voz calma, mas determinada. "Lutamos juntos."
Dante olhou para ela, o medo em seus olhos diminuindo um pouco. Ele assentiu. "Juntos."
E então, a batalha começou.